UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL REGINA CÉLIA RIBEIRO FORTUNATO ORIENTADORA SIMONE FERREIRA Rio de Janeiro 2010 1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia. Por: Regina Célia Ribeiro Fortunato Rio de Janeiro 2010 2 AGRADECIMENTOS As professoras Dayse Serra, Marta Relvas e Carol Kwee, pelas significativas contribuições, à professora Simone Ferreira pela orientação. A todos os autores que sem o embasamento teórico não seria possível a veracidade dos fatos, nos unindo por idéias e crenças contribuindo assim de forma significativa para a confecção deste trabalha acadêmico. 3 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a meus pais Pedro Fortunato e Célia Ribeiro Fortunato, a um amigo especial que durante alguns anos vem mostrando-me minhas reais possibilidades de crescimento, fortalecendo cada vez mais nossos laços fraternais, com certeza de muitas existências e gerações no amor de Deus. A todas amizades sinceras que venho cultivando durante minha caminhada de crescimento, e a meus alunos, pois por todos esses procuro aprimorar-me profissional competente. tornando-me assim pessoa e 4 RESUMO Nos primórdios de nossa história encontramos vestígios de que os brinquedos e brincadeiras já faziam parte das práticas infantis. É extremamente visível as possibilidades de crescimento que o lúdico oferece, sendo uma das primeiras manifestações a se desenvolver no homem quando ainda o mesmo mostra-se vulnerável ao ambiente e aos estímulos que o circundam, até os animais utilizam as brincadeiras para se conhecerem, assim como o homem.É uma possibilidade tão fantástica que levou estudiosos como Piaget a pesquisarem e desenvolverem estudos pautados nas contribuições favoráveis que as brincadeiras oferecem ao desenvolvimento do homem e da aprendizagem. Sendo também por meio dessa colaboração que os Psicopedagogos podem investigar possíveis defasagens de aprendizagem. Utilizando se do auxílio das práticas lúdicas os mesmos profissionais conduzem o homem a compreender seu processo particular de assimilação do modo de aprender, de maneira discreta e eficaz, contribuindo assim favoravelmente para seu crescimento. 5 METODOLOGIA A metodologia utilizada baseou-se bibliograficamente na obra de profissionais renomados reconhecidos no meio literário por suas grandes contribuições e empenho ao estudarem, pesquisarem e repartirem seus conhecimentos de forma generosa, sendo esses: Celso Antunes, Regina Haydt, Leonor Rizzi, Maria da Graça Souza Horn, Angela Cristina Munhoz Maluf, Ercília Perrone, Olívia Porto, Marta Pires Relvas, Maria Lúcia Lemme Weiss. Artigos de: Fábio Aranha, Anderson Moço, Renata Petrocelli, Estatuto da Criança e do Adolescente e Multieducação. Para produção e desenvolvimento do trabalho acadêmico dentro das normas e padrões exigidos pelo Instituto “A vez do Mestre” de formatação do referido trabalho utilizou-se o guia prático para adequação necessária e aperfeiçoamento do trabalho em metodologia da pesquisa. A finalização do trabalho é um dos requisitos pertinentes a conclusão do curso de Pós Graduação em Psicopedagogia desta Instituição. 6 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 7 CAPÍTULO I DEFININDO O QUE É ATIVIDADE LÚDICA 10 CAPÍTULO II IDENTIFICANDO AS BRINCADEIRAS INFANTIS NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO 17 CAPÍTULO III NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM 26 CAPÍTULO IV INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM INFANTIL 31 CONCLUSÃO 35 ÍNDICE 40 7 INTRODUÇÃO O presente estudo faz uma reflexão teórica a respeito da intervenção psicopedagógica brincadeiras no processo educacional, utilizando-se dos como elementos fundamentais e jogos e potencializadores de aprendizagem no decorrer da aquisição do conhecimento e desenvolvimento infantil. O Tema investigado neste trabalho é: Brincadeira e Educação. O Título: A Importância do Lúdico na Educação Infantil. A finalidade desta pesquisa é demonstrar a importância dos jogos na construção do conhecimento e a participação do Psicopedagogo tornando essas atividades instrumento viabilizador de aprendizagens significativas, por apresentarem resultados positivos, proporcionando que seja exercitada a imaginação, atenção, desenvolvimento da linguagem, memória, socialização, interação, entre outras habilidades que são fundamentais no processo de construção do conhecimento. Tendo em vista um desenvolvimento físico e mental harmonioso. Para que o lúdico seja utilizado como potencializador e desencadeador de aprendizagem se faz necessário e presente a imagem do Psicopedagogo como viabilizador e incentivador dessas práticas, intervindo com estímulos onde o aluno apresenta dificuldade, onde há necessidade de uma construção e de uma interação, tornando o aluno capaz de receber e desenvolver-se a partir dos estímulos recebidos. O presente trabalho pretende compreender a importância da interação do Psicopedagogo e sua intervenção no processo de aprendizagem por meio das atividades lúdicas na construção do conhecimento infantil. O 1º capítulo define o que é atividade lúdica, por que brincar na Educação Infantil, brinquedoteca e arrumação do espaço da sala de aula e a sucata como matéria prima na sala de aula. 8 O 2º capítulo identifica as brincadeiras infantis na construção do conhecimento, com o que podem brincar as crianças e como meninos e meninas brincam. O 3º capítulo cognição e aprendizagem. O 4º capítulo descreve o trabalho do Psicopedagogo utilizando as atividades lúdicas na intervenção e construção do conhecimento e desenvolvimento infantil. A intervenção Psicopedagógica ao utilizar-se das atividades lúdicas na aquisição do conhecimento apresenta resultados positivos e satisfatórios, pois por meio dos jogos e brincadeiras as crianças se apropriam com maior facilidade dos conhecimentos, apresentando assim desenvolvimento harmonioso de suas capacidades. Brincar é o modo mais significativo de expressão da criança, sendo uma linguagem por excelência utilizada para aprender, se desenvolver, explorar o mundo que a cerca, e ampliar sua percepção, organizando seu pensamento, sua capacidade de iniciativa, suas emoções, e apropriação da cultura em que se encontra inserida. O Psicopedagogo ao possibilitar e garantir um espaço de brincadeira e aprendizagem assegura uma educação que apresenta uma perspectiva criadora, respeitando a aprendizagem na relação com o outro, pois com sua experiência e conhecimentos sobre como as crianças brincam e por que brincam possibilita-lhes apropriar-se do melhor modo de aprendizagem. O método utilizado neste trabalho é a