Estratégia Organizacional NELSON JOSÉ DOS SANTOS ANTÓNIO nasceu em Portimão, no Algarve, onde aprendeu a vadiar. Doutorado na Alemanha em 1986 pela Bergischen Universitat, Wuppertal, viveu e lecionou doze anos na Ásia, entre 1989 e 2001. Publicou na Alemanha, China, Japão, Estados Unidos e Portugal. É atualmente professor catedrático no ISCTE onde leciona Estratégia e Gestão da Qualidade. Desde 1996 é professor visitante da Universidade de Rennes 1. No estudo da estratégia organizacional podem ser isolados dois momentos: um de posicionamento e outro de movimento. No primeiro, que dominou o ensino da disciplina até ao início dos anos 90, a empresa procura construir vantagens competitivas que lhe permitam uma posição de monopólio que, a todo o custo, tentará defender. No segundo, que domina o pensamento atual, a empresa assume que todas as vantagens competitivas são transitórias e, antes de ser expulsa da posição efémera que conquistou, toma por si própria a iniciativa de a destruir, inovando. DO POSICIONAMENTO AO MOVIMENTO Nelson Santos António DO POSICIONAMENTO AO MOVIMENTO É o que se discute neste livro que, tratando de estratégia como uma atitude de gestão – e não como um conjunto de técnicas e instrumentos – privilegia a empresa como um todo, com os seus constituintes internos e externos e a convicção de que há sempre que predizer o futuro. Uma obra para gestores, estudantes de gestão e para todos aqueles que pretendam ter da organização uma visão alargada. ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL ISBN 978-972-618-782-0 132 9 789726 187820 EDIÇÕES SÍLABO Aos TTs e JJs Mar de Fora Barcos Varados nas Ruas Homens às Paredes (Santochi Hashimoto, 2013) ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL DO POSICIONAMENTO AO MOVIMENTO NELSON DOS SANTOS ANTÓNIO 3ª EDIÇÃO REVISTA E AUMENTADA EDIÇÕES SÍLABO É expressamente proibido reproduzir, no todo ou em parte, sob qualquer forma ou meio, NOMEADAMENTE FOTOCÓPIA, esta obra. As transgressões serão passíveis das penalizações previstas na legislação em vigor. Visite a Sílabo na rede www.silabo.pt Editor: Manuel Robalo FICHA TÉCNICA: Título: Estratégia Organizacional – Do Posicionamento ao Movimento Autor: Nelson dos Santos António © Edições Sílabo, Lda. Capa: Pedro Mota 1ª Edição – Lisboa, junho de 2003 3ª Edição – Lisboa, janeiro de 2015 Impressão e acabamentos: Europress, Lda. Depósito Legal: 386385/15 ISBN: 978-972-618-782-0 EDIÇÕES SÍLABO, LDA. R. Cidade de Manchester, 2 1170-100 Lisboa Telf.: 218130345 Fax: 218166719 e-mail: [email protected] www.silabo.pt ÍNDICE NOTA À TERCEIRA EDIÇÃO 11 NOTA À SEGUNDA EDIÇÃO 13 PREFÁCIO 15 CAPÍTULO 1 Estratégia Organizacional – Uma breve história 1. Introdução 21 2. O paradigma do posicionamento (ou da adaptação) 23 2.1. A análise SWOT 23 2.2. Vantagem competitiva 28 3. O paradigma do movimento ou da intenção estratégica 31 4. As estratégias fundamentadas nos recursos 33 5. Conhecimento e teoria baseada nos recursos 35 5.1. A transformação permanente 36 5.2. Qualidade: vetor integrador da estratégia 38 6. Conclusões 40 CAPÍTULO 2 À Volta do Conceito de Gestão Estratégica 1. Introdução 47 2. O conceito de estratégia 48 3. Desenvolvimentos do conceito de estratégia 53 4. Conclusão 57 CAPÍTULO 3 O Princípio de Tudo – A Análise SWOT 1. Introdução 63 2. Meio envolvente mediato 65 2.1. A perspetiva económica 66 2.2. A perspetiva tecnológica 68 2.3. A perspetiva cultural 74 2.4. A perspetiva política 81 2.5. A perspetiva demográfica 82 3. Meio envolvente imediato 84 4. Conclusão 86 CAPÍTULO 4 Teoria Baseada nos Recursos 1. Introdução 1.1. Teoria baseada nos recursos: sua evolução 91 93 1.2. Modelo VRIO 100 1.3. Capacidades dinâmicas 101 2. Conhecimento e teoria fundamentada nos recursos 104 3. A teoria baseada nos recursos em ação 110 4. Terminologia 112 5. Recursos e estratégia 115 6. Conclusão 