EVARISTO DE OLIVEIRA MENDES
A SAÚDE PSICOSSOCIAL
NA SEGURANÇA PÚBLICA BRASILEIRA
Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia
apresentada ao Departamento de Estudos da
Escola Superior de Guerra como requisito à
obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de
Política e Estratégia.
Orientador: Econ. Rui Guilherme F. de Oliveira
Rio de Janeiro
2013
C2013 ESG
Este trabalho, nos termos de legislação
que resguarda os direitos autorais, é
considerado propriedade da ESCOLA
SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É
permitido a transcrição parcial de textos
do trabalho, ou mencioná-los, para
comentários e citações, desde que sem
propósitos comerciais e que seja feita a
referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho
são de responsabilidade do autor e não
expressam
qualquer
orientação
institucional da ESG.
_________________________________
Assinatura do autor
Biblioteca General Cordeiro de Farias
Mendes, Evaristo de Oliveira
A saúde psicossocial na segurança pública brasileira, Cel.PM.
Evaristo de Oliveira Mendes – Rio de Janeiro: ESG, 2013.
79 f.: il.
Orientador: Econ. Rui Guilherme F. de Oliveira
Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito
à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e
Estratégia (CAEPE), 2013.
1. Saúde psicossocial. 2. Estresse. 3. Atividade ocupacional. 4.
Transtornos psicológicos. 5. Polícia militar. I. Título
A todos familiares e amigos que durante
o meu período de curso contribuíram
com incentivos.
Em especial ao meu filho e ao meu amor
pela compreensão, às minhas ausências
em dedicação às atividades da ESG. E a
minha mãe (in memoriam) que com
certeza
estaria
conquista.
feliz
por
mais
esta
AGRADECIMENTOS
Ao Corpo Permanente da ESG pelos ensinamentos e orientações que me
fizeram refletir, cada vez mais, sobre a importância de se estudar o Brasil com a
responsabilidade implícita de ter que melhorar.
Aos meus colegas estagiários da Turma do CAEPE pela convivência
harmoniosa de todas as horas.
Ao Comandante Geral da Polícia Militar do Estado de Rondônia, por esta
oportunidade de frequentar este curso de altos estudos de política e estratégia ano
2013.
A grandeza de uma profissão é
talvez, antes de tudo, unir os
homens: não há senão um
verdadeiro luxo e esse é o das
relações humanas.
Saint-Exupéry
RESUMO
O eterno conflito entre o bem e o mal abrange, reflexamente, indivíduos cuja
atribuição é fazer cumprir as normas de conduta emanadas e específicas de cada
sociedade humana. É interessante observar o paradoxo, a ambivalência com que as
relações entre as comunidades e os policiais militares se desenvolvem. Os
mecanismos de defesa psicológica destes homens podem ser abalados por vários
fatores. A desintegração psíquica e social dos policiais militares tem relação direta
com a rotina permeada de estresse a que são submetidos, à pressão pública, aos
salários indignos e à desestruturação familiar consequente da sobrecarga de
trabalho e aos transtornos psicológicos ocasionados pela insatisfação profissional.
Os riscos são inerentes a esta atividade ocupacional. Todavia, os policiais assimilam
a rigorosa cultura militar, introjetando os valores das corporações militares
brasileiras, e persistem em seu intento – a proteção da sociedade – em detrimento
de sua saúde psicossocial. Indivíduos investidos em função tão árdua esperam que
as academias de polícia militar se sensibilizem e olhem para seus homensguerreiros como peças imprescindíveis ao complexo sistema de segurança nacional.
Palavras-chave: Saúde psicossocial. Estresse. Atividade ocupacional. Transtornos
psicológicos. Polícia militar.
ABSTRACT
The eternal conflict between good and evil covers, reflectively, individuals whose role
is to enforce the standards of conduct issued by and specific to each human society. It
is interesting to note the paradox, the ambivalence with which relations between the
military police and communities develop. Psychological defense mechanisms of these
men can be affected by several factors. The psychic and social disintegration of the
military police is directly related to the permeated routine of stress that they are
subjected to, public pressure, the despicable salaries and family disorganization
resulting from work overload as well as psychological disorders caused by
professional dissatisfaction. The risks are inherent to this occupational activity.