pesquisa bibliográfica de informações publicadas a esse respeito, procurando explicações e argumentos pertinentes ao desenvolvimento infantil, contribuindo assim para o tema estudado. Os jogos e brincadeiras funcionam intensificando a aprendizagem e o desenvolvimento da criança por elas envolverem-se de forma ativa, ampliando seus conhecimentos e vivências, sendo relevante seu papel na rotina diária da mesma por garantir crescimento harmonioso e desenvolver importantes 9 habilidades que serão transmitidas de brincadeira para brincadeira, e de criança para criança. Nossa linha de pesquisa teve como base abordar a intervenção Psicopedagógica como facilitadora no processo de aquisição do conhecimento na realidade educacional infantil brasileira, desenvolvendo hábitos que se encontram engajados com as práticas lúdicas sendo formulado de forma consciente e agradável, visando assim o desenvolvimento, aprimoramento saudável, e crescimento intelectual individual e coletivo harmonioso dos envolvidos no processo. 10 CAPÍTULO I DEFININDO O QUE É ATIVIDADE LÚDICA Jogos e brincadeiras são atividades antigas que estão no cotidiano humano, podendo ser encontradas tanto na natureza das pessoas como na natureza dos animais, sendo importantes para o desenvolvimento e conhecimento entre os membros dos grupos. Fica evidente que o lúdico contribuiu com grande significância para a formação da história e da sociedade, como encontramos em Haydt & Rizzzi (1987, p.8). Observando o desenvolvimento das crianças desde os primeiros meses de vida, é visível que grandes desafios caracterizam mudanças significativas. Podemos ver que o primeiro brinquedo que elas possuem é o próprio corpo, tornando-se assim desnecessário oferecer-lhe algum brinquedo nessa fase, pois as descobertas que ela faz do próprio corpo as levam a explorar e reconhecer o que está mais próximo delas. Ao descobrirem pés e mãos, as crianças iniciam processo exploratório espontâneo que vão além de seu corpo, aprendem a ter contato com a própria roupa, maior e menor luminosidade, com ruídos, temperaturas, e até mesmo com o corpo de outras pessoas. Esses atos tornam-se uma forma de interagir com o meio e com o outro, e com o crescente aumento dos estímulos, esse processo torna-se cada vez mais enriquecedor e significativo, dessa forma nota-se que o lúdico está presente mesmo que inconscientemente nos atos espontâneos das crianças. Nessa fase as brincadeiras devem ser estimulantes, pois são imprescindíveis ao desenvolvimento do bebê, e a aprendizagens plenas, portanto deve ser respeitado suas necessidades e ritmo que são fundamentais nesse processo. Atividades lúdicas como diz o próprio nome são atividades capazes de estimular à imaginação, o raciocínio lógico, a atenção, tanto como a fantasia 11 / criatividade, interação, socialização, entre outros, de crianças, jovens e adultos que estejam envolvidos nessas atividades, que utilizem como matéria prima os jogos, brinquedos, histórias, dramatizações, etc, por acionar estruturas psicomotoras e cognitivas que visam potencializar a criatividade e a capacidade de agir de forma autônoma e em grupo. Essas vivências permitem a troca de sabedorias e informações, impulsionado assim o desenvolvimento físico e intelectual, possuindo assim em sua característica particular, privilegiar a ampliação do conhecimento de cada um dos envolvidos em cada um dos grupos que se encontram, desenvolvendo assim a aprendizagem tanto quanto a aquisição de comportamentos culturais como hábito de investigação, observação, leitura, entre outras. Vygotsky (apud Perrone 1992, p.49) “A cada estágio do desenvolvimento a criança adquire a capacidade com a qual ela pode, competentemente, afetar o seu meio social e a si mesma.” Observando a evolução humana, vemos que o homem passou por fases significativas em seu processo evolutivo, recebendo denominações a cada estágio que era definido. Homo faber faz referência à capacidade de fabricação e manipulação de seus próprios objetos que são utilizados como utensílios. Homo sapiens é a denominação referente à capacidade de raciocínio adquirida pelo homem. Homo ludens refere-se à capacidade de desenvolver, praticar e dedicar-se as atividades lúdicas. Destaca-se no processo evolutivo do homem o jogo e o brinquedo sendo utilizado como ferramenta de aprendizagem, bem como para aproximar o tempo passado e presente entre as pessoas, enriquecendo o conhecimento dos envolvidos nesse contexto com situações pertinentes a sua própria história evolutiva. 12 Brincar é direito de toda criança. Ao desenvolver tais atividades, ela estabelece vínculo social, afetivo, confiança, segurança e amor. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, Lei Federal 8.069/1990. Capítulo II – Do direito à liberdade, ao respeito e à dignidade. ART.16 – O direito a liberdade compreende aos seguintes aspectos: IV- brincar, praticar esportes e divertir-se; 1.1 Por que brincar na Educação Infantil? É nos primeiros anos de vida que a criança se descobre e descobre o mundo que a cerca em uma relação qualitativa de tempo e aprendizagem, através de experiências significativas que vão lhe propiciar o desenvolvimento de habilidades múltiplas e a aquisição de conhecimento. Moço (Nova Escola, abril 2010, p.42) “Em nenhuma outra fase da vida as crianças se desenvolvem tão rapidamente quanto até os 3 anos de idade. Daí a importância de entender como cada atividade ou brincadeira ensina” Diariamente vivências que podem parecer simples ou repetitivas, como tocar e pisar na areia, correr, pular, sentar no chão com um brinquedo, manusear um livro ou revista, são momentos cheios de significados para as crianças que a todo o momento estão em busca do novo no mundo que a cerca. Podemos afirmar assim que brincar é descobrir, é viver, e que vivendo de forma significativa essa primeira fase da vida, o crescimento se dará de forma harmoniosa e global. O brincar na primeira infância vem de modo a favorecer experiências e levar as crianças a evoluções cognitivas e emocionais se apropriando de regras, estimulando criatividades, confiança, desenvolvendo autonomia, entre outros aspectos que estão inseridos nas brincadeiras. Vemos na Multieducação (2006, p.9) que a brincadeira deve ser o eixo principal da organização pedagógica que é dedicada às crianças na 13 Educação Infantil, pois havendo diversas possibilidades de jogos e brincadeiras a criança socializa-se esquece momentos difíceis, representa fantasiando experiências reais e troca experiências adquiridas com o meio em que vive e com o outro. Desse modo as creches e pré- escolas que se encontram engajadas nesse processo, tornaram-se espaços saudáveis de referência quanto a oferecer ambiente de investigação e troca de experiência. As crianças podem brincar sozinhas, mas também dependem de outras para brincar e se desenvolver, e a presença do adulto é muito significativa. A partir de situações e problematizações ela aprende a criar atividades interagindo com o grupo, família, e vizinhos. Funcionários de creches e escolas têm grande responsabilidade na garantia do direito de brincar, que devem ser oferecidos com atenção e cuidado pelos mesmos adultos em espaços e horários que ofereçam condições e garantam a integridade da criança. 