Opinião Jefferson Nascimento de Oliveira Um dia de reflexão O Jefferson Nascimento de Oliveira é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Área de Hidráulica e Saneamento da Faculdade de Engenharia da Unesp de Ilha Solteira. 50 UnespCiência Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, leva-nos a perguntar o que realmente estamos fazendo pela água, qual a nossa relação diária com essa matéria-prima, que é a base fundamental de nossa vida no planeta Terra. Parece que pouco foi feito realmente em prol da sustentabilidade e conservação da água no Brasil e no mundo durante a “Década Internacional da Água 2005-2015”, instituída pela ONU, que tinha como subtítulo “Água, fonte de vida”. A Década começou no Dia Mundial da Água, em 22 de março de 2005. Em crises hídricas, como esta que muitos estados brasileiros atravessam, a população em geral viu que o flagelo da seca, aparentemente tão distante, nos rincões do meu Nordeste, pode vir a ser uma realidade cotidiana em muitos lares brasileiros, pois continua-se pensando e tendo com a água uma relação quase insana de consumo excessivo, canibalizando muitas das reservas estratégicas no país e pelo mundo. Lamentável constatar que a consciência só aflora com o medo, seja este pela falta real da água na torneira, falta de energia ou medo de pagar um preço elevado, ou mesmo uma multa, por um consumo maior. Quando se faz um levantamento do médio preço da água tratada no Brasil, vemos que este é muito inferior aos praticados pela telefonia móvel, por exemplo, se comparados aos do resto do mundo. Por que, então, nos lugarejos distantes do país, tem-se telefone celular e não se dispõe sequer de água tratada e distribuída com boa qualidade, isso sem falar na ausência da coleta de esgoto, que é um risco real à saúde humana, além da falta de tratamento? Leio quase que diariamente nos jornais de grande circulação do país que temos as maiores reservas mundiais de água doce, o maior aquífero do mundo e que até bem pouco tempo tínhamos também a maior hidrelétrica do mundo – e me pergunto o que isso realmente significa. Estamos cuidando bem desses mananciais de superfície e dos mananciais subterrâneos? Temos uma matriz energética realmente limpa e estamos aprimorando a mesma para darmos uma garantia responsável e uma maior comodidade às futuras gerações? A resposta, infelizmente, é não. Temos que realmente rever nossos diagnósticos, revisar nossas perspectivas de futuro, quanto ao crescimento e quanto ao que realmente queremos, bem como quebrar nossos paradigmas de consumo e de como olhamos para o mundo. Desde como exportamos nossa água de maneira virtual, com commodities, que tentam manter nossa balança comercial superavitária, até a primeira lavada de rosto antes de acordar para a vida cotidiana. Temos que mudar e nos reeducar para darmos a possibilidade de um crescimento realmente sustentável a esta grande nação, que muitas vezes tem uma certa megalomania ao se apresentar ao mundo. Devemos sempre nos lembrar que a água não tem cor, principalmente política ou partidária, com que muitos querem tingi-la. Deve-se buscar na conservação da água a sua maior dádiva, que é a da vida.