I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
5 . O SIGNI FICADO DAS COMEMORAÇ Õ ES
O q u e s i g n ifica co m e m o ra r? O q u e s i g n ifica m a s co m e m o ra ções n o te m po
p resente? As co m e m o ra ções s ã o m a n ifesta ções vivas d à h i stó r i a . M a s são ta m ­
bém d i m e n sões exp l ícitas d o l e m b ra r e d o esq u ecer - p o rta nto, d a m e m ó r i a . H á
m o m e ntos h i stóricos d e fo rte exa ltação d o senti m e nto co m e m o ra c i o n ista . Co m o
os a n os 30 e 40, especi a l m e nte n o co ntexto dos tota l itarism os, d e fo rte a p e l o
e m o ci o n a l e passa d i ço . A b u sca d ese nfrea d a , n a s l o n g í n q u a s ra ízes d o passa d o ,
d a j u stificativa pa ra as t res l o u ca d a s a ç õ e s d o p resente. Da m e s m a fo r m a , os reg i ­
mes d e exceção tra b a l h ava m i ntensa m e nte n o o bscu reci m e nto d a h i stória i n con­
ve n i e nte, d a h i stória que n ã o se aj u stava aos pa d rões éticos, estéticos e i d eo l ó­
g i cos a l m ej a d os. O d e s m o ro n a m e nto d estes reg i m es n o s a n os 40, n o pós­
seg u n d a g u e rra m u n d i a l , p r o m ove ra m , por o utro l a d o , a exp l osão i n co n t i d a da
m e m ó ri a , o esfo rço d o s s i l e n c i a d o s por l e m b ra r, pa ra não esq u ecer, exata m e nte
p a ra evita r q u e o pesa d e l o d e n ovo a sso m a sse a s sociedades desa p e rce b i d a s e
d e s p roteg i d a s . " N os exe rcícios d e re m e m o ração, a h i stória reco rd a d a esga rça a
c ro n o l o g i a , desbo rd a o espaço, p reenche as l a c u n a s e nt re os aco ntec i m e ntos,
p rese ntifica a s a u sê n c i a s . Po r i sso, a pesa r d e a m e m ó ri a ensej a r u m a h i stória
n a rra d a , a reco n strução m e m o ri a l ística ' n ã o p recisa d e m atéri a ' , n o senti d o p re­
ciso d e q u e e l a fi a a própria s u bstâ n c i a "39
A u rd i d u ra d o teci d o h i st ó r i co se faz a p a rt i r d o s i m p u l s o s d o p resente. É
o p rese nte, e m s u a fu g a c i d a d e i n co n t ro l áve l , q u e n u m áti m o d e te m po to r n a o
p rese nte e m passa d o , a o m e s m o te m p o q u e i l u m i n a-o bscu rece, s i l e n c i a ­
exa l t a , co n g e l a - rea q u ece, m a s ta m bé m o b l itera o l u g a r d e o n d e se fa l a , t ra n s­
fo r m a n d o p e r m a n e nt e m e nte o passa d o "sob o s i n fl uxos d o p rese nte, u m a vez
q u e a s trajet ó r i a s pesso a i s e co l et i v a s s ã o i n cessa nte m e nte re postas "40• C r i a-se
um tec i d o i m a g i n á ri o , p o r força d o " s u j e ito q u e l e m b ra e s i g n ifica o q u e fo i
p revi a m e nte s i g n ifica d o , n u m p rocesso d e ress i g n ifi ca ç ã o p e r m a n e nte q u e
c o n stitu i o p r ó p r i o tec i d o d o i m a g i n á ri o "41 • O p rese nte d est r ó i o passa d o , d e l e
se a l i m e nt a , m a s p resc i n d e d e s u a ex p e r i ê n c i a s o c i a l co n c reta . Po r i s s o , a s
co m e m o ra ções s ã o m a i s efi cazes q u a nto m a i s l eg ít i m a s se c o n fi g u ra re m , po r
força d e s u a s d u rações. O q u e se rec u p e ra d o passa d o é o m í n i m o a s s i m i l áv e l
•
39 AR R U DA, M a ri a Arm i n d a d o N a sci m e nt o . " Pr i s m a s d a M e m ó r i a : E m i g ra ç ã o e
Dese n ra iza m e nt o " . Revista do CEPFAM, Fa cu l d a d e de Letras da U n ivers i d a d e do Po rto, v. 4,
p. 1 7, 1 998.
40 I d e m , p . 1 8.
4' I d e m , ibidem.
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5. O SIGNIFICADO DAS COMEMORAÇÕES O que significa