1.2 Arrumação do espaço da sala de aula O espaço da sala de aula deve ser arrumado / organizado de forma acolhedora e instigante, sugerindo às crianças a investigação e a elaboração de novas aprendizagens significativas em seu processo de desenvolvimento, favorecendo a autonomia e a criatividade. Ao oferecer às crianças um espaço promotor de conhecimento, estamos possibilitando a brincadeira que é a forma de expressão infantil mais significativa, pois brincando a criança conhece o seu mundo e toma consciência do mundo que a cerca. Ferrari (apud Horn 2004, p.15) “Portanto não basta a criança estar em um espaço organizado de modo a desafiar suas competências; é preciso que ela interaja com esse espaço para vivê-lo intencionalmente”... Ao deparar-se com um espaço estimulador é visível nos olhos das crianças o encantamento e o desejo que a mesma apresenta em explorá-lo, descobri-lo. 14 Todo ambiente possui diversas possibilidades de aprendizagens, nota-se pela arrumação e materiais as vivências e experiências que serão oferecidas e privilegiadas. A criança desenvolve-se através dos estímulos e relações que desenvolve com o outro, com o grupo e com o mundo que a cerca. O ambiente pode promover experiências significativas, nele a criança é induzida a investigar, fantasiar, imitar, criar e explorar. Assim serão criadas oportunidades em um processo cotidiano que lhe enriquecerá o desenvolvimento e a aquisição de conhecimento, regras e habilidades de maneira interativa e qualitativa. Partindo do entendimento de que as crianças também aprendem na interação com seus pares, é fundamental o planejamento de um espaço que dê conta dessa premissa, permitindo que, ao conviver com grupos diversos, a criança assuma diferentes papéis e aprenda a se conhecer melhor. (HORN, 2004, p. 18). A potencialidade de enriquecimento que o ambiente de sala de aula pode proporcionar à criança é infinita. Junto aos alunos pode-se organizar / construir cantinhos que contribuirão de forma sadia e espontânea para seu desenvolvimento. Esses cantinhos servirão como mediadores às dinâmicas diárias das crianças, sendo formados basicamente com materiais simples e baratos. Nesses espaços a fantasia fica solta, as crianças representam papai, mamãe, o médico, a manicure, entre outros, em situações rotineiras em seu cotidiano, ou presentes em seu imaginário, utilizando todos os materiais que serão apresentados. • Cantinho da fantasia – chapéus, sapatos, panos, fantasias, perucas, gravatas, colares, luvas, bolsas, tiaras, etc. 15 • Cantinho da beleza - pente, secadores de plástico, presilhas, espelho, potes, pincéis, escova e pente, aventais, vidros de esmalte vazios, bobs, etc. • Cantinho dos jogos - jogos diversos, os próprios alunos podem confeccionar, e esses dever atender à faixa etária da turma. • Cantinho do teatro e dramatização – máscaras, fantoches, pinturas de rosto. • Cantinho da casinha – mobiliário com fogão, mesa, armário, máquina de lavar, vassoura, ferro de passar, telefone, caminha, bonecas, televisão e outros materiais domésticos. • Cantinho da invenção – material de sucata, cola, durex, fita colorida, barbante, etc. • Cantinho da leitura – livros (de papel, pano ou plástico), e revistas. • Cantinho da pintura – tinta, cola colorida, papel, pincel, lápis de cor, canetas hidrocor. • Cantinho da música – instrumentos musicais variados. • Cantinho da feira ou supermercado – embalagens vazias, frutas e legumes de plástico, dinheirinho, carrinho, cestinha, máquina registradora, sacolas, etc. Interagindo com esses espaços a criança irá explorar o meio e o que é oferecido a ela, elaborando e possibilitando novas aprendizagens. O que a levará a investigar e a adquirir experiências e saberes, experimentando 16 diferentes escolhas que cada situação lhe proporcionará, estabelecendo assim contato com o mundo que a cerca. Vygotsky (1984) afirma que apesar da relação brincadeiradesenvolvimento poder ser comparada à relação instuçãodesenvolvimento, o ato de brincar proporciona um suporte básico para as mudanças das necessidades e da consciência. A atuação da criança no âmbito da imaginação, em uma dada situação imaginária, oportuniza a criação das intenções voluntárias e a formação dos planos da vida real e das motivações da vontade. Nesse sentido, tudo surge ao brincar, o que se constitui, assim, no mais alto nível de desenvolvimento pré-escolar. É através da atividade de brincar que a criança se desenvolve. Somente nessa dimensão a brincadeira pode ser considerada uma atividade condutora que determina o desenvolvimento da criança. (HORN, 2004, p. 19). 17 CAPÍTULO II IDENTIFICANDO AS BRINCADEIRAS INFANTIS NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO Jean Piaget (1896 – 1980) biólogo e psicólogo Suíço foi o produtor e desenvolvedor desenvolvimento de significativas humano, que pesquisas está e teorias relacionado a a cerca do aspectos do desenvolvimento mental e do crescimento orgânico. O desenvolvimento mental acontece de forma contínua e gradativa das estruturas mentais que ao longo do tempo e das motivações que o indivíduo recebe vão se aperfeiçoando e solidificando. O crescimento orgânico refere-se ao desenvolvimento do corpo e suas capacidades motoras. Jean Piaget estudou e desenvolveu a teoria do desenvolvimento humano. O mesmo definiu e classificou os jogos de acordo com a evolução das estruturas mentais dentro do processo do desenvolvimento humano, em crianças de 0 a 12 anos de idade, tendo como foco de todo seu estudo o desenvolvimento mental e o pensamento, combinado com o crescimento orgânico e a conquista de movimentos independentes. Piaget observou que crianças ao se desenvolver parecem seguir uma sequência comum ao grupo de idade, regulando assim tais aptidões, idéias e entendimentos, a certas faixas etárias, cometendo assim o mesmo tipo de erro e acerto, construindo assim seu próprio entendimento e conhecimento. As atividades lúdicas são fundamentais nesse processo evolutivo, pois