PO 08: As Demonstrações Gaussinanas para o Teorema Fundamental da Álgebra (TFA) Aspectos Históricos e Matemáticos Eliete Grasiela Both Bruna Camila Both Neste texto objetivamos discutir as primeiras demonstrações do TFA considerando aspectos históricos e matemáticos envolvidos, almejando, desse modo, entender as ideias das demonstrações consideradas válidas para o teorema. Realizamos então estudos bibliográficos, sobre os quais nos debruçamos, de forma a podermos apresentar as análises aqui expostas. A primeira demonstração do TFA, considerada válida, foi apresentada por Gauss em 1799, em sua tese de doutorado e é de natureza topológica, nessa época o teorema era enunciado como: “Toda equação polinomial de grau com coeficientes reais possui raízes complexas”. Segue um esboço desta. Seja o ( )= polinômio + + +⋯+ coeficientes reais não-nulos. Gauss queria provar a existência de são as ( , ) = ( cos (cos raízes. = 0, Daí: ( , )= cos sin( + = 0⇨ = , −2 ou = 2( − 1), ∈ ℤ. Então, em um círculo λ de raio intersecções de λ com duas de + =0 e2 com λ, e existem cos( + − 1) + ⋯ + ± pode ser dividido por cos + 2 cos utilizando de ± , ≥ 0, em que coordenadas = [ − (cos polares, + sin )]. [ − > 0. Substituindo as raízes em (1), e separando a parte real da imaginária, tem-se: sin quadráticos, , sin ), tem-se: − sin )], ( , )= Nos (1) raízes complexas e fez o estudo para fatores lineares e quadráticos. Os lineares são da forma ± + com , − 1) +⋯+ sin . Se ( , ) satisfaz + ∈ ℤ∗ e + e =0 e . Logo, as raízes existem. sin = 0⇨ = , suficientemente grande, existem 2 = 0; cada intersecção de intersecções de cos com λ está entre com , dentro de λ, as quais são as raízes de P. Para os padrões atuais, a prova não tem o grau necessário de rigorosidade, pois em determinadas partes valeu-se da intuição geométrica. Em 1816, Gauss publicou a segunda prova do TFA. Esta é puramente algébrica e de natureza altamente técnica. Segue o esboço das principais etapas para obter a demonstração. Gauss toma um polinômio real de grau e decompõe em fatores lineares. Todo par de raízes de P pode ser escrito como uma combinação linear em uma nova variável . Enumerando todos os possíveis pares, formam-se combinações lineares do = . Pelas raízes da equação auxiliar, de grau ′, obtêm-se as da original. 2 Repetindo o processo de construção de uma equação auxiliar, pode-se chegar a uma tipo equação de grau ímpar, portanto, existe ao menos uma raiz real. Retrocedendo a séries de polinômios auxiliares para o polinômio original, encontra-se ao menos uma raiz complexa da equação original, como objetiva-se. Desta forma, a ideia da prova é saber que tem raízes nos reais. Assim, Gauss constrói o polinômio auxiliar sem supor a existência de raízes. Publicada em 1816, a terceira prova é mais simples que a segunda. Inicia com o mesmo polinômio , Gauss novamente faz imaginária. Assim, nomeia e relação a = = : +( sin + para ao contrário de − 1) A sin ( cos +⋯+ para . = ( Ω=∫ ° ∫ Suponha ) (nessa ordem) e suas derivadas com − 1) A cos( ) ]= − 1) + ⋯ + cos . Observando + , Gauss concluiu que = . Ainda, ′ = cos cos + ⋯+ e que >0 cos e cos . Assim deve mostrar que existe um ponto , sin ) do plano onde complexa e + sin ) e separa a parte real da sin(m − 1)φ + ⋯ + ) + (sin suficientemente grande, = +( cos [(cos ′é = (cos =0 e que = 0 se encontram, o que implica uma raiz ∄ é = = 0, totalmente . Pela diferenciação, ∫ = ( então finita. ) + ≠0 e Considere . A função a direita tem o mesmo valor para φ = 0 e φ = 360°. Daí a integral indefinida com φ variando de 0 a 360° é zero, logo, Ω = 0. No entanto, a primeira integração, relativa a , obtém:∫ ydr = . Pelas definições anteriores de ′ e ′, para = = 0 essa expressão é zero. Mas para ela é positiva. Então, essa integral indefinida, variando de 0 a , é positiva, e 2 portanto, Ω > 0, contradição. Logo, a hipótese que e jamais serão ambas nulas contradiz o feito, isso completa a prova. Em 1849, Gauss apresenta a quarta prova do TFA, baseada na segunda, esta envolve análise complexa e possui total rigor algébrico. A ideia é análoga à feita para polinômios com coeficientes reais, no entanto, nesta, a prova é para polinômios com coeficientes complexos, pois o TFA aí já era enunciado como: “Toda equação polinomial de grau com coeficientes complexos possui raízes complexas”. Portanto, a primeira demonstração correta do TFA foi apresentada por Gauss em 1799, esta se valeu, parcialmente, de intuição geométrica, posteriormente, apresentou, ainda, outras três provas, sendo que essas já apresentavam total rigor matemático. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALTUS, Christopher, D’Alembert’s proof of the fundamental theorem of algebra, Oswego, NY: SUNY College at Oswego, 2004. In: Periódico Capes. 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