Capacidade das memórias em alunos com necessidades complexas de comunicação e alunos com características de altas habilidades Carlos Eduardo Paulino INTRODUÇÃO A memória é central para todo o funcionamento cognitivo humano. Precisamos ser capazes de armazenar e manipular as informações recebidas, a fim de compreender e interpretar o mundo, para planejar, resolver problemas e raciocinar sobre eventos passados, presentes e futuros. A memória além de uma função psíquica superior (VYGOTSKY, 1995) é também uma importante habilidade para a linguagem e a aquisição da leitura e da escrita. Alunos com necessidades complexas de comunicação (NCC), os com paralisia cerebral grave e deficiência congênita da fala, apresentam dificuldades na comunicação, aprendizagem da leitura e gravação, em contrapartida, alunos com características de altas habilidades (AH) apresentam muita facilidade nestas áreas (EXTREMIANA, 2010). Até agora, não houve, na literatura, uma explicação clara para os problemas que aqueles alunos sentem, contudo uma possibilidade poderia ser a falta de capacidade de articulação, enquanto que para estes uma alta capacidade de articulação (LARSSON, DAHLGREN SANDBERG, 2008), que pode afetar a forma como a informação fonológica é armazenada e manipulada na memória. De acordo com o modelo de memória de trabalho (BADDELEY, 2002; BADDELEY, HITCH, 1974), a memória é um sistema que processa várias informações ao mesmo tempo. O sistema é composto pelo executivo central, que é um sistema que gerencia três subsistemas: o buffer episódico, que trata da integração do material dos outros componentes da memória de trabalho e da memória de longo prazo; a alça fonológica, que cuida de todas as informações ligadas a sons apurados e a alça visuo-espacial , que das informações visuais e espaciais (BADDELEY, 2002). A alça fonológica é constituída por dois componentes, o estoque fonológico e o processo de ensaio. O primeiro é um componente de armazenamento com capacidade limitada, as informações nele contidas decaem após um curto período de tempo a menos que processo de ensaio, segundo componente da memória, atualize o processamento. O processo de ensaio é considerado o item da memória responsável pela articulação subvocal. A subvocalização é fundamental para o processo de fala, mas também para o processo fonológico de reconhecimento, tradução de palavras impressas e processamento de figuras (BADDELEY, 1997). A alça visuo-espacial também tem dois componentes: um especializado em informação visual e outro na informação geográfica (LOGIE, 1995). A função do executivo central é integrar todos esses processos, mas ao mesmo tempo controlar uma série de processos de alto nível no cérebro, ao qual Vygotsky denominava funções psíquicas superiores (percepção, atenção, memória, pensamento e linguagem), estas expressam o sentido da ação, concentração, planejamento e comportamento focado no objetivo. Ele passa informações aos subsistemas e também é responsável pelo controle da atenção da codificação, estratégias de recuperação das informações, raciocínio lógico e cálculo mental (BADDELEY, 2002). Na alça fonológica, o ensaio subvocal é necessário para impedir que as informações verbais se decomponham (BADDELEY, HITCH, 1974). A taxa de ensaio subvocal reflete o que um indivíduo pensa e fala, ao mesmo tempo revela a capacidade da memória, ou seja, quanto mais rápido é o ensaio subvocal, mais informações podem ser processadas, armazenadas e usadas para a comunicação (BADDELEY, 2002). A partir da educação infantil até a adolescência a performance da memória aumenta gradualmente, bem como a amplitude de sua medida (GATHERCOLE, et al., 2004; HULME, et al., 1984). Uma das principais fontes deste aumento é considerado o aumento da taxa do ensaio subvocal (HULME, et al., 1984). O desenvolvimento do ensaio subvocal começa nos anos finais da educação infantil, e antes dos sete anos o uso espontâneo do ensaio é bastante esporádico. Segundo Gathercole e Baddeley (1993), 50% de todos os ensaios por volta dos cinco anos de idade são espontâneos e usados para reter as informações na memória. Palavras ou sons que são fonologicamente semelhantes são mais difíceis de recordar, porque suas representações fonológicas na memória de curta duração são facilmente confundidas com a outra, esse fato é conhecido como efeito de similaridade fonológica, por isso, deve-se evitar