são os jogos, brinquedos e brincadeiras que irão impulsionar o indivíduo a novas descobertas, estimulando a imaginação, o raciocínio, o habito da investigação entre outros, e ao experimentar e vivenciar novas atividades e desafios, sozinho ou com o outro as crianças tornam-se motivadas e capacitadas, garantindo dessa forma a continuidade de seu desenvolvimento. ... Por isso, em um ambiente sem estímulos, no qual as crianças não possam interagir desde tenra idade umas com as 18 outras, com os adultos e com objetos e materiais diversos, esse processo de desenvolvimento não ocorrerá em sua plenitude. (HORN, 2004, p. 17). As faixas etárias referente às etapas evolutivas do desenvolvimento humano servem como referência aos estágios que cada criança irá adquirir dentro de sua maturação, não sendo assim uma norma rígida, pois nem todo indivíduo muda de etapa na mesma idade, alguns se antecipam e outros se atrasam um pouco, mas todos buscam caminhar na mesma direção. • Sensório-motor (0 a 2 anos de idade): exercício do pensamento jogos de exercício. Esse período é caracterizado pelo prazer que a criança sente ao satisfazer suas necessidades, a mesma apresenta inteligência prática e regulada pela percepção, respondendo ao mundo pelos esquemas sensório motor dos estímulos que recebeu. O recém nascido ao alimentar-se suga o seio de sua mãe, e esta situação lhe proporciona prazer e satisfação. Ao passar dos meses, a criança começa a movimentar-se e a apropriar-se de esquemas que facilitam seu contato com o meio em que vive pegando objetos com as mãos e jogando-os no chão, repetidas vezes, sentando, ficando em pé e dando os primeiros paços. Esse período é muito significativo, pois no início o mundo é uma continuação do corpo da criança, e conforme ela vai se apropriando do mesmo ela passa a situar-se fazendo parte como elemento ativo do próprio meio em que vive. O desenvolvimento cognitivo nessa faixa etária fica evidente pela capacidade de imitação que o bebê apresenta, movimentando as mãos quando outra pessoa movimenta, batendo palmas quando estimulado por outra pessoa, balançando um chocalho ou a cabeça ao ver o movimento repetido que uma pessoa faz, e posteriormente quando a criança com um pouco mais de idade imitam ações gestuais e até comportamentais que outras pessoas realizaram repetidamente em sua presença. 19 • Pré - operatório (2 a 7 anos de idade): jogos simbólicos Esse período é caracterizado pelas representações simbólicas, pelo aparecimento da linguagem com uso de símbolos, e com essa idade as crianças começam a brincar de faz-de-conta onde um pedaço de madeira pode transformar-se em um carro, uma vassoura pode transformar-se em um cavalo, etc. Com esses fatores o desenvolvimento do pensamento torna-se evidente e ativo, pois com o auxílio de formações mentais de imagens a criança pode representar, utilizando-se de sua imaginação e linguagem na reprodução de situações do seu cotidiano. Piaget observou que o desenvolvimento cognitivo nessa faixa etária é egocêntrico, e que as crianças nessa fase são “seduzidas” pelas aparências. Outra capacidade evidente neste período é a classificação, crianças nessa fase mostram grande habilidade em classificar objetos em grupos muito facilmente, a cada estágio alcançado, podem-se apresentar novas categorias a serem agrupadas. • Operações concretas (7 a 12 anos de idade): jogos de regras Esse período é caracterizado pela descoberta das regras, ou estratégias, início da construção lógica, ou seja, capacidade de estabelecer relações. O termo operações refere-se a esquemas internos como a subtração, adição, multiplicação, ordenação serial e divisão. A aprendizagem por meio de manipulação de materiais concretos se dá com mais facilidade pelas oportunidades de experimentos que os mesmos oferecem. Os jogos utilizados nesse período são regrados, e essas regras são a lei do jogo, pois auxiliam no desenvolvimento dos mesmos e tornam seus objetivos claros. Podem apresentar situações problema a ser resolvida, conduzindo o grupo a cooperação e a competição. A cooperação é uma das capacidades que se desenvolvem nesse período, sendo grande facilitador do trabalho em grupo e da socialização. 20 O desenvolvimento cognitivo nessa idade depende de conhecimentos específicos que as mesmas apropriam no manuseio de materiais concretos, na interiorização e uso das regras, e na aquisição e pratica das operações. • Operações formais (12 anos em diante) Esse período é caracterizado pela mudança do pensamento, que passa do concreto para o abstrato, tornando o adolescente mais capaz de realizar operações mentais, ampliando assim sua capacidade de raciocínio, sendo possível a realização das operações apenas com o auxílio do pensamento e não mais com o auxílio de objetos. Nesse processo é evidente o ingresso do adolescente na vida social e a interiorização das normas vigentes na sociedade, nesse contexto o primeiro contato é marcado pela rejeição das normas, para posteriormente acontecer uma adaptação às mesmas, que leva o adolescente a reflexão e aceitação das mesmas. Marcadas por muitas mudanças que desenvolverá o adolescente já o preparando para a fase adulta, esse período também é marcado pela afetividade e pelos conflitos. O desenvolvimento cognitivo nessa idade caracteriza-se pela capacidade que o adolescente apresenta de manipular idéias e objetos, e a capacidade do uso da lógica dedutiva. Brincar favorece a auto-estima, a interação com seus pares e, sobretudo a linguagem interrogativa, propiciando situações de aprendizagem que desafiam seus saberes estabelecidos e destes fazem elementos para novos esquemas de cognição. Através do jogo simbólico a criança aprende a agir e desenvolve autonomia que possibilita descobertas e anima a exploração, a experiência e a criatividade. (ANTUNES, 2009, p.32). 