Metodologia Científica A pesquisa e os métodos científicos Centro Universitário Franciscano – Curso de Comunicação Social As qualificações do pesquisador Alguns atributos pessoais são desejáveis para você ser um bom pesquisador. Para Gil (1999), um bom pesquisador precisa, além do conhecimento do assunto, ter curiosidade, criatividade, integridade intelectual e sensibilidade social. São igualmente importantes a humildade para ter atitude autocorretiva, a imaginação disciplinada, a perseverança, a paciência e a confiança na experiência. O sucesso como pesquisador está vinculado, à sua capacidade de captar recursos, enredar pessoas para trabalhar em sua equipe e fazer alianças que proporcionem a tecnologia e os equipamentos necessários para o desenvolvimento de sua pesquisa. Quanto maior for o seu prestígio e reconhecimento, obtido pelas suas publicações, maior será o seu poder de persuasão e sedução no processo de fazer aliados. Pesquisar é: Informar-se a respeito de; empregar meios para se chegar ao conhecimento da verdade; busca, indagação, investigação. É a atividade básica da ciência A descoberta científica da realidade É a própria geração do conhecimento É a atividade científica pela qual descobrimos a realidade. Pesquisa é Um fenômeno de busca de conhecimento constituído de aproximações sucessivas e nunca esgotado; ou seja, não é uma situação definitiva diante da qual já não haveria mais o que descobrir. Pesquisar significa, de forma bem simples, procurar respostas para indagações propostas. Conceitos de pesquisa Minayo (1993, p.23), vendo por um prisma mais filosófico, considera a pesquisa como “atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados”. Demo (1996, p.34) insere a pesquisa como atividade cotidiana considerando-a como uma atitude, um “questionamento sistemático crítico e criativo, mais a intervenção competente na realidade, ou o diálogo crítico permanente com a realidade em sentido teórico e prático”. + Conceitos Para Gil (1999, p.42), a pesquisa tem um caráter pragmático, é um “processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”. Pesquisa é um conjunto de ações, propostas para encontrar a solução para um problema, que têm por base procedimentos racionais e sistemáticos. A pesquisa é realizada quando se tem um problema e não se tem informações para solucioná-lo. Propósito da Pesquisa Estudar o mundo físico; Estudar a complexidade das coisas para melhor entendê-las dentro do seu funcionamento; Estudar, analisar, registrar, interpretar e descrever os fatos; Explicar os fatos e identificar suas causas; Pesquisa é: A realização concreta de uma investigação planejada e desenvolvida de acordo com as normas consagradas pela metodologia científica. Metodologia científica entendida como um conjunto de etapas ordenadamente dispostas que você deve vencer na investigação de um fenômeno. Inclui a escolha do tema, o planejamento da investigação, o desenvolvimento metodológico, a coleta e a tabulação de dados, a análise dos resultados, a elaboração das conclusões e a divulgação de resultados. Realizar uma pesquisa com rigor científico pressupõe que você escolha um tema e defina um problema para ser investigado, elabore um plano de trabalho e, após a execução operacional desse plano, escreva um relatório final e este seja apresentado de forma planejada, ordenada, lógica e conclusiva. Fases de uma Pesquisa 1 – Definição do objeto 2 – Realização de pesquisa exploratória 3 – Formulação de problema 4 – Elaboração do quadro teórico de referência 5 – Definição da metodologia 6 – Pesquisa bibliográfica e planejamento 7 – Pré-testes, correção, registro e tratamento dos dados 8 – Avaliação dos materiais coletados e tratados 9 – Formulação do índice 10 – Elaboração do relatório, desenvolvimento e seções complementares 11 – Digitação e revisão do conteúdo e da forma 12 – Encadernação, entrega e defesa oral dos resultados da pesquisa. Quantitativo X Qualitativo Quantitativo: rigor, busca de mais controle científico, generalização, comparação, representatividade, quantidade, estatísticas. Qualitativo: reconhecimento da subjetividade do pesquisador, objetivação, profundidade, compreensão do significado, particularização, descrição densa, intensidade, flexibilidade e criatividade na coleta e análise dos dados Natureza da Pesquisa “É muito difícil que haja alguma pesquisa totalmente qualitativa, da mesma forma que é altamente improvável existir alguma pesquisa completamente quantitativa.” Appolinário (2006, p. 59) Segundo Firestone (1987), as pesquisas diferem em quatro quesitos básicos: Pressuposição básica Objetivo Abordagem Papel do pesquisador Natureza da Pesquisa