Capítulo 3
Trabalho de Campo
Investigação Qualitativa em Educação, Robert
Bogdan e Sari Biklen
Ana Carolina Carvalho
O que vamos abordar?
• Introduzindo o assunto – por que ir a campo? Como
definir o campo?
• Com o que nos deparamos quando vamos a campo:
• modos de acesso – autorização - e de investigação;
• estabelecimento de relações almejando o melhor para
a investigação;
• imprevistos, sentimentos, modos de participação e de
conduta;
• procedimentos e instrumentos utilizados na
investigação – observação, entrevista, fotografia;
• final da investigação.
É difícil entender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva;
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica.
Vida e Morte Severina
João Cabral de Melo Neto
Por que ir à campo?
• Que modo é esse de empreender uma investigação? Por
que escolhemos ir à campo?
• Pela possibilidade de conhecer, observar, investigar nossos
sujeitos em seu ambiente, nos seus afazeres cotidianos, em
suas relações.
• E porque acreditamos que tudo isso faz parte do que
queremos pesquisar, nos interessa, faz diferença e nos
oferece respostas, novos questionamentos, enfim,
elementos para que possamos compreender melhor o
nosso objeto/nossos sujeitos. Elementos que estão neles,
constituindo-os, e também sendo alterados por eles.
• Como diz o poeta, ver a fábrica que a vida – esta que
queremos investigar – teimosamente se fabrica.
Dialogando com outra pesquisadora
•
Apoiando-me em Bogdan e Biklen (1994), compreendo que também na
investigação qualitativa de cunho sócio-histórico vai-se a campo com uma
preocupação inicial, um objetivo central, uma questão orientadora. Para buscar
compreender a questão formulada é necessário inicialmente uma aproximação, ou
melhor, uma imersão no campo para familiarizar-se com a situação ou com os
sujeitos a serem pesquisados. Para tal, o pesquisador frequenta os locais em que
acontecem os fatos nos quais está interessado, preocupando-se em observá-los,
entrar em contato com pessoas, conversando e recolhendo material produzido por
elas ou a elas relacionado. Procura dessa maneira trabalhar com dados qualitativos
que envolvem a descrição pormenorizada das pessoas, locais e fatos envolvidos. A
partir daí, ligadas à questão orientadora, vão surgindo outras questões que levarão
a uma compreensão da situação estudada.
A abordagem sócio-histórica como orientadora da pesquisa qualitativa, In: Cad.
Pesqui. no.116 São Paulo July 2002
Maria Teresa de Assunção Freitas
Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora
O trabalho de campo não só possibilita que o pesquisador
entre em contato com o seu objeto em seu ambiente natural,
na totalidade de suas relações, mas, ao promover este
contato, traz novas questões ao pesquisador, e estas lhe
possibilitam que novas e essenciais compreensões sejam por
ele realizadas. O pesquisador qualitativo também vai a
campo para poder desenvolver e problematizar mais a sua
questão inicial. E desta forma, aproximar-se mais do seu
objeto. (dialogo também com a apresentação de Oton e
Elizena).
Um exemplo sobre o que se encontrou indo a campo
e suas relações com o objeto ou a riqueza do trabalho
de campo
• Maria Helena Souza Patto – A produção do fracasso escolar.
• Nesta pesquisa, buscou-se investigar as causas de seguidas
reprovações escolares e consequentes evasões de alunos
ainda nas séries iniciais do hoje ensino fundamental. Foi
realizada durante a década de 1980, em São Paulo, numa
escola pública de um bairro de periferia.
• A produção do fracasso escolar pela própria escola, que
estigmatiza crianças consideradas “problemáticas”, evidenciase no modo como as relações se dão no cotidiano da escola,
como esta trata essas crianças e suas famílias, algo que só foi
possível constatar indo a campo, observando situações em
sala de aula e entrevistando professores, as crianças e suas
famílias.
