REGIÃO, PROFISSIONALISMO E INTERDISCIPLINARIDADE NA FORMAÇÃO DO MAGISTÉRIO Antônio Henriques Gonçalves Cunha1 (Unicentro) Resumo: Há três exigências de implicações conceituais para incluirmos na formação do magistério brasileiro em geral e na formação do docente de Língua Portuguesa em particular, e elas são as questões em torno do conceito (1) ampliado de região enquanto setor, local e assunto; do conceito (2) efetivo de profissão, de que se cursa a licenciatura para obter um diploma que abrirá as portas de uma carreira profissional, noção esta que quase não se observa no atual panorama, tomando-a como parte natural; e do conceito (3) necessário de um conjunto que tem tido a má denominação de interdisciplinaridade, a qual existe, parece, só para fazer esquecer aquele conjunto. Aqui, entretanto, funciona como pressuposto de que seja a melhor e a mais qualificadora articulação da formação, porque só se iniciará a plenitude nessa mesma formação quando houver maior integração entre as diversas áreas que compõem hoje a Educação Básica, uma vez que está provado que não é apenas o envolvimento com um ensino, uma pesquisa e uma extensão ou em desconexão no conjunto, ou sonhando com outros ingredientes que nos farão vislumbrar a autêntica revolução para construir as instituições de formação de professores de que necessitamos. Palavras-chave: magistério; burocracia; interdisciplinaridade; instituição; inovações Introdução É bom que se diga a princípio que os problemas ou questões relevantes na formação de professores são quase intermináveis. Contudo, não acredito que se pode pensar a formação do magistério sem evitar considerações usuais, mas que antes se aceite em colocar na mesa para pelo menos conversar sobre os conceitos de região, que é verdadeiramente um cacho semântico; de profissão, que parece óbvio, no entanto, não o é de forma alguma; de interdisciplinaridade, que é muito complexo e que, por isso, é certo que também não conseguirei esgotar aqui. Começo pelo mais simples. Que o magistério seja uma carreira no ensino superior isto é inquestionável tal sua precisão com a correria para se fazer mestrados e doutorados que nos capacitem a entrar nos cursos com todos os papéis indispensáveis para concorrermos com 1 Docente do Curso de Letras, campus Santa Cruz na Unicentro, desde março de 2003, atuou em alguns anos letivos como professor do estágio supervisionado e é ex-coordenador de área no Pibid com os subprojetos “Pequena Mídia Escolar” de agosto de 2011 a fevereiro de 2014; e do subprojeto interdisciplinar de março a agosto de 2014. Email: [email protected] IV Fórum das Licenciaturas/VI Encontro do PIBID/II Encontro PRODOCÊNCIA – Diálogos entre licenciaturas: demandas da contemporaneidade – UNICENTRO – 2015 – ISSN 2237-1400 chances de aprovação nos esperados concursos. Para atuar na Educação Básica, para metade dos seus docentes, é também uma carreira. Contudo, dentro dos currículos das nossas graduações com foco na licenciatura, com boa vontade, nós veremos nelas uma profissão porque tem os estágios, uma palavra simbólica de que quem os faz irá repetir aquilo minimamente talvez nalgum outro lugar, talvez nalguma outra oportunidade em sua vida, afinal sabe lá se não é maioria o número daqueles que nunca mais entrarão numa sala de aula – pensando no fato de que era isso que esperávamos quando somos obrigados a incluir os estágios em nossas grades. Depois de cento e cinquenta anos ainda não considero o magistério em todos os seus níveis uma profissão no sentido cristalino do termo. Isto muito mais por comparação com outras profissões em nossa sociedade. Estamos mais próximos de improvisações amadoras em muitos outros sentidos do que seria o desejável. O segundo conceito é o que nos obriga a considerar a necessidade de regionalizar a teoria e a prática da formação. A transformação do conceito de região de geográfico em filosófico foi feita por Edmund Husserl (Abbagnano, p. 805), e a partir dela não pode haver planejamento teórico sem observar isso, para não desacreditar a realidade com a qual trabalhamos. Em geral, em nossas