FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS SANDRIELEM DA SILVA RODRIGUES A ÁREA DE RELAÇÃO COM INVESTIDORES (RI) GERA BENEFÍCIOS PARA A EMPRESA? Uma análise do conteúdo informativo de websites no bid-ask spread VITÓRIA 2015 SANDRIELEM DA SILVA RODRIGUES A ÁREA DE RELAÇÃO COM INVESTIDORES (RI) GERA BENEFÍCIOS PARA A EMPRESA? Uma análise do conteúdo informativo de websites no bid-ask spread Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Administração da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Administração, Ciências Contábeis e Economia (FUCAPE), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração de Empresas. Orientador: Prof. Dr. Fernando Caio Galdi VITÓRIA 2015 SANDRIELEM DA SILVA RODRIGUES A ÁREA DE RELAÇÃO COM INVESTIDORES (RI) GERA BENEFÍCIOS PARA A EMPRESA? Uma análise do conteúdo informativo de websites no bid-ask spread Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração de Empresas. Aprovada em 25 de Março de 2015. COMISSÃO EXAMINADORA Prof. Dr.: FERNANDO CAIO GALDI FUCAPE ORIENTADOR Prof. Dr.: BRUNO FUNCHAL FUCAPE Prof.ª Dra.: PATRÍCIA MARIA BORTOLON UFES AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus que me deu sabedoria para lidar com todas as dificuldades enfrentadas e que sempre esteve comigo durante todos os momentos. Ao meu orientador Prof. Dr. Fernando Caio Galdi pela paciência, incentivo e valiosas orientações que ajudaram a aprimorar esse trabalho. Aos Profs. Bruno Funchal, Valcemiro Nossa e Patrícia Maria Bortolon pelas observações que permitiram ampliar a visão a respeito desse estudo. A todos da Secretaria de Pesquisa, professores da Fucape Business School e a todos os colegas de mestrado, obrigada por tudo. Aos amigos que conquistei durante esta jornada Helaine Siman Glória, Ana Carolina Júlio, Michele Janovick, Isabelle Werner, Sarah Venturim e Danilo Marchiori. Ao Poliano Bastos da Cruz por toda a motivação e paciência ao ouvir repetidas vezes o mesmo assunto. Aos meus pais Sandra e Valdemar, por propiciar o apoio e suporte necessário durante toda a minha vida, em especial durante o período do mestrado. A minha irmã Priscielem pelo constante incentivo e apoio aos meus projetos profissionais e pessoais. Finalmente, gostaria de agradecer a FAPES – Fundação de Apoio a Pesquisa do Espírito Santo pelo apoio financeiro. RESUMO Esta pesquisa investiga se o conteúdo de websites de relações com investidores (RI) diminui a assimetria informacional das empresas brasileiras. O bid-ask spread foi empregado neste trabalho como proxy para assimetria de informação, e seu cálculo utilizou as cotações diárias de compra e venda das ações durante o ano de 2013. Os resultados encontrados indicam que websites de RI e bid-ask spread correlacionamse negativamente. Adicionalmente, verificou-se que empresas classificadas com maiores pontuações para website de relação com investidores apresentaram, em média e mediana, menor bid-ask spread, maior cobertura de analistas, maior valor de mercado e menor desvio padrão dos retornos nos preços das ações (risco), quando comparadas com as empresas de menor pontuação na amostra. Palavras-chave: Conteúdo Informativo. Relação com investidores. Bid-ask-spread. ABSTRACT This research investigates if the content of the investor relations (IR) websites reduces information asymmetry of listed Brazilian companies. The bid-ask spread was used in this study as a proxy for information asymmetry, and its calculation used the daily bid and ask price during the year of 2013. Results indicate that the information content of IR websites and bid-ask spread correlate negatively. Additionally the results show that the companies classified in the highest scores for the investor relations websites showed an average or median, lower bid-ask spread, a higher analysts following, the highest market value and lowest standard deviation of the returns in shares (risk), when they are compared with the lowest score companies in the sample. Keywords: Information Content. Investor relations. Bid-ask-spread LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Categorias de informações divulgadas na web .............................. 18 Quadro 2 - Resumo da descrição das variáveis ............................................... 32 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Critérios de seleção da amostra ...................................................... 25 Tabela 2 - Estatística descritiva das variáveis .................................................. 33 Tabela 3 - Testes de comparação de média (t-student) e mediana (mannwhitney) das empresas com baixa pontuação de RI na internet e das empresas com alta pontuação de RI na internet ............................................................... 35 Tabela 4 - Teste de correlação de Pearson ..................................................... 36 Tabela 5 - Resultados das regressões para o método de mínimos quadrados ordinários.......................................................................................................... 37 Tabela 6 - Resultados das regressões para o método de mínimos quadrados de dois estágios .................................................................................................... 39 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 09 2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................ 13 2.1 RELAÇÃO COM INVESTIDORES ............................................................. 13 2.1.1 A internet e seu uso para disseminação de informações ao investidor ......................................................................................................................... 16 2.2 ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO .............................................................. 13 2.2.1 O bid-ask spread e sua relação com a assimetria de informação .... 20 3 METODOLOGIA............................................................................................ 24 3.1 SELEÇÃO DA AMOSTRA .......................................................................... 25 3.2 MODELO E VARIÁVEIS UTILIZADAS ....................................................... 25 3.2.1 Assimetria de informação (SPREAD) .................................................. 27 3.2.2 Website de relação com investidor (RI)............................................... 28 3.2.3 Variáveis de Controle: volume de negócios, risco e preço. .............. 28 3.2.4 Variáveis instrumentais: cobertura de analistas, valor de mercado, volume de negócios, internacionalização e free float ................................. 30 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ....................................................... 33 4.1 ESTATÍSTICA DESCRITIVA .................................................................... 333 4.2 RESULTADOS ECONOMÉTRICOS ........................................................ 375 5 CONCLUSÃO................................................................................................ 42 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 44 APÊNDICE A - ITENS E REGRAS DE PONTUAÇÃO PARA WEBSITES DE RI ....................................................................................................................... 477 Capítulo 1 1 INTRODUÇÃO Departamentos de relação com investidores (RI) são responsáveis pela comunicação das empresas de capital aberto com o mercado (MARSTON, 1996). Trabalham, não necessariamente, aumentando o conteúdo da informação, mas melhorando o fluxo de informações, seja da empresa aos integrantes do mercado, seja do mercado para a empresa de capital aberto (BOLLEN; HASSINK; BOZIC, 2006). Do ponto de vista da Teoria da Agência, RI pode auxiliar a companhia a reduzir tanto o problema de risco moral1 quanto o problema de seleção adversa2, advindos da assimetria informacional. Visto que, o maior acesso às informações da empresa é um ponto importante no processo de monitoramento das ações do agente. Ao promover a disseminação de informações o setor de RI, contribui na redução do problema agente-principal. Do mesmo modo, com maior acesso às informações da companhia, investidores anteriormente desinformados poderão realizar avaliações mais acuradas dos ativos, reduzindo a possibilidade de sub ou superfaturamento das ações. Consequentemente, diferenças informacionais entre os investidores tendem a diminuir, mitigando problemas de seleção adversa. Estudos internacionais recentes incluem, entre os benefícios relacionados às atividades de RI, redução do risco associado à assimetria de informação, aumento da 1 Risco moral ocorre quando é difícil, para o principal (acionista), monitorar o comportamento do agente (gerente), possibilitando a ocorrência de comportamentos oportunistas, no qual o agente pode tirar proveito de uma vantagem informacional utilizando-a em benefício próprio (JENSEN; MECKLING, 1976). 