116 CAPÍTULO 5 A Governabilidade Empresarial e a Teoria dos Stakeholders 1. O problema 127 2. Introdução 127 3. O modelo anglo-americano 131 3.1. A teoria subjacente ao modelo anglo-americano 4. O modelo germano-japonês 131 134 4.1. Algumas caraterísticas da governabilidade das empresas germânicas 4.1.1. O Hausbank 4.1.2. Formação nas empresas 139 139 141 4.2. Algumas caraterísticas da governabilidade das empresas japonesas 4.2.1. O sistema do Banco Principal 143 145 5. Conclusões 150 CONCLUSÕES 159 BIBLIOGRAFIA 163 NOTA À TERCEIRA EDIÇÃO Desde a primeira edição deste livro muitos acontecimentos tiveram lugar. De entre eles destaco a crise que assola as economias ocidentais e o ressurgimento dos países orientais, entre eles a China e a Índia. O ressurgimento destes países fez com que os valores ocidentais fossem questionados, já o eram nos finais dos anos de 1980, mas a crise de 1997 que assolou os países asiáticos fez com que a discussão sobre a aplicabilidade dos valores ocidentais nos países orientais passasse para segundo plano. Hoje a discussão voltou e autores como Nonaka questionam a bondade das «estratégias» ocidentais quando comparadas com as «estratégias orientais». Esta discussão só enriquece o pensamento estratégico e estes autores chamam a atenção para a importância das relações e a necessidade dos autores ocidentais darem menos importância à busca das relações causais, para formularem uma estratégia e integrarem o pensamento de Confúcio sobre os relacionamentos. O mundo é complexo e não se explica somente pelas relações de causa efeito tão de agrado dos pensadores ocidentais, influenciados por Newton. Para compreendermos o mundo em que vivemos temos de aliar a busca de casualidades, sem descurarmos a importância dos relacionamentos com todos os stakeholders das organizações. 11 Nesta edição o capítulo referente à Teoria Baseada nos Recursos foi reformulado e foi acrescentado uma caixa denominada «as novas vestes do Imperador e a Gestão das Empresas». Espero que este livro ajude a pensar melhor o mundo em que vivemos. Nelson Santos António Baía de Pera, março de 2014 12 NOTA À SEGUNDA EDIÇÃO «Nós já sabemos todas as respostas. O que não conhecemos são as perguntas.» Robert Menasse, escritor austríaco. Esperamos que este livro vos ajude a elaborar questões que permitam compreender a realidade complexa em que vivemos. A presente edição tem alguns desenvolvimentos, nomeadamente no capítulo 1 e capítulo 4 com a inclusão do caso do Gato das Botas. Desejamos que se divirtam tanto a ler este livro como nós nos divertimos na sua feitura. Até breve. Nelson Santos António Baía de Pera, janeiro de 2006. 13 PREFÁCIO Neste livro examino a evolução do conceito de estratégia organizacional ao longo dos últimos 50 anos. Não é um livro sobre a história da estratégia organizacional. Pretendo, essencialmente, enquadrar a evolução deste ramo da ciência da gestão no contexto dos desafios que se foram colocando à governabilidade das organizações e isolar um padrão de continuidade. Não me interesso minimamente pelas modas, preocupo-me com a procura da continuidade. Não pretendo, tão pouco, escrever um manual de estratégia empresarial. Desejo, simplesmente, partilhar convosco algumas das minhas dúvidas sobre este ramo da ciência da gestão. É um facto, que de tanto ouvirmos falar sobre estratégia, todos nós pensamos saber do que se trata. Não questionando esse conhecimento, aspiro a compartilhar as minhas dúvidas sobre as bases que o fundamentam. Mais do que respostas, procuro aprender a formular perguntas, pois pertenço ao grupo dos que acreditam que não existem respostas estúpidas mas somente questões estúpidas. Nos tempos que correm, muitas das verdades absolutas (ou todas), relacionadas com o modo de gerir as organizações, estão a ser questionadas, e o «gerir as empresas como empresas» (como