A RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA EM NOTÍCIAS
Julianne Pereira dos SANTOS
Departamento de Letras - UFRN
Lúcia de Fátima Medeiros SILVA
Departamento de Letras - UFRN
Orientadora: Maria das Graças Soares RODRIGUES
RESUMO
Neste trabalho, propomo-nos a identificar e descrever a materialização da
responsabilidade enunciativa no discurso jornalístico, concentrando-nos em notícias
investigativas, políticas e sociais. Estabelecemos como objetivos analisar se o jornalista
responsável pela notícia assume os enunciados ou os coloca sobre a dependência de
uma fonte do saber e quais as estratégias discursivas usadas para diferenciar e delimitar
as vozes presentes no texto.
Palavras-chave: notícias; responsabilidade enunciativa; ponto de vista; Adam.
INTRODUÇÃO
Diariamente, diversas notícias chegam a nosso conhecimento por intermédio dos
meios de comunicação em massa. Com a grande quantidade e a velocidade de
informações e conhecimentos produzidos atualmente, as notícias são um ótimo canal
para trazer fatos novos e relevantes, de todas as áreas, aos leitores e, assim, tornam-se
imprescindíveis para nos conectar ao mundo.
Uma das marcas primordiais desse gênero e de quem o produz é a tentativa de
isenção de opinião. A notícia, o meio em que ela é veiculada e o seu produtor precisam
mostrar-se neutros em relação ao fato que está sendo relatado e divulgado. Isso é um
objetivo pretendido, mas será que sempre é alcançado? O produtor da notícia isenta-se
dos enunciados por ele veiculados, delegando a voz à outra(s) pessoa(s), sem se
envolver com o que é dito ou assume a responsabilidade enunciativa, deixando
transparecer o seu ponto de vista em relação ao assunto tratado?
Desta forma, objetivamos nesse trabalho identificar, descrever e analisar a
materialização da responsabilidade enunciativa no discurso jornalístico, concentrandonos no gênero textual notícia, retiradas de sites e revistas online.
Este trabalho é um recorte de um projeto de monitoria intitulado “Análise
Textual dos Discursos”, coordenado pela professora doutora Maria das Graças Soares
Rodrigues na UFRN.
A NOTÍCIA COMO GÊNERO TEXTUAL
De acordo com Benassi (2009, p. 1793), a notícia é um formato de divulgação de
um acontecimento por meios jornalísticos. É a matéria-prima do Jornalismo,
normalmente reconhecida como algum dado ou evento socialmente relevante que
merece publicação numa mídia. Fatos políticos, sociais, econômicos, culturais, naturais
e outros podem ser notícia se afetarem indivíduos ou grupos significativos para um
determinado veículo de imprensa.
Segundo Barbosa (2001), apud Benassi (2009, p. 1794), para alguns estudiosos
da comunicação, as notícias existem muito antes do surgimento dos jornais, das revistas,
dos rádios, da TV e da Internet. Há outras maneiras de espalhar a notícia. Dentre as
mais primitivas destaca-se a “transmissão boca a boca”, que já foi muito utilizada ao
longo da história da humanidade. Porém, o gênero textual notícia só passou a existir
com o surgimento dos jornais, por volta do século XVII, na Europa. A partir desse
momento, com a invenção da imprensa, a divulgação dos conhecimentos foi facilitada e
as notícias passam a ser a seção mais importante e a razão de ser dos jornais. De acordo
com Bakhtin (1997, p. 297), os gêneros textuais são específicos em cada uma das
esferas sociais. Desse modo, o gênero textual notícia circula na esfera jornalística,
produzida no âmbito da mídia.