21 2.1 Com o que podem brincar as crianças A curiosidade apresentada pelas crianças serve como mola propulsora, incentivadora de novas aprendizagens e novas descobertas, possibilitando assim condições para seu desenvolvimento. Os jogos e brincadeiras criam possibilidades para que a criança vá se conhecendo e se construindo, descobrindo que é parte integrante do meio ou grupo social, vivenciando diferentes processos de interações e socialização que são construídos nesse contexto. A ludicidade é característica essencial do homem. Os bebês brincam com o próprio corpo e com os objetos à sua volta sem que ninguém precise ensiná-los. Nas civilizações da antiguidade, já existiam piões, bonecas, bolas e outros objetos – brinquedos, encontrados em escavações arqueológicas no interior de túmulos, em sepulturas de crianças. Desde as épocas mais remotas as crianças e os adultos brincam, e é assim que dão sentido ao mundo e se constituem como sujeitos. É brincando que aprendem a viver em sociedade, a hipotetizar situações e a expressar desejos, medos, sentimentos e fantasias. É brincando que desenvolvem a criatividade, a capacidade de usar a linguagem, suas estruturas psicomotoras e cognitivas e seus processos psíquicos mais complexos. É brincando, enfim, que crescem. Não importa como ou com o quê brincam, o fato é que as crianças brincam permanentemente... (NÓS DA ESCOLA, 2006, p. 27). Desde o nascimento a criança evolui passando por diferentes etapas no seu desenvolvimento, e os brinquedos auxiliam e despertam as fantasias infantis. É por meio do “Faz de conta”, das descobertas e da criatividade que as crianças expressam seu imaginário, adquirindo dessa forma experiências que contribuirão para suas descobertas. É nas situações que as brincadeiras oferecem que as crianças vivenciam as diferentes possibilidades dos jogos, influenciando com suas 22 ações na imitação de gestos, posturas e expressões que elas observam no ambiente social em que a criança vive. Ao jogar bola o menino pode imaginar-se como o jogador do seu time de coração. A menina quando manuseia uma boneca pode imitar gestos que recebe na rotina com a mãe. O brinquedo oferecido à criança deve ser adequado à sua idade. Muitas vezes brinquedos de pano ou madeira podem ter um grande valor, por levar a criança à investigação de como o mesmo foi feito, enquanto brinquedos caros, coloridos, que emitem sons, às vezes não despertam esse interesse nos mesmos. Encontramos em MALUF (2003 p.51) que a função do brinquedo é: • Aumentar a integração com outras crianças; • Exercitar a imaginação e a criatividade; • Estimulara a sensibilidade visual e auditiva; • Desenvolver a coordenação motora; • Aumentar a independência; • Diminuir a agressividade; • Ajudar a resgatar a cultura; De 0 à 8 meses: Nessa idade a criança está nos estágio de descobertas e exploração do mundo que a cerca, evidenciando-se o estágio sensório – motor. Os brinquedos adequados para essa idade são: • Brinquedos de morder e vinil • Móbiles • Chocalhos De 8 a 12 meses: Nesse período o desenvolvimento da criança é notório, senta-se, pode engatinhar e andar. A maturidade para esses movimentos podem variar de criança para criança sendo o estímulo muito eficaz para as mesmas sentirem-se seguras e motivadas. Nessa idade os brinquedos adequados são: 23 • Livros de pano; • Peças de encaixe; • Bonecos e bonecas de pano; • Brinquedos de empurrar e puxar; Dos 18 aos 24 meses: Esse período é caracterizado pela memorização que a criança adquire, lembrando-se de pessoas e situações vivenciadas. É notória também a capacidade de imitação. Por articular bem a coordenação motora ao andar e desenvolver movimentos com sucesso é crescente sua independência não aceitando mais com facilidade a intervenção do adulto. Nessa idade os brinquedos adequados são: • Bonecos e bonecas; • Velocípedes; • Livros de ilustrações simples; • Bolas; • Túneis para atravessar; Aos 2 anos de idade: Iniciam-se as disputas por brinquedos, pois nessa fase a criança inicia o processo de socialização, mas não sabem emprestar os brinquedos que utiliza. Aos 3 anos: É crescente o processo de socialização e aceitação do outro. A criança nessa fase já expressa desejos e tristezas, imitando os adultos nas brincadeiras. Aos 4 anos: Ao brincar, as crianças nesse estágio utilizam-se de experiências que observam no cotidiano, podendo imitar pessoas que estão presentes em sua rotina como a professora e o médico, etc.. 24 Os desenhos nesse estágio se tornam mais completos já compondo senas simples. Quanto ao grupo já são mais sociáveis e cooperativos. Apresentam gosto crescente em manusear livros e revistas lendo as figuras. A imaginação se faz presente nas brincadeiras na imitação de personagens dos desenhos animados ou dos personagens de filmes. Aos 5 anos: As crianças já aceitam as regras dos jogos, portanto as mesmas não podem prejudicá-los ou levá-los a perder, tornam-se freqüentes as competições, pois o esquema social já foi apropriado. Aos 6 anos: O círculo de amizades das crianças multiplica, já escolhem os amiguinhos formando grupinhos, gosta de brincar em diversas brincadeiras e jogos, ainda são resistentes a perda podendo trapacear no jogo. Os brinquedos mais recomendados dos 2 aos 6 anos de idade são: • Teatrinhos; • Bolhas de sabão; • Posto de gasolina; • Caixa registradora; • Bicicleta; • Cidadezinhas, fortes e fazendas; • Balde e pazinha; • Carros, caminhões, trenzinhos; • Cabanas e casinhas; • Massa de modelar; • Quebra cabeça simples; • Tambor, piano, pandeiro, etc... • Máscaras, chapéus, fantasias, etc... • Panelas e utensílios de cozinha; • Fantoches; 25 • Bonecas; • Livros de pano; • Homenzinhos (soldados, heróis, etc...) • Telefones, entre outros Ao brincar, desenvolvemos funções cognitivas e físicas como a motricidade, a linguagem, a percepção, a memória, a afetividade e sobretudo a interação Desenvolvemos também a comunicação, interpessoal a e capacidade subjetiva com o a de outro. relação negociar constantemente as regras sociais e suas possibilidades de transformação... (NÓS DA ESCOLA, 2006, p. 27). 26 CAPÍTULO III NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM A Neurociência investiga, pesquisa, estuda, acompanha e trata o desenvolvimento estrutural, funcional, químico e patológico do sistema nervoso. Podemos observa que essa ciência se divide em cinco estudos que tem por finalidade a eficiência e o bem estar desse complexo sistema que se divide em: • Neurociência Molecular: Estuda as trocas químicas e físicas que estão envolvidas na função neural. • Neurociência Celular: Diferencia as células e seu funcionamento no sistema nervoso. • Neurociência de Sistemas: Estuda os neurônios e seus grupos na cadeia dos circuitos e conexões, desenvolvendo assim uma função comum. • Neurociência Comportamental: Estuda como pode ser o comportamento e os sistemas que os influenciam. • Neurociência cognitiva: Acontece na investigação e estudo do pensamento, da memória, da aprendizagem, entre outros. O último estudo vem demonstrando e revelando em suas pesquisas como se dá a aprendizagem nos indivíduos e como esse esquema complexo trabalha e evolui através dos estímulos de suas estruturas. Encontramos em Relvas (2009 p.20) que nos primórdios da história o cérebro humano era tido como parte do corpo sem valor. Já havia o interesse e a pergunta investigativa de como se dava o processo da