se esta afirmação fosse suficiente para uma boa gestão) levou ao que todos nós assistimos. O mundo cada vez mais complexo em que vivemos, onde acontecimentos aparentemente díspares se interrelacionam e os desenvolvimentos tecnológicos esbatem as fronteiras entre os setores de ativi15 dade económica, exige um repensar do ensino ministrado nas escolas de gestão. A orientação teórica deve prevalecer sobre a prática, sob pena de estarmos a licenciar analfabetos. Os alunos devem ser equipados com conhecimentos teóricos que lhes permitam destrinçar e compreender antecipadamente a evolução das variáveis que afetam a sobrevivência das suas empresas. Como Deming, desde há muito afirmava, a melhor prática é uma boa teoria, pois é a teoria que nos permite formular as boas questões. Isto não significa que as escolas de gestão devam abandonar o ensino dos instrumentos de gestão, antes pelo contrário. O que defendo é que os mesmos sejam enquadrados numa filosofia de gestão. Formar pessoas dentro de uma filosofia de gestão que tenha como vetores principais a qualificação permanente dos que trabalham na empresa, uma liderança grupal e um envolvimento das pessoas no processo de tomada de decisão é muito mais importante do que o ensino desgarrado de instrumentos de gestão. É também urgente discutir a neutralidade do ensino da gestão. A «teoria da firma» disponibiliza desde há muito vários modelos de gestão com diferentes pressupostos valorativos, pelo que a adoção de um ou outro não constitui um ato neutro. Fazemos escolhas deliberadas e estas não devem ser escondidas sob pena de poluirmos o ambiente em que vivemos. Defendo um modelo de gestão que tenha como base três vetores principais, a saber: (i) liderança grupal, (ii) educação permanente dos que trabalham na empresa, (iii) envolvimento de toda a organização no processo de tomada de decisão. A sobrevivência das organizações passa pela implementação harmoniosa destes três vetores, mas como Deming afirmava «a sobrevivência não é obrigatória». O conteúdo deste livro foi influenciado por muitas pessoas. De entre elas gostaria de referir o Prof. Gomes Cardoso e o Prof. Alfredo Pereira (meus colegas no ISCTE) com quem na segunda parte dos anos de 1980 tive várias conversas sobre o que era a estratégia e o grupo de estudo sobre qualidade e estratégia da Faculdade de Gestão de Empresas da Universidade de Macau com cujos membros iniciei 16 um caminho de reflexão (ainda não acabado) sobre a ligação entre qualidade e estratégia. A todos eles o meu obrigado. Por fim, é de referir que o livro contém muito das discussões caseiras com a Virginia Trigo. Lisboa, abril de 2003 17 CAPÍTULO 1 ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL UMA BREVE HISTÓRIA ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL – UMA BREVE HISTÓRIA 1. INTRODUÇÃO O que distingue a estratégia organizacional, das restantes disciplinas das ciências de gestão? O que a diferencia enquanto disciplina autónoma? Qual o seu objeto? Desde os seus primórdios, que o objeto da estratégia organizacional consiste no estudo das relações das organizações (como um todo) com o seu meio envolvente, numa perspetiva de longo prazo. A palavra estratégia deriva do grego strategos, ou «a arte do general». O que diferencia o trabalho do general quando comparado com o trabalho do comandante de campo? Uma guerra é feita de inúmeras batalhas e o general é responsável, ao longo do tempo, por múltiplas unidades em diferentes frentes de batalha. Compete ao general orquestrar os recursos que dispõe e ter uma visão de conjunto (este é o valor que o generalato acrescenta). Assim como os grandes generais pensam sobre o todo, o bom estratega organizacional deve também pensar a organização como um todo. Neste livro apresentamos a evolução do pensamento e das práticas referentes à estratégia organizacional, desde