2 Seleção adversa ocorre quando, investidores menos informados, não são capazes de avaliar corretamente o valor de mercado do ativo por desconhecerem informações ocultas que deveriam ser de conhecimento público (JENSEN; MECKLING, 1976). 10 liquidez das ações, redução do custo de capital próprio (AGARWAL et al., 2008), melhora na visibilidade, de forma a ampliar a base acionária da empresa, cobertura de analistas e da mídia (BUSHEE; MILLER, 2012), e aumento na precisão e concordância nas previsões de analistas, promovendo redução do custo de capital e aumento no preço das ações (BRENNAN; TAMAROWSKI, 2000). Nota-se que, tratando-se de empresas brasileiras, pouco se sabe sobre os efeitos de programas de RI como um todo. Entretanto, desenvolver e manter um programa de RI demanda tempo e recursos financeiros significativos das empresas. Segundo Leuz e Wysocki (2008), evidências empíricas sobre os custos diretos relacionados à divulgação são escassas, sendo difícil quantificá-los, especialmente quando se referem ao dispêndio de tempo do gestor. Um estudo realizado por Hong e Huang (2003) verificou que um programa de RI exige, aproximadamente, de 20 a 25% do tempo do presidente executivo, e 50% do tempo do diretor financeiro em empresas pequenas ou recém-listadas. Nesse caso, ao ponto que RI é custoso para as empresas, estudos que busquem mensurar os benefícios dessas atividades tornam-se necessários. Diante do exposto, esse trabalho buscou responder à seguinte questão de pesquisa: Websites de relação com investidor, que sejam mais informativos, diminuem a assimetria informacional mensurada pelo bid-ask spread das ações negociadas na bolsa de valores brasileira? Em ambientes com alta assimetria informacional, investidores menos informados buscam mitigar incertezas reduzindo o preço que estão dispostos a pagar por um título e/ou elevando o preço exigido para vendê-los (WELKER, 1995; VERRECCHIA, 2001), o que por sua vez, restringe a possibilidade de negociação e por conseguinte gera um alargamento na diferença entre os preços de oferta e 11 procura, que é refletido no bid-ask spread (COPELAND; GALAI, 1983). Logo a principal motivação deste estudo está no sentido de que atividades de RI são capazes de afetar a assimetria de informação, alterando o comportamento dos investidores desinformados (Chang et. al, 2008). Neste contexto, a facilitação do acesso às informações da empresa diminui o risco de negociações com informações privadas, atraindo investidores e aumentando a quantidade de ações negociadas (BROWN; HILLEGEIST, 2007). O objetivo deste trabalho é, portanto, examinar o efeito de atividades de relação com investidor na assimetria informacional. Especificamente, se websites de RI mais informativos reduzem o bid-ask spread das empresas brasileiras de capital aberto. Para tanto foram estimadas regressões, inicialmente utilizando mínimos quadrados ordinários incorporando variáveis de controle e, em um segundo momento, visando mitigar problemas de endogeneidade, aplicou-se o método de mínimos quadrados de dois estágios com a inclusão de variáveis instrumentais. Os resultados evidenciam uma correlação negativa entre websites de RI e o bid-ask spread das empresas da amostra. Adicionalmente, verificou-se que empresas classificadas com maiores pontuações para website de RI apresentaram, em média e mediana: menor bid-ask spread; maior cobertura de analistas; maior valor de mercado; maior quantidade de ações negociadas e menor desvio padrão dos retornos nos preços das ações (risco), quando comparadas com as empresas de menor pontuação na amostra. Espera-se que este estudo contribua com o enriquecimento das discussões sobre o efeito de atividades de RI na assimetria de informação, em um mercado emergente, por conseguinte distinto dos anteriormente analisados, demonstrando empiricamente que RI é capaz de minimizar problemas de agência, especificamente 12 seleção adversa. Como contribuição para a prática, espera-se que as evidências deste trabalho sejam úteis para a decisão das empresas de capital aberto entre desenvolver e manter (ou não) ambientes online de divulgação voluntária de informações. O restante desse trabalho está organizado sequencialmente da seguinte forma: a seção 2 apresenta uma revisão da literatura na qual essa pesquisa está embasada, a seção 3 descreve a base de dados, modelo empírico e variáveis utilizadas, a seção 4 apresenta os resultados e a seção 5 as conclusões da pesquisa. Capítulo 2 2 REFERÊNCIAL TEÓRICO 2.1 RELAÇÃO COM INVESTIDORES Marston (1996) define RI como a ligação entre a empresa, com ações negociadas na bolsa de valores, e os agentes que integram a comunidade financeira nacional e internacional, fornecendo informações que ajudem a avaliar a empresa. O Instituto Brasileiro de Relações com Investidor – IBRI (2008) identifica como função do setor de RI: a) atuar como porta-voz da companhia na comunicação com o mercado, imprensa, órgãos reguladores, entidades e instituições do mercado, bolsa de valores e mercados de balcão; b) avaliar, continuamente, as respostas do mercado à atuação da empresa; c) planejar e executar rotinas de divulgação de informações periódicas e eventuais; d) acompanhar as avaliações feitas sobre a companhia; e) coordenar assembleias e outros serviços aos acionistas; f) realizar reuniões públicas e individuais com analistas, acionistas e potenciais investidores. Acredita-se que o reconhecimento da importância de lidar com os investidores surgiu pela primeira vez no início de 1950. Com a prosperidade do pós-guerra, e o crescimento do mercado de ações, o número de investidores individuais e de analistas de investimentos aumentou substancialmente, demandando informações financeiras cada vez mais detalhadas sobre as operações da empresa. Do mesmo modo, a imprensa especializada tornou-se cada vez mais cética quanto aos relatórios elaborados pelas agências de relações públicas, tradicionalmente utilizadas pelas empresas para divulgar informações. Diante disto, tornou-se necessário o 14 desenvolvimento de canais especializados para comunicação da empresa com o mercado (BRENNAN e TAMAROWSKI, 2000). A evolução da área de RI no Brasil acompanhou a necessidade das companhias de maior porte, que nos anos 90 começaram a negociar suas ações no exterior. Inicialmente, os departamentos de RI existiam basicamente para cumprir exigências legais. No entanto, a necessidade de atender a exigências de divulgações e democratização do acesso às informações dos investidores estrangeiros, levou à demanda por departamentos mais especializados nas empresas de capital aberto brasileiras. Como resultado, a área de RI deixou de ser apenas mais uma atribuição e começou, gradativamente, a assumir função estratégica na divulgação transparente, atendendo às demandas das partes interessadas e colaborando para o crescimento da organização (IBRI, 2008). Um dos primeiros estudos publicados sobre RI é a pesquisa conduzida por Marston (1996). Utilizando um questionário, o autor investigou as atividades de RI desenvolvidas nas 500 maiores empresas de capital aberto do Reino Unido. Os resultados mostraram que RI correlaciona-se positivamente com o tamanho da empresa e a listagem de ações da companhia em bolsas estrangeiras. Posteriormente, a pesquisa conduzida por Brennan e Tamarowski (2000), concluiu que atividades de relação com o investidor são capazes de aumentar o número de analistas que cobrem uma empresa, aumentando a precisão e concordância nas previsões de diferentes analistas. Complementarmente, a pesquisa revelou que o número de analistas está associado com maior liquidez das ações negociadas, redução no custo de capital dos acionistas e aumento no preço das ações. 