— O ESTADO DE S. PAULO ANC88 Pasta Jan/Maio 86 156 Debate 'Çfongtttneioiíal que vem por ai proporcionar ao corpo social e a caBENEDICTO FERRI DE BARROS da indivíduo o maior grau possível Há já algum tempo vazou pelos de garantia, sob os aspectos econócanais competentes cópia dos rela- mico, social, cultural, moral e retórios ãe dois Comités Temáticos da creativo" (grifos nossos). Comissão de Estuãos Constitucio3. Como se fará isso? O relator nais: um relativo à Ordem Econômi- sugce num artigo:... "É garantida a ea&mtro relativo à Ordem Social. todos, na forma estabelecida em lei, '«MO'primeiro é um relatório preli- seguridade social, mediante planos j minar que se detém em generalida- de seguro social, com a contribuição j des metodológicas, ocupando-se em da União e, conforme os casos, das \ definir que assuntos devem constar empresas e dos segurados". do..cçpttulo da Ordem Económica. O 4. Aqui e ali, em diferentes artisegundo já vem em forma de "suges- gos do corpo constitucional percebeíõèkde articulaáo", isto é, propondo se como se instrumentalizará a "seartigos que devem constar da Ordem guridade": "... Serão criadas colóSocial. nias de férias e clínicas de repouso, c:: /[leitura dessas duas peças veio recuperação e convalescença, mancorroborar o que por antecipação tidas pela União, Estados e municípios a fim de promover a criação de prevíamos. rede nacional ãe assistência v-i"--:Não há um pensamento novo ca-uma materno-infantil, rede napaz de criar uma estrutura constitu- cional de creches edeãeuma infra-estrutucignal adaptada à realidade prospéctiva do País. O arcabouço insti- ras de apoio a família. 5. Se a "seguridade" há ãe dar tucional resultante dos debates dos éomltês não olha para o futuro: pa- garantia plena a "todo o corpo sorece irremediavelmente comprome- cial e a cada indivíduo", com muito Uãè-com o arcaico. A imperar essa maior razão deverá dar atendimentendência, a Nova Constituição — to prioritário às "Populações Carenrepetindo a Nova República — já tes e aos Silvícolas". No capítulo a nascerá senil. Aparentemente, os ho- eles dedicado um artigo estipula que mens dos comités não se deram con- "... será criado um Fundo Especial la^seja da profunda revisão do pen- pelo Governo Federal, ãe natureza samento político que toma conta do permanente, a fim ãe, com os recurcenário intelectual do mundo, seja sos que lhe sejam destinados, dar dás transformações espontâneas assistência às populações carentes e que o próprio povo brasileiro vem marginais em todo o território naimprimindo ás estruturas econômi- cional com o óbjetivo de reduzir as co-politico-sociais. As "Elites Cons- profundas diferenças sociais e ecotitucionais" brasileiras estão a quo nómicas em que se encontram, reindessas duas forças históricas irre- tegranáo-as à sociedade brasileira, sistíveis, atrasadas tanto em sua re- no uso ãe cidadania plena". flexão quanto em sua sensibilidade. Em síntese, competirá ao EstaO segundo aspecto decepcionan- do, por determinação constituciote desses esboços — decorrente da nal, instaurar a JSepública da Seguausência de um pensamento político ridade no Brasil, proporcionando original e atualizado — é seu conser- "ao corpo social e a cada indivíduo o vadorismo com relação às fórmulas maior grau possível de garantia, sob e conteúdos constitucionais. Não há os aspectos económico, social, cultuideia de se construir uma Constitui- ral, moral e recreativo." (grifos ção nova, mas simplesmente a de se nossos). botar remendos na que aí está, conHaverá na atualidaãe ou no fuservando-a não só no seu espírito, turo algum constituinte que tenha a mas até mesmo nos seus termos. Isto coragem e o bom senso ãe votar conindica