revisões da literatura para estudarmos a formação de professores pensamos ou abstratamente, ou concretamente em outras regiões, seja no Canadá, como ao ler Maurice Tardif, ou na Suíça, como ao ler Phillipe Perrenoud. Embora, no mais alto grau de análise, esses autores devam ser considerados, quando se organiza um curso para formar professores numa dada localidade, o currículo da instituição precisa atender antes as características regionais. Hoje, um dos principais problemas da nossa cultura é estabelecer relações equilibradas entre o que é mundial, nacional e local, evitando construir uma humanidade desadaptada. O terceiro conceito é o da frequência com que se pensa a formação pelo prisma da disciplina do proponente, quando precisamos ter antes um trabalho em comum ao qual damos o nome irrefletidamente de interdisciplinaridade, aceitando que ela é a mesma coisa de multidisciplinaridade e transdisciplinaridade. Paulo Gomes Lima chama a autoridade de Edgar Morin (Lima, passim), por exemplo, que quis associar novidades de atuação à sugestão de transdisciplinaridade, como a de ir além da disciplinaridade (Morin, 2001). Ora, para considerar as relações dentro de um conjunto o correto é pensar no início em polidisciplinaridade sem dispensar aí dentro qualquer opção, seja disciplinar, seja pluridisciplinar, e, nesta, na inter-, quando se faz um trabalho de colaboração entre IV Fórum das Licenciaturas/VI Encontro do PIBID/II Encontro PRODOCÊNCIA – Diálogos entre licenciaturas: demandas da contemporaneidade – UNICENTRO – 2015 – ISSN 2237-1400 disciplinas; na multi-, quando os limites disciplinares caem ou se enfraquecem para considerar o problema acima de dada disciplina; na trans-, quando disciplinas não tão afins, no começo, interagem posteriormente. Objetivos Objetivo geral Analisar os conceitos de interdisciplinar, de profissão e de região como pressupostos incontornáveis para começar a se falar de uma inovação absoluta na formação de professores. Objetivos específicos a) definir os significados da regionalidade do ponto de vista filosófico e epistemológico; b) polemizar a profissionalidade que envolve o magistério, porque ela não possui a esperada transparência; c) mostrar toda a complexidade por detrás do que seja interdisciplinar e seus diversos ramos; d) retomar o conjunto dos pressupostos que deveriam montar a nova base de uma das principais atividades remuneradas em nossa sociedade e de mais destacado sentido em nossa cultura. Metodologia Em função dos incontáveis prismas que assumiram as proporções do problema do magistério, a operacionalidade conceitual requer um expressivo refinamento metodológico, o qual parte de questões filosóficas, epistemológicas, teóricas, práticas e aplicadas que lhe dão um caráter tão intricado como nenhum outro que envolve a totalidade das ciências, do conhecimento e do saber em nossa sociocultura. Inicialmente, é imprescindível se libertar de todas as abordagens frequentes relacionadas à mera reflexão (Azanha, 2004), ou ao domínio do professor da formação sobre o professor da atuação (Boas, s.d.), ou apenas à pesquisa (Bortolini, 2009), ou à constituição de uma política que não seja plural ou liberal (Freitas, 1992), ou aos programas de uma política governamental que se torna uma emergência frente à pobreza de sugestões da sociedade civil (MEC, s.d.), ou às ênfases na formação contínua quando o que realmente ela é o elemento mais fácil e imediato para se tratar e não o exatamente pilar mestre do conjunto (Murcho, s. d.), ou às competências que nada IV Fórum das Licenciaturas/VI Encontro do PIBID/II Encontro PRODOCÊNCIA – Diálogos entre licenciaturas: demandas da contemporaneidade – UNICENTRO – 2015 – ISSN 2237-1400 acrescentam se o sistema escolar segue regras ou situações que por mais competente que sejamos não conseguimos trabalhar na direção correta (Perrenoud, 2000), como no caso de saber fazer provas perfeitas apenas para testar se houve memorização da matéria (Vicária et alii, 2011), ou fica claro que os saberes profissionais ganham proeminência repelindo qualquer intervenção (Tardif, 