os anos de 1950, tendo presente os aspetos caraterísticos desta disciplina, que como anteriormente referimos, se consubstanciam numa visão integradora das organizações numa perspetiva de longo prazo. As mudanças que ocorrem na envolvente obrigam cada época a produzir os seus conceitos, as suas práticas, os seus instrumentos de gestão. É precisamente sobre os conceitos, as práticas e os instrumentos de gestão inseridos no contexto em que foram gerados, que iremos refletir, para melhor compreendermos a evolução do pensamento estratégico organizacional nos últimos 50 anos. 21 ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL Na evolução do pensamento estratégico podemos isolar dois paradigmas: a) o paradigma do posicionamento e, b) o paradigma do movimento (Figura 1). No primeiro paradigma a estratégia organizacional está associada aos princípios de adaptação e posicionamento, isto é, a estratégia organizacional pressupõe uma adaptação ao meio envolvente que permita adquirir uma posição dominante e seguidamente proceder à sua defesa. Este paradigma do pensamento estratégico organizacional inicia-se com a análise das oportunidades, ameaças, pontos fracos e pontos fortes (a denominada análise SWOT). Esta análise serve de base à reflexão sobre as vantagens competitivas que culminaram com os trabalhos, bem conhecidos, de Michael Porter. A ideia diretriz de Porter é a de que a estrutura de um setor condiciona o jogo concorrencial e a rentabilidade das empresas. As empresas estão condenadas a adaptarem-se à realidade setorial e ao determinismo da envolvente. O segundo paradigma da estratégia organizacional assume-se como uma rutura, colocando em evidência as estratégias centradas na intenção e no movimento. Neste segundo paradigma, a estratégia visa essencialmente a transformação permanente, quer do jogo concorrencial, quer da própria organização. Figura 1. Do posicionamento ao movimento ADEQUAÇÃO ESTRATÉGICA INTENÇÃO ESTRATÉGICA Posicionamento Movimento P SWOT Vantagem competitiva Estratégia baseada em recursos Transformação permanente A 22 D C ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL – UMA BREVE HISTÓRIA 2. O PARADIGMA DO POSICIONAMENTO (OU DA ADAPTAÇÃO) Até ao início dos anos de 1990, os avanços teóricos da disciplina de estratégia organizacional desenvolveram-se à volta da noção de posicionamento concorrencial. A filosofia dominante era a adequação estratégica, que tinha por base os seguintes dois princípios fundamentais: a) A sobrevivência de toda e qualquer organização exige a sua adaptação à envolvente, b) O sucesso de toda e qualquer organização exige a construção e defesa de uma vantagem competitiva. Esta corrente de pensamento estratégico estrutura-se à volta de dois conceitos chave: a análise SWOT e a vantagem competitiva. 2.1. A ANÁLISE SWOT Os fundamentos da análise SWOT remontam aos anos de 1950 e preocupam-se com a integração das atividades da organização, tentando responder à pergunta «em que negócio estamos»? Peter Drucker (1954) foi, talvez o primeiro autor a preocupar-se com estes assuntos. Para Drucker, a estratégia organizacional mais não era do que a resposta às seguintes duas questões: 1. «Qual o nosso negócio»? 2. «Qual poderia ser o nosso negócio»? As perguntas formuladas por Drucker confirmam uma das caraterísticas imanentes à disciplina de estratégia, a futuridade das suas decisões e a necessidade de termos um propósito para a organização. Após Drucker, seguiu-se um longo interregno. Poucos foram os autores dos assuntos de gestão que prestaram atenção à estratégia. Só decorridos alguns anos, dois autores pensaram de uma forma explícita e exclusiva sobre o conceito de estratégia e os processos segundo os 23 ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL quais esta deveria ser formulada e implementada. Estes foram Igor Ansoff (The Corporate