Sobre a “força do trabalho de campo” desta pesquisa, Sylvia Leser de Mello escreve,
no prefácio:
Aqui está a parte inestimável do trabalho de Maria Helena. Ele comove porque é,
sem dúvida, um trabalho inconformado, que não vê com naturalidade o processo de
exclusão que as crianças das camadas populares sofrem na escola pública de 1º grau.
Escolhendo autores voltados para o estudo da vida cotidiana, em especial Agnes
Heller, ela vai, muito coerentemente, às escolas, e senta nos bancos escolares, para
conviver com a sala de aula, local privilegiado onde ocorre o verdadeiro ensino.
Talvez fosse necessária a sensibilidade do psicólogo aos múltiplos e possíveis cenários
onde os interiores se expõem, para que se pudesse ter a visão miúda do dia-a-dia da
sala de aula, sem ser a visão corriqueira. O estudo do cotidiano da sala de aula
possui um poder de revelação extraordinário, porque só através dele nos é dado
acompanhar (e compreender) dramas amargos (...), mas que são diários, repetidos,
transformados em comuns, banais. A mais elementar necessidade torna-se vulgar, a
ofensa, a desqualificação, triviais. A sala de aula põe à mostra a distância que vai do
sentimento à ação e desta à palavra.
A definição do campo está sempre de
acordo com o objeto
Se vamos pesquisar situações de aprendizagem e
práticas escolares não é difícil supor que
escolheremos a escola como nosso campo de
investigação. Se vamos pesquisar práticas de leitura,
podemos escolher bibliotecas, mas será que o campo
e sua escolha são sempre óbvios?
A seguir, um trecho do relato de pesquisa de Maria
Teresa Freitas, no qual ela problematiza a definição
do campo, e mais adiante, o modo em que ela e
pesquisadores obtiveram acesso ao campo e como
as relações foram se estabelecendo.
Sobre a pesquisa
• Estudo
que
buscou
investigar
a
construção/produção
da
escrita
de
adolescentes na internet.
• Aproximações com o campo – pesquisadores
passaram a usar a internet como ferramenta
de interação entre si, com trocas intensas de
e-mails, criação de um grupo para troca de
mensagens e de uma home page.
Sobre a definição do campo e as
interações com os sujeitos
•
Querendo focalizar o usuário da Internet em seu ambiente, pela observação
participante, deparamo-nos com uma dificuldade. Como escolher os sujeitos e
como realizar essa observação? De acordo com Vygotsky (1991) o estudo de
situações fundamentalmente novas exigem inevitavelmente novos métodos de
investigação e análise. Foi o que aconteceu, pois percebemos que a observação
não poderia ser a usual, mas o novo meio exigia uma adequação dessa técnica.
Deveríamos interagir com os potenciais sujeitos da pesquisa no interior de um
espaço virtual, participando de chats, usando e-mails etc. Conscientes de que
numa pesquisa qualitativa o movimento inicial deve ser o de aproximação,
buscamos uma inserção no campo a ser investigado, visando compreender o que
queríamos estudar, estabelecendo uma convivência com o novo meio, tornandonos nós mesmos internautas. Assim, desejando desvelar essa nova realidade,
ainda pouco vivenciada, percebemos que, para melhor compreendê-la, seria
preciso partir de uma imersão mais profunda no mundo virtual6, convivendo com
o próprio objeto de investigação. Navegamos por horas a fio, visitamos sites de
nossos interesses e de possíveis interesses para os adolescentes, utilizamos o
correio eletrônico como meio de comunicação. Pg. 7
• A opção por essa observação virtual justificouse pelo fato de não estarmos, assim, criando
uma situação artificial de pesquisa, pois,
interagindo com os internautas em seu meio
natural poderíamos observá-los de forma
completa e, simultaneamente, compreender
sua escrita a partir do meio no qual estavam
inseridos. Pg. 7
Como as condições ideais do trabalho
de campo são apresentadas no livro?
• No trabalho de campo, o investigador entra no
mundo do sujeito, mas permanece do lado de fora.