aprendizagem e do pensamento, mas não se tinha o cérebro como o potencializador ou detentor de tais acontecimentos. Os Egípcios cultivavam o hábito de guardar em vasos as vísceras dos mortos e jogavam fora o cérebro por acreditarem que não tinham serventia, ou seja, não se tinha o cérebro como parte significativa do processo de aprendizagem, ou do pensamento. Os Assírios de forma igual também 27 achavam que o cérebro não fazia parte do processo cognitivo, achando então que o pensamento central acontecia no fígado, e para Aristóteles ainda o cérebro trabalhava como resfriador de sangue. Foram muitas pesquisas e descobertas acerca do desenvolvimento neural e suas conexões, sendo cada vez mais notória sua significância no processo de aquisição da aprendizagem, sendo Hipocrates o precursor e demonstrador do cérebro em dois hemisférios e das funções biológicas e da mente que eram processados nessa estrutura. O cérebro humano constitui-se por dois hemisférios cerebrais esquerdo e direito. O hemisfério esquerdo controla o lado direito do corpo e o hemisfério direito controla o lado esquerdo. Cada hemisfério divide-se em lobo frontal, lobo parietal, lobo occipital e lobo temporal. (RELVAS, 2005, p.30). • Lobo Frontal: É o responsável pelo planejamento, emoções, elaboração do pensamento e percepção de necessidades individuais. • Lobo Parietal: É o responsável pelo tato, sensação de dor, gustação, pressão, temperatura e está ligado com a lógica matemática. • Lobo Occipital: É o responsável pelo processamento da informação visual. Ocorrendo danos nessa área pode acontecer cegueira total ou parcial. • Lobo Temporal: Apresenta relação com o sentido da audição, permitindo o reconhecimento de tons e intensidades do som. Acidentes ou tumores que ocorrer nesse local ocasionam deficiência da audição ou surdez. Esta área é significativa, pois exerce função no processamento da memória e emoção. Segundo Lent (2002), o hemisfério esquerdo controla a fala em mais de 95% dos seres humanos, mas isso não quer dizer que o direito não trabalhe, ao contrário, é a prosódia do hemisfério direito que confere à fala nuances afetivas essenciais para a comunicação interpessoal. O hemisfério esquerdo é também responsável pela realização mental de cálculos matemáticos, pelo comando da escrita e pela compreensão dela através da 28 leitura. Já o hemisfério direito é melhor na percepção de sons musicais e no reconhecimento de faces, especialmente quando se trata de aspectos gerais. O hemisfério esquerdo participa também do reconhecimento de faces, mas sua especialidade é descobrir precisamente quem é o dono de cada face. Da mesma forma, o hemisfério direito é especialmente capaz de identificar categorias gerais de objetos e seres vivos, mas é o esquerdo que detecta as categorias específicas. O hemisfério direito é melhor na detecção espacial, particularmente as relações métricas quantificáveis, aquelas que são úteis para o nosso deslocamento no mundo. O hemisfério esquerdo não deixa de participar dessa função, mas é melhor no reconhecimento de relações espaciais categoriais qualitativas. Finalmente, o hemisfério esquerdo produz movimentos mais precisos de mão e da perna direitas do que o hemisfério direito é capaz de fazer com a mão e a perna esquerda ( na maioria das pessoas). (RELVAS, 2005, p. 17). A estrutura cerebral começa a ser formada alguns dias depois da fecundação do óvulo, ou seja, sem mesmo a mulher saber que está grávida, nesse período inicia-se a formação de uma “galáxia” que não para e só cresce entre a quinta e a vigésima semana de vida uterina. Estima-se que nesse período são geradas cerca de 50 mil a 100 mil células glias por segundo, que formam conjunções ou sinapses que acontecem até os 17 ou 18 anos de vida. Células glia. Além dos neurônios, o sistema nervoso apresentase constituído pelas células glias, ou células gliais, cuja função é dar sustentação aos neurônios e auxiliar o seu funcionamento. As células glias constituem cerca de metade do volume do nosso encéfalo. Há diversos tipos de células gliais. Os astrócitos, por exemplo, dispõem-se ao longo dos capilares sanguíneos do encéfalo, controlando a passagem de substâncias do sangue para as células do sistema nervoso. Os oligodendrócitos e as células de Schwann enrolam-se sobre os 29 axônios de certos neurônios, formando envoltórios isolantes. (RELVAS, 2005, p.23). O sistema cerebral então tornou-se a ser visto como uma estrutura que constitui o homem possibilitando-lhe aprendizagens, raciocínio, construções de pensamento, interação e relação. Constituindo assim o sistema funcional humano. O cérebro e sua potencialidade é o centro do sistema nervoso sendo o responsável pelo desenvolvimento das capacidades e habilidades que implicam para uma organização e funcionamento de qualidade em resposta às experiências significativas e estímulos repetidos. A plasticidade cerebral é desenvolvida ao longo da vida pelos estímulos positivos que recebe e é desse processo que o ser humano depende para que sejam desenvolvidas as aprendizagens e reabilitação das funções motoras e sensoriais. O cérebro muda durante a vida do homem e conforme as maturidades adquiridas. Durante muito tempo acreditava-se que o cérebro se desenvolvia até certa idade e que daí o mesmo não teria mais capacidade de formar novas sinapses, e que conexões entre os neurônios paravam de existir. Até a década de 1960, entendia-se o cérebro de uma criança como uma composição orgânica estática e imutável sobre a qual nada poderia ser feito no sentido de acelerar seu amadurecimento. Atualmente, os cientistas da cognição o percebem como órgão dinâmico que, devidamente alimentado por estímulos e experiências, responde e se transforma de maneira como jamais seria possível prever sem esses estímulos e sem essas experiências. (ANTUNES, 2009, p.22). Hoje estudos nos mostram que o cérebro é dinâmico e ativo, e quanto maior forem os estímulos, maior a capacidade de adaptar-se, pois essas mudanças são significativas sendo de grande valia nesse processo. 30 Experiências cotidianas, desafiadoras e agradáveis possibilitam o cérebro adequar-se e reorganizar-se definindo e estabelecendo suas mudanças e aprendizagens. As atividades físicas também são grandes potencializadoras do desenvolvimento cerebral, pois provocam maior desempenho cardiovascular e conseqüentemente a oxigenação de áreas menos irrigadas do cérebro modificando e estimulando o funcionamento das células cerebrais e as comunicações das células nervosas melhorando assim a memória e a capacidade do raciocínio. Encontramos em Antunes (2009, p.24) que estudos recentes nos mostram que a camada exterior do cérebro pode desenvolver a medida que um ser humano ou um animal estiver inserido em um ambiente estimulador, e que o cérebro pode sofrer irreversíveis atrofias se esse mesmo ser for mantido em ambiente monótono e pouco estimulante. O cérebro apresenta capacidade altamente significativa de expansão tendo as experiências e estímulos como fornecedoras de aprendizagens, sobretudo na infância. 