Como todo gênero textual, a notícia tem sua estrutura diferenciada. A
organização do texto da notícia se dá da seguinte maneira:
1. Manchete – objetiva, com o menor número possível de palavras, porém clara,
deve resumir sem “cortar” o assunto geral da notícia;
2. Lead – é o primeiro parágrafo do texto, chamado também de “cabeça da notícia”
ou “parágrafo-guia”. Frequentemente é destacado do corpo da notícia. Indica o
fato e descreve as circunstâncias em que ele ocorreu. Normalmente, responde as
perguntas: “Quem?”, “O quê?”, “Onde?” e “Quando?”;
3. Corpo da notícia – desenvolve as informações dadas no lead e é onde o fato é
realmente noticiado. De acordo com Benassi (2009, p. 1794), aqui é importante
relatar não só o fato, mas oferecer o máximo de dados possíveis para que ele
pareça verdadeiro e a notícia, confiável. Não basta que uma notícia seja
verdadeira; é preciso que ela pareça verdadeira.
Outro aspecto a ser levado em consideração no processo de produção de uma notícia
é a quem ela se dirige, como sempre deve acontecer nas situações de produção de
linguagem. É preciso considerar a que público o veículo de comunicação em que a
notícia está sendo relatada se dirige, a seção em que a notícia estará inserida, o perfil
dos leitores para, desse modo, saber “como” escrever. O estilo também é marcado pela
objetividade e procura destacar aspectos principais ou interessantes de um fato,
situando-o no seu momento histórico, como forma de revestir a informação de
seriedade.
Os textos jornalísticos, principalmente as notícias, são vistos muitas vezes apenas
com uma função referencial, como fonte de informação, mas é preciso vê-los também
uma forma importante de democratização do conhecimento. A notícia pode ser usada
como técnica para uma leitura mais complexa, contribuindo para a formação de leitores
críticos e até mesmo de alunos produtores de textos.
A RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA
Este trabalho se subsidia em ADAM (2008) e suas noções de responsabilidade
enunciativa ou pontos de vista. Adam (2008) estabelece que a representação discursiva
é a representação de um ponto de vista, a partir de relações estabelecidas entre
enunciados na atividade enunciativa. Assim, ações relatadas são ligadas por pontos de
vista, frequentemente marcados por introdutores. Esses introdutores marcam zonas do
texto sob a dependência de uma fonte de saber ou de percepção e os enunciados nem
sempre são assumidos pelo locutor-narrador.
Adam (2008) acredita que “toda proposição-enunciado compreende dimensões
complementares às quais se acrescenta o fato de que não existe enunciado isolado:
mesmo aparecendo isolado, um enunciado elementar liga-se a um ou a vários outros
e/ou convoca um ou vários outros em resposta ou como simples continuação”; Nesse
âmbito, a dimensão enunciativa se encarrega da representação de um conteúdo
referencial, dando-lhe certa potencialidade argumentativa que lhe confere uma força ou
valor ilocucionário. Assim, para o autor, o valor descritivo de um enunciado é assumido
na relação com o valor argumentativo desse enunciado e o sentido do enunciado está
ligado a um dizer, a uma atividade enunciativa reconstruída por meio da reconstrução
do texto.
Para Adam (2008), o grau de responsabilidade enunciativa de uma proposição é
suscetível de ser marcado por um grande número de unidades da língua. Ele enumera as
grandes categorias, sem detalhá-las, mas expandindo a descrição do que Benveniste
(1974, p. 79-88) chamava de “aparelho formal de enunciação”. Essas categorias são: os
índices de pessoas; os dêiticos espaciais e temporais; os tempos verbais; as
modalidades; os diferentes tipos de representação da fala; as indicações de quadros
mediadores; os fenômenos de modalização autonímica e as indicações de um suporte de
percepções e de pensamentos relatados.
