Observação: Todos os textos foram elaborados pela professora Rosa
Maria Carvalho da Silveira. Alguns desses textos são simples resumos de
obras referenciadas para uso exclusivamente didático em sala de aula.
Wallon
Disciplina: Psicologia da Educação
Prof. Dra. Rosa Maria Carvalho da Silveira
Do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência segundo Wallon (Dantas, H.)
Walon, neuropsicólogo, entende o estudo da psicologia num contexto de tratamento
histórico (genético), neurofuncional, multidimensional, comparativo. As funções
neuropsicológicas devem ser estudadas evolutiva e involutivamente (por isso o interesse
de Wallon pela doença e pela velhice), partindo de suas bases neurológicas, e
comparando-as com as suas equivalentes em outras espécies animais, em diferentes
momentos da história humana individual e coletiva. O ser humano é organicamente
(geneticamente) social, isto é, o desenvolvimento de sua estrutura orgânica pressupõe a
intervenção da cultura (meio social). sócio-histórica.
O método utilizado por Wallon é a observação, além do relato da criança e a realização
de alguns testes apenas como forma de completar as informações retiradas da observação.
Wallon propôs etapas para o desenvolvimento psicomotor. A musculatura e as estruturas
cerebrais são responsáveis pela organização dos órgãos do movimento.
Wallon identificou duas funções na atividade muscular:
1) cinética ou clônica, que responde pelo movimento visível, pela mudança de
posição do corpo ou de segmentos do corpo no espaço. Atividade do músculo em
movimento;
2) postural ou tônica que responde pela manutenção da posição assumida (atitude) e
pela mímica. Atividade do músculo parado.
O ato mental – que se desenvolve a partir do ato motor – passa em seguida a inibi-lo, sem
deixar de ser atividade corpórea. A princípio, o movimento desencadeia e conduz o
pensamento. Inicialmente, o gesto gráfico é o condutor da idéia, e depois é conduzido por
ela (por exemplo, na criança pequena o olho acompanha a mão, mais tarde a mão seguirá
o olho).
Etapas do desenvolvimento psicomotor proposto por Wallon: estágios impulsivo,
emocional, sensório-motor e projetivo Estágio impulsivo os movimentos impulsivos
se tornam movimentos expressivos. Até o final do 1.º ano , o bebê manterá com o
ambiente uma relação de natureza afetiva estágio emocional. A inteligência, neste
momento, não se dissociou da afetividade. Aos 6 meses, a presença humana e o objeto
que ele oferece, torna-se mais estimulante para o bebê, do que o mundo físico. Final do
1.º ano: preensão do polegar e indicador, também se forma a lateralidade dominante, e a
exploração do ambiente estágio sensório-motor
Fase simbólica as influências ambientais, aliadas ao amadurecimento da região
temporal do córtex estágio projetivo.
Fases da inteligência (Wallon) Æ emocional, sensório-motor, projetiva e categorial.
Construção simultânea do sujeito e objeto, da afetividade e inteligência. Portanto, o
sujeito se constrói pela interação dialética.
Estágio emocional Æ Primeira etapaÆ 1.ºano de vida: relações emocionais com o
ambiente. Fase de construção do sujeito, o trabalho cognitivo está latente e indiferenciado
da atividade afetiva.
Etapa sensório-motoras (olhar, pegar, andar) 2.º anoÆ Exploração intensa e sistemática
do ambiente. A inteligência dedica-se a construção da realidade (inteligência prática).
Estágio projetivo Æ Final do 2.º ano Æ o surgimento da fala e as condutas
representativas (função simbólica) · novas forma de relação com o real.
Com a função simbólica e a linguagem inaugura-se o pensamento discursivo Æ
construção recíproca, ou seja, pensamento e linguagem estruturam-se reciprocamente. A
partir dos 5 anos Æ sincretismo (duas coisas são simultaneamente assimiladas e opostas:
“o sol está no céu, mas não são a mesma coisa”).
Entre os 5 e 9 anos Æ tendência à redução do sincretismo, permitindo o
aparecimento do pensamento categorial. Para Wallon, a função da inteligência, para o
adulto como para a criança reside na explicação da realidade.