15 Agarwal et al. (2008) constataram que empresas premiadas com “Melhores Programas de RI” foram capazes de diminuir a informação assimétrica, levando a menores custos de transação e consequentes aumentos no volume de negócios. Em segundo lugar, os resultados mostraram que empresas de pequeno porte, que receberam a premiação, obtiveram aumento significativo na liquidez de suas ações. De maneira complementar, Bushee e Miller (2012) analisaram os efeitos póscontratação de uma agência especializada em atividades de relação com o investidor por companhias de pequeno e médio porte, tidas como menos visíveis, constatando melhoras significativas na visibilidade, ampliação da base acionária, cobertura de analistas e da mídia. Chang et al. (2008), ao examinarem a relação entre atividades de RI na internet e assimetria de informação em empresas australianas, encontraram que as empresas com websites de RI de maior qualidade apresentaram maior cobertura de analistas, proporções mais elevadas de investidores institucionais, capitalização de mercado e volume de negociação. No Brasil alguns trabalhos científicos como o de Mendes-Da-Silva e Magalhães Filho (2005) encontraram relação positiva entre tamanho da empresa e a quantidade de informações financeiras divulgadas no website corporativo e relação negativa do retorno das ações com a quantidade de informações. Adicionalmente, Mendes-DaSilva et al. (2009) encontraram que um maior disclosure está associado a empresas maiores, a um maior retorno das ações da empresa, a empresas que aderiram a um dos níveis de governança corporativa diferenciada (Novo Mercado, Nível 1 e 2), a empresas mais endividadas e a categorias de informações corporativas mais requeridas pelas agências de rating e pelas corretoras. 16 Ferreira (2012) utilizou a abordagem de diferença-em-diferenças (diff-in-diff) para comparar mudanças no valor de mercado das empresas brasileiras que lançaram um site para divulgar informações e empresas que não possuíam site. Os resultados demonstraram estatisticamente um aumento de em média 19% no valor de mercado após o lançamento do site em relação as empresas que não o fizeram. Ao utilizar o meio eletrônico para divulgar informações relevantes ao investidor, a empresa reduz o custo de obtenção de informação, aumentando o acesso à empresa, o que consequentemente aumenta seu valor de mercado. 2.1.1 A internet e seu uso para disseminação de informações ao investidor A expansão do uso da internet, na criação de websites, tem permitido que as empresas de capital aberto utilizem a rede para democratizar o acesso às informações corporativas úteis ao mercado, ampliando a RI, por meio de ferramentas interativas de comunicação (chat e participação online em reuniões). Ao utilizar a internet como ferramenta de divulgação, as empresas podem melhor controlar suas estratégias de comunicação com o mercado, tornando-se menos dependente de intermediários como jornalistas ou analistas financeiros, para a difusão da sua mensagem (SILVA et al., 2009). Heldin (1999), precursor de pesquisas nesse campo, investigou por meio de análise de conteúdo o que as empresas divulgam em seus sites de RI, propondo um modelo de três estágios de divulgação na web. Estágio I: refere-se à presença na internet. Possuir uma página na internet e fornecer informações obrigatórias, tais como relatórios anuais completos e 17 informações financeiras, que já tenham sido publicadas por meio impresso, são os requisitos desse estágio. Estágio II: nesta fase a internet é usada para fornecer informações, além daquelas que já são obrigatórias aos investidores. Algumas dessas informações já estariam disponíveis por meio de outras fontes (por exemplo, notícias financeiras e preço das ações). A função do site, no entanto, é combinar as informações dessas fontes de modo que o investidor possa acessá-las em um único local. Estágio III: este estágio compreende as vantagens que a internet oferece. Corresponde à forma como a informação pode ser apresentada ao usuário. O uso de formatos específicos de arquivos, como PDF e planilhas de Excel, motores internos de busca, possibilidade de troca do idioma das informações e opção de downloads, são alguns exemplos de itens que integram esse estágio. Paralelamente, Deller, Stubenrath e Weber (1999) realizaram uma avaliação detalhada de itens oferecidos pelas empresas de capital aberto em seu website de RI, nos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, preocupando-se em considerar as novas formas de comunicação oferecidas pela internet. O autor examinou, para cada companhia da amostra, as seguintes características: apresentação de demonstrações financeiras: se demonstrações financeiras obrigatórias estavam disponíveis; vantagens com apresentação: se demonstrações financeiras foram fornecidas por mais de dois anos consecutivos, se estavam disponíveis dados em formato processável, e se motores internos de busca e cookies estavam configurados no site. 18 comunicados à imprensa e outros serviços de informação: se comunicados à empresa e outras informações como: preço da ação e calendário de eventos futuros, relevantes aos investidores, estavam disponíveis; contato direto via e-mail e mala direta: se o e-mail do departamento de RI, bem como perguntas e respostas mais frequentes, serviço de cadastro para mala direta e um campo para envio de dúvidas e/ou solicitação de informações eram oferecidos. gravações de reuniões e participação online: se arquivos de vídeo/áudio de reuniões estavam disponíveis, e se havia a possibilidade de participar de reuniões online. links para informações externas: se estavam presentes links para sites de intermediários de informação. Em estudo posterior, Geerings, Bollen e Hassink (2003), visando ampliar os resultados sobre práticas de divulgação online, modificaram o então modelo de três estágios de Heldin (1999), incorporando cinco categorias baseadas nas características anteriormente investigadas por Deller, Stubenrath e Weber (1999). A principal mudança no modelo Heldin diz respeito ao terceiro estágio, que foi dividido em três categorias, a fim de cobrir um total de 29 itens, como ilustra o Quadro 1. Estágio Categoria Estágio I Categoria 1: Presença na internet com relatórios e outras informações financeiras Estágio II Categoria 2: Comunicação de informações aos investidores Descrição dos Itens Balanço Patrimonial; Demonstração de Resultados; Notas; Demonstração dos Fluxos de Caixa; Relatórios Preliminares; Relatórios Ambientais e/ou Sociais; Relatórios de anos anteriores; Série histórica de dados financeiros; Dados contábeis Comunicados à imprensa; Calendário financeiro; Preço atual das ações; Estrutura organizacional; Links externos; Atualização de informações 19 Categoria 3: Vantagens de apresentação na internet Estágio III Categoria 4: Contato direto via e-mail e mala direta Categoria 5: Vídeo/áudio e participações online Quadro 1: Categorias de informações divulgadas na web. Fonte: Geerings Bollen e Hassink (2003). Nota: Adaptada pelo autor. Dados contábeis em hyperlink; Relatórios corporativos em formato PDF; Dados financeiros em Excel; Relatórios corporativos em formato XBRL; Opção para mudança no idioma; Motor de busca interno; Cookies E-mail do departamento de RI; Mala direta; Perguntas e resposta mais frequentes; Ordem de serviço de informação online Gravações de vídeo/áudio de reuniões; Participação online em reuniões Pesquisas que avaliaram disseminação voluntária de informações na internet, por empresas de capital aberto majoritariamente, fundamentaram suas análises em um desses três autores. Do mesmo modo, este trabalho embasou-se no estudo de Geerings, Bollen e Hassink (2003), para a elaboração de uma lista específica capaz de avaliar as atividades de RI de empresas brasileiras em seu site corporativo. 2.2 ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO Assimetria de informação ocorre quando alguns agentes econômicos possuem mais informações do que outros (ARKELOF, 1970). Como consequência da assimetria informacional, investidores desinformados negociam com investidores informados, gerando um problema de seleção adversa no mercado. Visando mitigar o risco de tais negociações, os investidores desinformados reduzem o preço que estão dispostos a pagar por um título e/ou elevam o preço exigido para vendê-los (WELKER, 1995; VERRECCHIA, 2001), causando um alargamento na diferença entre os preços de oferta e procura das ações da empresa, denominado bid-ask spread. 20 Com base na breve discussão da literatura apresentada, é possível afirmar que a assimetria de informação está positivamente correlacionada com bid-ask spread (COPELAND; GALAI, 1983). A próxima seção apresenta alguns dos estudos que utilizaram o bid-ask spread como uma métrica para assimetria de informação. 