ARTIGO DE MONOGRAFIA APRESENTADO COMO CONCLUSÃO DA
RESIDÊNCIA MÉDICA EM PEDIATRIA DO HOSPITAL REGIONAL DA ASA
SUL(HRAS)/HOSPITAL MATERNO INFANTIL DE BRASÍLIA (HMIB)
Autora: Selma Moreira de Brito Sousa
Orientadora: Dra.Mariana de Melo Gadelha
DIABETES MELITO NEONATAL:DOENÇA
MULTIFATORIAL
Brasília,28 de Novembro de 2012
www.paulomargotto.com.br
DEFINIÇÃO, FORMA E EPIDEMIOLOGIA
 Diabetes Melito Neonatal (DMN): Doença rara e de
alta gravidade.
 Presença de elevados níveis de glicemia associado a
baixas concentrações de insulina.
 Presença de retardo do crescimento intraútero
(CIUR),retardo no desenvolvimento, diminuição do
gordura subcutânea e níveis baixos de peptídeo C.
 Incidência de 1 caso em 300000-400000 nascidos
vivos.
DEFINIÇÃO, FORMA E EPIDEMIOLOGIA
 Dois grupos de doença:Transitórios (DMNT) e
Permanente (DMNP).
 Cerca de 50% dos casos é DMNT, entrando em
remissão dentro de 3 meses e podendo recidivar na
infância ou adolescência.
 Não há características clínicas que possa predizer
se um neonato terá eventualmente a forma
transitória ou permanente da doença.
QUADRO CLÍNICO
 Principal alteração metabólica: Hiperglicemia
 Outros: desidratação grave, cetoacidose e complicações
neuronais.
 O diagnóstico pode ocorrer nos primeiros dias ou meses após
o nascimento.
 Dificuldade do diagnóstico: diferenciação entre diabetes de
causa monogenética e entre diabetes autoimune do Tipo 1.
 Iafusco et al (2002):menor frequência de marcadores
autoimunes, principalmente de marcadores de destruição de
células beta antes dos seis meses de vida.
DMNT
 Surgimento nas primeiras semanas de vida e
desaparecimento no primeiro ano de vida.
 Três fases: diagnóstico neonatal; remissão aparente;
retorno do quadro de diabetes.
 Hiperglicemia com hipoinsulinemia necessitando de
insulina em torno de 4 a 60 semanas.
 Presença de CIUR, macroglossia, hérnia umbilical
(Gardner et at, 2002)
DMNT
 Base celular permanece desconhecida.
 Hipóteses remetem a um defeito de maturação das
células pancreáticas beta, sendo que a
insuficiência pancreática exócrina está presente
em alguns casos.
 Testes realizados em pacientes com DMNT foram
negativos para anticorpos antiilhotas, sinalizando
etiologia não auto-imune.
DMNP
 Presente nos primeiros meses de vida e não entra
em remissão.
 Diagnóstico mais tardio, ocorrendo com cerca de
27 dias.
 CIUR menos frequente
 Sugestão
de
mecanismos
fisiopatológicos
diferentes: DMNP
falência de células-beta após
o nascimento.
MECANISMOS
 ANOMALIAS NO BRAÇO LONGO DO CROMOSSOMO 6
- Mecanismos moleculares de desenvolvimento do DMNT
geralmente são esporádicos, mas a transmissão paterna
tem sido relatada.
- Cerca de 70% dos pacientes com DMNT apresentam
anormalidades no cromossomo 6q24.
- Três
anormalidades descritas: dissomia uniparental
paterna do cromossomo 6 (DPD6); duplicação de herança
paterna do braço longo do cromossomo 6; defeitos de
metilação.
MECANISMOS
 ANOMALIAS NO BRAÇO LONGO DO CROMOSSOMO 6
- Somente se a duplicação for de herança paterna é que se
caracteriza o DMNT.
- As anomalias do cromossomo 6 são devidas a alterações
de imprinting , o qual consiste na supressão de genes
através da adição de grupos metil.
- Superexpressão do alelo paterno: Duas cópias do
cromossomo 6 paterno; duplicação paterna do 6q24;
perda de imprinting (metilação) do cromossomo 6q24
materno.