Etapa categorial (pré-adolescência) Æ aquisição da capacidade conceitual, e com ela a
possibilidade de definir e explicar.
No início a linguagem conduz o pensamento. A palavra carrega a idéia, como o gesto
carrega a intenção. A linguagem é capaz de nutrir o pensamento;linguagem e pensamento
estruturam-se reciprocamente. Só mais tarde, quando o processo pensante estiver mais
solidificado, que a idéia comandará a busca e a escolha das palavras.
A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon (Dantas, H.)
A teoria da emoção de Wallon tem uma nítida inspiração darwinista: é vista como o
instrumento de sobrevivência típico da espécie humana.
A afetividade ocupa lugar central Æ construção da pessoa \ período impulsivo emocional
I
Æ conhecimento
/ ao longo do 1.º ano de vida
Início do psiquismo Æ manifestações fisiológicas da emoção Æ o bebê chora e mobiliza
a mãe para atender a sua demanda (sobrevivência).
A emoção faz a transição entre o estado orgânico e a etapa cognitiva racional Æ através
da mediação social (cultural) Æ acesso ao simbólico da cultura.
O psiquismo emerge da vida orgânica Æ consciência afetiva
\
/
Componentes vegetativos Æ origem na função tônica
A natureza contraditória da emoção vem do fato de participar de dois mundos
(simultaneamente social e biológico) e ter como função fazer a transição entre eles. Neste
sentido, para Wallon: a teoria da emoção é dialética para dar conta da sua natureza
paradoxal, e genética para acompanhar as mudanças funcionais. A conduta emocional
depende de centros subcorticais (expressão involuntária) e, com maturação cortical tornase de controle voluntário. Porém, a emoção descontrolada corresponde tambám à atuação
subcortical. A modulação afetiva está intimamente ligada à modulação muscular; a
alteração emocional corresponde uma flutuação tônica.
A ativação ou redução da emoção está sob controle cerebral e, por conseguinte, pode ser
instigada ou reduzida por agentes químicos.
“A razão nasce da emoção e vive de sua morte” (Wallon). Ex. A perda da lucidez
produzida por estados emocionais intensos; e a mutação que transforma emoção em
atividade intelectual. Em estado de grande ansiedade (emoção) é difícil envolver o
indivíduo em atividade cognitiva ou reflexiva, portanto, reduz a eficácia do
funcionamento cognitivo.
É possível produzir emoção por meios puramente representativos (ex. filme). Efeitos de
massagens e de relaxamento autógeno, assim como os paroxismos emotivos podem ser
provocados por atividade rítmica intensa (cadências de tambor). Portanto, as alterações
emocionais (passionais) podem ser provocadas: natureza química, central; mecânicomuscular, periférica e natureza abstrata, representacional.
Papel do tônus: hipotônicaÆ susto e depressão.
.
hipertônicaÆ cólera e ansiedade.
A concentração do tônus sem descarga imediata é penosa, por ex. não atingir o orgasmo.
A revolução orgânica provocada pela emoção leva o indivíduo a se ocupar das próprias
sensações viscerais e fica diminuída a acuidade da percepção do exterior (atividade de
relação) Æ sensibilidade protopática . A sensibilidade tem um nível afetivo e outro
cognitivo, assim como a motricidade e a linguagem.
A emoção delineia o corpo, imprime-lhe forma e consistência Æ atividade
proprioplástica, portanto a tendência ao contágio tem base concreta e mal identificada Æ
há um diálogo tônico, uma comunicação forte e primitiva que se faz por intermédio da
atividade tônico-postural.
A emoção é contagiosa e visível através da modificação da mímica e na expressão facial.
A afetividade é componente permanente da ação. A educação da emoção deve ser
incluída entre os propósitos da ação pedagógica, o que supõe o conhecimento íntimo do
seu modo de funcionamento.
Afetividade e inteligência
Desenvolvimento da afetividade Æ afetividade emocional ou tônica; afetividade
simbólica e afetividade categorial.
