Queda nos juros: o que muda para os bancos brasileiros Por Daniel Resende A queda acelerada das taxas de juros está causando alvoroço entre os investidores, mas eles não são os únicos afetados. Os bancos também estão sentindo as consequências, principalmente aqueles com estruturas de alto custo. Bancos captam recursos oferecendo rentabilidade aos investidores para que depositem seu dinheiro na instituição. Essa rentabilidade pode ser na forma de juros em CDBs, em operações compromissadas, letras financeiras ou entre vários outros mecanismos. Depois, o dinheiro captado é emprestado pelo banco aos tomadores de empréstimos, sob a forma de empréstimos e financiamentos de todos os tipos, seja para aquisição de veículos, imóveis, consumo, etc. De maneira simplificada, podemos dizer que os bancos vivem da diferença entre o que eles recebem de juros e o que eles pagam de juros. Essa diferença é chamada de spread bancário. O spread bancário é o valor que o banco tem para pagar os salários dos funcionários, os custos administrativos, impostos, inadimplência, entre outros. O que sobrar ao final é o lucro do banco. Em 2010, o spread bancário no Brasil era o terceiro maior do mundo, perdendo apenas para Congo e Madagascar. Ficamos à frente de todos os outros países pesquisados pelo Banco Mundial, como por exemplo, Quirguistão, Haiti, Zâmbia e Uganda. É por isso que os grandes bancos brasileiros, ou os que atuam no Brasil, vivem anunciando recordes de lucros, ano após ano. Vivemos no país com uma das maiores margens de ganho para essas instituições no mundo. Em 2012, o governo brasileiro aumentou muito a pressão sobre o setor bancário para reduzir os spreads e chegou a utilizar os bancos públicos para isso. A redução dos spreads significa um aperto sobre o faturamento dos bancos, reduzindo a quantidade de recursos disponíveis para que essas instituições paguem seus funcionários, estrutura, impostos, e, quem sabe, os lucros. A intervenção do governo acelerou a redução dos spreads bancários no Brasil. Alguns bancos, principalmente bancos médios e pequenos, não conseguiram se adaptar a essa nova realidade de juros baixos. Muitos possuíam uma estrutura física imponente, salários e bônus altos para os funcionários, e outros custos difíceis de reduzir. A queda da taxa de juros fez com que as receitas diminuíssem drasticamente, mas seus custos fixos permaneceram. Com a necessidade de atrair recursos rapidamente para poder emprestar e manter as receitas altas, os bancos em dificuldades aumentaram os juros nos seus CDBs, o que reduziu ainda mais o spread nessas instituições. Muitos investidores foram atraídos pela rentabilidade desses títulos, que pagavam uma rentabilidade um pouco melhor, numa época em que os rendimentos dos outros investimentos encolhiam. Estavam investindo em títulos de renda fixa, mas que escondiam um risco diferente: risco de inadimplência e quebra. Recentemente, mais um banco médio quebrou, o Banco BVA. Ao contrário do que aconteceu com o Panamericano, Cruzeiro do Sul e outros, os títulos do BVA já foram precificados no mercado e os investidores que detinham esses títulos sofreram prejuízos. A grande questão é: como o investidor pode se proteger deste tipo de perda? O primeiro cuidado é suspeitar de rentabilidades muito altas. O investimento em crédito privado às vezes aparece como uma renda fixa que rende mais que a renda fixa convencional, mas o investidor precisa entender que existe um risco diferente. O risco de inadimplência não aparece no histórico, pois não causa volatilidade, mas pode resultar em perdas significativas e súbitas. A mensagem mais importante é novamente a mesma: entenda onde você está investindo e quais os riscos envolvidos. Só assim é possível investir com tranquilidade e principalmente com mais segurança. Daniel Resende é advogado pela USP e empreendedor do setor financeiro. Informações para a imprensa: Marília Cardoso [email protected] (11) 2834 9295/ 98491 3527