ensinar palavras ou sons parecidos para alunos muito novos (GATHERCOLE, BADDELEY, 1993). Também é verdade que as palavras que levam mais tempo para serem articuladas são mais difíceis de lembrar-se do que as palavras mais curtas, já que as mais articuladas exigem mais ensaios subvocais, enquanto as mais curtas menos ensaios, daí a importância de se ensinar palavras pequenas para alunos muito jovens, o que é conhecido na literatura como efeito do comprimento de palavra (GATHERCOLE, BADDELEY, 1993). O efeito de similaridade fonológica e o efeito do comprimento de palavra são tomados como evidências para a codificação fonológica das palavras. Para a alça fonológica ter um bom funcionamento, é importante não apenas ter uma certa taxa de ensaio subvocal, mas também estáveis e distintas representações fonológicas na memória. Os indivíduos com dislexia, por exemplo, são considerados como tendo problemas na criação qualitativa de boas representações fonológicas na memória, o que leva aos problemas de leitura e escrita (GATHERCOLE, BADDELEY, 1990; HØILEN, LUNDBERG, 1992; VELLUTIO, et al., 2004). Embora a natureza exata da relação entre memória fonológica e aquisição da linguagem ainda esteja em debate, uma associação entre as duas foi documentada em vários estudos. Parece que a memória de curto prazo fonológica (MCPF) desempenha um papel central na aquisição de novas sequências fonológicas e, portanto, é central para a aquisição de uma língua materna, bem como na aprendizagem de línguas estrangeiras (GATHERCOLE, et al., 1992). Estudos tem revelado uma correlação significativa entre a MCPF dos alunos e seu vocabulário (BADDELEY, GATHERCOLE, PAPAGNO, 1998; GATHERCOLE, ADAMS, 1994, GATHERCOLE, BADDELEY, 1989), a extensão média dos enunciados (ADAMS, GATHERCOLE, 1996), e a complexidade da sua sintaxe (BLAKE, et al., 1994). Quando se trata de leitura, uma correlação tem sido, consistentemente, encontrada entre a memória fonológica deficiente e as dificuldades de leitura (GATHERCOLE, BADDELEY, 1993; HULME, MACKENZIE, 1992). Variações no desempenho de leitura dos alunos tem sido atribuídas as diferenças individuais na MCPF (RAPALA, BRADY, 1990; SWANSON, 1994), e/ou memória de trabalho fonológica (MTF) (SIEGEL, 1994; SWANSON, HOWELL, 2001). Apesar da decodificação ou reconhecimento das palavras parecer estar ligada a MCPF, a compreensão da leitura depende muito da MTF e do eficiente funcionamento executivo central (McDOUGALL, et al., 1994; BRADY, SHANKWEILER, MANN, 1983; DANEMAN, MERIKLE, 1996). Alguns estudos, por outro lado, descobriram que a memória fonológica prediz pouca variação na leitura uma vez que a consciência fonológica é apenas parcialmente compreendida (LEATHER, HENRY, 1994; McDOUGALL et al., 1994; PARRILA, KIRBY, McQUARRIE, 2004). Dado o papel central do ensaio subvocal em recordar informação fonológica, e a correspondência entre a taxa de discurso e ensaio subvocal, é provável que a falta de capacidade de articulação em indivíduos com NCC afete negativamente a sua memória, ou a alta capacidade de articulação afete positivamente sua memória, como se pode observar em alunos com AH. Estas limitações poderiam, talvez, explicar algumas das dificuldades que os alunos com NCC muitas vezes enfrentam na aquisição de leitura e escrita, ou a eficiência, para explicar algumas das grandes facilidades na aquisição de leitura e escrita em alunos com AH. Pesquisas sobre a função da memória fonológica em indivíduos com dificuldades de fala (LARSSON, DAHLGREN SANDBERG, 2008) não produziram quaisquer resultados conclusivos, também não é claro se estes estudos são conclusivos em indivíduos que tiveram a capacidade de articulação normal ou muito eficiente. Baddeley e Wilson (1985) relataram que adultos com disartria grave tinham suas memórias intactas e os padrões de ensaio eram normais. No entanto, estudos de caso sobre os indivíduos congenitamente não vocálicos tem mostrado capacidades das memórias prejudicas para aprendizagem verbal (ROTH, CASSAT-JAMES, 1989; SMITH, 1992). Em seu estudo, Raine, et al. (1991) encontraram um grupo de alunos com a fala lenta, com desempenho ruim em um teste de Memória de Curto Prazo (MCP) em comparação com um grupo de alunos não-deficientes pareados por idade cronológica e gênero. Por outro lado, White, et al. (1994) e Bishop e Robson (1989) não relataram diferenças entre alunos ou adolescentes com disartria1 ou anartria2 e grupos de comparação. 