Da afetividade diferenciou-se a vida racional. No início da vida, a afetividade e
inteligência estão misturadas, com predomínio da afetividade. A diferenciação logo se
inicia, mas a reciprocidade entre elas se mantém de tal forma que as aquisições de cada
uma repercutem sobre a outra permanentemente.
A maturação coloca em evidência a atividade cognitiva colocando em ação o
equipamento sensório-motor, necessário à exploração da realidade. A partir daí, a
construção da pessoa será constituída por uma sucessão pendular de momentos
dominantemente afetivos ou dominantemente cognitivos, não paralelos, mas integrados.
Cada novo momento terá incorporado as aquisições feitas no nível anterior, ou seja, na
outra dimensão. Isto significa que a afetividade depende, para evoluir, de conquistas
realizadas no plano da inteligência, e vice-versa. A afetividade incorpora as construções
da inteligência, e por conseguinte tende a se racionalizar. As formas adultas de
afetividade podem diferir das suas formas infantis. No início, a afetividade reduz-se a
manifestações somáticas ou pura emoção Æ afetividade somática, as trocas afetivas
dependem da presença concreta dos parceiros.
Depois que a inteligência construiu a função simbólica, a comunicação incorpora a
linguagem, primeiro oral e depois escrita. Instala-se a forma cognitiva de vinculação
afetiva.
O último momento de construção afetiva, a puberdade Æ função categorial. Tipo de
conduta que coloca exigências racionais nas relações afetivas: exigências de respeito
recíproco, justiça, igualdade de direitos, etc. Não atende-las tende a ser percebido como
desamor Æ razões de desentendimentos entre adolescentes e seus pais, quando eles
insistem conduzi-los por padrões educativos que não correspondem mais às expectativas
de sua nova organização afetiva.
Nos momentos do desenvolvimento em que há o domínio da afetividade, o 1.º plano é a
construção do sujeito, que se faz pela interação com outros sujeitos (objeto), ou seja, a
realidade externa, que se modela, a custa da aquisição das técnicas elaboradas pela
cultura Æ ou mediação social.
Conclusão: a construção do sujeito (afetividade) e a do objeto (cognição/inteligência)
alimentam-se mutuamente, e mesmo afirmar que a elaboração do conhecimento depende
da construção do sujeito (interação dialética).
As etapas da construção do eu
Nos primeiros 3 meses, o recém-nascido dorme durante a maior parte do tempo, e
responde a estímulos de natureza interna e as suas próprias sensações viscerais, mais do
que a estímulos do ambiente. Ele está preocupado com o se EU corporal.
Movimentos reflexos e impulsivos (ex. movimentos dos braços do bebê que o adulto
entende como uma comunicação a ser atendida) Æ são os pontos de partida que ao longo
do desenvolvimento conduzirão ao pensamento categorial e a personalidade. Portanto, a
mediação social está na base do desenvolvimento.
A construção do Eu é um processo condenado ao não acabamento: persistirá sempre,
dentro de cada um. A diferenciação do EU e do outro (externalidade – processo de
individualização) é condição essencial para o progresso da inteligência. Para Wallon não
é a única condição, pois a inteligência vai depender dos acontecimentos que ocorrem nos
dois níveis que constituem os subterrâneos do psiquismo: o biológico e o social. No plano
biológico depende da maturação cerebral e no plano social é necessária a interação e a
transmissão de conteúdos através do veículo lingüístico. Enfim, tudo dependerá tanto das
possibilidades intelectuais quanto do grau de elaboração atingido pela cultura.
A função categorial, ampliando o alcance da inteligência, abriu espaços para novas
definições do EU. A pessoa se abre para dimensões ideológicas, políticas, metafísicas,
éticas, religiosas que precisa ocupar.
Manter um EU diferenciado e integrado, não é tarefa simples: requer de fato a extensão
da inteligência.
Bibliografia:
TAILLE, Yves de la; OLIVEIRA, Marta Kohl; DANTAS, Heloisa Piaget, Vygotsky,
Wallon – teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo, Summus,1992, p. 35-44 e 8598.
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Wallon - Rosa Maria - Psicologa e Psicoterapeuta