MECANISMOS
 MUTAÇÕES NO CANAL DE POTÁSSIO ATP-SENSÍVEL
(K+ATP)
- Os canais K+ATP são um complexo octamérico , que
regulam a atividade elétrica da célula, sendo composto por
4 subunidades Kir6.2, que formam o poro do canal e 4
subunidades regulatórias SUR1(sulphonylurea receptor),
presentes nas células beta pancreáticas.
- Kir6.2 é codificada pelo gene KCNJ11 e a subunidade
SUR1 pelo gene
cromossomo 11.
ABCC8,
ambas
localizadas
no
MECANISMOS
 MUTAÇÕES NO CANAL DE POTÁSSIO ATP-SENSÍVEL (K+ATP)
- A glicose entra na célula beta através da proteína transportadora
GLUT-2 sendo então metabolizada por enzimas da via glicolítica
(glicoquinase), para produzir ATP, aumentando o nível intracelular
deste.
- O aumento da relação ATP/ADP intracelular leva ao fechamento do
canal K+ATP e à despolarização da membrana plasmática. Há
abertura do canal de cálcio voltagem-sensível, havendo influxo de
cálcio para dentro da célula, resultando na secreção de insulina.
MECANISMOS
 MUTAÇÕES NO GENE KCNJ11
- Gloyn et al (2006): mutações ativadoras no gene que codifica a
subunidade Kir6.2 como causa de DMNP.
- Mutações funcionalmente menos graves resultam em DMNT.
- Mutações ativadoras no gene KCNJ11 ocasionam falência no
fechamento do K+ATP na presença de ATP, gerando grande
influxo de K, o que mantém a membrana plasmática
hiperpolarizada, impedindo a secreção de insulina.
MECANISMOS
 MUTAÇÕES NO GENE ABCC8
- Proks et al (2006): mutações inativadoras nos genes que
codificam Kir6.2 e SUR1 são causas de hipoglicemia
hiperinsulinêmica e mutações ativadoras no Kir6.2 causam
DMN, logo mutações ativadoras no SUR1 também seria causam
de DMN.
- Mutações no gene KCNJ11 são mais associadas a DMNP e
mutações no gene ABCC8 são mais relacionadas com DMNT.
MECANISMOS
 MUTAÇÕES NO GENE DA INSULINA
- São mais graves e resultam em DMN em idade mais precoce.
Presença geralmente de cetoacidose ou hiperglicemia importante
e muito baixo peso ao nascimento.
- Estudo de Edghill et al (2007) foram identificadas mutações no
gene da insulina em 12% dos pacientes com DMNP, sendo a
segunda causa mais comum, após mutações no gene KCNJ11.
MECANISMOS
 MUTAÇÕES NO GENE DA GLICOQUINASE
- Glicoquinase:
enzima da via glicolítica, reguladora do
metabolismo da glicose nas células beta, controlando a secreção
de insulina.
- Mutações em heterozigose: causa de MODY 2
- Mutações em homozigose ou heterozigose composta : DMNP
- Importante pesquisar mutações no gene da glicoquinase quando
RN com DMNP e ambos os pais apresentam intolerância à
glicose.
MECANISMOS
 MUTAÇÕES NO GENE IPF-1(insulin promoterfactor 1)
- Gene IPF-1: desenvolvimento adequado do tecido pancreático,
responsável pela estruturação coordenada do pâncreas intraútero e também pela funcionalidade das células beta.
- Mutações em heterozigose: MODY 4
- Mutações em homozigose ou heterozigose composta: DMNP.
SINDROMES ASSOCIADAS
 SINDROME IPEX( immunodysregulation polyendocrinopath and
enteropathy X-linked syndrome)
-
Desordem fatal, rara, de herança ligada ao X e caracterizada por: diarréia
intratável, atrofia das vilosidades intestinais, dermatite esfoliativa, anemia
hemolítica autoimune, doenças da tireóide e DMN.
 SINDROME DE WOLCOTT-RALLISON
-
Doença autossômica rcessiva caracterizada pelo surgimento de DMN,
associado a displasia espôndilo-epifisária, hepatomegalia e insuficiência
renal, retardo mental e geralmente morte precoce.
DIAGNÓSTICO
 Diagnóstico e
diferenciação são pontos cruciais para o
acompanhamento da doença.
 Pacientes com DMNT são propensos a
desenvolver CIUR e
menos propensos a apresentar cetoacidose diabética. São mais
jovens ao diagnóstico e necessitam de menores doses iniciais de
insulina. Vigiar recorrência.