However, the policemen assimilate the rigorous military culture, internalizing the
values of the Brazilian military bodies and persisting in their intention-the protection of
the society-to the detriment of their psychosocial health. Individuals invested in so
strenuous function expect the military to raise awareness among police academies
and regard their men-warriors as indispensable parts of the complex system of
national security.
Key words: Psychosocial health. Stress. Occupational activity. Psychological
disorders. Military police.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
QUADRO 1 Efetivo Existente - Praças Pm Qpmg .............................................................17
QUADRO 2 Efetivo Existente – Oficiais da Pm Ro ...............................................17
QUADRO 3 Conceito de ―campo de Saúde ...........................................................20
QUADRO 4 Efeitos do estresse ............................................................................24
QUADRO 5 Procepção da realidade ......................................................................25
GRÁFICO 1 Qual o motivo que o levou a seguir a carreira militar?........................49
GRÁFICO 2 Acha seu trabalho prejudicial à saúde?..............................................50
GRÁFICO 3 Acha seu trabalho estressante?........................................................50
GRÁFICO 4 Fatores que influenciam de forma negativa no bom desempenho
do seu trabalho..................................................................................51
GRÁFICO 5 Como é o seu relacionamento com os seus superiores
hierárquicos?.....................................................................................51
GRÁFICO 6 Como é o seu relacionamento com seus colegas de
trabalho?............................................................................................52
GRÁFICO 7 Quanto tempo tem de serviço?...........................................................52
GRÁFICO 8 Qual a função que exerce?................................................................53
GRÁFICO 9 Qual o seu estado civil?.....................................................................53
GRÁFICO 10 Como é o seu relacionamento familiar atualmente?..........................54
GRÁFICO 11 Qual a sua faixa etária?....................................................................55
GRÁFICO 12 Tem dificuldade para dormir?...........................................................55
GRÁFICO 13 Preocupa-se com doença?...............................................................56
GRÁFICO 14 Têm períodos tristes? Com desânimo?.............................................56
GRÁFICO 15 Fica agressivo, explode com facilidade?...........................................57
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Violência urbana e suas conseqüências psiquiátricas.................................... 27
Tabela 2 Distribuição da presença policial conforme as regiões do Brasil......................37
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CB
Cabo
CAP
Capitão
CEL
Coronel
MAJ
Major
MAJ PM CPL
Major PM Capelão
PM
Polícia Militar
QOA
Quadro de Oficiais de Administração
QOC
Quadro de Oficiais Capelães
QOE
Quadro de Oficiais Especialistas
QOPM
Quadro de Oficiais Policiais Militares
QPMC
Praças Policiais Militares Combatente
QPMM
Quadro de Policiais Militares Músicos
QOPMS
Quadro de Oficiais Policiais Militares de Saúde
SD
Soldado
SGT
Sargento
SUB TEN
Sub Tenente
SESDEC
Secretaria de Segurança Defesa e Cidadania
TEN
Tenente
TCEL
Tenente Coronel
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12
2 ORIGEM DA POLÍCIA MILITAR DO BRASIL ..................................................... 14
2.1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA POLÍCIA MILITAR ............................................ 14
2.2 BREVE HISTÓRICO DA POLÍCIA MILITAR DE SÃO PAULO............................ 14
2.3 HISTÓRICO DA POLÍCIA MILITAR DE RONDÔNIA .......................................... 16
2.4 REFLEXÕES SOBRE A SITUAÇÃO ATUAL DA POLÍCIA MILITAR
BRASILEIRA ....................................................................................................... 17
2.5 A PSICOLOGIA COMO ESTRATÉGIA À SAÚDE OCUPACIONAL ................... 18
2.6 SOFRIMENTO E SAÚDE MENTAL ENTRE POLICIAIS
MILITARES..........................................................................................................21
3
FUNDAMENTOS GERAIS SOBRE ESTRESSE E SÍNFROME BURNOUT ...... 23
3.1 ESTRESSE: O QUE É ISSO ............................................................................... 23
3.2 FATORES ESTRESSANTES .............................................................................. 24
3.3 A FORÇA DOS ESTRESSORES ........................................................................ 26
3.4 EFEITOS PESSOAIS DOS ESTRESSORES ..................................................... 27
3.5 ESTRESSE E TRABALHO .................................................................................28
3.6 SÍNDROME DE BURNOUT ................................................................................29
4
A PROFISSÃO POLICIAL MILITAR NO BRASIL ATUAL....................