Registra de forma não intrusiva o que vai
acontecendo, descreve situações. Tenta aprender
algo através do sujeito, embora não tente
necessariamente ser como ele. Aprende o modo de
pensar do sujeito, mas não pensa do mesmo modo.
• É empático e, simultaneamente, reflexivo.
O trabalho de campo refere-se ao estar dentro do
mundo do sujeito da forma acima descrita – não
como alguém que faz uma pequena paragem ao
passar, mas como quem vai fazer uma visita; não
como uma pessoa que quer ser como o sujeito, mas
como alguém que procura saber o que é ser como
ele. Trabalha para ganhar a aceitação do sujeito, não
como um fim em si, mas porque isto abre a
possibilidade de prosseguir os objetivos da
investigação (Geertz, 1979, p.241)
Mas estas afirmações todas sobre a presença e a
relação do investigador em seu campo guardam
uma ideia ótima do que isto seja. Residem no campo
do ideal.
Pelo que posso compreender, a partir do que estamos conversando
até agora, estar no campo significa buscar esse ideal de relação, mas
também ser surpreendido por fatores inesperados, desde a forma
como poderemos ser recebidos, até o que podemos sentir ao
estarmos no ambiente que vamos investigar, as surpresas boas ou
ruins, os “desvios de rota” em relação às expectativas iniciais, os erros
ou falhas de pesquisadores iniciantes. Enfim, tudo o que pode nos
acontecer quando estamos em ambiente não controlado, mas natural.
Se não podemos controlar o que vai nos acontecer, há certos cuidados
que podemos tomar ao adentrar o campo.
Modos de investigação e abordagem
• Nas palavras de Maria Teresa:
• “Enfim, no período de março a julho de 2000, mergulhamos no
trabalho de campo realizando o que se denomina observação
virtual, interagindo com adolescentes em salas de bate-papo,
em chats do MIRC ou da WEB, em listas de discussão e por e-mails.
Dessa forma, empenhamo-nos em uma coleta de artefatos e de
dados significativos, mas sem uma preocupação de definir sujeitos
específicos. Isso provocou uma profunda discussão acerca da ética,
pois, estaríamos interagindo com adolescentes via chats e emails sem explicitar a situação de pesquisa e o nosso papel de
pesquisadores. Contudo, chegamos à conclusão de que o
próprio nickname já garantiria o anonimato dos sujeitos.”
• Os pesquisadores realizam dessa maneira o que entendemos por
uma investigação dissimulada - obtenção dos dados sem o
consentimento dos sujeitos.
Se a abordagem é direta, é necessário
obter acesso ao campo
• O investigador explicita os seus interesses e tenta
que os sujeitos que vai estudar cooperem com
ele.
• Neste caso, uma autorização deve ser solicitada.
• Autorização – obtê-la poderá facilitar aceitação
do pesquisador, além do pesquisador se ver livre
das obrigações de um participante – isso pode
acarretar excesso de trabalho se o investigador
coloca-se no lugar de um professor, por exemplo.
Questionamentos e informações
importantes que podem surgir no
início do trabalho
1. O que é que se vai fazer exatamente?
2. A pesquisa irá causar algum tipo de
perturbação? – procedimentos e
instrumentos.
3. O que é que se vai fazer com os resultados?
4. Por que nós?
5. Quais são os benefícios do estudo?
Outros cuidados e questões do início
da pesquisa
• Primeiros dias – expectativas do pesquisador (com o que
ele pode de fato se comprometer?) e de quem é
pesquisado, talvez seja necessário lidar com receios de
quem é observado.
• Um dos modos de se lidar com esses receios é esclarecer
ao máximo objetivos e usos - garantindo o retorno para a
instituição – a pesquisa como instrumento real para
reflexão e para melhorar melhorar a prática – compromisso
ético. E também de valorizar a própria pesquisa.
• Sensações iniciais do pesquisador – sentimentos de
estranheza em relação ao seu papel de investigador ou ao
próprio ambiente.