1 2 Dificuldade na pronúncia e articulação das palavras Impossibilidade de articular palavras, em conseqüência de lesão Além disso, Bishop e Robson (1989) não encontraram correlação significativa entre a taxa e a qualidade de articulação em falhas na memória, embora alguns grupos de participantes do estudo foram igualmente afetados pelo modo de representação e desempenho pior em tarefas visuais. Foley e Pollatsek (1999) estudaram a codificação fonológica da memória em seis adultos com anartria e seis adultos com disartria. Cinco dos participantes com disartria e dois com anartria mostraram efeitos de similaridade fonológica. Houve um significativo resultado para o grupo com disartria quanto ao efeito do comprimento da palavra, enquanto apenas um participante do grupo com anartria mostrou efeito significativo para o comprimento da palavra. Os autores concluíram que a capacidade de articulação é útil, mas não é um pré-requisito para ser capaz de usar codificação fonológica na memória. Estes resultados questionam a relação simples entre a taxa de articulação e a taxa de ensaio subvocal sugerido no modelo da memória de trabalho (MT). Existe a possibilidade de que a relação entre a articulação aberta e o ensaio subvocal possam ser diferentes em indivíduos com comprometimento neurológico em comparação com indivíduos com fala natural (LARSSON, DAHLGREN SANDBERG, 2008), ou ainda com pessoas altas habilidades. A consciência fonológica é um forte preditor para a realização da alfabetização (BRADLEY; BRYANT, 1983, 1990, HØIEN, et al., 1995, WAGNER, TORGESEN, 1987). Alguns estudos revelam uma consciência fonológica bem desenvolvida em alunos com paralisia cerebral e NCC (BISHOP; ROBSON, 1989, DAHLGREN SANDBERG; HJELMQUIST, 1996, 1997, DAHLGREN SANDBERG, 2001; FOLEY; POLLATSEK, 1999). Em tarefas não-verbais, onde as alunos tinham de acessar e construir suas próprias representações fonológicas, suas performances eram significativamente mais fracas em comparação com alunos com fala natural pareadas por idade mental e linguística (DAHLGREN SANDBERG, 2001, LARSSON; DAHLGREN SANDBERG, 2008). Estes resultados demonstram que, mesmo sem capacidade de articulação, os alunos com NCC são capazes de desenvolver uma consciência da estrutura sonora da linguagem para separar e manipular os fonemas diferentes. No entanto, quando eles precisam transformar formas não-verbais (figuras) em sílabas ou palavras, ou mesmo letras, experimentam mais problemas que alunos com fala natural, já os alunos com AH transformam facilmente formas não-verbais em palavras longas ou mesmo frases. A boa capacidade da memória fonológica é necessária, tanto para transformar formas não-verbais em palavras, bem como para torná-las unidades fonológicas, gravá-las e a partir daí avançar no conhecimento da comunicação. Como tal, as dificuldades a este respeito exibidas pelos alunos com NCC poderiam ser explicadas em termos de problemas da memória fonológica, por sua vez as facilidades demonstradas pelos alunos AH poderiam, também, ser explicadas em termos de maior eficiência da memória fonológica. Fatores cognitivos podem contribuir para problemas de leitura vividos pelos alunos com NCC e merecem muita atenção, dada a inconsistência das pesquisas anteriores, porém tais fatores podem ajudar a entender a facilidade de leitura apresentada pelos alunos AH, e, como observado por Dahlgren Sandberg; Hjelmquist (1997) e Dahlgren Sandberg (2001), entre outros, podemos apontar como fatores cognitivos, a falta de poder preditivo da consciência fonológica na leitura, o baixo desempenho da memória no grupo de alunos com NCC, bem como o contrário, para os alunos AH. A literatura aponta que há muito pouca pesquisa sobre a função da memória nesses grupos, sobretudo entre os usuários das NCC e das AH, havendo muitas lacunas no que tange as capacidades das memórias desses alunos. Mais conhecimento não seria apenas de interesse teórico, mas também seria altamente relevante na prática, por exemplo, alunos que frequentemente utilizam a comunicação alternativa e ampliada (CAA) dependem da memória visuo-espacial. Mais informações sobre como funciona a memória em sua função de assistência aos sistemas de organização da comunicação, ajudaria a entender porque alunos AH se comunicam mais cedo e alunos com NCC apresentam dificuldades de