Direcional Educador Coluna: E agora, Professor? Agosto – 2013. O momento da chegada, e o de partida: o que fica? Por Cassiano Zeferino de Carvalho Neto Foram 8 anos, 96 edições, muitas viagens e uma constatação: nesta vida há o momento da chegada e o de partida. E o que é que fica? Em cada parada, chamada artigo, um desafio, um plano, uma ação com relato de algo que se viu, que não se enxergou mas sonhou, de esperanças – e estas são sempre coisa de futuro... Mas, também de reflexões sobre o que se estudou, daquilo que se aprendeu com a engenharia do erro, que vira conhecimento, por vezes com indignação e sinais de alerta que buscam cuidar do que precisa e merece ser cuidado. O articulista se vê em sua jornada, onde a certeza de hoje pode ser a dúvida ou a indagação do amanhã, porque aprender não tem tempo, nem garantia por idade, coisas que não dependem de bula e sim de trato, certo ou incerto, mas sempre necessário. Compartilhar expectativas, repercutir notícias que fazem parte do cenário educacional, chamar à mesa de diálogo especialistas e pensadores que ajudam a entender, ou ao menos aclarar aspectos nebulosos ou pouco acessíveis é coisa de articulista que escreve para alguém, nem tão genérico, nem tão específico, alguém. Com quem se fala, o que e como se fala? Afinal, onde se quer chegar? Na linha que une dois pontos no tempo, nem sempre reta, mais para sinuosa, se encontram elos humanos, independentemente da distância que os separa. E não importa tanto se é poesia, análise, crítica, dissertação ou questionamento, o que realmente tem relevância é a honestidade da expressão. Escrever é como estampar o próprio rosto, mesmo invisível, e a alma, que fica visível diante do olhar de alguém que no silêncio da leitura se comunica, por que volta à vida, à ação, e pode fazer diferente, transformando um pedacinho do mundo que não será mais igual ao que foi antes. Pronto: eis a magia e o poder do diálogo, que se dá no seio da cultura, não importa por que meio se propague, impresso, digital, material ou imaterial como a luz. Mas, um sentimento percorre o corpo do lado esquerdo: esta é uma despedida? Toda despedida tem um tempo próprio? Será eterna, ou circunscrita ao ato compartilhado através das linhas estampadas nesta revista? Nunca se sabe ao certo, aprendemos que o sol nascerá amanhã, porém... Então é melhor pensar no que se tem ainda por fazer, não se desfazer dos sonhos essenciais, apenas daqueles que sejam ilusórios e que acabam não levando a bom lugar. Há sonhos para sonhar e há sonhos para realizar, estes que transformam a realidade que por mais que pareça interminável de um jeito, em algum tempo muda... Um convite para caminhar de mãos dadas, mãos invisíveis ao olhar mas reais ao ponto de se transpirar de emoção, a emoção de cada descoberta, já que o mundo é dado em parte e em parte é criação. Enquanto houver um plano é porque existe a intenção de movimento, mas para onde se quer ir, onde se quer chegar? A Educação é ciência, mas é arte também, filosofia e poesia, emoção e lógica, dimensões inseparáveis, dialéticas e dialógicas. De cada ponto da trajetória vista retrospectivamente agora, porque o tempo que passou é como linha deixada sobre a relva, um rastro, se pode ver a dimensão do ser, do estar e do não permanecer, pois como caminhante não se tem uma parada maior do que um dia, por vezes horas, o tempo da escritura e o tempo da leitura de um artigo carregado em papel, ou na tela de um computador. Uma leve nostalgia ronda o ar, como a anunciar um novo tempo, linha nada imaginária de um período que passou e de outro que quer chegar, porque assim deve ser pelo bem da vida que se quer renovar. Educador, educadora, gestor, gestora e especialista, ou simplesmente leitor e leitora, como é bom poder compartilhar o que se tem a dizer e o que se pode aprender durante o caminhar. Não há palavra final, ainda que possa ter havido uma inicial, primeiro sopro de uma jornada que nem se sabia onde iria dar, mas na qual agora se faz breve parada, mais por anseios misteriosos do coração do que por lógica de acumulação. É preciso voar, ter coragem para se soltar ao encontro do desconhecido que mora no profundo de cada ser. E então, como que um laço invisível que fica a prender nosso corpo enquanto outra parte anseia por seguir, chega o momento de dizer do valor de uma companhia tão silenciosa quanto a do leitor, presente de forma profunda na alma do autor. Fica uma pergunta que jamais quer se calar, vividos 96 passos e quantos mais ainda haverá por vir: E agora, professor? Cassiano Zeferino de Carvalho Neto tem pós-doutorado realizado em educação digital pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e doutorado em engenharia e gestão do conhecimento pela UFSC. É mestre em educação científica e tecnológica (UFSC) e especialista em qualidade na educação básica (INEAM/OEA/USA). Suas licenciaturas são em Física e Pedagogia (PUCSP). É fundador e atual presidente do Instituto Galileo Galilei para a Educação (IGGE) e fundador-diretor da Laborciencia Editora. www.carvalhonetocz.com. e-mail: [email protected]