33
4.1 O ESTRESSE VIVIDO PELO POLICIAL MILITAR .............................................33
4.2 O POLICIAL MILITAR. ........................................................................................34
4.3 ELEMENTOS QUE GERAM TRANSTORNOS PSÍQUICOS
PSICOSSOMÁTICOS NO POLICIAL MILITAR...................................................38
4.4 PROBLEMAS DO DIA A DIA DO POLICIAL MILITAR E SUA INCIDÊNCIA ....... 42
4.5 RELAÇÕES INTERPESSOAIS ........................................................................... 44
4.6 ESTRESSE, DISTÚRBIOS MENTAIS E ALCOOLISMO NA POLÍCIA
MILITAR...............................................................................................................47
4.7 AÇÕES PREVENTIVAS DE TRANSTORNOS PSICOSSOMÁTICOS NOS
POLICIAS MILITARES.........................................................................................58
4.8 CONSIDERAÇÕES GERAIS. ............................................................................. 63
5
CONCLUSÃO.....................................................................................................66
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 68
ANEXOS ............................................................................................................. 71
12
1INTRODUÇÃO
O Brasil é um país que está em crescimento acelerado. O Mundo o observa
como um país próprio para investimentos, mas ainda há algumas preocupações no
que se refere à Segurança Pública, pois a mídia brasileira a cada dia divulga alguns
comportamentos negativos por parte de alguns profissionais agentes de segurança
pública. Praticamente todas as semanas são noticiados vários comportamentos
violentos nos centros urbanos, das grandes cidades brasileiras.
Por causa desses comportamentos uma das preocupações governamentais é
investir em material bélico, porém mais do que qualquer investimento, há a
necessidade urgente de bem observar e educar a pessoa que vai manipular este
arsenal. O profissional deve estar bem preparado psicologicamente, porque ele é a
força armada do Estado para segurança do cidadão.
Soma-se a isto uma imensa curiosidade em relação aos mecanismos de
defesa psíquica desenvolvidos por estes grupos policiais, que permitem aos seus
membros de desfrutarem de uma vida psicossocial satisfatória ou, pelo menos,
dentro de parâmetros próximos aos padrões tidos como normais sob a ótica de uma
dada comunidade. O trabalho psicológico na Segurança Pública deve começar na
seleção dos candidatos e se estender durante toda sua vida como policial da ativa e
da reserva, estendendo-se aos seus dependentes.
O referido trabalho deve ser diário e contínuo com todos os profissionais das
forças policiais, uma vez que os policiais homens/mulheres por serem servidores
que lidam com o público necessitam ter equilíbrio psíquico suficiente para agir, no
momento correto, com presteza, ética e sensibilidade, pois é basicamente este
desejo das comunidades que pagam para ter funcionários eficientes, confiáveis e
totalmente à sua disposição, em tempo integral (LIMA, 2002). É sabido que o ser
humano submetido a pressões sociais desagradáveis reage negativamente em
relação a si e à sociedade, além de não conseguir, consequentemente, concentra-se
em seu trabalho. (ABBUD et al., 2006).
O desgaste emocional provocado pelos novos modelos de configuração do
trabalho e Gestão de significativo na determinação de transtornos
relacionados ao estresse, como é o caso das depressões, ansiedade
patológica, pânico, fobias e doenças psicossomáticas. Os indivíduos
afetados diretamente pelos agentes estressores ocupacionais não
respondem à demanda do trabalho e geralmente se encontram irritáveis e
deprimidos (DEJOURS, 2000 apud ABBUD et al.; 2006).