Strategy, 1965) e Kenneth Andrews (The Concept of Corporate Strategy, 1975). Os títulos das obras evidenciam uma outra caraterística da estratégia, a abordagem holística. Para estes autores, as organizações deveriam ser pensadas e geridas como um todo e não de uma forma fragmentada, ou seja, função a função. Para Ansoff, a estratégia tornou-se essencial porque a envolvente é cada vez mais imprevisível. A questão estratégica deverá portanto ser tratada de uma forma contínua e não esporádica. O papel da gestão é desenvolver diagnósticos antecipados sobre a envolvente e não esperar pela constatação das mudanças da envolvente através das deficiências dos sistemas operacional e administrativo (a empresa deve ter mecanismos que lhe permita agir e não reagir). A empresa deverá desenvolver um plano estratégico e um método que permita a sua definição e manutenção contínua. Segundo Ansoff, a questão estratégica decompõe-se em quatro elementos: a fixação de metas e objetivos, a realização de diagnósticos internos e externos, a formulação de hipóteses estratégicas alternativas (expansão ou diversificação) e a sua avaliação. Todas estas etapas são objeto de uma decisão. A fixação dos objetivos pertence ao topo estratégico. Entre os objetivos, encontraremos a manutenção ou crescimento da quota de mercado, a criação de novos produtos, a flexibilidade dos recursos humanos, a constituição de reservas financeiras... Os diagnósticos interno e externo permitem identificar e avaliar as forças e fraquezas da empresa e as oportunidades e ameaças da sua envolvente (as ameaças podem encontrar-se na tecnologia, na chegada à maturidade de um setor, na regulamentação ou desregulamentação. Por sua vez, as oportunidades podem vir da abertura de um novo mercado, da emergência de novos modos de consumo, da desregulamentação e da fraqueza de um concorrente). Com a finalidade de guiar o decisor, Ansoff propõe a classificação das oportunidades eliminando logo de início, aquelas que não correspondem aos objetivos, depois devemos eliminar aquelas que são suscetíveis de provocar uma resposta agressiva dos concorrentes. Fica-nos a ponderação das oportuni- 24 ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL – UMA BREVE HISTÓRIA dades restantes, estas devem ser avaliadas tendo em conta a sua provável contribuição para a realização de cada um dos objetivos. Segundo Ansoff, a empresa pode desenvolver-se seguindo dois eixos estratégicos. O primeiro eixo é o da expansão, isto é, o reforço da posição que detém; o segundo eixo é o da diversificação. A expansão comporta naturalmente menos risco que a diversificação e proporciona sinergias à empresa. A avaliação consiste em apreciar as vantagens e os inconvenientes de cada um dos eixos estratégicos tendo em consideração os efeitos de sinergia. A sinergia ou o efeito 2 + 2 = 5 é a possibilidade de obter combinando dois ativos uma produção superior à que resultaria da soma da exploração destes ativos isoladamente. A sinergia pode provir, por exemplo, da utilização de uma rede de distribuição não saturada para comercializar um novo produto. Andrews, por sua vez, definia Corporate Strategy como «the pattern of decisions in a company that determines and reveals its objectives, purposes, or goals, produces the principal policies and plans for achieving these goals, and defines the range of business the company is to pursue, the kind of economic and human organization it is or intends to be, and the nature of the economic and non-economic contribution it intends to make to its shareholders, employees, customers, and communities». A definição de Andrews marcou a agenda da investigação dos últimos 40 anos e por esse motivo não a traduzo. A sua definição é não só abrangente, pois engloba os meios e os fins associados à definição de uma estratégia, como se preocupa com a contribuição