28 | Economia | Jornal de Negócios | Terça-Feira, 26 de Outubro de 2010 . Especial transparência do processo orçamental É mais fácil perceber o Orçamento na Mongólia do que em Portugal Estudo coloca Portugal na cauda do ranking face aos vizinhos europeus, por falta de documentos e insuficiência de informação na proposta do Orçamento ANTÓNIO LARGUESA [email protected] O processo orçamental em PortugalestáentreosmenostransparentesdaEuropaocidental,concluium estudo da “International Budget Partnership”, um organismo não governamentalqueanalisaatransparênciaemmatériasorçamentais, Aanálise revela que o Governo português não disponibilizadocumentos aconselhados pelas “boas práticas” internacionais e, nalguns dos que apresenta, a qualidade informativaficaaquém do desejável (ver ao lado). Contas feitas, o País surgeno25.ºlugarnoíndice“Open Budget” de 2010, atrás de países comooSriLanka,ColômbiaeMongólia.Aanálisecontacom94países. “AclassificaçãoindicaqueoExecutivo só disponibilizaparte dainformação sobre o Orçamento e as actividades financeiras analisadas noinquérito,oquetornadifícilpara os cidadãos responsabilizar o Governopelagestãodosdinheirospúblicos”, lê-se no relatório relativo a Portugal,quepelaprimeiravezentranesteestudoatravésdeumprojectodoInstitutodeCiênciaSociais daUniversidade de Lisboa. Aclassificaçãode58,numaescaladezero a100,colocaoprocessonacionalno grupo intermédio do ranking. Se há“documentos-chave” que nemsequersão produzidos – como um relatório pré-orçamental três meses antes dapropostado Gover- no,umrelatóriosemestraldeexecuçãoouum“orçamentodoscidadãos” queexpliqueemlinguagemsimples como é que as políticas públicas se vão reflectirnas despesas –, outros documentos apresentam um nível deinformaçãoinsuficiente. É o caso das propostas de Orçamento, como aquelaque foi entreguenaAssembleiadaRepúblicahá poucos dias, que, mesmo sendo “bastante abrangente”, apresenta algumas falhas. O estudo fala, por exemplo, em falta de informação queajudeaexplicararelaçãoentre asreceitas,asdespesaseosobjectivos políticos e macroeconómicos: “Seriaumainformação importanteseoExecutivodesejassefacilitar umdebate mais amplo”. Napropostaelaboradatodos os anospeloministrodasFinançasfaltamtambémdados sobre actividades que podem ter“grande impacto nacapacidade do Governo cumprir os objectivos orçamentais”. O estudo citao caso de fundos extraorçamentais, despesas fiscais, avalesecompromissosfuturos”,como as parcerias público-privadas. Ao Negócios,umadasautorasdo estudo, Marina Costa Lobo, frisa queesteíndicenãoanalisaosorçamentos rectificativos, caso contrário o processo orçamental portuguêsseriaaindamaispenalizado.A investigadora,quetrabalhouneste projecto com Ana Margarida Craveiro e Luís de Sousa, também do ICS, e Paulo Trigo Pereira(ISEG), Debate orçamental | Eficácia da análise parlamentar ao Orçamento é um dos poucos elogios ao processo português. A falta de informação é também uma forma de impedir que os partidos da oposição façam propostas realistas. PORTUGAL NA CAUDA FACE AOS VIZINHOS EUROPEUS COMPARAÇÃO DOS ÍNDICES NA REGIÃO “EUROPA OCIDENTAL E ESTADOS UNIDOS” AS RECOMENDAÇÕES PARA O “ORÇAMENTO” PORTUGUÊS PROPOSTA DO GOVERNO DEVE SER MAIS EXAUSTIVA A primeira recomendação vai no sentido de aumentar a abrangência da proposta orçamental do Governo MARINA COSTA LOBO Co-autora do estudo em Portugal Unidade: Resultado de 0 a 100 | Fonte: Open Budget Index 2010 lembra que esta falta “estrutural” dedadosdificultaaospartidosfazerem “propostas credíveis” e bloqueiaasociedadecivil,quenãosabe comoégastoodinheiro.Ainformaçãoestá“detalformadispersapela propostado Orçamento que só um peritoconseguejuntarinformação eperceberoquadrogeral”,conclui. Finalmente,enquantooacompanhamentoparlamentardacontapúblicaanualé elogiado, asupervisão, acargodoTribunaldeContas,deixa adesejar. Faltam recursos, podere consequênciasdaanálisefeitaàContaGeraldoEstado(queaparecetardia,faceaoanoaqueserefere),oque fazcomqueospareceresacabempor ser“quaseinúteis”pornãoservirem odebatepolítico. I D E I A S - C H AV E O processo orçamental português está entre os menos “abertos” da região “Europa Ocidental e Estados Unidos”, na qual o País é incluído neste índice. O fraco desempenho de Portugal só é acompanhado pela Itália, que regista este ano a mesma classificação final (58/100). IMPLEMENTAR AS BOAS PRÁTICAS INEXISTENTES Produzir e publicar um relatório pré-orçamental, relatórios semestrais de execução e um “orçamento dos cidadãos” (escrito de forma perceptível para o cidadão comum). ENVOLVER CIDADÃOS NA DISCUSSÃO DO ORÇAMENTO Criar condições para que representantes de sociedade civil possam ser ouvidos nas discussões e análise do Parlamento. TRIBUNAL DE CONTAS MAIS ENVOLVIDO NA FISCALIZAÇÃO Dar mais poder ao Tribunal de Contas, de forma a que a análise feita à Conta Geral do Estado seja mais completa, abrangente e atempada.