2012), o que por si só já mostra a importância de balizarmos a formação com os saberes adequados que vão solidificar futuramente as práticas. Este resumo que coordena os três conceitos já citados foi orientado por uma pesquisa dirigida aos conteúdos literários para a atuação na aula de Língua Portuguesa, os quais pretendem que o docente dessa disciplina trabalhe com os elementos criativos da localidade, a fim de que a cultura autóctone possa futuramente criar um programa através das secretarias de cultura que implantarão as políticas diversificadores de entretimento. Julgo, porém, que não se pode trabalhar para uma disciplina sem mencionar e sem tangenciar o problema que promove a esterilidade, qual seja o de um magistério sem noção da polidisciplinaridade. Resultados No momento, este acesso que estou dando aqui à análise da formação do magistério está muito, mas muito longe do seu ideal. No entanto, me alegra que possa julgar que estou mais próximo do que o estão aqueles que têm abordado frequentemente essa dolorosa e central questão, que pensam apenas em fatores óbvios sem qualquer lacuna como a que verifico quando falta algo inusitado como a citada regionalidade, ou em aceitar como ponto pacífico a profissionalização, quando a permanência do vazio aqui se aproxima do teatro do absurdo ou como dotada de um abismo de nos deixar os suores frios indefinidamente, ou em pensar que nossa carreira isolada ou disciplinarmente falando vai conseguir chegar a qualquer solução como o esperam os nossos departamentos universitários na atualidade, eles assim só para atender nossas carreiras particulares e alguma coisa em função dos currículos em nossos habituais e aí confortáveis cursos. Portanto, se alguém espera soluções para já, é melhor saber ir contornando os óbices, sem acreditar que encontramos o fio da meada. Sempre sustento que só há boas opções naquilo em que podemos atuar todos os dias, e nisso reconheço que, entre os três conceitos para os quais solicito atenção, só a profissionalização é alguma coisa que está presente cotidianamente enquanto fenômeno, porque pelo que deve preocupar os professores todos os IV Fórum das Licenciaturas/VI Encontro do PIBID/II Encontro PRODOCÊNCIA – Diálogos entre licenciaturas: demandas da contemporaneidade – UNICENTRO – 2015 – ISSN 2237-1400 dias – estamos muito longe também disso, afinal percebo uma satisfação em todas as direções quanto a esse fator. Não se espere também por tópicos ou itens redentores, quando não temos instituições formadoras apropriadas e, quem considera as licenciaturas como tais, destila uma inocência gravíssima, se é que é possível merecer uma suspeita dessa estatura, e instituições são condições socioculturais obrigatórias acima de qualquer doutrina ou conceito; quando não temos temas e ou assuntos fecundos para serem considerados como essenciais, e essência não é coisa lá apenas da Metafísica; quando da profissão fazemos ideia de que seja a fonte dos salários ou da carteira profissional assinada, com o devido registro na sua página correta. Portanto, nossas investigações devem continuar. Caso, aqui, eu consiga comover alguém, desde já gostaria de contar para formular temas para projetos na formação de docentes, que formalizo com uma linha de pesquisa para especificamente os professores envolvidos com a Língua Portuguesa e uma outra para os professores de qualquer carreira outra linha de pesquisa a ser conhecida, a qual vai ser construída daqui para frente para auxiliar na sistematização dos trabalhos das posturas não tão ajeitadas como a que caracteriza os trabalhos de quem se obriga, com isso, a partir de outras e desconhecidas pretensões. Referências ABBAGNANO, Nicola. Região. In Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982. AZANHA, José Mário Pires. Uma reflexão sobre a formação do professor da escola básica. Educação e Pesquisa, vol. 30, n. 2, São Paulo, Maio/Agosto, 2004. http://dx.doi.org/10.1590/S1517-97022004000200016 BOAS, Lucia Pintor Santiso Villas. A formação do professor como ponto fundamental. 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