31 CAPÍTULO IV INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM INFANTIL A Psicopedagogia é uma área de estudo recente que apresenta como objetivo fundamental estudar, compreender, e intervir de forma qualitativa no processo da aprendizagem humana. Esta área de estudo não se restringe apenas ao estudo das dificuldades e seus distúrbios, mas sim na aprendizagem de modo geral, que é adquirida seja no estado normal ou patológico do ser humano, considerando a influência do meio: família, escola e sociedade para seu desenvolvimento saudável. As intervenções Psicopedagógicas podem ser utilizadas em diversas faixas etária da vida, pois o ato de aprender está presente na vida do homem desde o momento do seu nascimento até os últimos dias de sua vida. Essas intervenções se apresentarão como auxílio para o homem em suas diversas idades na identificação da forma mais eficaz de aprendizagem, pois o levará a compreender seu próprio processo de aquisição do conhecimento. A aprendizagem é, afinal, um processo fundamental da vida. Todo indivíduo aprende e, por meio da aprendizagem, desenvolve os comportamentos que o possibilitem viver. Todas as atividades e realizações humanas exibem os resultados da aprendizagem. CAMPOS (apud Porto 2009, p.40). Nesse processo dificuldades podem aparecer em momentos específicos, diminuindo a qualidade de aprendizado da criança, que em suas estruturas cognitivas podem apresentar uma diminuição da qualidade na assimilação de determinado assunto ou matéria, rejeitando – a por falta de afetividade com o assunto. Nesse contexto a Psicopedagogia aparece como alternativa de intervenção por ser promotora de possibilidades a esses alunos, identificando e trabalhando nas dificuldades particulares que podem prejudicar o processo 32 ensino aprendizagem desse sujeito, apresentando assim resultados positivos e eficientes. A Psicopedagogia Institucional Escolar surge para que nesse espaço seja encontrado um profissional que possa colaborar na sondagem e solução de problemas de aprendizagem, fracasso escolar, na capacitação e oferta de materiais e estratégias que facilitarão o processo de ensino e informação do corpo docente. A aplicabilidade das intervenções é de natureza interdisciplinar, pois se utiliza de recursos das várias áreas do conhecimento humano, na busca da compreensão do ato de aprender que são próprios a cada pessoa. O entendimento de que o conhecimento é, simultaneamente, processo e produto de uma construção cognitiva, social e emocional nos possibilita entender a importância do ambiente escolar, já que desencorajado, o mesmo pode dependendo ser dos favorecido ou pressupostos sociopedagógicos adotados no próprio projeto pedagógico da instituição escolar e a forma como são postos em prática pelos profissionais competentes. (PORTO, 2009, p.21). O trabalho ao ser realizado com os alunos de uma mesma escola apresenta bons resultados podendo acontecer individualmente, ou podendo acontecer em grupos com crianças de séries diferentes, pois a troca de experiências e habilidades contribuirá para o desenvolvimento e aquisição das aprendizagens, tendo esse trabalho o objetivo da socialização e da troca, a aquisição de conteúdos é uma conseqüência desses encontros. Neste contexto intervenções lúdicas vem apresentando-se como facilitadora na investigação, compreensão, e auxílio do processo cognitivo de desenvolvimento da aprendizagem, sendo fundamental no trabalho Psicopedagógico por demonstrar resultados positivos e de excelência. No início das intervenções com os alunos, o profissional pode realizar encontros inteiramente lúdicos, para que os mesmos sintam-se mais a vontade, pois nesses encontros o mediador perceberá de forma espontânea as facilidades e dificuldades de aprendizagem encontradas pela criança, assim como seu comportamento diante das propostas e das regras que os jogos lhe oferecem. 33 Por ser o jogo inerente ao homem, e por revelar sua personalidade integral de forma espontânea, é que se pode obter dados específicos e diferenciados em relação ao Modelo de Aprendizagem do paciente. Assim, aspectos do conhecimento que já possui, do funcionamento cognitivo e das relações vinculares e significações existentes no aprender, o caminho usado para aprender ou não – aprender, o que pode revelar, o que precisa esconder e como o faz podem ser claramente observados através do jogo. (WEISS, 2008 p.79). Os materiais e jogos a serem utilizados nessas atividades devem ser selecionados a fim de alcançar os objetivos desejados pelo profissional, o mesmo deve avaliar o tempo disponível e a idade para adequação e manipulação dos materiais. Nesse contexto investigativo o modo de brincar leva o profissional a algumas observações importantes que lhe dará “pistas” do comportamento que a criança apresenta, de inquietude ou de estrema atenção na realização das tarefas como: • A criança utiliza-se dos materiais mais próximos, ou examina todos para escolher o que lhe chama mais atenção. • Os materiais que escolhe são para uma brincadeira planejada que apresenta inicio, meio e fim. • Apresenta imaginação para nomear diferentemente o mesmo objeto. • Utiliza regras de classificação. • Desenvolve brincadeiras criativas ou sempre costuma brincar da mesma forma e com os mesmos objetos. • Tenta realizar tarefas diferentes no mesmo espaço de tempo não apresentando término ente uma e outra. Etc... Com a proposta lúdica é evidente que muitos comportamentos podem ser observados, levando o profissional a positivos resultados investigativos das dificuldades que estão envolvidas no processo da aprendizagem e os múltiplos processos cognitivos que se desenvolvem. 34 O Psicopedagogo que se encontra engajado em desenvolver trabalho de excelência deve manter-se atualizado em seus estudos contínuos de forma a realizar intervenções significativas e prazerosas que contribuirão de forma qualitativa na promoção da aprendizagem, transformando o sujeito e suas perspectivas sociais. Quando um educador respeita a dignidade do aluno e trata-o com compreensão e ajuda construtiva, ele desenvolve na criança a capacidade de procurar dentro de si mesma as respostas para seus problemas, tornando-o responsável e, conseqüentemente, agente de sua própria aprendizagem. DROUET (apud Porto, 2009, p.70). 