ANÁLISE DO CORPUS
Nosso corpus constitui-se de quinze notícias, mas concentramo-nos apenas em
sete, consideradas mais relevantes e com dados mais claros para análise. Estabelecemos,
de modo a tornar mais claro ao leitor, uma legenda de cores para marcas as zonas
textuais em que o autor assume a responsabilidade enunciativa, coloca a
responsabilidade na dependência de uma fonte do saber (mediação epistêmica) ou de
percepção (mediação perceptiva). Denominamos de locutor narrador enunciador aquele
que assume a responsabilidade enunciativa pelo que é dito; locutor narrador, aquele que
apenas narra os fatos, sem se envolver com eles; mediação epistêmica, quando há
dependência de uma fonte de saber e mediação perceptiva, quando o produtor da notícia
se vale de algo do senso-comum para expressar um ponto de vista.
LEGENDA
Locutor narrador enunciador
Locutor narrador
Mediação Epistêmica
Mediação Perceptiva
__
Marcador de mudança de voz
Notícia 1
“Brasil e Portugal se unem para discutir novas oportunidades de negócios
BRASÍLIA - Ao participar nesta quarta-feira, em Lisboa, da 10ª Cimeira Brasil e
Portugal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá reforçar os tradicionais laços
culturais e linguísticos que unem os dois países e, ao mesmo tempo, defender mais uma
oportunidade para a realização de negócios entre empresários brasileiros e portugueses.
O intercâmbio comercial entre os dois países aumentou de US$ 753,4 milhões, em
2002, para a cifra recorde de US$ 2,3 bilhões registrada em 2008, segundo dados do
Ministério das Relações Exteriores. Os números representam crescimento de 206%
neste período.
[...]
Segundo o embaixador, "o Brasil não é mais o país do futuro, é o país do presente", em
termos de oportunidades de investimentos. A Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil
concorda e também aponta a direção inversa, afirmando que Portugal é visto pelas
empresas brasileiras como uma porta de entrada na Europa, o que levou vários grupos a
atravessar o Atlântico para buscar novos empreendimentos.”
Nessa primeira notícia, podemos perceber que o produtor recorre principalmente
à mediação epistêmica, procurando isentar-se do que é dito. Ocorre apenas uma vez a
mediação perceptiva, quando ele deduz que o Presidente Lula “deverá reforçar os
tradicionais laços com Portugal”. Nesse caso, o produtor usa de uma opinião dele,
porém baseada no senso comum.
Notícia 2
“São Paulo tem trânsito acima da média e concentra 100 km de congestionamento
Marginal Pinheiros é a pior via; faixa da direita, na pista expressa, está bloqueada
Do R7, com Agência Record
A cidade de São Paulo registra, por volta das 7h50 desta quarta-feira (19), o índice de
lentidão acima da média para o horário: são 100 km de congestionamento em toda a
capital. De acordo com a CET (Companhia de Engenharia e Tráfego), a pior via é a
Marginal Pinheiros, com 8,7 km de filas nos dois sentidos da via.
A lentidão na marginal ocorre devido ao atraso em uma obra de recapeamento, que foi
feita durante a madrugada. Segundo a CET, a faixa da direita, na pista expressa, está
interditada no sentido que dá acesso à rodovia Castello Branco.
A companhia afirma que parte da obra foi finalizada tardiamente às 6h30. A interdição
do recapeamento, que é de responsabilidade da Subprefeitura de Pinheiros, na zona
oeste da capital, ocorre por medida de segurança, segundo a CET. A reportagem do R7
entrou em contato com o órgão municipal, mas não obteve retorno.
O recorde das manhãs de 2010 é de 163 km, alcançados às 9h30 do dia 25 de fevereiro,
que ocorreu, segundo a companhia, por excesso de veículos.”
Notícia 3
“Papa evoca mensagem de Fátima após viagem a Portugal
CIDADE DO VATICANO (AFP) - O Papa Bento XVI classificou nesta quarta-feira
sua recente viagem a Portugal de inesquecível e recordou que as profecias da Virgem de
Fátima são uma mensagem "centrada na oração, na penitência e na conversão".
