Aos Olhos de Uma Criança
A vida, no olhar de uma criança - “Intervir precocemente”… a chave para
a adaptação plena.
O crescimento e desenvolvimento infantil são processos que angustiam a
família pelo desconhecimento sobre a forma como este se irá
desenrolar…
O nascimento de um filho é um momento único, de muita alegria para a maior
parte das famílias, mas tudo muda quando nasce uma criança que não é a
imaginada ou que chegou precocemente. É um acontecimento inesperado,
confuso e sofrido. Perante o filho real, os pais fazem o luto do filho idealizado e
iniciam um processo de adaptação à criança. Pode levar um certo tempo até
que consigam lidar com os seus sentimentos e que estes passam por
diferentes fases, ao longo dos anos de vivência com uma criança
A detecção e intervenção precoce são essenciais para que a criança com
fatores
de
risco,
tenha
mais
oportunidades
de
desenvolver
as
competências.
A sobrevivência de crianças nascidas de pré-termo e muito baixo peso, tem
aumentado. Essa sobrevivência implica outras necessidades como a vigilância
apertada às sequelas precoces e tardias que tem de ser feita. O
desenvolvimento sensório-motor pode estar alterado nestas crianças - desde
as alterações menos evidentes (perturbações da coordenação) até às de maior
gravidade (Paralisia Cerebral)
Independentemente do tipo de alteração de desenvolvimento, estas crianças se
não forem apoiadas, orientadas e estimuladas, ficam muito condicionadas na
execução e participação das atividades diárias. Daí ser importante a deteção e
intervenção precoce, em unidades preparadas para o efeito. Neste sentido o
Centro de Desenvolvimento da Criança (CDC) tem protocolos de seguimento
desde a alta hospitalar até aos 6 anos, de modo a avaliar a criança e se
necessário intervir, procurando contrariar a manifestação de alterações de
desenvolvimento ou prevenindo a sua ocorrência. Todo o trabalho de uma
equipa multidisciplinar, é dirigido para a criança, promovendo a qualidade e
dignidade de vida e valorizando o seu potencial de funcionalidade, com vista a
uma maior aquisição de competências, maior autonomia e realização pessoal.
A capacidade de ajustamento das diversas funções cerebrais é mais eficaz
quanto mais cedo se inicia a intervenção. A deteção precoce só é possível, se
houver duas condições essenciais: a observação (por parte do profissional de
saúde) e a preocupação (por parte do pais). Este último aspeto, apesar de ser
conhecido, necessita ser mais valorizado, para que a criança tenha mais
oportunidades para desenvolver as competências.
O enfermeiro acompanha a família, no
sentido de dar estratégias para que
haja uma continuidade e deste modo
os pais sentem-se integrados no
processo de autonomia da criança,
mais
motivados
e
demonstrando
maior segurança para lidar com a
criança.
O papel do enfermeiro, também funciona como elemento mediador de uma
equipa multidisciplinar. O nosso trabalho não se traduz só pela visibilidade
numérica mas também pelo seguimento personalizado e acompanhamento
eficaz que cada situação está a ter, fruto da persistência do Enfermeiro.
Na consulta de Enfermagem no CDC, além de outras intervenções, é aplicado
o Teste Schedule of Growing Skills II (SGSII), uma vez que é um teste
normativo de Avaliação do Desenvolvimento. O SGS II tem como objetivo
fornecer um rastreio do desenvolvimento da criança dos 0 aos 5 anos e
permite: Comparar a criança-alvo com a norma; Comparar em diferentes
tempos; Estabelecer se há atraso ou não de desenvolvimento; Fornecer
indicadores da natureza do problema da criança; Indicar as áreas fortes e as
áreas fracas da criança. Durante esta interação que estabelecemos com os
pais/cuidadores e crianças validamos também áreas que não são abrangidas
pelo teste. É um momento em que clarificamos quais as necessidades reais e
dificuldades da família, desenvolvendo desta forma uma relação de parceria,
disponibilizando ajuda de acordo com a sua individualidade.
As crianças são como as flores e tal como estas, merecem a nossa atenção,
merecem ser regadas, cultivadas e acarinhadas… O mais pequeno refilho, será
a gratificação de todo o nosso empenho!
Enquanto enfermeiros, o nosso
papel, deve marcar a diferença,
pela
positiva
junto
de
uma
criança e sua família. Considero
essencial que sejam valorizadas
as capacidades demonstradas
pelas crianças, os recursos que
os pais dispõem, assim como o
seu empenho, para que se
mantenham
motivados,
pois
fatores
externos
(entidade
empregadora,
comunidade) muitas vezes podem agir como condicionantes desfavoráveis ao
desejado e devido acompanhamento da criança no CDC.
Regina Freitas, Enfermeira Especialista em Saúde Infantil e Pediátrica.
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