2.2.1 O bid-ask spread e sua relação com a assimetria de informação A teoria sobre o bid-ask spread, ou simplesmente spread(s), é predominantemente internacional. Estudos empíricos realizados desde os anos 60 indicam o relacionamento dessa medida com a liquidez na negociação das ações e com as informações recebidas pelo mercado. As primeiras análises sobre os determinantes do bid-ask spread no mercado de títulos seguiram o artigo seminal de Demsetz (1968). Segundo o autor, spread pode ser definido pela diferença entre a menor oferta de venda (ask) e a maior oferta de compra (bid) imediatamente antes da negociação. Contudo, no intuito de mitigar problemas causados por mudanças espúrias de preços (bid-ask bounce), visto que algumas vezes ocorrem mudanças no bid e no ask cotados que rapidamente são revertidas, o ponto médio do spread é usado no cálculo (AITKEN; FRINO, 1996). Dessa forma, a diferença entre eles pode ser expressa como: 𝑆𝑡 = 𝑃𝑡𝑎 − 𝑃𝑡𝑏 𝑃𝑚𝑡 (1) Sabendo-se que, 𝑃𝑚𝑡 = 𝑃𝑡𝑎 + 𝑃𝑡𝑏 2 Onde, 𝑺𝒕 = o bid-ask spread no período de tempo t; (2) 21 𝑷𝒂𝒕 = o ask cotado no período de tempo t; 𝑷𝒃𝒕 = o bid cotado no período de tempo t; 𝑷𝒎𝒕 = o ponto médio do spread no período de tempo t. Cabe ressaltar que trabalhos realizados a partir da década de 90 passaram a calcular o spread no intraday (cotação a cotação), a principal justificativa para essa metodologia é o objetivo das análises, que se concentraram em padrões de volume intradiários do spread e cálculo da volatilidade. No entanto, muitas amostras, principalmente as com bases de dados de longo prazo, têm incluído somente dados diários ou observados em longos intervalos de tempo. O estudo pioneiro de Demsetz (1968) concentrou-se muito mais na liquidez e nos custos de negociação em mercados de ações do que na influência das informações no spread. Pesquisas posteriores, contudo, trataram de aprofundar o conhecimento da relação dessa medida com os componentes de assimetria informacional. Uma das primeiras referências da influência da informação nos preços de equilíbrio de mercado foi o trabalho desenvolvido por Copeland (1979). Ocasião em que o autor comentou a expectativa de aumento dos spreads na incerteza do preço observando, ainda, a influência dos volumes financeiros negociados nessa métrica. Complementarmente, Copeland e Galai (1983) utilizaram uma combinação de opções de compra e venda, e a atuação do formador de mercado3, para demonstrar a influência da informação no bid-ask spread. Segundo os autores, o formador de mercado procura maximizar a diferença do bid-ask spread entre duas classes de 3 Formador de mercado é definido como um agente, corretora, negociador, banco ou instituição, que está pronto para comprar e vender regularmente e continuamente uma determinada ação ao preço de mercado (www.bovespa.com.br/Market/MarketMarkers.asp). 22 investidores, um motivado por liquidez e outro motivado por informações. Além disso, o estudo evidenciou que o spread correlaciona-se negativamente com o grau de competição do mercado. Glosten e Milgrom (1985) concluíram em seu estudo que o spread pode ser devido a custos de seleção adversa proveniente da assimetria de informação existente entre os participantes do mercado, pois a presença de negociadores com informação privilegiada promove um bid-ask spread positivo, mesmo quando os formadores de mercado são neutros ao risco e possuem expectativas zero de lucro. Nessa mesma linha, Glosten (1987) criou um modelo para cálculo do bid-ask spread que captura o componente de seleção adversa. Segundo o autor o spread divide-se em dois componentes: um devido ao poder de monopólios, custo de carregamento e custo de custódia; e outro, devido à assimetria de informação, essa, capaz de gerar vantagens aos negociadores informados. Stoll (1989) afirma que devem ser considerados três custos embutidos nos spreads aos quais os negociadores estão sujeitos: custo de processamento de ordens, custo de estocagem dos ativos e custo de seleção adversa (componente de assimetria de informação). Ao utilizar dados diários dos preços e dos spreads das ações da NASDAQ/NMS, Stoll conclui que, em média, o custo de processamento de ordens representa 47% do spread; o custo de se manter os ativos, 10%; e o que se refere ao componente de assimetria informacional representam 43% do custo total. Outras proxies têm sido utilizadas em pesquisas para estimar a assimetria de informação, são elas: probability of insider trading (PIN); liquidez em bolsa e volatilidade dos títulos. Existem evidências que sugerem o bid-ask spread como a medida de assimetria de informação mais utilizada em pesquisas acadêmicas (GIRÃO; MACHADO, 2013). Devido à sua característica de mensuração o bid-ask 23 spread reflete a incerteza sobre o valor do ativo, e quanto maior essa incerteza maior a assimetria de informação entre as partes de uma negociação. Por fim, pode-se constatar com base nas pesquisas aqui apresentadas (COPELAND, 1979; COPELAND; GALAI, 1983; GLOSTEN; MILGROM, 1985; GLOSTEN,1987; STOLL, 1989) que o bid-ask spread é uma proxy adequada para assimetria de informação. Capítulo 3 3 METODOLOGIA O presente trabalho trata-se de uma pesquisa quantitativa, de corte transversal. A amostra é composta por dados primários, provenientes de um levantamento realizado para a construção da métrica websites de relação com investidores e secundários, que tiveram como fonte as bases de dados: BM&FBovespa, de onde foram coletadas as cotações diárias de compra e venda das ações (informação utilizada para o cálculo do spread médio diário); Economática, de onde obteve-se informações referentes à quantidade de ações negociadas, desvio padrão do retorno no preço da ação (risco), preço médio de negociação do ativo, valor de mercado e composição acionária; S&P Capital IQ e Reuters, consultadas para coleta do número de analistas que cobrem a empresa. Para alcance do objetivo proposto, dois diferentes métodos de estimação foram aplicados neste trabalho. A primeira estimação foi realizada por meio de mínimos quadrados ordinários (MQO). Buscando eliminar o possível viés de correlação entre o termo de erro e uma das variáveis independentes, aplicou-se aos dados o método de mínimos quadrados de dois estágios (MQ2E). As próximas seções deste capítulo descrevem a metodologia utilizada na seleção da amostra de dados, descrição das variáveis envolvidas, modelo empírico utilizado, bem como os demais critérios que nortearam o andamento do trabalho. 25 3.1 SELEÇÃO DA AMOSTRA A amostra foi selecionada a partir de todas as empresas classificadas como ativas na BM&FBOVESPA no período de 2013. Foram retiradas as empresas que fazem parte do setor financeiro ou de seguros e aquelas empresas que não apresentavam os dados necessários para operacionalizar as variáveis independentes utilizadas nas regressões. Na Tabela 1 verifica-se um resumo dos critérios para a seleção da amostra. TABELA 1: CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DA AMOSTRA CRITÉRIO DE SELEÇÃO EMPRESAS Empresa classificadas como ativas no Economática* 400 Empresas do setor "serviços financeiros e seguro"* 37 Não apresentaram os dados necessários para operacionalizar as variáveis independentes utilizadas* 182 AMOSTRA 181 Fonte: (*) Banco de dados do Economática. 3.2 MODELO E VARIÁVEIS UTILIZADAS O modelo apresentado nesta seção relaciona assimetria de informação e relação com o investidor. Desta forma, o spread médio, em valor absoluto, foi regredido em função da variável explicativa website de relação com o investidor e variáveis de controle, reportadas na literatura como passíveis de influenciar o spread, o que resultou na equação a seguir: 𝑺𝒑𝒓𝒆𝒂𝒅 = 𝜶 + 𝜷𝟏 𝑹𝑰 + 𝜷𝟐 𝑸𝒏𝒆𝒈 + 𝜷𝟑 𝑹𝒊𝒔𝒄𝒐 + 𝜷𝟒 𝑷𝒓𝒆ç𝒐 + 𝓔 (3) Onde 𝑺𝒑𝒓𝒆𝒂𝒅 é o bid-ask spread médio do período (métrica para assimetria de informação), conforme detalhado na equação (6); 𝑹𝑰 é a pontuação atribuída ao site de relação com investidor, conforme detalhado nos apêndices A e B; 𝑸𝒏𝒆𝒈 é a quantidade de ações negociadas no período; 𝑹𝒊𝒔𝒄𝒐 é o desvio padrão dos retornos 26 diários das ações da empresa no período; 𝑷𝒓𝒆ç𝒐 é o preço médio de negociação do ativo no período; 𝓔 é o resíduo. No entanto, Segundo Brown e Hillegeist (2007) há evidências de que divulgação de informações e assimetria informacional sejam endogenamente relacionadas, uma vez que, se uma melhor qualidade na divulgação é capaz de reduzir a assimetria informacional, então, as empresas com alta assimetria teriam maiores incentivos para aumentar a qualidade nas divulgações, afim de reduzir a assimetria informacional. Nessas circunstâncias, ao estimar os dados por MQO, têm-se estimadores enviesados e inconsistentes para os parâmetros do modelo. Segundo Wooldridge (2006), uma possível solução para o problema de endogeneidade é o uso do estimador MQ2E. No primeiro estágio, a variável endógena é regredida em função das suas variáveis instrumentais, a fim de se obter uma medida exógena. No segundo estágio, o modelo é estimado utilizando o valor da regressão do primeiro estágio para a variável explicativa. Neste caso, o modelo econométrico representado pela equação (3) foi reformulado conforme representação abaixo: 𝑺𝒑𝒓𝒆𝒂𝒅 = 𝜶 + 𝜷𝟏 𝑹𝑰 + 𝜷𝟐 𝑸𝒏𝒆𝒈 + 𝜷𝟑 𝑹𝒊𝒔𝒄𝒐 + 𝜷𝟒 𝑷𝒓𝒆ç𝒐 + 𝓔 (𝐸𝑠𝑡á𝑔𝑖𝑜 2) (4) 𝑹𝑰 = 𝜶 + 𝜷𝟏 𝑪𝒐𝒃 + 𝜷𝟐 𝑨𝑫𝑹 + 𝜷𝟑 𝑸𝒏𝒆𝒈 + 𝜷𝟒 𝐋𝐧𝐕𝐌𝐞𝐫𝐜 + 𝜷𝟓 𝑭𝑳𝑶𝑨𝑻 + 𝜷𝟔 𝑺𝒆𝒕𝒐𝒓 + 𝓔 (𝐸𝑠𝑡á𝑔𝑖𝑜 1) (5) Onde, 𝑪𝒐𝒃 é a quantidade de analistas que cobrem a empresa; 𝑨𝑫𝑹 é a variável dummy indicando se a empresa pertence ao um programa de ADR Nível II ou III; 𝑸𝒏𝒆𝒈 é a quantidade de ações negociadas no período; 𝐋𝐧𝐕𝐌𝐞𝐫𝐜 é o logaritmo natural do valor de mercado da empresa em 31 de Dezembro de 2013 em milhares de reais; 𝑭𝑳𝑶𝑨𝑻 é o percentual de ações destinadas à livre negociação, na data mais próxima 27 de 31 de Dezembro de 2013; 𝑺𝒆𝒕𝒐𝒓 representa as dummies indicativas do setor da economia no qual a empresa enquadra-se; 𝓔 é o resíduo. As variáveis dependente, explicativa, de controle e os instrumentos regredidos em função da variável endógena RI, são detalhados na sequência. 