As palavras do Papa foram pronunciadas poucos dias depois de sua visita a Portugal (11
ao 14 de maio), durante a tradicional audiência-geral na praça de São Pedro, à qual
assistiram 13.000 fieis de todas as nacionalidades
"Foi uma viagem emocionante, rica e inesquecível", afirmou Bento XVI ao mencionar
"a acolhida espontânea e marcada pelo entusiasmo das pessoas".”
Nas notícias 2 e 3, os produtores mantêm-se inteiramente neutros em relação ao
que está sendo relatado, fazendo uso, nas notícias inteiras, da mediação epistêmica
(dependência a uma fonte do saber).
Notícia 4
“Lula adverte para retrocesso se não houver negociação sobre Irã
Lula falou sobre Irã em conferência sobre a economia brasileira em Madri
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta quarta-feira, que ocorrerá um
retrocesso na questão nuclear iraniana se o Conselho de Segurança da ONU não tiver
disposição para negociar após o acordo tripartite fechado no domingo sobre o
enriquecimento de urânio. "Agora depende do Conselho de Segurança da ONU sentar
com disposição de negociar, porque se eles não quiserem negociar, tudo vai voltar
atrás", argumentou Lula durante uma conferência sobre a economia brasileira em Madri.
O presidente fez estas declarações um dia depois de uma resolução, promovida pelos
Estados Unidos, ter sido submetida ao Conselho de Segurança com a previsão de
reforço às sanções contra o Irã. O governo brasileiro anunciou que não participará do
debate sobre essas sanções porque existe uma nova situação, segundo a representante do
Brasil ante a ONU, María Luiza Ribeiro Viotti.
Lula disse que o Brasil e a Turquia fizeram - no acordo com o Irã - exatamente o que os
Estados Unidos queriam ter feito há cinco ou seis meses. "Qual era o grande problema
do Irã? Que ninguém podia sentar para negociar. O que queríamos era convencer o Irã
de que o país deve assumir o compromisso com a Agência (Internacional de Energia
Atômica, AIEA) e deve negociar, além de depositar seu urânio na Turquia: isso é o que
foi acertado", explicou.
Na terça-feira, o chanceler brasileiro Celso Amorim declarou que o acordo tripartite
"cria uma oportunidade para uma solução negociada e pacífica" em relação à questão
iraniana. O acordo assinado na segunda-feira em Teerã foi recebido com frieza pela
comunidade internacional, que acredita que o Irã quer utilizar a energia nuclear para
conseguir armas atômicas e não para fins civis, como asseguram suas autoridades.”
Nessa notícia, o produtor utiliza-se, principalmente, da mediação epistêmica,
colocando a responsabilidade enunciativa sob a dependência de uma fonte do saber.
Porém, em uma frase, o autor se envolve e usa a expressão “com frieza”, assumindo,
assim, a responsabilidade pelo que é dito, marcando o seu ponto de vista sobre o assunto
tratado.
Notícia 5
“Robô realiza cerimônia de casamento no Japão
Olha só que comovente, gente. Satoko Inoue, funcionária da empresa de robótica
Kokoro, quis porque quis que seu casamento fosse ministrado por iFairy, um simpático
robô de sua companhia cuja função, normalmente, é indicar obras em museus e
exposições. O robô foi controlado o tempo todo por uma pessoa, o que é suficiente para
validar o casamento.
Bom, todo mundo sabe que a dona do casamento é a noiva. E vamos combinar que, pela
cara de felicidade do maridão Tomohiro Shibato – que é professor de robótica no Japão
-, ele não estava muito a fim de contrariar os desejos de sua futura esposa, não é
verdade?
Achei fofo. E estranho. Não sei o que é mais comovente: a voz de criancinha do robô ou
o arranjo floral na cabeça dele, todo festivo para a ocasião. De qualquer forma,
felicidades ao casal!”