13
Dessa forma, os policiais que, como todo ser humano, são extremamente
vulneráveis ao ambiente que os cercam, podem apresentar, frente a uma urgência
policial, uma atitude em desacordo com o que ele espera. A presença de Psicólogos
atuantes nas instituições policiais propicia mais segurança para eles mesmos, seus
dependentes e toda sociedade.
Portanto, há que se investir na saúde psíquica e na prevenção dos males
psicológicos que afligem os policiais se o objetivo for que seu trabalho alcance os
anseios das comunidades, sem esquecer que o próprio profissional e sua família
encontram-se inseridos em uma destas comunidades e lembrando também que
comumente os familiares mais próximos sentem-se orgulhosos por possuir um
indivíduo com condutas decisórias em suas vidas.
14
2ORIGEM DA POLÍCIA MILITAR DO BRASIL
2.1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA POLÍCIA MILITAR
A Polícia Militar do Brasil, segundo Fátima Souza, é oriunda das Forças
Policiais do Império. A mais antiga é a do Rio de Janeiro, conhecida como ―Guarda
Real de Polícia‖ criada em 13 de maio de 1809 por Dom João 6º, Rei de Portugal.
Esta foi à primeira Policia Militar do Brasil e do Estado do Guanabara. Ela era
subordinada ao Governador das armas da corte, comandante da força militar, que
era subordinado ao intendente geral de Polícia.
Quando Dom Pedro I abdica do trono em 1830, e Dom Pedro II, ainda menor,
não tinha condições de assumir o trono, o Brasil passou a ser dirigido por regentes
que não eram aceitos pelo povo. Por este motivo surgiram vários movimentos
colocando-se contra esses governos regentes como: Guerra dos Farrapos no Rio
Grande do Sul; a balaiada no Maranhão e a sabinada na Bahia.
Para manter a estabilidade e a Ordem Pública, através do Padre Antônio
Diogo Feijó, então Ministro da Justiça, foi criado no Rio de Janeiro, um Corpo de
Guardas Municipais. Em 10 de Outubro de 1831 foi criado o Corpo de Guardas do
Rio de Janeiro, através de decreto regencial. Este decreto autorizava outras
províncias criar suas guardas também. Outros Estados aderiram à ideia e criaram
suas Polícias também.
Na Constituição Federal Brasileira de 1946 as antigas Guardas Policiais,
passaram a ser denominada POLÍCIA MILITAR, exceto do Rio Grande do Sul, que
manteve o nome de Brigada Militar.
Historiadores afirmam que bem antes da família real vir para o Brasil existia
em Vila Velha (Ouro Preto), Minas Gerais, uma força militar de patrulhamento,
chamada em 1775 de Regimento Regular de Cavalaria de Minas. Ela era
responsável em manter a ordem Pública.
2.2 BREVE HISTÓRICO DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO
Durante o século XIX a Corporação policial de São Paulo recebeu várias
denominações: Corpo de Municipais Permanentes, Corpo de Municipais Provisórios,
15
Guarda de Polícia, Brigada Policial, Força Policial e finalmente, Força Pública, nome
com o qual conquistou vitórias e participou de grandes eventos, até já no século XX.
Durante os oitocentos, a Corporação Policial Militar Paulista participou
praticamente de todas as campanhas em que o país se viu envolvido, destacandose a Guerra dos Farrapos, (1838), em que foram combatidos os separatistas da
República de Piratini; a colonização dos Campos das Palmas (1839), no extremo da
província, hoje pertencente ao Paraná; a Revolução Liberal de Sorocaba, em 1842;
a Guerra do Paraguai (1865/1870); a Revolta da Armada e a Revolução Federalista
(1893/1894); a Questão dos Protocolos, em que a nova colônia italiana de São
Paulo se amotinou, gerando um conflito que não teve maiores consequências graças
a pronta intervenção da Milícia Paulista; a Campanha de Canudos (1897), quando
Euclides da Cunha chegou a elogiar a atuação do 1º Batalhão em terras do Rio Vaza
Barris.
A Polícia Militar é hoje uma instituição fardada, organizada militarmente,
subordinada ao Governo do Estado, através da Secretaria da Segurança Pública e
do Comando Geral da Corporação e que presta seus serviços dentro do rigoroso
cumprimento de dever legal.