Quesito Pressuposição básica Objetivo Pesquisa quantitativa Pesquisa qualitativa A realidade é constituída de fatos objetivamente mensuráveis A realidade é constituída de fenômenos socialmente construídos Determinar as causas dos fatos Compreender melhor os fenômenos Experimental Observacional Imparcial e neutro Participante não-neutro do fenômeno Abordagem Papel do pesquisador Tendências das pesquisas Pesquisas preponderantemente quantitativas Pesquisas preponderantemente qualitativas Coleta de variáveis predeterminadas Nem sempre trabalham com o conceito de variáveis; quando o fazem, nem sempre elas são predeterminadas Análise dos dados normalmente realizada por meio da estatística Análise subjetiva dos dados Características das pesquisas Pesquisas preponderantemente quantitativas Pesquisas preponderantemente qualitativas Alto índice de generalização Possibilidade de generalização baixa ou nula Comum principalmente nas ciências naturais Comum principalmente nas ciências sociais Principal desvantagem: perda de informação Principal desvantagem: alta dependência da subjetividade do pesquisador O pesquisador assume um papel mais neutro em relação ao objeto de estudo O pesquisador envolve-se subjetivamente tanto na observação como na análise do objeto de estudo Pesquisa Básica x Aplicada Pesquisa Básica (fundamental) está mais ligada ao incremento do conhecimento científico sem quaisquer objetivos comerciais. Pesquisa Aplicada é suscitada por objetivos comerciais e está voltada ao desenvolvimento de novos processos ou produtos orientados para as necessidades de mercado. Pesquisa Descritiva X Experimental Pesquisa descritiva busca descrever uma realidade, sem nela interferir. Pesquisa experimental busca explicar as causas de determinado evento, manipulando deliberadamente algum aspecto dessa realidade. Temporalidade da pesquisa: Longitudinal X Transversal Pesquisa longitudinal tem relação com a temporalidade e seus dados são muito precisos. Ex. Entrevista os mesmos alunos em três anos diferentes. Pesquisa transversal possui a vantagem de ter o tempo de realização bem curto, embora o grau de fidedignidade seja menor do que na outra opção. Ex. Entrevista os alunos de cada turma. Construção da metodologia Cada pesquisa é única e precisa construir um caminho próprio para melhor compreender o fenômeno investigado. A metodologia é feita de escolhas do pesquisador que deve considerar a relação entre o objeto da pesquisa, o problema e seus objetivos. Métodos científicos A investigação científica depende de um “conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos” (Gil, 1999, p.26) para que seus objetivos sejam atingidos: os métodos científicos. Método científico é o conjunto de processos ou operações mentais que se devem empregar na investigação. É a linha de raciocínio adotada no processo de pesquisa. Os métodos que fornecem as bases lógicas à investigação são: dedutivo, indutivo, hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico (GIL, 1999; LAKATOS; MARCONI, 1993). Diferenças entre método e técnica de pesquisa Método: sucessão de passos pelos quais se descobrem novas relações entre fenômenos que interessam a determinado ramo científico. Consiste em propor problemas, fazer observações e registrálas na busca de analisar o fenômeno e responder às questões formuladas, fazer proposições e rever conclusões. Procedimento ou técnica: recursos diretos e imediatos de levantamento e registro de dados nas pesquisas. As técnicas são um conjunto de processos de que se serve a ciência para efetivar propósitos. Sua escolha é determinada pelos objetos, problema, tema e propósitos. Principais técnicas Pesquisa bibliográfica Pesquisa documental Observação Observação participante Etnografia Questionário Formulário Entrevista História de vida História oral Grupo focal ou de discussão Análise de conteúdo Análise de discurso Rotinas produtivas Pesquisa Bibliográfica Abrange a busca e análise da bibliografia tornada pública em relação ao tema de estudo, colocando o pesquisador em contato direto com o que foi escrito, dito ou filmado sobre o assunto. Tipos de fontes bibliográficas: imprensa, meios audiovisuais, material cartográfico e publicações (livros, teses, pesquisas), que são encontradas em bibliotecas e veículos especializados. Pesquisa documental Consiste na análise de documentos em registros primários e secundários Registros primários: compilados pelo autor (de arquivos públicos ou privados, contratos, cartas, etc.) ou feitos pelo autor (fotografias, gravações, gráficos, etc.) Registros secundários: Transcritos de outras fontes e feitos por outros, como relatórios de pesquisa, filmes