Foto: Acervo SEAGRI
Avaliação de cultivares de feijão-caupi
utilizadas no Programa de
Distribuição de Sementes
Jorge de Almeida1
1 – Engenheiro Agrônomo, D.Sc., EBDA-Gerência
Regional de Cruz das Almas;
e-mail: [email protected]
O
feijão-caupi, feijão-de-corda
ou feijão-macassar (Vigna
unguiculata (L.) Walp.) é uma excelente fonte de proteínas (2325% em média) e apresenta todos os aminoácidos essenciais,
carboidratos (62%, em média), vitaminas e minerais, além de possuir grande quantidade de fibras
dietéticas, baixa quantidade de
gordura (teor de óleo de 2%, em
média) e não conter colesterol.
Representa alimento básico para
as populações principalmente do
Norte e Nordeste brasileiro.
Apresenta ciclo curto, baixa exigência hídrica e rusticidade para
se desenvolver em solos de baixa fertilidade e, por meio da simbiose com bactérias do gênero
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Rhizobium, tem a habilidade para
fixar nitrogênio do ar. Pelo seu valor nutritivo, o feijão-caupi é cultivado principalmente para a produção de grãos, secos ou verdes,
visando o consumo humano in
natura, na forma de conserva ou
desidratado. Além disso, também
é utilizado como forragem verde,
feno, ensilagem, farinha para alimentação animal e, ainda, como
adubação verde e proteção do
solo (EMBRAPA MEIO-NORTE,
2014).
Dados da FAO sobre a produção
mundial de feijão-caupi, no ano
de 2007, indicam que a cultura
atingiu 3,6 milhões de toneladas
em 12,5 milhões de hectares.
Produção essa alcançada em 36
países, destacando-se entre os
maiores produtores a Nigéria, o
Níger e o Brasil, os quais representam, respectivamente, 84,1 %
da área e 70,9 % da produção mundial. No Brasil, historicamente, a
produção de feijão-caupi concentra-se nas regiões Nordeste (1,2 milhão de hectares) e Norte (55,8 mil
hectares) do país, no entanto, a cultura está conquistando espaço na
região Centro-Oeste, em razão do
desenvolvimento de cultivares com
características que favorecem o
cultivo mecanizado. O feijão-caupi
contribui com 35,6 % da área plantada e 15 % da produção de feijão
total (feijão-caupi + feijão- comum) no país. Anualmente,
em média, foram produzidas 482
mil toneladas em 1,3 milhão de
hectares. A produtividade média
do feijão-caupi, no Brasil, é baixa
(366 kg ha-1), em função do baixo
nível tecnológico empregado no
cultivo. No entanto, estados como
Amazonas, Goiás, Mato Grosso
do Sul e Mato Grosso apresentam produtividades superiores a
1.000 kg ha-1. O avanço da cultura
na região central do Brasil contribuirá para o incremento da produtividade média brasileira, em
função, principalmente, do uso de
tecnologias que propiciam a cultura à expressão do seu potencial
produtivo (EMBRAPA. AGEITEC,
2014).
miliar, alcançando 1,9 milhão de
habitantes. A agricultura familiar,
ainda segundo o mesmo censo,
emprega 18,9 pessoas em cada
100 hectares e é responsável por
83% do feijão que chega à mesa
dos baianos (BAHIA, 2014). Assim
sendo, este trabalho de pesquisa
teve por objetivo, a avaliação dos
componentes de produção do
feijão-caupi, cultivares BR 17 Gurguéia e BRS Novaera, utilizados
pelo Governo do Estado da Bahia
no Programa de Distribuição de
Sementes para Agricultores Familiares safra de verão 2012 e 2013.
METODOLOGIA
O trabalho foi realizado no período de outubro de 2013 a janeiro
de 2014, e o experimento implantado na área experimental da Universidade Federal do Recôncavo
da Bahia-UFRB, no município
de Cruz das Almas-BA, situada
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso
em esquema de parcelas subdivididas, com dois tratamentos
(duas cultivares) e quatro repetições. O plantio foi realizado em
um solo classificado como Latossolo Vermelho amarelo. Cada
parcela experimental foi representada por quatro linhas de 50
plantas cada, espaçadas de 0,8
m de largura com 10 plantas por
metro linear de sulco. A parcela útil foi representada por duas
linhas centrais com 40 plantas
Foto: Acervo SEAGRI
O último censo agropecuário
(IBGE, 2006), confirmou a condição de estado mais rural do Brasil
para a Bahia: aqui vive 15% de
toda a população rural brasileira
em 761.528 estabelecimentos,
dos quais 87% são de base fa-
a 12º40’19’’ de Latitude Sul e
39º06’22’’ de Longitude Oeste de
Greenwich, tendo 220 m de altitude, com clima tropical quente e
úmido, Aw a Am, segundo a classificação de Köppen, temperatura
média anual de 24,5º C e umidade
relativa de 80% (ALMEIDA, 1999).
Para as avaliações foram utilizadas as cultivares de feijão-caupi
(Vigna unguiculata (L.) Walp.) BR
17 Gurguéia e BRS Novaera.
95
cada. O preparo da área constou
apenas de limpeza e sulcamento, tendo em vista que o solo foi
cultivado anteriormente com outra leguminosa de ciclo curto. O
plantio foi realizado manualmente com 20 sementes por metro
linear de sulco e 15 dias após
efetuou-se o desbaste deixando-se 10 plantas, procurando-se
obter uma população de 125.000
plantas ha-1. Durante o ciclo da
cultura o controle das ervas daninhas foi realizado com uma capina com o uso de enxada manual.