Por ser um corpo militar, dispõe de meios e ferramentas para coibir excessos
no seio da tropa, fatos esses a que nenhuma organização está imune, mas que,
devido ao rigor das penas aplicadas aos infratores, inibe e desestimula atitudes
antissociais.
Como exemplo, a definição deste órgão de controle interno da polícia militar
do Estado de São Paulo:
Compete a Corregedoria da polícia Militar do Estado de São Paulo
assegurar a disciplina e a apuração das infrações penais na Corporação,
fornecendo amplos poderes ao Corregedor para a consecução do objetivo
maior de oferecer à população um serviço de segurança de excelente
qualidade. Ainda, e com orgulho, são mantidas as investigações para
apuração de casos em que o policial é vítima, para a satisfação dos anseios
de justiça, da Corporação e da família daquele que tomba em serviço ou em
razão dele (POLÍCIA MILITAR DE SÃO PAULO, 2013).
16
2.3 HISTÓRICO DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE RONDÔNIA
Conforme a revista comemorativa de 30 anos da PMRO e Biblioteca virtual
Wikipédia,
[...] a Polícia Militar de Rondônia (PMRO) tem por função primordial o
policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública no Estado de
Rondônia. Ela é Força Auxiliar e Reserva do Exército Brasileiro, e integra o
Sistema de Segurança Pública e Defesa Social do Brasil. Seus integrantes
são denominados militares dos Estados (artigo 42 da CRFB), assim como
os membros do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Rondônia.
Com a criação do Território Federal de Rondônia, então Guaporé, pelo
Decreto-Lei nº 5.812, de 13 de setembro de 1943, com áreas
desmembradas dos Estados do Amazonas e Mato Grosso, o governador,
então Coronel Aluízio Ferreira, necessitando de uma organização para a
manutenção da ordem e mão-de-obra na execução de trabalhos públicos, o
Decreto nº 01 de 11 de fevereiro de 1944, criando a GuardaTerritorial,
corporação de caráter civil, comandada por um oficial do exército.
A Guarda Territorial, após sofrer várias modificações em sua estrutura, em
muito se aproximou, ultimamente, de uma organização policial-militar,
possuindo, inclusive, Corpo de Bombeiros.
A Polícia Militar de Rondônia foi criada pela Lei nº 6.270, de 26 de
novembro de 1975, cuja regulamentação só foi baixada a 11 de janeiro de
1977, através do Decreto Federal nº 79.108. Em 9 de setembro de 1977, já
com a Polícia Militar criada, mas ainda em sua fase embrionária, editou-se o
Decreto Territorial nº 864, da mesma data, que considerou extinta, de vez, a
Guarda Territorial de Rondônia, conforme preconizado na Lei de Criação da
Polícia Militar.
Com a extinção da Guarda Territorial aceleram-se os trabalhos de
implantação e organização da Polícia Militar recém criada. Pelo transcurso
de tempo da edição da Lei de Criação, bem assim do Decreto que a
regulamentou, pode-se vislumbrar que montar uma estrutura policial militar
complexa, desdobrada nas atividades administrativas e operacionais e, ao
mesmo tempo, prover à segurança pública da área, não era empresa para
pouco tempo.