3.2.1 Assimetria de informação (SPREAD) A proxy escolhida para estimar a assimetria de informação neste estudo é o bid-ask spread, calculado seguindo o artigo seminal de Demsetz (1968) e padronizado (dividido) pelo ponto médio do spread no período de negociação. Dessa forma o spread médio diário, para o período de negociação, pode ser expresso conforme equação: 𝑺𝒕,𝒊 = ∑(𝑷𝒂𝒊,𝒕 − 𝑷𝒃𝒊,𝒕 ) ∑𝑷𝒎𝒊,𝒕 (6) Onde: 𝑺𝒊,𝒕 é o bid-ask spread médio diário no período de tempo t da empresa i; ∑ é a letra grega sigma, que nesse trabalho representa a operação soma; 𝑷𝒂𝒊,𝒕 é o ask cotado (menor oferta de venda) no período de tempo t, da empresa i; 𝑷𝒃𝒊,𝒕 é o bid cotado (maior oferta de compra) no período de tempo t, da empresa i; 𝑷𝒎𝒊,𝒕 é o ponto médio do spread no período de tempo t, da empresa i. O ponto médio do spread (𝑃𝑚𝑖,𝑡 ) 𝑎 𝑏 é dado por (𝑃𝑖,𝑡 − 𝑃𝑖,𝑡 ) /2. As ofertas de compra e venda diárias foram extraídas do site da BM&FBOVESPA, onde estão disponíveis para download. Foram utilizadas apenas as ações mais líquidas de cada empresa para o cálculo, e seu resultado foi considerado como valor absoluto. 28 3.2.2 Website de relação com investidor (RI) A não existência de um indicador ou ranking disponível para as empresas brasileiras de capital aberto motivou uma verificação própria, a partir de estudo similar de Geerings, Bollen e Hassink (2003). Este estudo forneceu a base para a elaboração de uma lista específica para pontuar as informações disponíveis pelas empresas em seus sites de relações com investidores. Utilizou-se ainda o Guia RI IBRI-Bovespa, destinado a fornecer instruções sobre as melhores práticas na comunicação de informações da empresa aos investidores e ao mercado, para a inclusão de quesitos específicos ao mercado brasileiro. Visitas realizadas no decorrer de um período de três meses (maio, junho e julho) do ano de 2014 verificaram a presença (ou não) de informações presentes em cinco categorias: 1) informações financeiras; 2) comunicados à imprensa e serviços adicionais de informação; 3) vantagens de apresentação na internet; 4) contato direto via e-mail e lista de discussão; e 5) gravações de vídeo/áudio on-line e participação em reuniões4. Foi atribuída pontuação (1) para a presença e (0) para a ausência de cada item. Ao final, cada empresa foi pontuada com base nos itens que possuía do check-list (total de 33 itens), sendo que a menor pontuação alcançada foi zero e a maior 33. 3.2.3 Variáveis de Controle: volume de negócios, risco e preço. Além das variáveis "SPREAD" e "RI", foram acrescidas ao modelo outras variáveis de controle, descritas a seguir: 4 O check-list utilizado nesta pesquisa encontra-se no Apêndice A. 29 Volume de negócios (QNEG) – representado pela quantidade de ações negociadas pela empresa durante o período estudado. Em ambientes de alta assimetria de informação, os investidores menos informados buscam mitigar incertezas reduzindo o preço que estão dispostos a pagar por um título e/ou elevando o preço exigido para vendê-los, restringindo assim, a possibilidade de negociação (WELKER, 1995; VERRECCHIA, 2001). Portanto, o resultado esperado é que volumes de negócios e spread apresentem-se negativamente correlacionados. Risco (RISCO) – a volatilidade nos preços das ações é definida como a variação ou desvio padrão dos retornos das ações da empresa em um determinado período de tempo. A variável “RISCO” também é utilizada na literatura como uma medida de assimetria de informação, visto que a volatilidade geralmente representa incerteza ou risco de se investir em um determinado ativo (WANG, 1993). Este trabalho utilizou os preços de fechamento nos 12 meses do ano de 2013 para cálculo dessa variável. Espera-se um coeficiente positivo entre risco e spread. Preço Médio (PREÇO) – corresponde ao preço médio da ação no período avaliado. A presença de assimetria de informação provoca desconfianças entre os investidores e redução do volume de negócios, acarretando em menor liquidez e na queda dos preços das ações da empresa (WELKER, 1995; VERRECCHIA, 2001). Diante disso, é esperado que “PREÇO” correlacione-se negativamente com a variável spread. 30 3.2.4 Variáveis instrumentais: cobertura de analistas, valor de mercado, volume de negócios, internacionalização e free float Quando os dados foram regredidos, utilizando o método de mínimos quadrados de dois estágios, variáveis instrumentais foram incluídas a fim de amenizar o problema de endogeneidade da variável (RI), conforme descrição: Cobertura de Analistas (COB) – número de analistas que acompanham a empresa e emitem previsões sobre ela. A coleta de dados para essa variável obedeceu a uma ordem de três etapas: 1) utilizou-se o banco de dados da S&P Capital IQ para identificar o número de analistas que emitem relatórios de avaliações sobre as empresas da amostra; 2) para as empresas, cuja informação não estava disponível no banco de dados da S&P Capital IQ, utilizou-se a informação disponibilizada no site de relação com investidor; 3) para aquelas empresas cuja informação não estava presente em nenhuma das duas fontes anteriores, foi feita uma última tentativa de identificar a existência de analistas cobrindo suas ações, utilizando os dados disponíveis pela Reuters em seu website (www.reuters.com). Atividades de RI são capazes de reduzir o custo de informação, aumentando o número de analistas que acompanham a empresa e emitem previsões sobre ela (FARRAGHE; KLEIMAN E BAZAZ, 1995, LANG; LUNDHOLM, 1996, BRENNAN; TAMAROWSKI, 2000). Desta forma, espera-se uma relação positiva entre sites mais informativos e a número de analistas. Valor de Mercado (Lnvmer) – o logaritmo natural do valor de mercado é utilizado neste trabalho como uma proxy para tamanho. Essa variável é comumente utilizada, sobre o argumento de que, quanto maior o valor de mercado de uma empresa, maior será a necessidade de divulgação de informações às partes interessadas. 31 Volume de negócios (QNEG) – representado pela quantidade de ações negociadas pela empresa durante o período estudado. É esperado que empresas com maiores volumes de negociação invistam mais na divulgação de informações. Internacionalização (ADR) – dummy indicativa da participação da empresa na bolsa de Nova Iorque (NYSE) por meio de um programa de ADR nível II ou III. A participação no mercado internacional exige que a empresa divulgue uma maior quantidade de informação, a fim de atender às exigências dos órgãos reguladores internacionais. Espera-se uma correlação positiva entre “ADR” e “RI”. Free Float (FLOAT) – percentual de ações disponíveis para a livre negociação no mercado, com relação ao total de ações emitidas pela companhia. Para empresas com mais de uma classe de ação, utilizou-se a informação das ações mais liquidas no período de 2013. Estudos anteriores têm demostrado que empresas com bases de investidores mais dispersas sofrem maior pressão dos acionistas para ampliar suas práticas de divulgação (BUSHEE; MATSUMOTO; MILLER, 2003). Espera-se, portanto que empresas com maiores percentuais de free float invistam mais em RI. Setor (SETOR) – como proxy para setor foram utilizadas variáveis categóricas (dummy). Um total de 17 variáveis dummies foram elaboradas para contemplar os setores das empresas da amostra. Espera-se que essas variáveis captem as variações decorrentes das particularidades dos setores. O Quadro 3 apresenta um resumo da descrição das variáveis utilizadas neste estudo, bem como a correlação esperada com a variável explicada “SPREAD”. 