Dose baixa de óxido nítrico na terapia para hipertensão pulmonar persistente em recém-nascidos (Low-dose nitric oxide therapy for persistent pulmonary hypertension of the newborn. Clinical Inhaled Nitric Oxide Research Group). Clark RH et al N Engl J Med. 2000 ;342:469-74. Apresentadora: Dra. Micheline Mangabeira Malheiros Coordenadora do artigo: Dra. Marli Soares Hospital Geral Roberto Santos em Salvador -BA Introdução ■ Hipertensão pulmonar persistente (HPPRN) -Comum em RN com insuficiência respiratória. ■ Quando outras terapias não são eficazes -Tratamento com ECMO; e -Taxa de mortalidade dos RN tratados com ECMO → 15 a 20%. Introdução ■ NO -Produzido vasculares; nas células endoteliais -Papel importante no aumento do fluxo sangüíneo para os pulmões após o nascimento. Objetivo ■ Este estudo foi realizado para determinar se doses baixas de NOi reduzem a necessidade de utilização de oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO). Metodologia ■ Ensaio clínico duplo-cego randomizado em RN com: -Hipertensão pulmonar; -≥ 34 semanas de idade gestacional; -Até 4 dias de vida; -Necessitaram de ventilação mecânica; e -Insuficiência respiratória hipoxêmica (IO ≥ 25). ■ Os RN que receberam NOi foram tratados com a dose de 20 ppm por no máximo 24 horas seguido de 5 ppm por não mais que 96 horas. Metodologia Total de RN estudados 248 Alcalose respiratória obrigatória pH > 7,55 paO2 ≥ 60 mmHg Ig ≥ 34 semanas Até o 4° dv Ventilação mecânica assistida Hipertensão pulmonar IO ≥ 25 IO = (map X FiO2 X 100)/paO 2 Evidências ecocardio gráficas Evidências clínicas SaO2 preductal – posductal = 5% SaO2≤ 85% por mais 12 Hs pSap > 35 mmHg pSap ≥ 2/3 pSS (regurgitaç ão tricúspide) “shunt” D/E canal arterial “shunt” D/E forame oval Metodologia ■ RN excluídos do estudo -ECMO fosse uma necessidade urgente na presença de hipotensão refratária (PAM<35 mm Hg); -Hipoxemia profunda (paO2<30 mm Hg); -Anomalia congênita letal; -Convulsão; e -História de asfixia grave. Metodologia Randomização ■ RN atribuídos a 5 categorias de diagnósticos de doença pulmonar. ■ Aleatoriamente atribuídos ao tratamento; ■ Grupo controle: -O2 contínuo; e -100% de Nitrogênio (mascarar o TTO com NO). Metodologia Randomização ■ As 05 categorias de diagnósticos foram: -Síndrome de Aspiração de Mecônio; -Pneumonia com dois ou mais fatores de risco de septicemia e nenhuma história que sugerisse imaturidade pulmonar; -Síndrome do Desconforto Respiratório; -Síndrome de Hipoplasia Pulmonar (Hérnia diafragmática congênita e hidropsia fetal); e -Hipertensão Pulmonar Persistente Idiopática. Metodologia Diretrizes de tratamento ■ Dose de NOi inicial: -20 ppm (mantida durante 4 horas) ■ Hemogasometrias e dosagem metahemoglobinas a cada 4 horas; ■ RN estável: -Dose de NOi = 5 ppm ■ RN sem estabilidade: -Manutenção da dose de 20 ppm de Metodologia Diretrizes de tratamento ■ RN sem estabilidade (nas 24 horas iniciais) -paO2 < 60 mmHg e FiO2 100%; e -Manutenção da dose de 20 ppm. ■ Após 24 horas → diminuição da dose para 5 ppm ■ Manutenção da dose em 5 ppm até que ocorresse os seguintes fatores: -FiO2 < 70%; -TTO > 96 horas; e -RN com 7 dv. Metodologia Diretrizes de tratamento ■ Tratamento considerado sem êxito -RN não tivesse tolerado a diminuição da dose nas 24 horas iniciais; e -NOi não pudesse ter sido interrompido durante 96 horas. Metodologia Diretrizes de tratamento ■ Dosagem de metahemoglobina com 4,24 e 96 horas e, enquanto, o RN estivesse recebendo o NOi. ■ O NOi era reduzido a metade se: -Metahemoglobina ≥ 4%; e -[NO2] ≥ 5 ppm. ■ O NOi era suspenso se valores anormais se mantivessem. Metodologia Diretrizes de tratamento ■ Os valores a serem atingidos na hemogasometria eram os seguintes: -paO2 entre 60 a 100 mmHg, paCO2 