Nessa notícia, diferentemente da maioria, o produtor assume quase totalmente a
responsabilidade enunciativa pelo que é dito ao usar adjetivos, advérbios, verbos na
primeira pessoa do singular e do plural, além de criar uma interlocução com o leitor. Há
apenas uma exceção quando ocorre o uso da mediação perceptiva. Nesse caso, o autor
também emite uma opinião, porém baseada na percepção do senso comum.
Notícia 6
STJ reconhece adoção por casal homossexual no RS
A união homoafetiva entre duas mulheres foi considerada como uma família,
permitindo que duas crianças sejam registradas com os nomes das duas mães.
Em uma decisão histórica, a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
reconheceu, por unanimidade, a adoção de crianças por um casal homossexual de Bagé
(RS). A Justiça gaúcha já havia considerado a união homoafetiva em questão como uma
família e autorizado que as duas crianças adotadas fossem registradas com os nomes das
duas mães. O Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul, no entanto, recorreu da
decisão,
o
que
levou
o
caso
ao
STJ,
em
2006.
“Não se pode supor que o fato dos adotantes serem duas mulheres possa causar algum
dano (à formação das crianças), dano ao menor seria a não adoção”, disse o ministro
João Otávio de Noronha, presidente da 4ª Turma. Ao criticar a atuação do Ministério
Público do Rio Grande do Sul, ele afirmou que o MP devia ter considerado o interesse
das crianças. Segundo ele, o entendimento não era uma preferência a heterossexuais ou
homossexuais, e sim para aquilo que “for melhor para as crianças”.
O ministro destacou o fato de esta ser a primeira vez que o STJ julga recurso sobre
adoção por casal homossexual. “Nesses casos, há de se entender que o interesse é
sempre do menor, e o interesse dos menores diante da melhoria da situação social é a
adoção.”
[...]
Na notícia nº 6, assim como na maioria, há uma presença marcante da mediação
epistêmica, deixando claro que o produtor pretende isentar-se do que é dito. Há uma
exceção quando ele usa o adjetivo “histórica” na expressão “decisão histórica”. O uso
desse adjetivo, que é uma unidade linguística que indica o grau da responsabilidade
enunciativa, mostra que o produtor da notícia em questão, intencionalmente ou não,
envolveu-se com a notícia e deixou transparecer o seu ponto de vista sobre o tema
relatado.
Notícia 7
Kaká marca em goleada do Brasil sobre a Tanzânia por 5 x 1
A seleção brasileira goleou a Tanzânia por 5 x 1 nesta segunda-feira, em sua última
partida antes da estreia na Copa do Mundo, num jogo em que o time do técnico Dunga
mostrou problemas defensivos no primeiro tempo, principalmente pelo lado esquerdo.
A boa notícia para a torcida brasileira foi o desempenho do meia Kaká, principal estrela
do time, que atuou o jogo inteiro e fez algumas de suas arrancadas características, além
de marcar um dos gols da vitória brasileira. O jogador do Real Madrid vem de uma
temporada complicada, marcada por lesões.
"Me sinto bem, agora só falta me soltar um pouco mais", disse Kaká após a partida. No
amistoso da semana passada, contra o Zimbábue, o meia jogou parte do confronto e teve
participação discreta.
Robinho e Ramires, com dois cada, foram os autores dos outros gols do Brasil.
Ocupando apenas a 108a posição no ranking da Fifa, a Tanzânia começou a partida em
ritmo acelerado, correndo bastante e se aproveitando dos erros de passe cometidos pelos
jogadores brasileiros no meio-campo. A primeira chance da partida foi da seleção
africana. Aos oito minutos, Mgosi fez jogada pela esquerda da defesa brasileira e cruzou
na pequena área, mas a zaga colocou para escanteio. No minuto seguinte, a Tanzânia
voltou a descer pela esquerda. Ngasa ficou cara-a-cara com Gomes, mas o goleiro
brasileiro-que substituiu Júlio César, poupado-- defendeu.
Aos 10 minutos, no entanto, foi o Brasil que abriu o placar. Kaká deu bom passe para
Robinho bater cruzado e fazer 1 x 0.