comerciais, etc; Observação Técnica adequada aos propósitos dos estudos de caso, configurando-se em um instrumento oportuno para a compreensão do contexto social analisado por permitir o “acesso a uma ampla gama de dados, inclusive os tipos de dados cuja existência o investigador pode não ter previsto” (BECKER, 1999, p. 118). Pode ser simples e espontânea, quando exploratória, mas para um melhor aproveitamento precisa ser controlada e sistemática, com planejamento cuidadoso do trabalho e o registro dos fatos através gravações, anotações, filmagens. Permite um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, permitindo chegar mais perto da “perspectiva dos sujeitos”. Observação participante Tipo de observação que requer participação efetiva do observador no grupo investigado, necessitando treinamento e presença prolongada. Etnografia Combinação de uma série de elementos, como a prioridade no uso de técnicas não diretivas que permitem uma descrição detalhada, a busca de reflexividade, e, sobretudo, a compreensão dos fenômenos desde a perspectiva de seus membros. Tríplice acepção de: Enfoque (busca em analisar os fenômenos desde a aproximação aos atores sociais; descrição densa ou interpretação) Método (entrevistas não dirigidas e da observação) Texto (o produto da análise é um relato textual, de caráter monográfico, um texto que relaciona a experiência de campo e a teoria) Questionário Constitui-se por uma série ordenada de perguntas. As respostas são fornecidas pelo informante ou pesquisado sem a assistência direta ou orientação do investigador. É geralmente enviado pelo correio ou por portador. (Dificilmente alcançam mais de 20% de devoluções). Atinge um grande número de pessoas, com objetivo de conhecer opiniões dos pesquisados. As questões normalmente são fechadas (com opções prédefinidas) para facilitar a tabulação e devem ser elaboradas de forma muito clara e precisa. Formulário É uma lista formal, catálogo ou inventário destinado à coleta de dados. Elaborado e aplicado pelo pesquisador, que registra no próprio formulário todas as respostas ditas pelo entrevistado. Entrevistas: conceitos Consiste num interrogatório direto do informante ou pesquisado pelo pesquisador, durante uma conversa face a face orientada para um objetivo definido. Caracterizada por ser uma situação social em que o entrevistador e o entrevistado interagem, se influenciam um ao outro. É um dos procedimentos mais usuais no trabalho de campo. Caracteriza-se por uma comunicação verbal que reforça a importância da linguagem e do significado da fala. Num outro nível, serve como um meio de coleta de informações sobre um determinado tema científico. Através das entrevistas, podemos obter dados objetivos e subjetivos. Entrevista: classificações Estruturadas: com perguntas previamente formuladas. As questões são apresentadas com as mesmas palavras e na mesma ordem, sendo as repostas mais facilmente comparáveis. Não estruturadas ou abertas: os entrevistados abordam livremente o tema proposto. É importante para a interpretação entender como o entrevistado relaciona o tema, o que prioriza para falar e como desenvolve seu pensamento. O entrevistador pode fazer perguntas para esclarecer e aprofundar. Semi-estruturadas ou semi-dirigidas: com roteiro de tópicos a serem abordados mas receptiva à fala do entrevistado. Há temas e sub-temas com perguntas amplas (não específicas), que permitem ao entrevistado conectar-se livremente com o que é abordado. Entrevista: classificações Em profundidade: que possibilita um diálogo entre entrevistador e informante. Projetivas: utiliza recursos visuais (quadros, pinturas, fotos) para estimular a resposta dos entrevistados. Individuais ou coletivas Entrevista: variações da técnica Existem vários tipos de entrevistas diferenciados conforme a abordagem, os objetivos e as possibilidades de aprofundamento da técnica. Entre eles, destacamos a história de vida, a história oral, o grupo de discussão. * O bom entrevistador acaba desenvolvendo uma variedade da técnica que, para ele, produz os melhores resultados, se harmoniza com sua personalidade e melhor se adapta aos objetivos da pesquisa. História de vida Técnica capaz de não apenas dar visibilidade a experiências de sujeitos plurais, mas também construir formulações analíticas mais amplas a partir de trajetórias individuais. Permite a recuperação de trajetórias, levando em consideração não a busca de um passado contínuo, sem rupturas, de indivíduos exemplares, mas justamente as especificidades e descontinuidades da vida de cada sujeito investigado. O objetivo é obter dados sobre determinado indivíduo ou instituição em todas as fases de