das organizações para as suas partes constituintes (stakeholders). De realçar também a dimensão futuro na definição de Andrews. Caso a atividade (negócio) fosse bem definida, as questões deslocavam-se para a descoberta das oportunidades e ameaças do meio envolvente. Aclaradas as ameaças e oportunidades devemos preocupar-nos com o posicionamento da organização, tendo em conta os seus pontos fortes e fracos. Estamos perante uma abordagem relativamente simples, por exemplo, a definição da atividade exige uma análise pré25 ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL via do meio envolvente ou é com base nas informações de amigos e familiares que a escolhemos. Outra causa para a sua ampla divulgação reside na importância concedida, pela Escola de Harvard, ao estudo de casos. O modelo não era só fácil de aplicar, como a utilização de casos permitia a explicitação da teoria subjacente. O modelo SWOT desenvolvido essencialmente pela Escola de Harvard foi a base da formulação estratégica das décadas seguintes. A escola de Carnegie, através da obra de Ansoff propôs um modelo similar mas de arquitetura mais elaborada. Figura 2 SWOT Tempo Espaço Concorrência Segmentação Domínios estratégicos Freios/ /motores Cenários Perfil concorrencial Análise estrutural (Porter) Neste período assistimos também ao início do planeamento estratégico. Segundo a escola do planeamento estratégico, devemos começar por definir um propósito para a organização (o que para muitos autores obriga a ter uma visão), seguidamente proceder à análise do meio envolvente, para detetar as ameaças (que como anteriormente vimos podem encontrar-se, por exemplo, na tecnologia ou na chegada de um setor à maturidade) e oportunidades (que como anteriormente vimos, podem, por exemplo, vir da abertura de um novo mercado, da desregulamentação ou da fraqueza de um concorrente), o que nos 26 ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL – UMA BREVE HISTÓRIA permite a definição de objetivos. Neste quadro, a estratégia não passa de um esquema de objetivos e planos, conducentes à sua obtenção. Na adequação, a análise externa determina as decisões da empresa. A análise das oportunidades e ameaças remete-nos para «o que deve ser feito». O meio envolvente é considerado como o conjunto das condições externas e das influências que afetam a vida e o desenvolvimento da organização. A análise SWOT desenvolveu-se fundamentalmente ao longo do tempo segundo três eixos de investigação: o eixo temporal, o eixo espacial e o eixo concorrencial (Figura 2). Ao longo dos anos foram introduzidas modificações que representam, não somente tomadas de consciência da relatividade das componentes da análise SWOT como contribuíram sobretudo para o seu enriquecimento. Henry Mintezberg (1973) foi o primeiro a questionar o modelo de planeamento estratégico, interrogando-se sobre o seu caráter deliberativo e introduzindo uma noção de dinâmica. Segundo Mintzberg, a decisão estratégica é o produto de um jogo de poder no seio de uma coligação de parceiros. A estratégia não pode ser definida em termos estáticos, pois segundo ele, forças, fraquezas, oportunidades e ameaças são muito relativas no tempo. Mintzberg introduz, deste modo, a questão de mudança na estratégia, questionando o caráter demasiado estático da análise SWOT. No plano interno, as forças e as fraquezas são vistas como motores ou freios. O facto das forças e fraquezas serem percebidas como relativas no tempo incita a refletir sobre o futuro e a pensar em termos de cenários. O método dos cenários consiste em assentar o processo de planeamento em relação a possíveis futuros da envolvente, permitindo um melhor ajustamento das reações da organização. Esta tendência traduziu-se por uma utilização crescente dos métodos de previsão, quer sejam os que consistem em extrapolar do passado para o futuro (prospetiva), ou para a partir do futuro construir o presente. Assume-se, atualmente, que o futuro embora tenha as suas âncoras no presente, é mais do que a mera continuação deste e muito embora não exista planeamento sem previsões, prever não é planear. Contudo a gestão joga sempre com previsões. 