17
Quadro 1: Efetivo Existente - Praças PmQpmg - 1
Fonte: Diretoria de Pessoal da PMRO – Divisão e Condecoração (2012)
Quadro 2:Efetivo Existente – Oficiais da PmRo
Fonte: Diretoria de Pessoal da PMRO – Divisão e Condecoração (2012)
Graduação
Quadro
SUBTEN
1º SGT
2º SGT
3º SGT
CABO
SD
TOTAL
QPMP – 0
66
190
283
538
703
3406
5186
QPMP – 4
5
10
0
0
0
0
15
QPMP – 6
0
0
0
0
0
0
0
283
538
703
3406
5201
TOTAL
71
200
2.4 REFLEXÕES SOBRE A SITUAÇÃO ATUAL DA POLÍCIA MILITAR BRASILEIRA
Posto
Quadro
CEL
TEN.CEL
MAJ
CAP
1º TEM
2º TEN
TOTAL
QOPM
16
34
51
15
14
89
219
QOPM S
0
7
16
4
0
0
27
QOA
0
0
0
6
7
59
72
QOC
0
0
1
0
0
0
1
QOE
0
0
0
0
0
0
0
41
68
25
21
148
319
TOTTTTTTAL
16
Interessante citar Ribeiro (1995) apontando que no século XVII costumava-se
dizer que ―a farda afidalga, eleva e branqueia.‖ O alistamento militar configurou-se
uma tábua de salvação. Se a farda ―afidalga‖, ou seja, transmuta-lhe o fenótipo e lhe
confere maneirismos nobres, também eleva o vivente, permitindo-lhe ingresso em
uma classe social abastada que mal repararia em seus parcos recursos financeiros.
A farda ―branqueia‖, finalmente, o soldado, acenando-lhe com todos os privilégios a
que os brancos tinhamdireito (RIBEIRO, 1995). Observa Oliveira Vianna (1956), que
assim era o reconhecimento ao inóspito executado pelos regimentos militares. E
completa dizendo que a perversa estratificação social impulsionava o indivíduo em
direção ao serviço militar, por que, apesar de toda esta conotação racista e do
separatismo cultural, os mulatos, os negros e mesmo os brancos pobres e sem
18
opções de subsistência consideravam vantajoso fazer parte da corporação como um
modo de usufruir de umas poucas benesses.
Da fusão dos conceitos dos povos da antiguidade sobre a ética, instinto
natural de sobrevivência e perpetuação da espécie, e os estudos acerca da
evolução do povo brasileiro, depreende-se que, antes mesmo de começar a atuar
como defensor dos limites geográficos e posses materiais dos indivíduos e da
coletividade, o policial militar brasileiro depara-se com problemas sociais muitas
vezes tidos como intransponíveis (RIBEIRO, 1995).
Os riscos a que se expõem, para salvar vidas e promover benemerências,
abdicando de uma saudável vida íntima e familiar, protegida contra avaliações
contínuas, para se dedicar integralmente aos membros da coletividade, provocam
sentimentos vários e conflitantes na população (LIMA, 2002); É comum supor que o
PM se alimenta, material e espiritualmente, das loas à sua generosidade e bravura,
contentando-se com um mínimo de compensação monetária:
[...] baixos rendimentos levam ao aumento de jornada de trabalho, daí o
agravamento da saúde, esgotamento gradual das energias físicas e
mentais. Processo que acompanha a pobreza aponta para interdição de
saúde, que é a mais violenta forma de violência latente (BOSCHI, 1982apud
PATROCÍNIO; SOUZA, 2004).
2.5 A PSICOLOGIA COMO ESTRATÉGIA À SAÚDE OCUPACIONAL
Após o contexto histórico das Policias Militares, Polícia Militar de Rondônia e
São Paulo o cerne deste trabalho visa abordar a psicologia como estratégia de ação
preventiva à saúde ocupacional, bem como os modelos epidemiológicos e o
sofrimento no trabalho do policial militar.
Para Mendes, (1985) é da Medicina Preventiva que emergem bases para
enunciação da Saúde Ocupacional pela OIT/OMS, ao usar termos como prevenção,
proteção, riscos, adaptação, visando a intervir na saúde dos trabalhadores. E, o
paradigma da causalidade dos agravos à saúde dá-se pela precedência das
condições de trabalho, numa visão histórica e descontextualizada das relações
econômicas, político ideológicas e sociais que influem nos nexos entre trabalho e
saúde- doença.
De acordo com Mendes (1985), citado por Mosci ; Diniz (1997), o estímulo
desencadeador do processo posterior da doença é originado do desiquilíbrio na
19
interação dinâmica de múltiplos fatores causais relacionados com os três elementosvértices do triângulo epidemiológico: o agente, o hospedeiro e o meio ambiente. O
agente patogênico é um elemento cuja presença, segui de um contato efetivo com o
hospedeiro humano susceptível, serve de estímulo a uma perturbação específica,
em condições ambientais favoráveis. Este ambiente abrange caracteres físicos,
biológicos, sociais e econômicos.