Maria Teresa e a sensação de ser
entranha no ninho
• Foi muito rico o período em que penetramos na corrente
da linguagem dos internautas. A princípio nos sentimos
"estranhos no ninho", ao iniciarmos nossa incursão
pelos chats. Convivemos com termos próprios aos quais
não estávamos acostumados, tivemos que adotar
um nickname, conhecer e seguir as regras estabelecidas
para a comunicação virtual. Fomos identificados pelos
internautas como calouros e novatos pelo nosso modo de
expressar tão diferente do deles. Era como se fôssemos
aprendizes de uma nova língua. Aos poucos, penetrando na
corrente dessa linguagem, fomos adotando os termos
próprios, a forma específica de escrever, de teclar. Já não
mais éramos estranhos e começávamos a fazer parte no
novo grupo cultural.
Por muitas vezes enfrentamos o desejo de desistir, o medo de
não conseguir. Mas a cada novo navegar interagíamos com
essa escrita teclada e percebíamos suas peculiaridades. A
cada reunião ouvíamos relatos de observações que deram
certo, que trouxeram frutos, e o trabalho seguia. E a cada
leitura nova, renovávamos os interesses e buscávamos
aprofundar os conhecimentos sobre o foco de análise.
Maria Helena e os sentimentos que sua pesquisa e presença da
pesquisadora causaram numa das professoras observadas
• Desde nosso primeiro contato com Neide (uma das
professoras) – no qual nos apresentamos e falamos sobre a
pesquisa que pretendíamos desenvolver na escola do Jardim –
estivemos diante de suas condições adversas de vida e de
trabalho; abatida, apressada e ansiosa, mal conseguiu prestar
atenção às nossas colocações. (...) Após poucos minutos
conosco no hall de entrada, pediu licença e retirou-se, não
escondendo a sua falta de condições para conversar ou para
se propor a qualquer colaboração. Quando voltamos a
encontrá-la, concordou que frequentássemos a sua classe
mas imediatamente se defendeu, informando-nos que tinha
14 crianças problemáticas na classe.
Mostrou-se insegura e desconfiada com nossa presença mas
não expressou esses sentimentos nem se sentiu no direito de
recusá-la. O fato de que estaríamos simultaneamente em sua
classe e na classe de Marisa (uma professora “boa” para os
alunos) despertou-lhe muita ansiedade, ora de natureza
persecutória, ora de natureza depressiva.
No final do trabalho, a professora pode falar
sobre esses sentimentos que estavam presentes
desde o início
• Vocês falaram que iam fazer uma comparação entre as duas classes,
daí eu fiquei com medo – será que vou dar conta? Será que vou
fazer a programação direito em casa? – o caderninho da Ianni eu
queria saber o que era, cheguei a falar com a Maria José... Ainda
mais os problemas de casa, ainda mais aquele dia você falou
comigo calma e eu chorando, pensei: eu vou deixar uma péssima
impressão... Daí tinha alguém me observando, pensei que estava
me avaliando; daí comecei a mostrar pra elas as crianças
problemáticas da classe, chamar atenção pra elas. “Vai sair um
relatório da minha pessoa”, eu pensava. Eu vivia perguntando: o
que ela vai falar? Ela não vai voltar? Depois a Ianni não veio mais, a
outra continuou na outra classe, fiquei apavorada, achando que era
eu... Estava até comentando: fiquei preocupada com aquele
caderninho.
A qualidade do trabalho de campo depende das relações que
estabelecemos e da preocupação com detalhes
• A despeito da excelência da pesquisa de Maria Helena,
a fala da professora pode nos trazer alguns
questionamentos:
• A professora estava devidamente informada sobre a
pesquisa e o porquê da observação em sua sala?
• Dizer que iriam (se é que disseram assim) realizar uma
comparação entre duas salas foi positivo nesse caso?
Em algum caso seria positivo?
• Será que as notas deveriam ter sido tomadas em sua
frente?
• Ela foi avisada sobre a saída da pesquisadora?
Formas de investigação
Observador participante - Quanto
participar?
