XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 1 PRODUÇÃO DE SIGNIFICADOS DE LICENCIANDOS EM PEDAGOGIA SOBRE O USO DE ESPAÇOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NA FORMAÇÃO INICIAL Francine Lopes Pinhão Universidade Federal Flumiense Instituto de Educação de Angra dos Reis [email protected] Resumo Este trabalho tem por objetivo discutir uma experiência de uso de espaço de divulgação científica para formação de licenciandos em pedagogia. Para tanto apresento a base teórica que fundamenta o argumento central desse texto, qual seja a necessidade do desenvolvimento de ações formativas em espaços não formais, desde a formação incial, compreendendo o valor destes para a ampliação do repertório cultural dos futuros professores. Na sequência, com base no referencial metodológico da “Análise de conteúdo temática” (GOMES, 2010, BARDIN, 1977) e pressupostos da Análise Crítica do Discurso (FAIRCLOUGH,2001), apresento uma análise preliminar dos significados desta experiência para os licenciandos. Por meio das análises localizei os seguintes significados: 1. A experiência como forma de ampliar o repertório de práticas pedagógicas; 2. A experiência como forma de rever conhecimentos; 3. A experiência como espaço de troca de conhecimento. E, por fim, discuto a possibilidade de uso destes espaços como forma de reflexão sobre a prática e de contato com redes intertextuais não existentes no espaço do estágio escolar e potencialmente úteis para os processos de constituição da identidade docente. Palavras-Chave: formação inicial de professores; análise crítica de discurso; análise de conteúdo; espaço não formal; divulgação científica. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Ensino de ciências em espaços não formais Cada vez mais, os assuntos relativos a ciência e tecnologia fazem parte dos meios de comunicação de massa, museus e centros de divugação. De acordo com Candau (2000) estes novos espaço-tempo são necessários para a formação de cidadanias ativas na sociedade. Segundo Marandino, Selles e Ferreira (2009), com relação ao ensino específico das ciências, os espaços de formação não escolares cresceram paralelamente ao desenvolvimento científico e tecnológico da sociedade e a uma consequente necessidade de tornar os diferentes estratos da sociedade alfabetizados cientificamente. Nesse sentido, estes diferentes espaços devem ser considerados locais de produção, circulação e recepção do conhecimento. No Brasil, vivenciamos no final da década de 1990 uma ampliação e renovação de espaços de divulgação científia, como, museus, espaços de ciências ligados a universidades, jardins botânicos e exposições itinerantes. Em paralelo, cada vez mais Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006171 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 2 podemos econtrar na mídia de circulação de massa informações relacionadas a tecnologia e ciência, até mesmo em desenhos animados tem sido cada vez mais comum a inclusão questões de natureza científica. De acordo com Marndino, Selles e Ferrreira (2009) a multiplicação de espaços não escolares de ensino e divulgação de ciências não é um fato isolado da política educacional brasileira, mas sim um movimento internacional que vem se desenvolvendo desde meados da década de 1980 a partir do projeto a UNESCO “Ciência para todos” que objetiva promover a alfabetizaçao científica da população. Para as autoras a ampliação dos espaços não escolares possibilita maior acesso da população ao conhecimento científico, no entanto, apontam que essa possibilidade reside em uma necessária articulação entre estes espaços e a escola. Ou seja, é preciso considerar no espaço escolar a existência de outros espaços e tempos que também promovem a educação, mesmo que de maneira distinta daquela que estamos culturalmente mais próximos. De acordo com Marandino (2001) tem havido um crescente de professores buscando os museus de ciências como uma alternativa pedagógica e essa parceria escola-museu deve ser pensada para além do complementar, pois apesar de ambos os espaços tratarem do conhecimento científico cada um guarda particularidades. Sendo assim, mais do que usar o espaço não formal como um complemento ou um momento de passeio é importante evidenciar as partiularidades de cada espaço, possibilitando que o professor amplie o seu repertório de práticas pedagógicas e o acesso à diferentes formas de recontextualização do conhecimento científico. Para Monteiro, Martins e Gouvêa (2009) a inserção dos licencandos em espaços de ensino não formais, promove a necessária articulação entre os espaços formais e não formais de ensino, permite “novas práticas de formação e ampliam o universo discursivo e o capital