Contra a barbárie na UFRJ “Caros amigos, Estou escrevendo este relato para narrar o que ocorreu na UFRJ ontem pela manhã quando o Conselho Universitário aprovou o Plano de Reestruturação e Expansão da UFRJ. O Plano já vinha sendo discutido no âmbito do PDI há quase dois anos e se enquadra perfeitamente nos termos do REUNI. O plano foi divido em três módulos. O primeiro – que foi aprovado ontem – consistia das propostas das unidades de expansão de vagas de entrada, cerca de 3500 (hoje são 7900), incluindo as do programa de interiorização nos campi de Macaé e Xerém. O plano todo foi exaustivamente discutido, tanto em reuniões institucionais abertas nas congregações de unidades e conselhos de Centros, como em 10 audiências públicas. Enfim, neste processo ficou claro que um conjunto de estudantes estava sendo liderado pela ADUFRJ (Assoc. de Docentes da UFRJ) que, na falência de sua representatividade junto aos professores, resolveu articular e organizar o movimento estudantil vinculado ao CONLUTAS. Na UFRJ o DCE participou de forma ativa e propositiva do processo de debate; logo estamos falando da oposição ao DCE. A ADUFRJ, que estava responsável por uma das audiências públicas a serem realizadas, resolveu fazer um “grande esforço de mobilização” para intimidar a Reitoria e encaminhar sua proposta de barrar o Reuni. Fez um cartaz com uma caricatura muito desrespeitosa do Reitor e do Conselho Universitário, convocou todos os professores por email e conclamou os representantes de categoria no Conselho Universitário a realizar reuniões com os professores para barrar o Reuni. À reunião com a ADUFRJ compareceram, além da Reitoria e da Diretoria, apenas três professores, que exigiram que a ADUFRJ mudasse de posição. Em muitas das audiências públicas os estudantes, apoiados pela ANDES e ADUFRJ, tentaram transformar em circo as discussões. Invadiam as reuniões com a militância de toda a universidade (leia-se movimento estudantil ligado ao CONLUTAS). Alguns servidores se incorporaram ao circo. Na maioria das reuniões enfrentaram forte resistência da comunidade, tanto das forças políticas que queriam discutir o futuro da universidade, como daqueles que apenas queriam saber mais e participar do processo. Só conseguiram tumultuar de verdade as reuniões no Campus da Praia Vermelha. Nestas ações mostraram que não estavam interessados no debate, mas em impedir as discussões com uma atitude agressiva e intimidatória, com claques barulhentas que vaiavam e tentavam impedir de falar todos que estavam contra suas posições. Na quarta feira, militantes de todo o Estado, financiados pela ADUFF e ADUFRJ, invadiram o Conselho Universitário e o reitor adiou a seção para a semana seguinte. Este recuo deu força à truculência. Prepararam então a invasão do Conselho da UFRJ com toda prepotência, anunciando antecipada e publicamente o pretendiam fazer. O Reitor decidiu manter a seção e a transferiu para o auditório do Centro de Tecnologia. Os professores se mobilizaram para enfrentar a prepotência daqueles que pretendiam impedir pela violência que se expressasse a enorme maioria que se construíra num longo processo democrático de debates. O auditório do Centro de Tecnologia é muito grande. Tem capacidade para 860 pessoas sentadas, mas cabem mais de 1000. Às 9h15, quando começou a reunião do Conselho, havia cerca de 300 pessoas no auditório. O Reitor Aloísio abriu o expediente e logo depois 300 alunos e militantes partidários de todo o Rio de Janeiro, em sua maioria de fora da UFRJ, invadiram a reunião e começaram com suas ameaças logo na entrada, gritando que o Conselho não iria votar e se posicionando na frente do palco onde estavam os conselheiros. A garotada do DCE estava intimidada pelo barulho e agressividade dos que vinham de fora e que, ostensivamente, ameaçando invadir o palco e agredir os Conselheiros. Neste momento outros colegas e eu nos colocamos à frente do palco e começamos a vaiar as ações do grupo. O Auditório acompanhou e calou a boca da tropa neofascista. A atuação do Aloísio foi fantástica, combinando paciência e tolerância com firmeza e autoridade. Fez cumprir o regimento. Um dos representantes dos Servidores no Conselho, o Agnaldo, marido da Marina, ex-presidente da ANDES, uma das líderes da invasão encabeçada pela ADUFRJ, pediu a palavra para a ADUFRJ. O discurso da AD foi um desastre e deixou todos os professores presentes, e não eram poucos, irritados porque evidenciou submissão a uma estratégia partidária. Se a AD era um cadáver insepulto, ontem eles mesmos se encarregaram de sepultá-lo de vez. Foi lido o parecer da Comissão, debaixo de gritos com ofensas e vaias, e, enquanto tudo isto acontecia, muitos conselheiros se articulavam para uma votação rápida. O Agnaldo então tentou fazer uma questão de ordem e utilizou o microfone para estimular a invasão do palco. Quando o Reitor declarou que o processo estava pronto para ser votado um dos meninos que estava na escada que dá acesso ao palco gritou para invadir o palco. Conseguimos impedir que invadissem o palco o tempo suficiente para votar o plano, que foi aprovado por esmagadora maioria. A prepotência desta gente fechou o Conselho com o Reitor e a institucionalidade. Numa seção normal haveria mais votos contra. O Reitor encerrou a sessão e aí a pancadaria comeu de vez. Muitos conselheiros se envolveram na confusão e alguns foram agredidos. Quando acabou a reunião um grupo enorme de professores veio nos cumprimentar, talvez uns cem, ou perto disto. Declararam espontaneamente que estavam indo a ADUFRJ se desfiliar e que lançariam um movimento de desfiliação em massa. Realmente muitos foram à secretaria da ADUFRJ. Foi uma vitória muito importante. Mas ficou a lição de que não se pode aceitar a prepotência, a agressividade e a violência. Como disse José Saramago o limite da tolerância é a intolerância. Um abraço cordial a todos. Fernando Amorim (Diretor do PROIFES e professor da UFRJ) outubro de 2007.”