 Análise molecular fornece uma ferramenta para a identificação
da especificação do DMN e critérios para tratamento adequado.
TRATAMENTO
 Terapia com Insulina: adequado crescimento e ganho de peso dos
RN com DMN.
 DMNT: uso de insulina ultralenta (controvérsias).
 Na presença de Mutações do canal de K, estudos tem mostrado
avanços na substituição do uso da Insulina por Glibenclamida,
porém, com doses mais elevadas.
 Sulfonilureas causam fechamento dos canais de K+ATP por um
mecanismo independente do ATP, portanto, poderia ser usada no
tratamento do DMN causado por mutações nos canais de
K+ATP.
PROGNÓSTICO
 Relacionado à gravidade da doença, ao grau de
desidratação observado e à presença de cetoacidose e
suas complicações no momento do diagnóstico.
 Rapidez do diagnóstico e o início da terapêutica, que
determinará o surgimento de complicações no futuro.
 Reconhecimento de malformações e presença de
síndromes associadas.
CONCLUSÃO
 DMN é uma doença rara e ainda pouco estudada, porém, seu
melhor conhecimento pode promover o entendimento das
disfunções pancreáticas e possibilitar a determinação de
anomalias genéticas envolvidas.
 Os avanços da citogenética na identificação dos mecanismos
moleculares de desenvolvimento do DMN podem interferir na
terapêutica e no prognóstico desses pacientes.
“ Nada do que vivemos tem sentido,
se não tocarmos o coração das
pessoas. Feliz é aquele que
transfere o que sabe e aprende o
que ensina.”
Cora Coralina
OBRIGADA!!!
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Nota do Editor do site, Dr.Paulo R.
Margotto. Consultem também:
Diabetes neonatal permanente
Autor(es):JR Porter, MBBSJ , Shaw NJ, et al. Apresentação: Virgínia
Lira e Albaneyde Formiga
Diabetes Neonatal
 Hiperglicemia que necessita de insulinoterapia e ocorre até o 3o mês de vida
 É raro (1/ 400 000 nascidos vivos - Reino Unido)
Diabetes Neonatal Transitório
 ½ dos casos
 Duração em média 3 meses
 Reaparece na adolescência
 Associado a anormalidades no cromossomo 6q
Diabetes Neonatal Permanente (DNP)
 A maioria não tem causa definida
 1/3 mutações KCNJ11 (gene Canais de Potássio)
 Njolstad et al: mutações GCK (gene Glucoquinase) – 5 casos
 Hattersley et al: heterozigotos c/ diabetes de início tardio (GCK-MODY)
 DNP associado a GCK ocorrem em famílias asiáticas ou européias com
consanguinidade (4 de 5 casos
Objetivo: Identificar a causa genética do diabetes neonatal no caso clínico estudado
(RN, sexo feminino, restrição do crescimento intra-uterino, 36 sem, PN 1.760 g)
CLUBE DE REVISTA: JR Porter, MBBSJ et al. J Pediatr 2005: 131-3
 1o ddv: Hiperglicemia persistente sem cetoacidose
Glicemia Sérica 265 mg/dl
 Glicemia Capilar 198 a 270 mg/dl
 Insulina Endógena 11.5 um/L
 Sem ganho de peso até o 7o ddv sendo iniciado insulina
 (Insulatard, Novo Nordisk, Bagsvaerd, Denmark)
 Até o 1o ano
 A insulinoterapia foi necessária
 Controle inadequado
 Aos 4 meses Frutosamina 420 µmol/L (200 a 285 µmol/L)
 Aos 8 meses HbA1c 10.2 %
 13 meses:
 saudável , P9 peso (adequado em relação aos pais)
 Insulina 1 U/kg/dia
 Human Mixtard 20 (Novo Nordisk, Bagsvaerd, Denmark)
 HbA1c 9.9 %
 Citogenetica e estado de Metilação do cromossomo 6q foram normais
 Anticorpos anti células das ilhotas
 Glicemia jejum dos pais > 99 mg/dl (GCK-MODY) Sequenciamento do

gene GCK
Sequenciamento do gene GCK: R397L no exón 9 (M); Criança:
homozigótica (MM); Pais: heterozigóticos (NM)
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Diabetes melito neonatal: doença multifatorial (APRESENTAÇÃO