social e cultural dos sujeitos envolvidos” (p.7) Julgo necessário pontuar que os referências utilizados nessa discussão estão basicamente voltados para a reflexão sobre espaços, tais como: museus, zoológicos e jardins botânicos e que são poucos os trabalhos que exploram demais espaços de divulgação do cohecimento científico. Sobre esta questão Barzano (2008) pontua que há pouca valorização de outros espaços como, por exemplo, as ONGs, pois são “ainda considerados menos acadêmicos, por não colocarem no primeiro plano, o rigor científico”. (p.2) Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006172 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 3 Acredito ser possível afirmar o mesmo sobre os eventos pontuais, como é o caso da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), que proponho usar como um espaço de formação para os licenciandos de pedagogia. Compreendo que neste evento, apesar de pontual, se constrói conhecimento sobre diversos temas científicos e ocorre a sensibilização da população para questões atuais de nosso dia a dia. Sendo assim, mesmo que não haja um compromisso estrito com a apreensão de um conteúdo específico da ciência, há tanto divulgação quanto produção de conhecimento, pois são desenvolvidas ações pedagógicas previamente planejadas e intencionais. As ciências naturais no curso de pedagogia Outra questão relevante que justifica essa iniciativa é o fato dos cursos de graduação em pedagogia, locus principal para a formação de professores dos anos iniciais, apresentarem poucas oportunidades de contato com os conteúdos das ciências naturais e físicas. Sobre essa questão Ovigli e Bertucci (2009) investigaram a estrutura curricular dos cursos de pedagogia, a fim de compreender o modo pelo qual a ciência vem sendo inserida nessa graduação. Os autores revelam que de maneira geral a ênfase das disciplinas científicas é a metodologia de ensino em detrimento dos aspectos de conteúdo, sendo esta baseada nos modelos teóricos e pouco relacionada a prática de ensino. Ducatti-Silva (2005) ao analisar cinco cursos de Pedagogia de Instituições do Estado de São Paulo, identificou que as maiores dificuldades dos licenciandos para ministrar aulas de ciências eram a falta de domínio do conteúdo e a sua contextualização. Conforme apontado pela Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE) e de acordo com as diretrizes curriculares nacionais do ano de 2006, o curso de pedagogia prioritaiamente formará o professor da escola básica. No entanto, dado o crescimento de espaços de produção e divulgação do conhecimento científico, bem como o fato dos professores poderem usar esses espaços como instrumentos padagógicos, torna-se necessário o diálogo entre espaços formais e não formais de ensino na formação de professores desde a graduação. Construção da pergunta de pesquisa Tendo em vista que discutirei uma experiência de formação inicial a partir das reflexões relatadas, de forma oral (coletivamente) e textual (individualmente), pelos licenciandos envolvidos nas atividades da SNCT, ou seja, a partir de suas palavras, julgo importante Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006173 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 4 apresentar brevemente o modo como compreendo suas produçoes a partir da idéia de discurso proposta por Fairclough (2001). Aqui me apoprio da idéia de que o discurso é uma “prática não apenas de representação do mundo, mas de significação do mundo, constituindo e construindo o mundo em significado” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 91). Assim, o discurso deixa de ser apenas o reflexo, a representação, a reafirmação do universo social para também construí-lo e potencialmente transformá-lo, logo, sua relação com a estrutura social é dialética. Esta característica do discurso faz dele produtor e/ou reprodutor de identidades sociais; posições de sujeito, relações sociais e; por fim, sistemas de conhecimento e crença. (FAIRCLOUGH, 2001). Os processos de significação do mundo não resultam de uma escolha individual do sujeito como também não são totalmente externos a ele. Aqui considera-se que os processos de significação se dão no desenrolar das práticas sociais, ou seja, é na relação com o outro que nos constituímos e constituímos o mundo. Nessa articulação com o outro (não um outro personificado, mas sim a variedade de formas de se pensar o mundo, as diversas ordens de discurso (FOUCAULT, 2011) ) se desencadeia uma série de relações intertextuais e interdiscursivas nas quais os enunciados são produzidos. Nesse sentido, não serão realizadas análises psicológicas ou das histórias de vida esses licenciando, pois compreende-se o discurso como uma produção social. A