• Entre dois extremos – do observador completo, que
não participa de nenhuma atividade, só olha e do
observador que está envolvido com a instituição,
situam-se os demais modos de ser um observador
participante.
• Como é estar na escola sendo educador?
• Os autores sugerem alguns cuidados – não tente
corrigir práticas ou ensinar o que sabe, não tente
posicionar-se diante de conflitos, ao contrário,
mantenha a neutralidade e seja discreto, tanto em
relação ao seu envolvimento, quanto à presença física.
Filmes que podem nos fazer sentir
como um observador completo
• E se o pesquisador for convocado a participar
mais ativamente?
• Os autores sugerem uma participação
moderada. Mas, afinal, o que é uma participação
moderada?
• A medida é um tanto pessoal. O modo de estar
em campo vai sendo definido ao longo do
trabalho e de acordo com o jeito de ser do
entrevistador. Mas deve-se considerar sempre o
foco do objetivo da pesquisa.
Sentimentos: ajudam ou prejudicam?
• O pesquisador é também ativo na
observação– ele está lá, sente, pensa coisas.
• Sentimentos podem ser usados como aliados,
na medida em que facilitam a identificação
com o sujeito e, desse modo, a compreensão
do que ele vive.
Um texto que aborda tanto os sentimentos
quanto a participação do observador
• Seu nome é Bruno. (...) Sei que ele teve um longo processo de
adaptação atrapalhado por muitas faltas, quase sempre por
problemas de saúde. Quase 3 anos, mas não andava nem falava.
Para completar, tomava um remédio fortíssimo por causa da
epilepsia. Sem firmeza nas pernas, nos braços, não segurava nem o
giz de cera. Como não sentava-se sozinho, eu o acompanhava nos
momentos de atividade, quando estava lá. Era preciso apoiá-lo em
meu peito como se fosse uma poltroninha e mesmo assim
escorregava. Uma professora que trabalhara com deficientes
visuais, disse que um diagnóstico mais atento poderia confirmar,
mas pelos sinais que pode observar, existia a possibilidade de
problemas de visão. Isto explicaria porque ele se apegava tanto ao
colo das pessoas: não queria ficar sozinho. Que solidão devia ser!
Bruno, suas professoras e as outras crianças.
Silvana Augusto para Revista Avisa Lá, n. 1, setembro de 1999.
A entrevista na pesquisa qualitativa
• Fizemos uso da entrevista, em acordo com
Bogdan e Biklen (1994), que a consideram o
melhor instrumento de abordagem para o
estudo de pessoas que partilham uma
característica particular. Aquilo que partilham
entre si revelar-se-á mais claramente quando
cada um puder falar de suas perspectivas,
mais do que quando observado em suas
atividades. (Maria Teresa Freitas, pg. 9)
• Estratégia dominante ou de forma combinada
com observação participante, análise de
documentos, etc.
• Objetivo: obter dados descritivos na
linguagem do próprio sujeito, permitindo ao
investigador desenvolver intuitivamente uma
ideia sobre a maneira como os sujeitos
interpretam aspectos do mundo.
Tipos de entrevista quanto ao grau de
estruturação
• Relativamente aberta – centra-se em tópicos
determinados ou pode ser guiadas por questões gerais,
mesmo com um roteiro, esse tipo de entrevista oferece
ao entrevistador uma amplitude de temas considerável,
que permitem levantar uma série de tópicos. Além disso,
o sujeito molda o seu conteúdo.
• Muito aberta – o entrevistador encoraja o sujeito a falar
sobre uma área de interesse para retomá-la mais
profundamente, retomando temas e tópicos. O sujeito
tem um papel crucial na definição do conteúdo da
entrevista e condução da pesquisa.
• O tipo de entrevista é definido de acordo com o objetivo
da investigação.
Entrevistas de histórias de vida
• Material – vídeos do Museu da Pessoa.
• Entrevistas de Lourdes e Antonio.
Objetivo das entrevistas: revelar a história de vida dos sujeitos,
desde o seu ponto de vista, buscando uma narrativa bastante
descritiva que nos possibilite conhecer quem é aquela pessoa,
como ela viveu, o que pensa, quais foram as tramas de sua vida.
