rubrica ““editorial O Movimento Cooperativo na base do desenvolvimento da nossa agricultura O ção e adequado esforço de intervenção. O Sector da Vinha e do Vinho em Portugal não foge muito a esta regra. De facto, a nossa Vinha também resulta de uma fraca dimensão de propriedade, ainda é muito envelhecida e, temos que o admitir, nem sempre as nossas uvas são de uma qualidade por aí além. O custo de produção também é elevado e o escoamento nem sempre é fácil de se fazer, para além de outros factores que não estão a facilitar a nossa actividade. Porém, é lógico, estamos a falar em termos médios do que se verifica, pois não ignoramos a muita Vinha moderna e altamente produtiva que, talvez pela sua menor dimensão, não apresenta dificuldades para vender os seus Vinhos. Por outro lado, muito menos o ignoramos, Portugal é um País de Vinhos fantásticos, iguais aos melhores do Mundo, a garantir uma perspectiva de sucesso para a nossa actividade e, valha a verdade, muitos desses Vinhos são mesmo produzidos nas Adegas Cooperativas Portuguesas, o que enche de orgulho o nosso Sector. Então, por estas e outras razões, o Sector Vitivinícola português ocupa o 1º lugar em termos da importância na nossa Agricultura, representando 14% do PAB, à custa de milhares de hectares de Vinha, dezenas de milhar de Viticultores envolvidos e milhões de Euros de negócio. No entanto, voltemos à nossa abordagem realista e constatemos que as maiores debilidades da nossa Vitivinicultura caiem precisamente no Sector Cooperativo, o que não é de admirar. Somos mais de 100 Adegas Cooperativas e representamos a maior parte do Sector Vitivinícola nacional, o que faz com que a FENADEGAS seja a estrutura representativa com maior expressão em Portugal, donde resultam responsabilidades acrescidas mas, também, um conjunto de direitos que não queremos alienar. Por ser assim, com as características muito próprias do universo que representamos, resulta que o nosso desempenho assume uma componente social muito vincada, que tem tanto de imprescindível como de difícil, a não ser que alguém se atreva a pensar que este domínio de actividade não é importante e que o País poderia passar bem sem ele, atrevimento este que, de todo, não somos capazes de admitir. Postas as coisas desta forma, um conjunto de medidas se mostram de uma crucial importância para o nosso Sector Cooperativo no geral e Vitivinícola em particular das quais, sem pretender esgotar o tema, destacaríamos as duas seguintes, que nos parecem muito importantes, mesmo fundamentais: 1. Pleno reconhecimento da especificidade do mundo Cooperativo, merecedor de um conjunto de medidas próprias nos mais variados sentidos, que levem ao seu mais viável desempenho, permitindo que ponhamos em marcha todas as medidas que temos preconizado para a melhoria do nosso próprio Sector; 2.Total integração dos nossos Viticultores nas suas Cooperativas, destas na sua Federação e desta, por sua vez, na Confederação representativa a fim de, todos em sintonia, interpretarem a estratégia delineada, que conduzirá a um caminho de desenvolvimento, como todos pretendem. Nesta breve abordagem, duas coisas pretendemos deixar claras junto de todos. Por um lado, referimos a situação genérica do nosso Mundo Rural, da sua Agricultura e do sector Vitivinícola em particular, no qual as coisas não estão de todo fáceis de conduzir. Por outro, deixámos claro que o Sector Cooperativo tem muito de específico pelo que, se não for apoiado por quem de direito com base nesta realidade, muito dificilmente conseguirá assegurar a sua parte no processo de desenvolvimento em que está inserido. 3 Mundo Rural nacional caracteriza-se de uma forma relativamente fácil e, mesmo que não queiramos aprofundar muito a nossa realidade, tornase obrigatório referir que se trata de um Sector pouco atractivo, com uma diminuta dimensão da propriedade, uma elevada idade dos nossos agricultores a par de alguma falta de preparação e com poucos jovens instalados ou a instalar, um ainda débil movimento associativo e cooperativo apesar do enorme caminho já percorrido. Mais, se pretendêssemos continuar com esta caracterização, também teríamos que falar dos custos elevados de produção aliados a uma baixa produtividade, da assistência técnica que escasseia, do pouco impacto em termos de mercados de exportação e um pouco por aqui fora. Porém, fique claro aos olhos de quem nos lê, não se pretende, com estas palavras, fazer um discurso pessimista, deixando passar a mensagem de que tudo está mal e com falta de horizonte no futuro, que nada se tem feito para contrariar uma situação de persistente debilidade, que nada mais vale a pena e que todos temos de mudar de actividade. Não, não é disso que se trata. Pretendemos, isso sim, fazer uma abordagem realista da situação presente a qual, de forma muito evidente e através das estatísticas publicadas e conhecidas a nível nacional e europeu, coloca à evidência que a nossa Agricultura e o nosso Mundo Rural ainda ocupam um desconfortante último (ou quase último) lugar no panorama europeu. Neste contexto, sobretudo o rendimento que todos auferimos do nosso desempenho fica aquém das expectativas e muito aquém do que nos seria devido e merecido pelo que, sendo assim, temos que assentar os pés na terra e, sem ignorar o muito que se tem progredido, não podemos deixar de assinalar a caracterização referida, que a todos tem que exigir uma boa aten- | E S PAÇO R U R A L E d i ç ã o n º 7 4 Dr. Jorge Basto Gonçalves | Presidente da Direcção da FENADEGAS