32 Variável Fonte Relação Esperada BM&FBOVESPA Nas equações (3) e (4) é a variável dependente Website de RI Negativa com Spread Economática Negativa com Spread Economática Positiva com Spread Economática Negativo com Spread Capital IQ, Reuters e Website de RI Varável instrumental Descrição Assimetria de Informação da empresa i no ano t. Obtida pela soma das diferenças entre a menor oferta de venda (𝑃𝑎𝑖,𝑡 ) e a maior oferta de compra SPREAD (𝑃𝑏𝑖,𝑡 ) de uma ação no período, dividida pela soma das médias desses dois valores (𝑃𝑚 𝑖, 𝑡 ). Esta variável foi medida em termos de valor absoluto. 𝑆 𝑖,𝑡 = RI QNEG RISCO PREÇO COB ∑(𝑃𝑎 −𝑃𝑏 ) 𝑖,𝑡 𝑖,𝑡 ∑𝑃𝑚 𝑖,𝑡 Nota atribuída ao site de relação com investidor. Check-list das informações e mecanismos de comunicação disponíveis pela empresa em seu site de relações com investidores. Volume de negócios expresso pela quantidade de ações negociadas durante o ano de 2013. Risco, calculado pelo desvio padrão dos retornos diários das ações da empresa, utiliza os preços de fechamento nos 12 meses do ano de 2013, conforme fórmula: 𝐹𝑒𝑐𝑛 𝑅𝑖𝑠𝑐𝑜 = 𝜎 ( − 1) √𝑃𝑃𝐴 𝐹𝑒𝑐𝑛−1 Onde: 𝜎 = letra grega sigma que nesse trabalho representa desvio padrão; 𝐹𝑒𝑐𝑛 = preço de fechamento da ação no período n; 𝐹𝑒𝑐𝑛−1 = preço de fechamento da ação no período n-1; PPA= 1 ano. Preço da ação. Preço médio da ação para o ano de 2013. Seu cálculo utiliza a média das cotações diárias no período. Cobertura de analistas expressa pela quantidade de analistas que emitem recomendações do ativo da empresa. LNVMER Valor de Mercado. Logaritmo natural do valor de mercado, proxy utilizada para tamanho. Economática Varável instrumental ADR Internacionalização. Variável do tipo dummy indicando se a empresa pertence a um programa de ADR nível II ou III. www.adr.com Varável instrumental FLOAT Free Float. Percentual de ações destinadas à livre negociação. Economática Varável instrumental SETOR Setor. Dummy, indicando qual setor da economia a empresa pertence. Economática Varável instrumental Quadro 2: Resumo da descrição das variáveis Fonte: Descrição das variáveis utilizadas nas equações (3), (4) e (5). Capítulo 4 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Com o objetivo de investigar o problema de pesquisa, esta seção apresenta as estatísticas descritivas dos dados e os resultados obtidos nos testes empíricos realizados. 4.1 ESTATÍSTICA DESCRITIVA As estatísticas descritivas referentes às variáveis analisadas encontram-se detalhadas na Tabela 2. TABELA 2 – ESTATÍSTICA DESCRITIVA DAS VARIÁVEIS Média Desvio Padrão Mínimo Quartil 1 Mediana Quartil 3 Máximo N 0,015324 0,046588 0,000871 0,003380 0,005556 0,012405 0,568807 181 6,09 7,17 22,58 1,87 1176040 56,78 26,95 0,32 0 0 1,80 8,93 1900 9,60 1,83 0 25 3 36,9 13,34 45571 20,90 5,65 0 28 9 48,80 14,73 389095,50 27,17 12,52 0 30 14 67,90 15,74 1183134 39,65 21,09 0 33 34 100 19,41 8114196 694,02 305,92 1 181 181 181 181 181 181 181 181 Variável Dependente SPREAD Independente RI 26,20 COB 9,56 FLOAT 53,87 LnVMER 14,56 QNEG 816299 RISCO 38,73 PREÇO 18,11 ADR 0,11 Fonte: Dados da pesquisa. Nota: SPREAD = razão entre o bid-ask spread e o ponto médio do spread; IR = nota do website de relação com o investidor; COB = número de analistas que cobrem a empresa; FLOAT = percentual de free float; LnVMER = logaritmo natural de valor de mercado em milhares de reais; QNEG = quantidade de ações negociadas no período; RISCO = desvio padrão do preço da ação; PREÇO = preço médio da ação para o ano de 2013, com base nas cotações diárias do período; ADR = variável tipo dummy indicando se a empresa pertence a um programa de ADR nível II ou III. Para avaliar se existe diferença significativa entre empresas classificadas com menores pontuações para o website de relação com investidor (abaixo do Quartil 1), e empresas classificadas com maiores pontuações para essa variável (acima do Quartil 3), foram aplicados dois testes, um paramétrico e outro não paramétrico; são 34 eles respectivamente: teste t-Student e teste de Mann-Whitney. A Tabela 3 mostra os resultados descritivos dos testes. Nota-se que as empresas classificadas com menor pontuação para “RI” possuem, em média e mediana, maior bid-ask spread; menor cobertura de analistas; menor valor de mercado; menor quantidade de ações negociadas; e maior desvio padrão do preço da ação (risco). O teste de Mann-Whitney revelou ainda que essas empresas apresentaram, em mediana, menor preço médio das ações negociadas durante o ano de 2013, do que as empresas classificadas com alta pontuação para RI. A comparação entre esses dois grupos de empresas, tanto no teste paramétrico (t-Student), quanto no não paramétrico (Mann-Whitney) revelou diferenças estatisticamente significantes, reforçando os resultados encontrados por Chang et.al (2008), ao compararem uma amostra de empresas australianas. A análise dos dados sugere, ainda, que empresas maiores e com maior cobertura de analistas estão mais propensas a investir tempo e recurso em atividades de relação com investidor. Neste sentido, as evidências corroboram os achados recentes de Bushee e Miller (2012). Visando analisar a correlação entre as variáveis, utilizou-se o Teste de Correlação de Pearson, conforme apresentado na Tabela 4. Com base nos resultados encontrados, verifica-se que a variável proxy para assimetria de informação “SPREAD” só não apresentou correlação significativa estatisticamente com as variáveis preço médio da ação “PREÇO”; percentual de ações em livre circulação “FLOAT”; e com a variável dummy indicativa de adesão a um programa de ADR níveis II e III “ADR”. Nota-se ainda que, exceto “FLOAT”, todas as variáveis correlacionaramse com (RI) conforme esperado. 35 TABELA 3 – TESTES DE COMPARAÇÃO DE MÉDIA (T-STUDENT) E MEDIANA (MANN-WHITNEY) DAS EMPRESAS COM BAIXA PONTUAÇÃO DE RI NA INTERNET E DAS EMPRESAS COM ALTA PONTUAÇÃO DE RI NA INTERNET Empresas com pontuação em RI abaixo do Quartil 1 Empresas com pontuação entre os Quartis 1 e 3 Empresas com pontuação em RI acima do Quartil 3 Média Desvio Padrão Mediana Média Desvio Padrão Mediana Média Desvio Padrão Mediana SPREAD 0,03 0,08 0,01 0,009 0,011 0,005 0,004 0,004 0,003 COB 3,90 5,91 1,00 10,06 6,79 10,00 14,06 5,22 14,00 ADR 0,04 0,21 0,00 0,09 0,30 0,00 0,22 0,42 0.00 FLOAT 50,61 24,42 49,80 54,93 22,51 47,60 54,90 21,00 51,70 LnVMER 13,35 2,32 13,27 14,64 1,43 14,60 15,57 1,51 15,50 541.854,80 1.125.292 45.312,00 745.752,30 1.065.187 377.788 1.227.306 1.345.319. 1.034.817 PREÇO 15,84 46,08 4,98 18,60 16,67 14,60 19,32 17,43 15,63 RISCO 66,83 107,97 33,13 30,35 15,58 26,25 28,20 13,32 24,80 QNEG Comparação entre as empresas classificadas com baixa e alta pontuação Teste de Teste Mannt-Student Whitney 2,59 5,04 (0.0110) (0,0000) -8,73 6,64 (0,0000) (0,0000) -2,54 1,44 (0,0128) (0,1475) -1,10 1,02 (0,2702) (0,3050) -5,49 4,49 (0,0000) (0,0000) -2,67 4,88 (0,0089) (0,0000) -0,52 3,96 (0,5995) (0,0001) 2,50 3,06 (0,0141) (0,0022) 90 90 Nª de observações 45 91 45 Fonte: Dados da pesquisa. Nota: SPREAD = razão entre o bid-ask spread e o ponto médio do spread; COB = número de analistas que cobrem a empresa; ADR = variável tipo dummy indicando se a empresa pertence a um programa de ADR nível II ou III; FLOAT = percentual de free float; LnVMER = logaritmo natural de valor de mercado em milhares de reais; QNEG = quantidade de ações negociadas no período; PREÇO = preço médio da ação para o ano de 2013, com base nas cotações diárias do período; RISCO = desvio padrão do preço da ação. 36 TABELA 4 – TESTE DE CORRELAÇÃO DE PEARSON SPREAD RI COB ADR QNEG LnVMER RISCO PREÇO SPREAD 1 RI -0,427*** 1 COB -0,29*** 0,503*** 1 ADR -0,093 0,169** 0,353*** 1 QNEG -0,177** 0,215*** 0,584*** 0,429*** LnVMER -0,427*** 0,533*** 0,718*** 0,418*** RISCO 0,931*** -0,410*** -0,239*** -0,074 -0,063 -0,410*** 1 PREÇO -0,104 0,168** 0,284*** 0,082 -0,032 0,551*** -0,162** 1 FLOAT -0,026 0,037 0,144* 0,044 0,214*** -0,017 -0,018 0,086 FLOAT 1 1 1 Fonte: Dados da pesquisa. Software estatístico Eviews® versão 8.0. Nota: * Significância estatística de 10%; ** Significância estatística de 5%; *** Significância estatística de 1%; SPREAD = razão entre o bid-ask spread e o ponto médio do spread; RI = nota do website de relação com o investidor; COB = número de analistas que cobrem a empresa; ADR = variável tipo dummy indicando se a empresa pertence a um programa de ADR nível II ou III; QNEG = quantidade de ações negociadas no período; LnVMER = logaritmo natural de valor de mercado em milhares de reais; RISCO = desvio padrão do preço da ação; PREÇO = preço médio da ação para o ano de 2013, com base nas cotações diárias do período; FLOAT = percentual de free float. 