• “Entrevistar não é somente um mecanismo para reunir
informações. São necessárias habilidades humanas como
paciência, humildade, vontade de aprender com os outros e
de respeitar seus pontos de vista, mesmo que você não
compartilhe destes” Hugo Slim e Paul Thompson
Exemplos de perguntas feitas pelo
entrevistador
• Quais foram as perguntas que ajudaram os
entrevistados a falar mais de si? Quais foram
as que não ajudaram?
• Quais foram as perguntas que acompanharam
o movimento dos sujeitos e que exploraram o
que eles tinham a dizer?
• Lourdes – valorização da história contada sobre o trem que ia a
Mogi das Cruzes possibilitou que ela contasse sobre uma parte
importante de sua juventude e que falasse sobre a sua relação com
a música.
• Antonio – se o objetivo da entrevista for conhecer a história de vida
do entrevistado, uma pergunta opinativa desvia nosso foco – o
entrevistado deixa de falar de si para falar sobre o que pensa sobre
determinado assunto. Por vezes, as opiniões fazem parte do senso
comum.
• Eu penso que o senhor deve ter sentido isso ou aquilo... Quando o
entrevistado exprime a sua opinião, ele acaba conduzindo ou quiçá
alterando a visão do entrevistado sobre o assunto. Ao expressar a
sua opinião, o entrevistador espera que o entrevistado concorde
com aquilo.
• O entrevistado poderia ter falado algo sobre a viagem no navio
alemão para cá? Parece que ele gostaria de contar algo sobre isso.
Uma viagem a um país desconhecido no qual se vai morar deve ser
uma experiência e tanto para o imigrante.
Fotografia
• efeito que a máquina tem nas pessoas –
informação sobre o “melhor” que os sujeitos
têm a mostrar, valores. Isso pode ser muito
interessante, se for o objetivo da pesquisa.
• registro do que é típico e natural em um
contexto. Invisibilidade do investigador. E
muita clareza do que se quer fotografar!
Alguns registros fotográficos
As imagens a seguir revelam que o registro fotográfico tem sempre
uma intenção e esta guia tanto a postura quanto às escolhas e
como fotografar. No exemplo que se segue, a foto inicial não
revelava o que se queria, que era na verdade, mostrar – a interação
das crianças nas brincadeiras e como elas brincavam. Foi preciso um
trabalho de formação com gestores e professores, para que eles
pudessem proporcionar situações de interação entre as crianças,
mas também desenvolver um olhar para a forma como elas
brincavam e interagiam. A partir daí, houve uma mudança em
relação a como as fotos eram tiradas.
Programa Formar em Rede – Instituto Avisa Lá, SP.
Fotos tiradas no município de Teixeira de Freitas, BA.
Formadora: Kézia Duarte e Alessandra Souza.
Consultora: Renata Frauendorf
Trabalhar só com a fotografia?
• Os autores expõe alguns problemas, mas também
citam que há opiniões controversas.
• Quais seriam os problemas?
• Intrusão;
• Fotografia veicula relações ou comportamentos
congelados – perde-se, por exemplo, toda a riqueza
verbal.
• Sugestão dos autores: trabalhar de forma colaborativa
– fotografia e observação com registros que possam
proporcionar o sentido de toda a textura de relações
que não podem ser veiculadas fotograficamente.
Abandonar o campo
• Se há sentimentos complexos na entrada, há outros com os
quais o investigador poderá ter de lidar na saída:
• Sensação de abandono dos sujeitos – eles precisam de
mim;
• Sensação de perder dados importantes, do que ainda
poderia observar – já que percebeu que, quanto mais está
no campo, mais questões emergem, mais relações se
estabelecem;
• Deixando uma porta aberta... Possibilidades de volta ao
campo – para mais obtenção de dados ou para estudos
longitudinais.