A Tanzânia não se acanhou com o gol brasileiro e seguiu dando trabalho a Gomes. Aos
21, Ngasa chutou forte para defesa do goleiro brasileiro e, no minuto seguinte, Kig
chutou por cima do gol. Aos 31, após erro de passe do Brasil na saída de bola, Ngasa
ficou de frente para o gol, mas arrematou fraco para defesa de Gomes.
Apesar da pressão do time africano, foram os brasileiros que ampliaram. Michel Bastos
cruzou da esquerda, a bola atravessou toda a pequena área da Tanzânia e, depois de
quicar no gramado, Robinho completou para o gol.
Após o segundo gol brasileiro, a história do jogo se manteve. A Tanzânia seguiu
fazendo Gomes trabalhar, como aos 36, com Shadrak.
Já nos minutos finais do primeiro tempo, aos 40, Kaká, numa jogada característica,
partiu com a bola dominada no meio-campo e, já na entrada da área, tocou para Luís
Fabiano, que finalizou para a defesa de Mwarami.
Aos 45, um susto. Kaká partiu com a bola no meio-campo e sofreu entrada dura, por
trás, de Nizzar. Por sorte, para o Brasil, sem maiores consequências.
"Foi só a pancada mesmo. Mas existe uma preocupação de acontecer alguma coisa mais
séria, por isso temos pedido aos jogadores do time deles um pouco mais de
tranquilidade", disse o meia do Real Madrid no intervalo.
(...)
Na notícia nº 7, há uma forte presença do ponto de vista do produtor. Ele faz uso
de advérbios, adjetivos, verbos e pronomes marcadores da primeira pessoa e
possessivos, que são unidades linguísticas que indicam o grau da responsabilidade
enunciativa. Quando o autor se remete a fala de outrem, faz uso da mediação
epistêmica, deixando claro que ali não é um ponto de vista seu. Talvez pro não ser uma
notícia política ou investigativa, mas sim de entretenimento, o seu produtor sinta-se à
vontade para manifestar sua opinião e o seu envolvimento com o assunto.
CONCLUSÃO
A partir dessas análises, pudemos perceber que a maior parte dos jornalistas e
produtores de notícias isentam-se da responsabilidade enunciativa, assim como é pedido
pelo gênero textual notícia. Eles remetem os pontos de vistas ali divulgados às fontes do
saber, creditando a voz a outras pessoas. Porém, algumas vezes, é possível perceber na
notícia o ponto de vista de quem a publicou. Elas trazem, em alguns momentos, formas
de dizer próprias de cada jornalista, mostrando que, querendo ou não, algumas vezes
eles se envolvem com o fato que relatam, assumindo, dessa forma, a responsabilidade
enunciativa pelo que é dito.
REFERÊNCIAS
ADAM, Jean-Michel. A lingüística textual: introdução à análise textual dos
discursos. São Paulo: Cortez, 2008
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BARBOSA, J. P. Notícia (Coleção trabalhando com os gêneros do discurso: relatar).
São Paulo: FTD, 2001.
BENASSI, Maria Virginia Brevilheri. O gênero “notícia”: uma proposta de análise e
intervenção. In: CELLI – COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E
LITERÁRIOS. 3, 2007, Maringá. Anais... Maringá, 2009, p. 1791-1799.
Fontes das notícias:
•
•
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2010/05/19/brasil-portugal-se-unempara-discutir-novas-oportunidades-de-negocios-916623779.asp
http://noticias.r7.com/transito/noticias/sao-paulo-tem-transito-acima-da-mediae-concentra-100-km-de-congestionamento-20100519.html
•
•
•
http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/lula-adverte-retrocesso-se-naonegociacao-ira-561175.shtml
http://super.abril.com.br/blogs/nerdices/robo-realiza-cerimonia-de-casamentono-japao/
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI137353-15228,00.html
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