comunicação, também poderia ajudar no entendimento das situações de aprendizagem e o por quê de tempos diferentes de aprendizado nestas situações. Se houver problemas com o funcionamento das memórias, é necessário saber se eles são de natureza, principalmente, fonológica ou visuo-espacial, desta maneira ao identificá-los podemos elaborar intervenções mais eficientes, diminuindo o método de tentativa e erro, de modo que a instrução possa ser organizada de forma a promover uma aprendizagem bem sucedida. OBJETIVO O objetivo deste estudo é examinar a função da memória em alunos com paralisia cerebral com NCC, alunos com características de AH, comparada a alunos com fala natural da mesma idade mental e linguística. Nossa hipótese é que, na falta da capacidade de articulação, ou sua maior capacidade, alunos com NCC teriam maiores problemas para criar e armazenar representações na alça fonológica, e alunos com características de AH não, o que resulta em memória fonológica fraca para aqueles e forte para estes. Como a memória visuo-espacial de informação não depende de representações fonológicas e não devem ser afetadas pela capacidade de articulação, esperamos que o desempenho dos alunos com NCC em testes da memória visuo-espacial não apresente diferenças significativas em relação à dos alunos de fala normal, o mesmo acontecendo quando comparadas com alunos com características de AH. Além disso, como os alunos no presente estudo utilizam softwares de CAA como seu principal modo de comunicação (método que envolve a memória visuoespacial, devido à necessidade de lembrar a localização de diferentes símbolos), ou materiais de enriquecimento, no caso, dos alunos com características de AH, levantamos outra hipótese: quando usando CAA, ou enriquecimentos, tais sistemas podem ter efeitos positivos sobre as funções visuo-espaciais e sobre as memórias dessas alunos quando comparadas aos não usuários. No presente estudo, as tarefas que medirão as funções dos subsistemas (ou seja, o armazenamento passivo e a recuperação do material fornecido) serão consideradas como medidas de MCP. Medidas que levaram em conta a função do processamento do executivo central, bem como subsistemas da MT. METODOLOGIA Participantes Participarão da pesquisa três grupos de alunos equiparados quanto ao gênero, na faixa etária de 5 a 12 anos, em atendimento no Centro de Estudos da Educação de da Saúde, da Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP, Campus de Marília. Serão consideradas, também, as idades intelectual e lingüística dos alunos. Um grupo será composto por quatro alunos com NCC, paralisados cerebrais e com a fala comprometida. O segundo grupo será formado por quatro alunos em atendimento pelo Programa de Atendimento e Auxilio a alunos Talentosos, Altas Habilidades/Superdotados e Gênios PROGEN – UNESP. O terceiro grupo será um grupo de comparação de quatro alunos com fala natural, sem deficiência e sem características de AH, selecionados da rede pública de ensino do município de Marília/SP. Sugere-se que os alunos com NCC sejam acompanhados por um fonoaudiólogo. Informaremos a quanto tempo são usuários de CAA e qual o tipo utilizado. Além do fonoaudiólogo para acompanhamento dos alunos com NCC, sugere-se que os alunos sejam acompanhados por Psicopedagogo e/ou Psicólogo uma vez que serão utilizados instrumentos de medidas. Em nível individual, todos os alunos serão pareadas por idade intelectual e gênero, e em nível de grupo, por idade lingüística. Todos os alunos deverão ter boa visão e audição. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido deverá ser assinado pelos pais, lembrando que o Projeto está devidamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNESP, Processo 0109/2011. Materiais Avaliação da idade intelectual Como instrumento de medida da idade intelectual será utilizado as Matrizes Progressivas de Raven (Raven; Raven; Court, 1998). Este instrumento é frequentemente utilizado para avaliar a inteligência não-verbal, em pessoas com dificuldades de fala. Pode ser utilizado como critério para comparar os três grupos. Avaliação da Idade linguística Como instrumento de medida será utilizado um teste, mundialmente aceito, o Peabody Vocabulary Test (PPVT) (Dunn; Dunn, 1997). Memória de Curto Prazo Fonológica Como teste para a memória de curto prazo fonológica Larsson e Dahlgren Sandberg (2008) adaptaram a Escala de Inteligência