suas existência, buscando conhecer o modo de vida e as visões de mundo, sua trajetória. Perspectiva de passado, presente e futuro. História Oral Técnica que procura resgatar e/ou reconstruir, através da visão dos sujeitos envolvidos, um período, evento ou fato histórico. Baseada na tomada de depoimentos por meio de entrevistas em profundidade, com o objetivo específico de resgatar determinado fato ou período histórico. O foco não é a trajetória individual (como na história de vida), mas no conhecimento ou experiência a cerca do que está sendo pesquisado. Por lidar de forma direta com a memória, exige habilidade por parte do entrevistador, que deverá interferir nos momentos certos, fazendo com que o entrevistado sinta-se à vontade para rememorar o passado, respeitando os os momentos de silêncio. Grupo focal ou de discussão Técnica de entrevista múltipla em que interessa captar tanto os posicionamentos individuais como os conflitos e, principalmente, consensos. Aplicado a um pequeno grupo reunido com objetivo de discutir determinado assunto (imagem de produto, recepção de telejornal, impacto de um comercial, etc). Um moderador coordena o grupo, que deve reunirse várias vezes, lançando o tema e os principais tópicos para discussão. Análise de conteúdo e de discurso DE CONTEÚDO – A finalidade é descrever sistematicamente o conteúdo da comunicação, preocupando-se com as idéias emitidas a partir de uma visão quantitativa. DE DISCURSO – Leva em conta o contexto discursivo e as várias relações nos textos analisados. Tem uma preocupação mais interpretativa e qualitativa. Rotinas produtivas Observação e acompanhamento das rotinas de criação e desenvolvimento de um determinado produto jornalístico ou publicitário (jornal impresso, revista, site, campanha). Preocupação em descobrir como a equipe de produção estabelecer relações que influenciam nos processos de seleção e tomadas de decisões, conhecendo suas lógicas e estrutura de funcionamento. Permite o conhecimento geral das dinâmicas ligadas à esfera da produção. Métodos Método Dedutivo X Método Indutivo Método Dedutivo Método proposto pelos racionalistas Descartes, Spinoza e Leibniz que pressupõe que só a razão é capaz de levar ao conhecimento verdadeiro. O raciocínio dedutivo tem o objetivo de explicar o conteúdo das premissas. Por intermédio de uma cadeia de raciocínio em ordem descendente, de análise do geral para o particular, chega a uma conclusão. Usa o silogismo, construção lógica para, a partir de duas premissas, retirar uma terceira logicamente decorrente das duas primeiras, denominada de conclusão (GIL, 1999; LAKATOS; MARCONI, 1993). Veja um clássico exemplo de raciocínio dedutivo: Método dedutivo Método Indutivo Método proposto pelos empiristas Bacon, Hobbes, Locke e Hume. Considera que o conhecimento é fundamentado na experiência, não levando em conta princípios preestabelecidos. No raciocínio indutivo a generalização deriva de observações de casos da realidade concreta. As constatações particulares levam à elaboração de generalizações (GIL, 1999; LAKATOS; MARCONI, 1993). Método Indutivo Método Dialético Fundamenta-se na dialética proposta por Hegel, na qual as contradições se transcendem dando origem a novas contradições que passam a requerer solução. É um método de interpretação dinâmica e totalizante da realidade. Considera que os fatos não podem ser considerados fora de um contexto social, político, econômico, etc. Empregado em pesquisa qualitativa (GIL, 1999; LAKATOS; MARCONI, 1993). Dialética = arte de discutir, a argumentação dialogada (uso de raciocínio) Método Fenomenológico Preconizado por Husserl, o método fenomenológico não é dedutivo nem indutivo. Preocupa-se com a descrição direta da experiência tal como ela é. A realidade é construída socialmente e entendida como o compreendido, o interpretado, o comunicado. Então, a realidade não é única: existem tantas quantas forem as suas interpretações e comunicações. O sujeito/ator é reconhecidamente importante no processo de construção do conhecimento (GIL, 1999; TRIVIÑOS, 1992). Empregado em pesquisa qualitativa. Considerações Finais Na era do caos, do indeterminismo e da incerteza, os métodos científicos andam com seu prestígio abalado. Apesar da sua reconhecida importância, hoje, mais do que nunca, se percebe que a ciência não é fruto de um roteiro de criação totalmente previsível. Portanto, não há apenas uma maneira de raciocínio capaz de dar conta do complexo mundo das investigações científicas. O ideal seria você empregar métodos, e não um método em particular, que ampliem as possibilidades de análise e obtenção de respostas para o problema proposto na pesquisa.