entre 25 a 30 mmHg e um pH entre 7,40 a 7,55 em RN com uma resposta a alcalose; -paCO2 entre 35 a 45 mmHg e um pH entre 7,35 a 7,45 em RN com nenhuma resposta a alcalose; e -PAM entre 45 a 60 mmHg. Metodologia Critérios para interrupção do tratamento ■ Resposta satisfatória após o desmame do NOi; ■ Critério de falha no tratamento; e ■ Critério para utilização de ECMO. Metodologia ■ Critérios para o uso de ECMO: -IO > 40 em 03 das 05 medidas realizadas por pelo menos 30 minutos; -paO2 < 40 mmHg durante 02 horas ou mais; e -Deteriorização hemodinâmica progressiva (PAM < 35 mmHg). Análise estatística ■ Foram avaliadas variáveis categóricas através do teste exato de Fisher e quiquadrado. ■ Variáveis contínuas foram comparadas com o uso dos testes bicaudal ou Kruskal-Wallis. ■ Foram comparadas mudanças ao longo do tempo nos dois grupos de RN com relação a trocas gasosas pulmonares, valores de metahemoglobina, concentração de NO2 utilizando análise de variância para medidas repetidas. Resultados Resultados Resultados Resultados Resultados Desvios de protocolo ■ Foram 21 desvios: -12 RN tinham o IO superior a 25, não devidamente documentado; -03 RN tinham paO2 < 30 mmHg e, portanto, cumpria os critérios de exclusão (necessidade urgente de ECMO); -02 RN não tinham hipertensão pulmonar; e -04 RN não deveriam ser escritos no estudo, pois, tinham doença cardíaca congênita, convulsões, IG < 34 semanas ou anomalias letais. Discussão ■ Doses baixas de NO reduziram o uso de ECMO e diminuíram a necessidade de O2 complementar. ■ Os RN foram estratificados em ambos os grupos de acordo com o diagnóstico avaliandose a eficácia do tratamento, minimizando os efeitos da doença subjacente. Discussão ■ Os resultados confirmam as conclusões do “Neonatal Inhaled Nitric Oxide Study”, o qual demonstra que o NO é eficaz em um amplo leque de diagnóstico. ■ O dado mais importante neste estudo foi a utilização de uma dose baixa de NOi por um período curto de tempo (20 ppm em 96 horas). Discussão ■ O NOi pode reduzir a inflamação pulmonar. ■ O NOi reduz a lesão pulmonar induzida por ventilação assistida. ■ Limitando o tempo da utilização do NOi, o estudo buscava retardar o uso do ECMO até o ponto no qual o seu efeito pudesse ser reduzido. Discussão ■ Duração média de tratamento com sucesso foi de 44 horas (exceção de 02 RN que fizeram desmame do NOi após 96 horas). ■ Nenhum RN teve concentrações elevadas de NO2 (apenas 02 RN tiveram valores elevados de metahemoglobina). ■ O NO foi associado a uma diminuição da ocorrência de doença pulmonar crônica. Conclusão Total RN inscritos 248 Grupo NOi Grupo Controle 126 RN 122 RN Utilização de ECMO Utilização de ECMO 48 RN (38%) 78 RN (64%) Taxa de mortalidade após 30 dias Taxa de mortalidade após 30 dias 9 RN (7%) 10 RN (8%) Doença pulmonar crônica Doença pulmonar crônica 9 RN (7%) 24 RN (20%) Agradecimentos ■ Patrick Cezário Malheiros ■ Dra. Marli Soares Lima ■ Dr. Paulo Roberto R. Margotto (DF) ■ Dr Hélio Queiroz e equipe Artigo integral: Clark RH, Kueser TJ, Walker MW, Southgate WM, Huckaby JL, Perez JA, Roy BJ, Keszler M, Kinsella JP. Low-dose nitric oxide therapy for persistent pulmonary hypertension of the newborn. Clinical Inhaled Nitric Oxide Research Group. N Engl J Med. 2000 Feb 17;342(7):469-74. Comentários ( por solicitação da Dra. Micheline Mangabeira Malheiros) Dr. Paulo R. Margotto (DF) Clark e cl evidenciaram a eficácia do uso do óxido nítrico inalatório (NOi) na dose de 20ppm no que diz respeito a menor indicação de oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO). Não houve diminuição da mortalidade, devido à disponibilidade da ECMO. No nosso meio, que não dispomos de ECMO (procedimento complexo), a diminuição da indicação de ECMO