Documentário
http://www.youtube.com/watch?v=g5W7mfO
vqmU
17m33s
Trecho da entrevista com João Jardim, por Solange
Jobim e Souza
• Uma questão que pontuou a entrevista em diferentes
momentos diz respeito à linguagem do próprio gênero
documentário no contexto cinematográfico. Indaguei se o
processo de realização deste documentário não poderia ser
comparado à tarefa do pesquisador em ciências humanas. Ou
seja, será que o diretor João Jardim, concluídas as filmagens
não se deparou com surpresas, com histórias imprevisíveis
que poderiam até mudar o foco das questões planejadas,
mesmo que o roteiro contasse com um fio condutor preciso?
Tive a sensação de que ao longo do processo foram se
revelando questões não imaginadas e que apareceram
naquele contexto específico.
O processo de elaboração do filme também se
aproxima de muitos temas que tratamos aqui
Entrevista de João Jardim ao jornalista Sérgio Rizzo, do UOL Educação.
Como você chegou às escolas que aparecem no filme?
Um dos objetivos principais era que elas fossem medianas. Nem muito ruins, nem
muito boas. Não queria fazer um filme-denúncia. Duas delas, a de Duque de Caxias
(RJ) e a de Itaquaquecetuba (SP), receberam da Unesco o prêmio de escolas
inovadoras em 2003. Então, fui olhar como elas seriam, para pesquisar, ainda sem
pensar em filmá-las. Entrando lá, vi a contradição que eu buscava: tinham coisas
boas e coisas ruins. Ao mesmo tempo, foram escolas que se abriram muito para o
filme. As diretoras foram muito simpáticas à ideia. Isso era importante porque
escola é um lugar muito fechado. Em outras, eu entrava e as pessoas diziam: "você
pode vir aqui só de segunda e quinta?". Entendi que essa limitação poderia não
permitir fazer o que eu queria. Fui vendo que ou o filme iria ganhar uma cara de
denúncia, porque algumas escolas são muito ruins, ou que então eu não teria
liberdade. Acabei voltando para as primeiras. O critério geral foi a receptividade
que eu tinha na escola, e a possibilidade de a escola ter contrastes entre o bom e o
ruim, para que o filme não tomasse um caráter de denúncia.
E como você se inseriu no cotidiano escolar?
Foi um processo muito longo dentro das escolas. Como moro no Rio de
Janeiro, fui à de Caxias no mínimo dez vezes, em dois ou três dias seguidos,
para entender, ver como funcionava, antes de filmar. Depois, filmei em várias
etapas. Filmava um pouco, aí voltava três meses depois. Nesse ínterim, eu
retornava sozinho à escola. Precisava ter mais intimidade. Esta é a grande
diferença do trabalho: ele foi feito num período longo, depois de um longo
período de maturação, e um longo período de intimidade com as pessoas.
Isso permitiu uma relação com eles que foi muito proveitosa para o filme.
"Ih, lá vem o João", diziam.
Como foi recebido pelos professores?
Com muita desconfiança. Variava de professor para professor. Mas todos eles
apoiavam o trabalho. Tinham medo de que eu falasse mal deles. Que eu
fosse fazer um trabalho que dissesse que o professor não ensina ou sei lá o
quê.
Referências Bibliográficas e sites
consultados
•
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Freitas, M. T. A. A abordagem sócio-histórica como orientadora da
pesquisa qualitativa, In: Cad. Pesqui. no.116 São Paulo July 2002. Patto,
M. H. S. A produção do fracasso escolar. São Paulo: T. A. Queirós, 1990.
Augusto, S. Bruno, sua professora e as outras crianças. Revista Avisa Lá, n.
1. 1999.
História falada, memória, rede e mudança social. SESC SP, Museu da
Pessoa, Imprensa Oficial.
http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/119/artigo234116-1.asp. Acesso
18/04/13
http://www.psicologia.ufrj.br Acesso 15/04/13
• http://www.youtube.com/watch?v=g5W7mfOvqmU Acesso 15/04/13
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Capítulo 3 - Faculdade de Educação