A pluviosidade ocorrida no período experimental avaliado foi de
156 mm. A colheita foi realizada
70 dias após o plantio, quando
aproximadamente 90% das vagens estavam maduras. Para as
avaliações foram utilizadas as
seguintes variáveis: número de
vagens planta-1, número de grãos
vagem-1 , numero de grãos planta-1, peso de 100 grãos , peso
de grãos planta-1 e rendimento
de grãos ha-1. Os dados foram
submetidos à análise de variância empregando-se o sistema de
análise estatística SISVAR (FERREIRA, 2000). Para a comparação das médias dos tratamentos
utilizou-se o teste de Tukey a 5%
de probabilidade.
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
Conforme dados apresentados
na Tabela 1, a análise de variância
revelou efeito significativo para os
tratamentos quanto às variáveis
nº de grãos vagem-1 e nº de grãos
planta-1 com superioridade para a
cultivar BR 17 Gurguéia e peso
de 100 grãos com superioridade
para a cultivar BRS Novaera. Possivelmente exista uma correlação
alta e positiva destas variáveis
com o rendimento de grãos. Apesar disso, não houve diferença estatística para esta variável onde a
média alcançada pelas cultivares
foi de 1.162,5 kg ha-1. Estes dados são semelhantes às maiores
produtividades obtidas no Brasil,
como por exemplo, as produtividades dos Estados de Amazonas, Goiás, Mato Grosso do Sul e
Mato Grosso.
Alguns fatores devem ter contribuído para a obtenção do
rendimento acima citado, como
a adaptação da cultura ao ambiente, considerando-se baixa
exigência hídrica, rusticidade
para se desenvolver em solos
de baixa fertilidade e, durante o
período experimental não foi observado a ocorrência de pragas
e doenças que viessem a comprometer significativamente o
bom desenvolvimento da cultura
em estudo.
Em cultivo de sequeiro, a BR 17
Gurguéia em doze ensaios realizados nos estados do Piauí e
Ceará apresentou um rendimento médio de grãos de 976 kg ha-1
(EMBRAPA MEIO-NORTE, s.d.).
Conforme Almeida et al. (2010),
em cultivo irrigado sem adição
de N obtiveram para nº de vagens planta-1 9,17; peso de 100
grãos 12,38 g ; peso de grãos
planta-1 17,47 g e rendimento de
1313 kg ha-1.
Segundo Freire Filho et al (2008) a
cultivar BRS Novaera foi avaliada
em 41 ensaios. Nos estados da
região Norte, as médias de produtividade variaram de 538,1 kg
ha-1, em Rondônia, a 1.839,5 kg
ha-1, no Amazonas. Com exceção
de Rondônia, nos demais estados
as produtividades foram superiores a 1.000 kg ha-1, sendo a média
ponderada da produtividade dos
estados de 1.074,3 kg ha-1. No
estado Maranhão a cultivar BRS
Novaera alcançou uma média de
Componentes de produção das cultivares de feijão-caupi BR 17 Gurguéia e BRS Novaera
Tabela 1
Discriminação
-1
nº de vagens planta
nº de grãos vagem-1
nº de grãos planta-1
peso de 100 grãos (g)
peso de grãos planta-1 (g)
rendimento de grãos (kg ha-1)
BRS NOVAERA
8
7
56
17,5
9,8
1225
a
b
b
a
a
a
BR 17 GURGUÉIA
7,5
10,6
79,5
11,1
8,8
1100
a
a
a
b
a
a
Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade (P>0,05).
Fonte: Autor.
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produtividade de 1.054,1 kg ha-1
e no Rio Grande do Norte 1.546,9
kg ha-1. Os referidos autores informam ainda algumas características da planta como: nº médio de
grãos vagem-1 10 e peso médio
de 100 grãos 20 g.
CONCLUSÃO
As cultivares de Feijão Caupi BR
17 Gurguéia e BRS Novaera utilizadas no Programa de Distribuição de Sementes Pelo Governo do
Estado da Bahia para a safra de
verão 2012/2013, apresentaram
dados referentes ao Rendimento
de Grãos kg ha-1, semelhantes ou
próximos aos maiores rendimentos alcançados em pesquisas realizadas nos estados das regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, O. A. Informações meteorológicas do CNPMF. Cruz das Almas: EMBRAPA-CNPMF, 1999. 35p. (EMBRAPA.CNPMF. Documentos, 34).
ALMEIDA, A. L. G. et al. Produtividade do feijão-caupi cv BR 17 Gurguéia inoculado com bactérias diazotróficas simbióticas no Piauí. Rev. Bras. Ciências
Agrárias, Recife, v.5, n.3, p.364-369, 2010.
BAHIA. SEAGRI. Plano Safra 2014-2015: agricultura familiar na Bahia, da assistência técnica à comercialização. Salvador: SEAGRI/SUAF, 2014. (Informativo
SEAGRI/SUAF).
EMBRAPA. AGEITEC. Estatísticas da produção de Feijão caupi. Disponível: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/feijao- caupi//arvore/CONTAG.
html>. Acesso em: 03 nov. 2014.
EMBRAPA MEIO-NORTE. Sistemas de Produção 2; versão eletrônica. Disponível: <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Feijao/FeijaoCaupi>. Acesso em: 03 nov. 2014.
EMBRAPA MEIO-NORTE. Feijão caupi BR 17 Gurguéia. (Folder)
FERREIRA, D. F. Análises estatísticas por meio do Sisvar para Windows 4.0. In: REUNIÃO ANUAL BRASILEIRA DA SOCIEDADE INTERNACIONAL DE BIOMETRIA, 45., São Carlos, 2000. Anais... São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2000. p.255-258.
FREIRE FILHO, F. R. et al. BRS Novaera: cultivar de feijão-caupi de porte semi-ereto. Belém, PA, 2008. (Comunicado Técnico, 215).
IBGE. Censo Agropecuário 2006. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/>.
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