35 CONCLUSÃO Definindo atividades lúdicas, vemos que ao passar do tempo a mesma vem contribuindo e deixando marcas significativas, mostrando-se com grandes possibilidades unindo gerações, desenvolvendo habilidades e possibilitando crescimentos e aprendizagem. Brincar é uma das primeiras práticas que envolvem o ser humano, mesmo ainda quando bebê não mostrando consciência de seus atos, essas práticas são tão significativas que se desenvolvem inconscientemente de forma ingênua. Essas atividades por serem tão extraordinárias mereceram atenção especial dos estudiosos pelos desenvolvimentos significativos e qualitativos visíveis que eram proporcionados aos indivíduos que praticavam essas tarefas pelas socializações estabelecidas, desenvolvimento cognitivo, formação da personalidade, ente outros. Desenvolvendo essas atividades, brincando pelo prazer que é desenvolver tal atividade a criança, jovem ou adulto que se utilizam desses processos absolvem valores que se encontram ocultos em cada prática. Observamos também que cada brinquedo e jogo ao ser oferecido a essa clientela deve ser adequado a maturidade, e a capacidade que cada um apresenta, dentro da respectiva faixa etária, evitando assim frustrações e trabalhando para que ocorram significativas aprendizagens. Pela neurociência observamos que o cérebro é uma máquina ativa que se desenvolve mantendo-se em processo evolutivo, sendo a partir dos estímulos recebidos que a plasticidade cerebral é desenvolvida. Desde o início da história humana procurava-se entender o processo de aprendizagem do cérebro e suas possibilitaram potencialidades, entender que sendo pelos os posteriores estímulos estudos positivos que recebidos desenvolvemos a aprendizagem, raciocínio, construções de pensamento, Interações e relações, pois o cérebro muda conforme as maturidades adquiridas. 36 Nesse contexto percebemos a Psicopedagogia como um elo, unindo o lúdico e os conhecimentos da neurociência, desenvolvendo assim estruturas que apresentam por objetivo auxiliar o homem e possibilitar sua compreensão de forma qualitativa do seu processo particular de aprendizagem. Esta ciência não é apenas uma área de estudo, mas sim utiliza-se dos conhecimentos investigativos para intervir no processo de aquisição da aprendizagem em alunos ou pessoas que necessitam dessas intervenções por apresentarem dificuldades de aprendizagem, sendo possível com esse trabalho que cada indivíduo conheça sua própria trajetória na aquisição do conhecimento. O Psicopedagogo age como promotor de possibilidades, ao utilizar o lúdico como desencadeador de comportamento e respostas ele penetra facilmente em sua investigação, podendo observar diversos comportamentos que transparecem no ato de jogar criando assim a motivação e estímulos necessários para o desenvolvimento da aprendizagem, estimulando o raciocínio lógico e desenvolvendo harmoniosamente as capacidades múltiplas do indivíduo. Os jogos utilizados de forma investigativa tornam-se potencializadores de aprendizagens e a contribuição que os mesmos oferecem, tendo como mediador o Psicopedagogo viabiliza e desencadeia de maneira lúdica a aprendizagem, agindo no espaço onde o aluno necessita de auxílio, em suas dificuldades, onde há necessidade da construção do conhecimento. Considerando as idéias acima, conclui-se que as atividades lúdicas são potencializadoras de aprendizagem, contribuem com êxito na investigação, aquisição e conhecimento individual das formas significativas do desenvolvimento da aprendizagem. É possível o Psicopedagogo utilizar-se do lúdico para investigar e detectar dificuldades de aprendizagem, utilizando-se do próprio para fazer intervenções, desenvolvendo de forma harmoniosa atividades que irão de encontro às necessidades de aprendizagem do sujeito. 37 É possível tornar a educação mais prazerosa e menos massacrante, basta observar mais o aluno, agindo e motivando onde o mesmo precisa de ajuda. Com empenho e força de vontade é possível termos crianças, jovens e adultos desenvolvidos, equilibrados emocionalmente e com boas recordações do tempo em que brincar era mais que um prazer, mas sim aprendizagem. 38 BIBLIOGRAFIA ANTUNES, Celso. Educação Infantil: Prioridade Imprescindível. 6ª ed. Petrópolis – RJ: Vozes, 2009 ARANHA, Fábio. Em cada época, uma nova concepção do que é brincar. Nós da Escola. Rio de Janeiro – RJ: nº 36, 2006. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Lei Federal 8.069/1990, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Educação. Rio de Janeiro: 2000 HAYDT, Regina Célia & RIZZI, Leonor. Atividades Lúdicas na Educação da Criança. 6ª ed. São Paulo: Ática, 1987. HORN, Maria da Graça Souza. Sabores, Cores, Sons, Aromas: A Organização dos Espaços na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2004. MALUF, Angela Cristina Munhoz. Brincar Prazer e Aprendizado. Rio de Janeiro: Vozes, 2003. MOÇO, Anderson. Quanta coisa eles aprendem! Nova Escola. São Paulo – SP: n° 231, abril/ 2010. MULTIEDUCAÇÃO Temas em Debate. Educação Infantil – Revendo Percursos no Diálogo com os Educadores: 2006 PERRONE, Ercília. Creche – Pré Escola, Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Sprint, 1992. PETROCELLI, Renata. Do cavalinho – de – pau ao universo das brincadeiras virtuais. Nós da Escola. Rio de Janeiro – RJ: n° 34, 2006. PORTO, Olívia. Psicopedagogia Institucional: Teoria, Prática e Assessoramento Psicopedagógico. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009. RELVAS, Marta Pires. Fundamentos Biológicos da Educação: Despertando Inteligências e Afetividade no Processo de Aprendizagem. Rio de Janeiro – RJ: Wak Editora, 2005. RELVAS, Marta Pires. Neurociência e Educação:Potencialidades dos Gêneros Humanos na Sala de Aula. Rio de Janeiro – RJ: Wak Editora, 2009. 39 WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia Clinica – uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Janeiro: Lamparina, 2008. 13ª ed. Rio de 40 ÍNDICE AGRADECIMENTOS 2 DEDICATÓRIA 3 RESUMO 4 METODOLOGIA 5 SUMÁRIO 6 INTRODUÇÃO 7 CAPÍTULO I DEFININDO O QUE É ATIVIDADE LÚDICA 10 1.1 Por que brincar na Educação Infantil 12 1.2 Arrumação do espaço da sala de aula 13 CAPÍTULO II IDENTIFICANDO AS BRINCADEIRAS INFANTIS NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO 17 2.1 Com o que podem brincar as crianças 21 CAPÍTULO III NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM 26 CAPÍTULO IV INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM INFANTIL 31 41 CONCLUSÃO 35 BIBLIOGRAFIA 38 ÍNDICE 40