partir dessas ideias e com o objetivo de discutir a formação de licenciandos de pedagogia em espaço de divulgação científica, proponho a seguinte questão norteadora do estudo: Como licenciandos do curso de pedagogia significam a experiência de atuar em um espaço de divulgação científica¿ Partindo dos pressupostos teóricos de que: o contato com um espaço tempo diferente do escolar possibilita a ampliações do repertório cultural e de práticas pedagógicas dos licenciandos; os processos de significação do mundo se dão nas relações sociais; as produções discursivas (escritas ou orais) são produções constituídas na e contituem a prátia social; farei uma primeira aproximação com textos de avaliação da experiência produzidos por licenciandos. Nesse primeiro contato busco identificar os principais temas discutidos por eles, usando a metodologia de “Análise de Conteúdo Temática”, a fim de operacionalizar um mapeamento inicial. No desenvolvimento posterior dessa pesquisa pretendo operacionalizar a análise discursiva dos dados. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006174 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 5 METODOLOGIA DO ESTUDO O contexto de pesquisa O curso de graduação em pedagogia da Universidade Federal Fluminense, situado no município de Angra dos Reis, contexto dessa pesquisa, não está distante do que apontam as pesquisas na área, pois em sua grade curricular há somente um disciplina obrigatória da área de ciências naturais. Em vista disso, a proposta realizada durante os anos de 2010 e 2011 pretendeu viabilizar a construção de um espaço, fora do contexto de uma disciplina específica, para discutir o ensino de ciências de uma forma que possibilitasse além do contato com o conteúdo disciplinar, o desenvolvimento de trabalho prático de planejamento, elaboração de experiências e contato direto com um público de idades variadas. Neste item apresento brevemente a proposta de atividade para os licenciandos em termos de carga horária, abordagem pedagógica e temática e conteúdo científico. A estrutura básica da atividade de foi composta de três etapas: planejamento de atividades a serem desenvolvidas no stand do evento, execução e avaliação. Apesar das propostas terem sido desenhadas da mesma forma, houve alteração no número de participantes e da carga horária dedicada a etapa de execução, conforme demosntra o quadro abaixo: Etapas do trabalho Carga horária média por aluno 2010 (14 licenciandos) Carga horária média por aluno 2011 (20 licenciandos) Etapa 1 planejamento 20 horas 20 horas Etapa 2 execução 15 hora 5 horas Etapa 3 avaliação 5 horas (discussão coletiva) 5 horas (discussão coletiva e redação de uma avaliação individual) A modificação na carga horária de execução foi resultado do aumento do número de licenciandos envolvidos no projeto e a uma redistribuição do número de licenciandos por turno de contato com o público. A abordagem pedagógica se baseou na abordagem construtivista para a formação de professores proposta por Carvalho e Gil - Pérez (1995). Estes autores elencam uma série de condições para o desenvolvimento de uma formação construtivista e que ultrapasse o simplismo da aquisição do conteúdo, estas são: 1. Trabalhar coletivamente, desde o planejamento até a avaliação; 2. conhecer a matéria a ser ensinada; 3. questionar o senso Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006175 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 6 comum; 4. adquirir conhecimento teóricos sobre a aprendizagem das ciências; 5. saber preparar atividades capazes de gerar uma aprendizagem efetiva; 6. saber dirigir o trabalho com os alunos; 7. saber avaliar; 8. adquirir a formação necessária para associar ensino e pesquisa didática. Inspirada por essa abordagem o trabalho foi desenvolvido de maneira coletiva, desde a seleção do conteúdo e recursos pedagógicos até a avaliação. Além disso, foram delineados os seguintes objetivos para a atividade de formação inicial: discutir os conteúdos com a finalidade de ultrapassarmos algumas idéias do senso comum; Compreender o espaço não formal para além do lazer, construindo um compromisso com a produção de um espaço que valorize a troca de experiências e a construção coletiva do conhecimento; Promover a vivência da prática de ensinar (a primeira experiência para muitos deles). Com relação ao conteúdo de ensino há variação de um ano para outro, pois nos preocupamos em abordar conteúdos relacionados a temática do evento. Sendo assim, em 2010 o tema foi “sustentabilidade” e os conteúdos discutidos foram, decomposição, fotossíntese e ciclos vitais, usamos como tema central de nossas atividades o postulado de Lavoisier “Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. No