falta de disposição renovado- tra aspirações tão nobres, quão inra e uma aprovação explícita do sta- sensatas? Quando o previãencialistus-quo. Trata-se, aparentemente, mo estatal está doutrinariamente dejse continuar a "ordem" que se condenado e atuarialmente falido desenvolveu nos últimos decénios, nos países em que mais se desenvolçomòse o movimento histórico que veu; quando no mundo inteiro a podeterminou o encerramento do ciclo lítica se reo-rienta no sentido de dedã última República não houvesse volver "ao corpo social e a caãa inacontecido como manifestação ex- divíduo" o maior grau possível de pressa da necessidade de mudar. As- autonomia e responsabilidade, sim,- substitut-se o regime, troca-se usurpado pelos indivíduos que dode partidos, mudam-se os homens e minam a máquina do Estado; quantudp continua na mesma. Seria ex- do a grande revelação da recente treinamente incómodo para os novos abertura foi a exposição do estado donos do poder abrir mão da heran- ãe falência, privilégio e corrupção ça recebida, mudar ãe rumos, de fi- do providencialismo estatal — que losofia, alterar o complexo institu- se propõe como novidade constitucional, que ai está. cional? —, a transformação do País Z '.' iáto não quer dizer que não se no Estado da Seguridade, uma "Proiriotie nada. Mas toda a inovação brebrás" geral, extensiva a toda a vem na linha ãe ampliar, avançar e população brasileira, capaz ãe darconsolidar aquilo que aqui está. E Ihe o maior grau possível de garaneste'--.é, 0 terceiro e maior risco que tia sob os aspectos económico, soameaça a futura Constituição: a de cial, cultural, moral e recreativo. consagrar estruturas irremediavel- Por outras palavras, o paraíso termente obsoletas e falidas. restre administrado pela máquina do Estado. Ou seja, pelos políticos. <•-• Até aqui falamos generica- Ou seja, pela minoria absoluta da mente. população. ' Passemos agora ao específico, O risco áas utopias — disia Huque demonstra de maneira cabal a ausência de pensamento novo, a fal- xley, citando Beráiaeff como epígrata de. disposição de mudar, o conti- fe de "O Admirável Mundo Novo" — niitsmo e agravamento, a limite, do é que elas venham a ser implantadas. Porque — acrescentada Berstatus quo. traná ãe Jouvenel em "O Poder" — .:,„ ,Um dos capítulos da Ordem So- toda utopia está grávida de uma ti:Cfál~Çonstitucional acopla aos Di- rania. A utopia democrática — adfèítpsdos Trabalhadores o conceito vertia Tocqueville em "A Democraáê Seguridade Social. Acompanhe- cia na América" — caminha para mos 0 raciocínio do relator: um Estado onde uns poucos paterna1. "Seguro social ou mesmo pre- lizam a vida total ãe todos. E comvidência social já são insuficientes, pletava Hayek em "O Oaminho da pouco importando que o Brasil ain- Servidão": quando o crescimento do da não tenha realizado plenamente Estado ultrapassa certo limite chetodas as medidas amplas da seguri- ga-se até à programação do lazer. dade social, mas está a caminho." O Não é peáir demais que os futuqiie se propõe, então, é que seguro e ros constituintes brasileiros hajam previdência social sejam substituí- lido e entenáiâo tais livros, se a elite dos pelo conceito de "seguridade", constitucionalista formula tais pro•ntititó mais amplo e destinado a "es- posições? E mesmo que hajam lido e iénãèr-se a toda a população na- entendido, como esperar que se opocional". nham ao que vem ãe mão beijada ao '"'" 2. Quem vem a ser essa segurida- encontro de seus mais fortes interesde? O relator a define, citando Auré- ses: o de aumentar ainda mais o Eslio: "Conjunto de medidas, provi- tado — a fonte principal de seu po-í\ ' dências, normas e leis que visam a der e de sua economia?! __J