37 4.2 RESULTADOS ECONOMÉTRICOS Os fatores que afetam o spread foram investigados inicialmente em uma estimativa de MQO, e os resultados encontram-se na Tabela 5. TABELA 5 – RESULTADOS DAS REGRESSÕES PARA O MÉTODO DE MÍNIMOS QUADRADOS ORDINÁRIOS 𝑺𝒑𝒓𝒆𝒂𝒅 = 𝜶 + 𝜷𝟏 𝑹𝑰 + 𝜷𝟐 𝑸𝒏𝒆𝒈 + 𝜷𝟑 𝑹𝒊𝒔𝒄𝒐 + 𝜷𝟒 𝑷𝒓𝒆ç𝒐 + 𝓔 Variáveis Coeficiente Erro padrão Estatística t p-valor RI -0,000425*** 0,000101 -4,211449 0,0000 QNEG -4,38E-09*** 1,72E-09 -2,543875 0,0118 RISCO 0,000747*** 6,39E-05 11,68326 0,0000 PREÇO 7,69E-05 4,93E-05 1,560290 0,1205 Nº de observações 181 R² 0,88 R² Ajustado 0,88 Fonte: Dados da pesquisa. Nota: *** Significância estatística de 1%; SPREAD = razão entre o bid-ask spread e o ponto médio do spread; RI = nota do website de relação com o investidor; QNEG = quantidade de ações negociadas no período; RISCO = desvio padrão do preço da ação; PREÇO = preço médio da ação para o ano de 2013, com base nas cotações diárias do período. O principal resultado obtido nesta regressão é a correlação negativa entre “SPREAD” e “RI”. Consistente com a literatura, a prática on-line de RI da empresa mostrou-se como um fator explicativo do bid-ask spread, com coeficiente negativo e significativo estatisticamente ao nível de 1%. Este resultado indica que websites de RI apresentam uma relação inversa com o bid-ask spread. Outras duas variáveis cuja análise evidencia correlação com o “SPREAD” são: quantidade de negócios “QNEG” e retorno nos preços das ações “RISCO”. Verifica-se que a variável referente à quantidade de negócios realizados pela empresa “QNEG” apresentou coeficiente negativo e significativo estatisticamente ao nível de 1%, indicando que a quantidade de ações negociadas por uma empresa associa-se negativamente com o bid-ask spread. Este resultado sugere que menor 38 informação assimétrica aumenta a disposição dos investidores para transacionar ações da empresa (DIAMOND; VERRECCHIA, 1991). Observa-se que o resultado para a variável “RISCO” apresenta correlação positiva e significativa estatística ao nível de 1%. Conforme esperado, em ambientes de maior informação assimétrica a volatilidade dos títulos tende a ser maior, indicando incerteza ou risco no mercado de capitais, visto que a informação incompleta aumenta o problema de seleção adversa entre os investidores (WANG, 1993; YOON; ZO; CIGANEK, 2011). A presença de assimetria de informação provoca desconfianças entre os investidores e redução do volume de negócios, acarretando em menor liquidez e na queda dos preços das ações da empresa (WELKER, 1995; VERRECCHIA, 2001). Diante disso, esperava-se que SPREAD e preço médio da ação “PREÇO” apresentassem negativamente correlacionados. Verifica-se que, contrariando o esperado, a variável “PREÇO” não se apresentou significativamente correlacionada com “SPREAD”. O coeficiente de determinação R² ajustado do modelo foi de 0,88, indicando que 88% das variações registradas na variável dependente “SPREAD” são explicadas pelo conjunto de variáveis independentes. Na Tabela 6 encontram-se os resultados das regressões estimadas em MQ2E para todas as empresas que compõem a amostragem final. 39 TABELA 6 – RESULTADOS DAS REGRESSÕES PARA O MÉTODO DE MÍNIMOS QUADRADOS DE DOIS ESTÁGIOS 𝑹𝑰 = 𝜶 + 𝜷𝟏 𝑪𝒐𝒃 + 𝜷𝟐 𝑨𝑫𝑹 + 𝜷𝟑 𝑸𝒏𝒆𝒈 + 𝜷𝟒 𝐋𝐧𝐕𝐌𝐞𝐫𝐜 + 𝜷𝟓 𝑭𝑳𝑶𝑨𝑻 + 𝜷𝟓 𝑺𝒆𝒕𝒐𝒓 + 𝜺 Variáveis Coeficiente (1º Estágio) Erro padrão Estatística t p-valor COB 0,220055*** 0.076476 2.877453 0.0046 ADR -0,514049 0.839597 -0.612257 0.5412 QNEG -1,49E-06*** 3.05E-07 -4.893261 0,0000 LnVMER 1,825982*** 0.229362 7.961128 0,0000 FLOAT 0,021954 0.020629 1.064273 0.2888 R² R² Ajustado 0,42 0,34 𝑺𝒑𝒓𝒆𝒂𝒅 = 𝜶 + 𝜷𝟏 𝑹𝑰 + 𝜷𝟐 𝑸𝒏𝒆𝒈 + 𝜷𝟑 𝑹𝒊𝒔𝒄𝒐 + 𝜷𝟒 𝑷𝒓𝒆ç𝒐 + 𝓔 Variáveis Coeficiente (2º Estágio) Erro padrão Estatística t p-valor RI -0,000304*** 0,000114 -2,655075 0,0087 QNEG -4,48E-09*** 1,61E-09 -2,782182 0,0060 RISCO 0,000689*** 6,59E-05 10,45418 0,0000 PREÇO 4,56E-06 8,72E-05 0,052260 0,9584 R² 0,87 R² Ajustado 0,87 Fonte: Dados da pesquisa. Nota: *** Significância de 1%; SPREAD = razão entre o bid-ask spread e o ponto médio do spread; RI = nota do website de relação com o investidor; COB = número de analistas que cobrem a empresa; ADR = variável tipo dummy indicando se a empresa pertence a um programa de ADR nível II ou III; QNEG = quantidade de ações negociadas no período; LnVMER = logaritmo natural de valor de mercado em milhares de reais; RISCO = desvio padrão do preço da ação; PREÇO = preço médio da ação para o ano de 2013, com base nas cotações diárias do período; FLOAT = percentual de free float. Os resultados encontrados na regressão da equação do 1º Estágio demonstram que a prática de RI na internet é influenciada pela quantidade de analistas que cobrem a empresa, quantidade de ações negociadas e valor de mercado da empresa. Consistente com os achados de Chang et al. (2008) para companhias abertas australianas, os resultados reforçam o argumento de que, empresas com maior valor de mercado, cobertura de analistas e quantidade de ações negociadas são mais propensas a investir tempo e recursos para desenvolver suas RI. Além disso, a pesquisa realizada por Bushee e Miller (2012) demonstrou que maior cobertura de analista é um motivador para atividades de RI. As demais variáveis 40 referentes à internacionalização “ADR” e ao percentual de ações em livre circulação “FLOAT” não apresentaram significância estatística. O poder explicativo da regressão no 1º Estágio, R² ajustado é de 0,34. Indicando que 34% das variações em “RI” são explicadas pelas variáveis independentes escolhidas. Os resultados do “2º Estágio” mostram que a variável “RI”, tem poder explicativo sobre a variável dependente “SPREAD”, a um nível de significância de 1%, denotando que, empresas com websites de relação com investidor com escores maiores, possuem um bid-ask spread menor. Em relação à variável independente “QNEG”, os resultados demonstram tanto no teste realizado por MQO, quando por MQ2E, correlação negativa significante estatisticamente ao nível de 1%. Pode-se inferir que a quantidade de negócios é maior para empresas com menor bid-ask spread, corroborando com os argumentos de Diamond e Verrecchia (1991) de que uma menor informação assimétrica torna os investidores mais dispostos a negociar ações da empresa. Nota-se que a variável “RISCO”, permanece significante a um nível de 1%, indicando uma correlação positiva com bid-ask spread. Este resultado indica que se a volatilidade do preço das ações é baixa, então a assimetria no mercado de capitais tende a ser baixa, isso porque, a seleção adversa entre os investidores tende a ser menos acentuada (WANG, 1993; YOON; ZO; CIGANEK, 2011). A variável referente ao preço médio da ação “PREÇO” não revelou coeficiente significativo, mesmo ao nível de significância de 10%. Não se pode inferir, portanto, que o preço médio da ação das empresas da amostra correlaciona-se com o bid-ask spread. 41 O poder explicativo da regressão no 2º Estágio, medido pelo valor do R² ajustado é bastante alto, com valor de 0,87; ou seja, as variáveis independentes testadas no modelo explicam 87% das variações na variável dependente “SPREAD”. Conclui-se, portanto, que para a amostra de empresas analisadas por este estudo, os fatores que influenciam o bid-ask spread são: websites de relação com investidor (RI); quantidade de negócios (QNEG) e o desvio padrão dos retornos diários das ações da empresa (RISCO). Capítulo 5 CONCLUSÃO Este trabalho examinou o efeito de atividades de relação com investidor na assimetria informacional. De maneira mais específica, concentrou-se em investigar se atividades de relação com investidores na internet pode reduzir o problema de seleção adversa, advindo da assimetria informacional entre compradores e vendedores das ações de uma empresa, medido através do bid-ask spread das cotações diárias das ações. Os resultados indicam que o uso da internet, para disseminar informações relevantes aos acionistas, impacta no bid-ask spread das empresas brasileiras. Além disso, foram encontradas evidências de que empresas maiores, e com maior cobertura de analistas, estão mais propensas a investir tempo e recurso em atividades de relação com investidor, corroborando com os achados recentes de Bushee e Miller (2012) e Chang et al. (2008). Um resultado a ser destacado consiste na diferença encontrada na comparação entre dois grupos de empresas: empresas classificadas com as maiores pontuações para website de relação com investidor da amostra (acima do quartil 3), e empresas classificadas com as menores pontuações para seu website de relação com investidor da amostra (abaixo do quartil 1). Utilizando dois testes, um paramétrico (t-Student) e outro não paramétrico (Mann-Whitney), foi possível notar que as empresas classificadas abaixo do quartil 1 apresentam, em média e mediana, maior bid-ask spread; menor cobertura de analistas; menor valor de mercado; menor quantidade de ações negociadas; e maior risco, quando comparadas com as empresas classificadas acima do quartil 3. 