ano de 2011 o tema foi “Mudanças climáticas, desastres naturais e prevenção de riscos” e os conteúdos discutidos foram, natureza do conhecimento científico; ciclo de carbono; mudanças climáticas da pré-história; deriva continental; consumo verde. Usamos como tema central de nossas atividades uma questão controversa “O homem e o carbono são os vilões da história¿” Além da discussão sobre os conteúdos e planejamento de atividades também discutimos os objetivos da SNCT, bem como o papel dos espaços não escolares na divulgação dos conteúdos científicos. Participantes da pesquisa Conforme pontuado anteriormente, o número de licenciandos envolvidos na atividade foi de 14 no ano de 2010 e 20 no ano de 2011, totalizando 34 licenciandos, dentre os quais 10 licenciandos participaram durante os dois anos. Com a finalidade de uma aproximação do material de pesquisa proponho neste artigo a analise dos textos avaliativos de somente dois estudantes. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006176 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 7 O perfil dos 10 licenciandos é muito semelhante. Com relação ao período cursado, dois estavam no 1 período e oito no 2 período, no que diz respeito a experiência prática em sala de aula apenas 2 licenciandos haviam trabalhado como professores regentes, nenhum deles havia cursado a disciplina obrigatória “ciências naturais: conteúdo e método”, que somente é ministrada no oitavo período, e, por fim, nenhum estudante conhecia a SNCT. Corpus da pesquisa Tendo em vista que este artigo apresenta uma análise preliminar dessa proposta de formação analiso somente duas avaliações com a finalidade de desenvolver algumas categorias temáticas para um primeiro contato com o material de pesquisa. Etapas da análise A metodologia de análise utilizada nessa primeira aproximação com o corpus foi orientada por princípios de análise de conteúdo temática (GOMES, 2010; BARDIN, 1977). Dentre o conjunto de técnicas que compõem o referencial metodológico da análise de conteúdo, optei por orientar esta pesquisa nas seguintes etapas: 1. leitura compreensiva e exaustiva do material a ser analisado - esta etapa permitirá a elaboração de classificação primária do material a partir da seleção de fragmentos dos textos que sejam significativos para este trabalho. 2. Exploração do material – basicamente consiste na construção dos núcleos de sentido (também chamados de núcleos de significação). Estes núcleos serão elaborados a partir dos fragmentos de textos mapeados na etapa anterior e necessariamente surgem de um processo que busca refletir a fala dos sujeitos de pesquisa com alguns pressupotos sobre formação de professores e espaços não formais anteriormente apresentados. 3. Síntese interpretativa - a finalização da análise ocorre no processo interpretativo onde os núcleos de sentido serão agrupados em um tema ou mais que serão analizados a luz dos pessupostos teóricos deste estudo. A ANÁLISE: UM PRIMEIRO CONTATO A partir da leitura do material, recorte de fragmentos de texto e da revisão da literatura sobre “espaços não formais para o ensino de ciências” e “formação de professores”, discutida na primeira fase deste artigo, proponho aos seguintes núcleos de sentidos: 1. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006177 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 8 A experiência como forma de ampliar o repertório de práticas pedagógicas; 2. A experiência como forma de rever conhecimentos; 3. A experiência como espaço de troca de conhecimento. A experiência como forma de ampliar o repertório de práticas pedagógicas Algo que chamou a atenção dos licenciandos foi a possibilidade de relizar experimentos e conhcer as multiplas formas de uso dos mesmos. Em geral, os licenciandos comentam o quanto é diferente aprender e ensinar ciências com atividades práticas e como essas práticas parecem facilitar os processos de ensino aprendizagem. No fragmento de texto da licencianda Cátia percebemos que ao pontuar o aspecto da ampliação da prática pedagógica reflete sobre a possibilidade de usar a experiência no evento para repensar a prática de sala de aula. Podemos notar que apesar da licencianda identifcar este aspecto não há uma reflexão sobre as especificidades de um evento de divulgação científica em relação ao espaço escolar. No entanto, o contato com outo espaço tempo diferente do escolar possibilitou uma reflexão a cerca da necessidade de romper com a centralidade do livro didático no processo de ensino aprendizagem em sala de aula, dando lugar a outras práticas possíveis. “Para nós alunos de pedagogia que vamos nos deparar com várias situações em sala de aula, a semana serve de aprendizado, propiciando-nos