27 ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL O segundo eixo de relativização do modelo de base está ligado aos trabalhos sobre segmentação, cujo principal autor é Abell (1980). Para este autor, só faz sentido considerar a análise SWOT a nível global da organização quando esta tem um só mercado ou um só produto. Quando estas condições não se verificam, quer as forças e as fraquezas, como as oportunidades e ameaças, devem ser estudadas para cada segmento, pois estes na maior parte dos casos possuem um jogo concorrencial próprio e muito específico. Por fim a análise SWOT foi relativizada segundo o eixo concorrencial, isto é, só podemos avaliar as quatro componentes da análise SWOT relativamente aos concorrentes. Esta via conduz-nos a uma interrogação sobre o perfil concorrencial, que compara as forças e fraquezas da organização relativamente aos seus concorrentes. Esta abordagem levou ao aparecimento do conceito, grupos estratégicos. 2.2. VANTAGEM COMPETITIVA Quando os trabalhos sobre o perfil concorrencial assumiram um caráter sistemático, deu-se início a uma busca do(s) elemento(s) que poderia(m) ser simultaneamente sólido(s) e durável(eis), que designamos por vantagem competitiva. Descobertas e isoladas as caraterísticas do meio envolvente, a questão coloca-se em saber como a organização pode construir uma vantagem (de longo prazo e sustentada) sobre os seus concorrentes. Trata-se de escolher, dentro do perfil assumido um ascendente determinante sobre a concorrência. As organizações procuravam rendas monopolísticas. Neste período assistimos ao aparecimento de gabinetes de consultadoria estratégica. Os primeiros a propor uma resposta simples para os problemas que então afligiam as organizações foram os consultores do Boston Consulting Group (BCG). Este grupo de consultores divulgou uma matriz de apoio à decisão, cujo conceito central é o efeito de experiência (para além do efeito de experiência os instrumentos pro- 28 Estratégia Organizacional NELSON JOSÉ DOS SANTOS ANTÓNIO nasceu em Portimão, no Algarve, onde aprendeu a vadiar. Doutorado na Alemanha em 1986 pela Bergischen Universitat, Wuppertal, viveu e lecionou doze anos na Ásia, entre 1989 e 2001. Publicou na Alemanha, China, Japão, Estados Unidos e Portugal. É atualmente professor catedrático no ISCTE onde leciona Estratégia e Gestão da Qualidade. Desde 1996 é professor visitante da Universidade de Rennes 1. No estudo da estratégia organizacional podem ser isolados dois momentos: um de posicionamento e outro de movimento. No primeiro, que dominou o ensino da disciplina até ao início dos anos 90, a empresa procura construir vantagens competitivas que lhe permitam uma posição de monopólio que, a todo o custo, tentará defender. No segundo, que domina o pensamento atual, a empresa assume que todas as vantagens competitivas são transitórias e, antes de ser expulsa da posição efémera que conquistou, toma por si própria a iniciativa de a destruir, inovando. DO POSICIONAMENTO AO MOVIMENTO Nelson Santos António DO POSICIONAMENTO AO MOVIMENTO É o que se discute neste livro que, tratando de estratégia como uma atitude de gestão – e não como um conjunto de técnicas e instrumentos – privilegia a empresa como um todo, com os seus constituintes internos e externos e a convicção de que há sempre que predizer o futuro. Uma obra para gestores, estudantes de gestão e para todos aqueles que pretendam ter da organização uma visão alargada. ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL ISBN 978-972-618-782-0 132 9 789726 187820 EDIÇÕES SÍLABO