de Wechsler para crianças – III (WECHSLER, 1999). A adaptação consiste em utilizar a sequência de dígitos, em sentido crescente, para observar a compreensão progressiva da contagem. Sequências de números foram lidos para crianças, que em seguida foram convidadas a repetir os números na mesma ordem apresentada. As crianças tanto do grupo de comparação quanto do grupo com NCC foram convidadas a responder, apontando para os números apresentados ao invés de dar a resposta oral, normalmente exigido. O teste começou com um sequência de dois números, que foi gradualmente aumentada de um número, sendo a taxa de apresentações de novos dígitos a cerca de um número por segundo. Para cada comprimento de sequência a criança tinha dois ensaios, e a nota de corte foi quando a criança falhou em ambos os ensaios. Para testar a MCPF vamos repetir o teste para os três grupos, anotar, e depois comparar os resultados. Memória de Curto Prazo Visuo-Espacial Para essa memória e literatura (LARSSON, DAHLBERG SANDBERG, 2008) aponta a necessidade de usar dois testes de medida, um mede a capacidade espacial ou geográfica e o outro a capacidade visual. Para testar a memória espacial serão utilizados os Blocos de Corsi (MILNER, 1971). O teste utiliza nove cubos azuis (3 X 3 X 3 cm) espaçados aleatoriamente em uma placa de 25 cm X 21 cm de cor branca. Os dígitos de 1 a 9 foram impressos em um lado dos cubos, sendo visíveis apenas pelo pesquisador. O experimentador aponta para uma série de blocos na razão de um bloco por segundo, após o qual o participante vai apontando os blocos na ordem da apresentação. A sequência de apresentação começa com dois blocos, aumentando de um em um até que o participante erre, sugere-se que o ensaio seja realizado pelo menos duas vezes para evitar erros fortuitos. Para testar a memória visual sugere-se o teste Leiter – R (ROID; MILLER, 1997), especialmente o subteste de memória progressiva nele contido. O Leiter-R é um teste não-verbal que abrange inteligências e habilidades cognitivas. Os subtestes de memória consistem em imagens representadas em uma folha. O experimentador deve apontar para um determinado número de fotos em certa ordem, e o indivíduo que está sendo testado deve repetir a sequência apontando na mesma ordem. A taxa de apresentação é de, aproximadamente, uma foto por segundo e a nota de corte é o erro de uma sequência de três fotos em uma mesma fileira. De acordo com o manual, o corte deve ser de uma sequência de seis fotos em uma fileira, mas considerando o tempo gasto por alunos com NCC foi feita uma adaptação, para evitar que a sensação de fracasso perdurasse por muito tempo. Memória de Trabalho Fonológica O teste aplicado para a Memória de Curta Duração Fonológica deve ser aplicado no sentido inverso, demonstrando ser um instrumento bastante confiável para testá-la, conforme Larsson e Dahlgren Sandberg, 2008. Memória de Trabalho Visuo-espacial Os testes de Blocos de Corsi e de Leiter-R deverão ser utilizados, mas com contagem no sentido inverso (reversibilidade) demonstrando ser um instrumento bastante confiável, conforme Larsson e Dahlgren Sandberg, 2008. Procedimento Os testes devem ser aplicados aos alunos, individualmente, em suas escolas, pré-escolas, ou no ambiente doméstico, dependendo de onde os pais e os alunos apontarem para onde as mesmas se sintam mais confortáveis. Pais ou assistentes pessoais dos alunos devem estar presentes, a fim de assegurar a comunicação o mais livre possível de mal-entendidos. Alunos usuárias de CAA devem responder os testes com os recursos adaptados usualmente utilizados, eventualmente com a ajuda de assistentes pessoais. Cada tarefa deverá ser demonstrada na prática para garantir pleno entendimento dos alunos. Os testes das memórias, em média (LARSSON; DAHLGREN SANDBERG, 2008) levam em média duas horas para os alunos do grupo de comparação, espera-se menos tempo para os alunos AH e até 5 horas para as alunos usuárias de CAA. Análise estatística Para testar as diferenças de desempenho nos testes de memória, os grupos serão pareados pelas Matrizes Progressivas de Raven (idade intelectual não-verbal) e em PPVT (Idade lingüística). Um grupo com resultados diferentes nos testes de memória foi selecionado como variável dependente para a análise dos covariantes. BIBLIOGRAFIA ADAMS, A. M.; GATHERCOLE, S. E. 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