43 Destaca-se que os resultados encontrados foram obtidos através de uma amostra de empresas brasileiras de capital aberto, com dados observados para o ano de 2013. Tendo em vista a existência de outras métricas para assimetria de informação, este trabalho limitou-se a utilizar apenas uma (bid-ask spread). Outra limitação relaciona-se à coleta de dados. A técnica utilizada para avaliar as informações dos websites de RI carrega um pouco de subjetividade na apuração dos resultados, não contemplando as mudanças ocorridas fora do período de coleta. Este trabalho segue a premissa que sites de RI não sofrem alterações de estrutura frequentes. No entanto essas limitações não invalidam tais resultados. Futuras pesquisas podem dar continuidade a abordagem deste estudo ao investigar os efeitos das atividades da área de RI na assimetria de informação, analisando, por exemplo, o conteúdo informativo de eventos específicos como conference calls ou reuniões com investidores. Por fim, espera-se que os resultados deste trabalho sejam úteis para a decisão das empresas de capital aberto entre desenvolver, e manter (ou não) ambientes online de divulgação voluntária de informações; e que contribuam com o enriquecimento das discussões sobre o efeito de atividades de relações com investidores na assimetria de informação, em um mercado emergente, por conseguinte distinto dos anteriormente analisados. 44 REFERÊNCIAS AKERLOF, G. The market for "lemons": quality uncertainty and the market mechanism. The Quarterly Journal of Economics, v. 84, n. 3, p. 488-500, 1970. AGARWAL, V., LIAO, A., NASH, E. A., TAFFLER, R. J., & TAFFLER, R. The impact of effective investor relations on market value. Available at SSRN 1102644, 2008. AITKEN, M., FRINO, A. The accuracy of the tick test: Evidence from the Australian stock exchange. Journal of Banking & Finance, v. 20, n. 10, p. 1715-1729, 1996. BOLLEN, L., HASSINK, H., BOZIC, G. 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O impacto do custo de transação ao obter informações contábil-financeiras sobre o valor de mercado das empresas brasileiras. 31f. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Administração) – Fundação Capixaba de Pesquisa em Administração, Ciências Contábeis e Economia – FUCAPE, Vitória, 2012. GEERINGS, J.; BOLLEN, L. HH; HASSINK, H. F. D. Investor relations on the Internet: a survey of the Euronext zone. European Accounting Review, v. 12, n. 3, p. 567-579, 2003. GIRÃO, L. F. A. P.; MACHADO, M. R. A produção científica sobre assimetria informacional em periódicos internacionais de contabilidade. Revista Contabilidade e Controladoria, v. 5, n. 1. GLOSTEN, L. R. Components of the bid-ask spread and the statistical properties of transaction prices, Journal of Finance, v. 47, p. 1293-1307, 1987. GLOSTEN, L. R.; P. R. MILGROM. Bid, Ask and Transaction Prices in a Specialist Market with Heterogeneously Informed Traders, Journal of Financial Economics, 14, 71-100, 1985. HEDLIN, P. 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Categoria 1: Informações Financeiras Relatório Anual Um ponto se apresentar relatório anual atual, e zero caso contrário. 4 Demonstrações Financeiras Um ponto se a empresa apresentar, em seu website, demonstrações financeiras, acompanhadas do relatório da administração e do parecer do auditor independente, e zero caso contrário. 5 Informações Trimestrais (ITR) Um ponto se a empresa apresentar, em seu website, demonstrações contábeis elaboradas trimestralmente acompanhadas do Relatório Especial, emitido pelo auditor independente registrado na CVM, e zero caso contrário. 6 Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP) Um ponto se a empresa apresentar, em seu website, Demonstrações Financeiras Padronizadas atual, e zero caso contrário. 7 Arquivos da CVM além dos relatórios anuais Um ponto se apresentar Formulário de Referência e Formulário Cadastral, e zero caso contrário. 8 Relatórios de Sustentabilidade Um ponto se esses relatórios são apresentados como um link separado dentro do site, e zero se estes fazem parte das demonstrações financeiras, ou não são apresentados em nenhuma das formas. 9 Relatórios de anos anteriores Um ponto se estiverem disponíveis no site (no mínimo) dois relatórios antes do mais recente dos itens 3, 4, 5, 6 e 8. 10 Principais indicadores financeiros Um ponto se apresentar, no mínimo, quatro indicadores financeiros (lucro líquido, receita operacional líquida, EBITDA, patrimônio líquido, dívida líquida, ativo total) no site, em fact sheet ou outro documento, e zero caso contrário. INFOFIN A soma das pontuações das características acima 3 Categoria 2: Comunicados à imprensa e outros serviços de informação 11 Comunicados Um ponto caso o site apresente informações de fatores relevantes, comunicados ao mercado, aviso aos acionistas, press release, e zero caso contrário. 12 Earning Release Um ponto caso o site apresente informações de release de resultados, e zero caso contrário. 13 Calendário de divulgações Um ponto caso haja um calendário de interesse dos investidores contendo, por exemplo: anúncios de resultados anuais ou trimestrais, datas das reuniões, data da distribuição de dividendos, e zero caso contrário. 14 Informações sobre Governança Corporativa Um ponto caso haja disponível no site informações como estatuto social e código de ética e/ou acordo dos acionistas, e zero caso contrário. 15 Preço atual da ação Um ponto se o preço das ações apresentadas no site não for mais antigo do que o preço de fechamento do último dia de negociação, e zero caso contrário. 48 16 Histórico de preços das ações Um ponto caso exista um histórico de preços das ações, e zero caso contrário. 17 Fatores de risco Um ponto caso a empresa apresente os fatores de risco, e zero caso contrário. 18 Cobertura de Analistas Um ponto caso apresente lista dos analistas que acompanham a empresa, e zero caso contrário. 19 Projeções de analistas Um ponto caso a empresa disponibilize projeções de analistas, e zero caso contrário. 20 Agências de Rating Um ponto caso apresente lista das agências de rating que acompanham a empresa, e zero caso contrário. 21 Estrutura Societária ou Composição Acionária Um ponto se a empresa apresentar a informação da sua estrutura societária, e zero caso contrário. SERVINF A soma das pontuações das características acima Categoria 3: Vantagens de apresentação na Internet 22 Séries temporais de dados financeiros Um ponto se houver um link separado para HTML ou arquivo para download, e zero caso contrário. 23 Dados financeiros em formato processável Um ponto se os dados financeiros estiverem disponíveis nos formatos: Excel, txt ou Word, e zero caso contrário. 24 Bilíngue Um ponto caso o site possa ser lido em outro idioma além do português, e zero caso contrário. 25 Motor de busca interno Um ponto se houver um mecanismo de busca interno para navegar no site, e zero caso contrário. 26 Atualização recente das informações Um ponto caso a última atualização tenha ocorrido no prazo de 24 h após o último dia de negociação, e zero caso contrário. VANINT A soma das pontuações das características acima Categoria 4: O contato direto via e-mail e lista de discussão 27 E-mail do departamento de RI Um ponto se possuir um e-mail direto ao departamento de relações com investidores, e zero caso contrário. 28 Mailing List (e-mail alerta) Um ponto caso possua um cadastro para o envio de informações regularmente por e-mail, e zero caso contrário. 29 Perguntas mais frequentes Um ponto caso exista uma seção de FAQ sobre assuntos financeiros, e zero caso contrário. 30 Ordem de serviço on-line de informações ao investidor Um ponto caso tenha disponível formulário de serviço on-line para solicitação de informações, e zero caso não tenha serviço on-line disponível, ou se essa solicitação pode ser feita somente através do envio de um e-mail. CONTD A soma das pontuações das características acima Categoria 5: Gravações de vídeo/áudio e participação online em reuniões 31 Vídeo/áudio gravações de reuniões Um ponto se o site contém vídeos e/ou gravações de áudio de reuniões, e zero caso contrário. 32 Participar de reuniões on-line Um ponto se o site disponibilize a opção de participação on-line ativa ou passiva em uma reunião, e zero caso contrário. 33 Teleconferência para apresentação de resultados aberta ao público Um ponto se as teleconferências de apresentação dos resultados estiverem disponíveis ao público de investidores de modo geral, e zero caso contrário. VÍDEO A soma das pontuações das características acima Fonte: adaptado de Bollen, Hassink e Bozic (2006).