a visualização de novas maneiras de ensinar ciências para além do livro didático.” (...) “muitas das atividades realizadas por nós foram até para mim e acredito que para muitos de nosso grupo, uma novidade” (Cátia) Já no fragmento de texto do licenciando Adriano podemos notar que a questão da ampliação da prática pedagógica é posta em princípio de maneira genérica, mas no decorrer de sua reflexão nota-se a centralidade no papel da atividade experimental para despertar o interesse dos alunos e facilitar o aprendizado. Outro aspectos que chama a atenção na fala de Adriano é o uso do verbo ver e observar no fragmento de texto em que marca a sua posição sobre a importância das atividades experimentais, ou seja, ao afirmar o potencial didático dos experimentos o licenciando retoma dados da prática para fortalecer a sua fala. “Essa proposta como parte da formação do professor é de grande relevância porque possibilita a nós licenciando uma visão mais ampla do processo de ensino-aprendizagem”(...)“As atividades apresentadas foram de suma importância e pude ver que os experimentos auxiliam e até facilitam a Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006178 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 9 aprendizagem.”(...) “quando chega a hora de apresentar para as crianças todo aquele conhecimento e experimentos, pude observar o quanto eles se interessam pelos assuntos apresentados e o quanto aquilo os instiga”(Adriano) O fato de a vivência prática constituir um momento de reflexão sobre a propria prática e de constituição de saberes docentes, é discutida por vários autores do campo da educação. De acordo com Queiroz (2002) os saberes práticos não podem ser ensinados fora da experiência e devem ser construídos por meio de ações coletivas de reflexão sobre as vivências. Nesse sentido, acredito que a experiência de planejar e avaliar atividades de ensino de ciências, mesmo que em um evento pontual, pode gerar reflexões sobre a prática, constituindo saberes pedagógicos. A experiência como forma de rever conhecimentos Com relação ao conhecimento científico foi comum para a maioria dos licenciandos apresentar insegurança ao discutirmos alguns conteúdos. Em vista disso, grande parte das reuniões de planejamento eram dedicadas a discussões sobre conteúdos científicos e o modo como poderíamos trabalhar pedagogicamente os conceitos. Cabe ressaltar que neste iten foram muitos os momentos em que os licenciandos se depararam com situações de conflito conceitual. Um exemplo clássico relatado pelas pesquisas é o conceito de fotossíntese e não foi surpresa perceber que a maior parte dos licenciandos compartilham da idéia de que a fotossíntese é a respiração das plantas e a explicação era a seguinte: “é a respiração ao contrário porque ela pega oxigênio e libera gáz carbônco” “A experiência de estar participando do processo de construção da SNCT é de grande aprendizado, pois me possibilitou aprender coisas que não sabia e até mesmo lembrar-me de coisas que havia esquecido.”(Adriano) “As propostas oferecidas nos dois anos que participamos no olhar de muitos poderiam ser consideradas manjadas, porém foram atividades que eu conhecia desconhecendo, pois não havia estudado e praticado elas como pôde ser feito na semana.”(Cátia) Um dos itens elencados por Carvalho e Gil-Pérez (1995) como necessários para a formação do professor é “conhecer o conteúdo a ser ensinado”. Para esses autores é necessário conhcecer o conteúdo a ser ensinado para além do senso comum e de modo multidimensional, pois o conhecimento ampliado posibilita a construção de estratégias de ensino em sala de aula que deem conta de questões complexas. A possibilidade de romper com o senso comum e revisitar conhecimentos que estavam apagados nas Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006179 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 10 memórias de muitos, ou mesmo construídos de forma extremamente basal aparece claramente na fala dos alunos, principalemnte quando Cátia usa a expressão “conhecia desconhecendo” A experiência como espaço de troca de conhecimento O primeiro contato dos licenciandos com a feira no ano de 2010 gerou muitas surpresas e aquela mais relatada entre os licenciandos foi o fato de muitas professoras do ensino fundamental conversarem sobre o modo como abordavam os conteúdos e os experimentos presentes em nosso stand e o fato de solicitarem a eles roteiro de atividades e orientações para desenvolverem em suas escola. Na ocasião os licenciandos produziram xerox dos materiais e métodos das atividades de nosso stand e distribuíram para diversas professoras. Outro ponto relacionado com a troca de conhecimentos relatado pelo coletivo de licenciandos e que aparece em uma das avaliações escritas foi a possibilidade de trocar conhecimento não só com os participantes como também com os demais expositores, que são de diferentes instituições e possuem formação variada. “Até o contato com os outros participantes da semana é algo que posso considerar um aprendizado, pois a troca de conhecimentos que nos é propiciada com o encontro é transformado em aprendizado único e específico.”