significa com certeza em diminuição da mortalidade. É algo semelhante ao uso do surfactante na aspiração meconial: a metanálise disponível na Cochrane também indica não alterar a mortalidade, mas houve uma diminuição da indicação da ECMO, ou seja, diminui a gravidade do quadro clinico que entre nós que não dispomos da ECMO, resulta em diminuição da mortalidade. A Biblioteca Cochrane (2006) apresenta evidência para o uso de uma dose inicial de 20ppm no tratamento da insuficiência respiratória hipóxia nos RN a termo ou próximo do termo sem hérnia diafragmática. Quando começamos a usar o óxido nítrico na nossa Unidade aqui em Brasília, começávamos com 20ppm e se não houvesse resposta, aumentávamos até 80ppm, com base nos estudos da literatura. Hoje, não mais aumentamos, se não responder com 20ppm. Hoje, a recomendação corrente é iniciar com 20ppm. Doses maiores que 20ppm não são mais efetivas na melhora da oxigenação e são associadas com alta incidência de metahemoglobinemia e exposição ao dióxido de nitrogênio (Konduri, 2004). No entanto, há estudos que demonstram a efetividade com o uso de menores doses, como 5ppm iniciando precocemente (a oxigenação melhorou: a PaO2 aumentou >20mmHg em 58% dos pacientes). Os paciente que não apresentaram aumento na oxigenação acima de 20mmHg na PaO2, foram para uma dose de 20ppm e a PaO2 aumentou acima de 20mmHg em 36%. Iniciar o NOi com menores doses do que a dose correntemente recomendada tem a desvantagem de se poder fazer um desmame mais rápido e evitar a exposição de um pulmão em desenvolvimento a menores concentrações de dióxido de nitrogênio. O uso de doses tão baixas como 2ppm para iniciar não foi efetivo na melhora da oxigenação como demonstrou o estudo de Comfield et al Portanto, há sinalização na literatura que a dose ótima para iniciar seja 5ppm. O que mais discute hoje na literatura hoje, é o uso do óxido nítrico nos recém-nascidos pré-termos. A Biblioteca Cochrane (2007) não respalda o seu uso em prematuros, devido ao risco do aumento da hemorragia intraventricular severa, havendo necessidade de mais estudos. Os estudos com o uso do NOi nos prematuros usaram doses menores que 20ppm, com significante melhora da oxigenação. Para esta população é importante usar menores doses devido às incertezas quanto à segurança do NOi nos recém-nascidos prematuros. Seguem links para consulta: Clark RH, Kueser TJ, Walker MW, Southgate WM, Huckaby JL, Perez JA, Roy BJ, Keszler M, Kinsella JP. Low-dose nitric oxide therapy for persistent pulmonary hypertension of the newborn. Clinical Inhaled Nitric Oxide Research Group. N Engl J Med. 2000 Feb 17;342(7):469-74. Cornfield DN, Maynard RC, deRegnier RA, Guiang SF 3rd, Barbato JE, Milla CE. Randomized, controlled trial of low-dose inhaled nitric oxide in the treatment of term and nearterm infants with respiratory failure and pulmonary hypertension. Pediatrics. 1999 Nov;104(5 Pt 1):1089-94. Uso do óxido nítrico no recém-nascido pré-termo Autor(es): Shahnaz Duara (EUA). Realizado por Paulo R. Margotto Uso do óxido nítrico inalado no recém-nascido pré-termo na prevenção da displasia broncopulmonar e lesão cerebral Autor(es): Kinsella JO et al; Ballard RA et a; Sartk ARl. Resumido por Paulo R. Margotto Inhaled nitric oxide for respiratory failure in preterm infants Nitric oxide for respiratory failure in infants born at or near term Hipertensão pulmonar no recém-nascido Autor(es): Cleide Suguihara (EUA). Realizado por Paulo R. Margotto Uso do sildenafil na hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido Autor(es): Paulo R. Margotto Novas terapias para a hipertensão pulmonar em recémnascidos e crianças Autor(es): Judy Aschner (USA). Realizado por Paulo R. Margotto Brasília, 7/11/2007 FIM