(Cátia) Sobre esta categoria acredito que, dada a característica instável desses espaços no que diz respeito ao público participante e as possibilidades de interação no evento, a paticipação dos licenciandos nesse espaço possibilita a imersão em redes intertextuais (Fairclough, 2001) que não necessariamente encontrariam no espaço escolar. Nesse sentido, cabe retomar a afirmação de Monteiro, Martins e Gouvêa (2009) a respeito da inserção dos licencandos em espaços de ensino não formais, promover a necessária articulação entre os espaços formais e não formais de ensino e permitir “novas práticas de formação e ampliam o universo discursivo e o capital social e cultural dos sujeitos envolvidos” (p.7). DISCUSSÃO Diante dessa primeira aproximação com o material produzido pelos licenciandos proponho como o seguinte, para agrupar os núcleos de sentidos construídos até aqui: “Ampliação do conhecimento científico e da prática pedagógica”. Este tema surge do fato de em muitas passagens os licenciandos pontuarem que o contato com o outro, a Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006180 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 11 execução de atividades e a revisão dos conceitos levaram a uma ampliação do conhecimento que possuám. O tema em qustão convida-nos a refletir sobre um aspecto amplamente presente nas discussões sobre a formação de professores, a saber a relação teoria-prática. Para Libâneo (2001) quando se promove a formação de professores seja inicial ou continuada, a de se construir uma relação entre teoria e prática no sentido de promover um processo de reflexão sobre a ação, o que nas palavras do autor: Significa que o professor analisa sua prática à luz da teoria, revê sua prática, experimenta novas formas de trabalho, cria novas estratégias, inventa novos procedimentos. Tematizando sua prática, isto é, fazendo coro que sua prática se transforme em conteúdo de reflexão, ele vai ampliando a consciencia sobre sua própria prática.(p.35) Baseada no agumento deste autor, acredito na necessidade de se criar espaços que possibilitem a relação teoria – prática, bem como o contato com um amplo repertório de práticas pedagógicas e conhecimento científicos nos cursos de graduação em pedagogia, não apeas nas salas de aula, mas nos movimentos sociais, nas praças, no eventos de divulgação científica, pois essas multiplas formas de viver a prática pedagógica constituem um repertório cultural amplo e possibilita a autonomia na docencia. A partir do entendimento de que os processos de produção de significação do mundo se dão no mundo e que refletimos sobre nossas ações não apenas a partir de uma análise individual, mas do que se tem acesso nas diferentes espefaras sociais onde circulamos, acredito que para além do licenciando ou professor ir “ampliando a consciencia sobre sua própria prática.” é possível ampliar sua conscencia sobre o contexto no qual desenvolve sua prática. Sendo assim considero tais expriências potencialmente úteis para os processos de constituição da identidade docente. Por fim, pelo fato de vivermos expostos aos conhecimentos científicos, por meio de uma série de canais que não só a escola, entendo que desconsiderar outros espaços de produção e circulação do conhecimento é negligenciar o contexto social atual. Acredito que uma formação que possibilite o contato dos licenciandos com diferentes espaços, textos e públicos possa fornecer elementos para a autonomia no trabalho do professor e também o contato com a complexidade de questões que envolvem os espaços educativos, seja ele formal ou não formal. Como analisa Queiroz (2002) “não é de hoje que a complexidade é considerada uma das características básicas do fenômeno educacional”, mas cabe pontuar que ainda hoje as práticas de formação inicial são amplamente centradas nos conteúdos acadêmicos e no estágio escolar e, por vezes, desconsideram essa complexidade. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006181 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARDIN, L. Análise do Conteúdo. Paris: Presses Universitaires de France, 1977. BARZANO, M. A.L.Educação não-formal: Apontamentos ao Ensino de Biologia. Revista Eletrônica Ciência em Tela, v.1, n.1, 2008. 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