Em saúde ocupacional, o período pré-patogênico corresponde à fase em que
ocorre a exposição ao agente causador do agravo, muito antes do momento no qual
o equilíbrio dinâmico mantido entre os vértices do ―triângulo agente-hospedeiro-meio
ambiente‖ venha a ser rompido e instale-se o desequilíbrio-doenças (MENDES,
1985apud MOSCI; DINIZ, 1997).
Na observação destas conclusões verificam-se características comuns em
que as análises dos casos de doenças já instaladas poderão confirmar as assertivas
sobre o triângulo epidemiológico.
Uma das formas de se investigar o grau de exposição a um determinado
agente – também no caso do distúrbio mental – é através de avaliações ambientais
diretas, como bem evidencia o texto do Manual de Procedimentos para os Serviços
de Saúde, do Ministério da Saúde brasileiro:
Para a comprovação diagnóstica e estabelecimento da relação da doença
com o trabalho podem ser necessárias informações complementares sobre
fatores de risco identificados a partir da entrevista com paciente. No caso de
trabalhadores empregados, essas informações poderão ser solicitadas ao
empregador, como os registros de estudos e levantamentos ambientais,
qualitativos ou quantitativos, contidos no Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais (PPRA), feito por exigência da Norma Regulamentadora Nº. 9
da Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho.Também podem ser úteis os
resultados de avaliações clínicas laboratoriais realizados para o Programa
de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) em cumprimento da
Norma Reguladora Nº.7 da mesma Portaria referida anteriormente, registros
de fiscalizações realizadas pelo poder público.
Considerando-se que o excesso de pressões psicológicas sobre o indivíduo
provoca aumento de reações orgânicas de ―alerta‖, o fato, na prática, significa que
uma pessoa submetida a estresse prolongado apresenta uma consequente baixa da
resistência imunológica, o que, possivelmente, contribuirá para a instalação do
estado de doença física (LIPP, 1990).
Segundo Denver (1988), a epidemiologia apresenta três objetivos principais:
estudar a ocorrência, distribuição, extensão e progressão da saúde e da doença nas
20
populações humanas; contribuir para a compreensão da etiologia de saúde e
doença; e promover utilização de conceitos epidemiológicos na administração dos
serviços de saúde. Estes objetivos se relacionam e têm, como meta, o encontro de
uma política de saúde que promova e preserve a saúde da população (DENVER,
1988). O autor considera que o maior potencial para a ocorrência de uma política
pública eficaz encontra-se nas ações preventivas. Para que parâmetros possam ser
estabelecidos, com a consequente ação prevenção de doenças, o pré-requisito é
possuir uma noção global do que seja saúde.
O conceito de ―campo de saúde‖ é bastante adequado para fornecer esta
visão holística do indivíduo e das comunidades, e, por sua maior abrangência,
presta-se e adapta-se muito melhor à concepção ―múltipla causa/múltiplo efeito‖ da
saúde e da doença e à ampliação dos conceitos de risco (DENVER, 1988). Permite
uma abordagem mais real e racional sobre as causas de doenças com as
consequentes ações preventivas melhor delineadas. No quadro 1 pode-se observar
os elementos que compõem o conceito ―campo de saúde‖
Estilo de Vida
riscos das atividades do lazer
padrões de consumo
riscos ocupacionais da produção
Ambiente
dimensão física
dimensão social
dimensão psicológica
Biologia humana
herança genética
maturidade
envelhecimento
Organização do sistema de serviços médicos
ações preventivas
ações curativas
ações de recuperação
Quadro 3: Quadro– Conceito de ―Campo de Saúde‖
Fonte: Adaptado de Denver (1988)
No caso específico dos policiais militares, sujeitos desta pesquisa, a
exposição contínua a agentes estressores poderá, hipoteticamente, induzir ao
aparecimento de doenças psíquicas e físicas, de tal maneira que quando este
21
profissional manifestar algum distúrbio comportamental e/ou físico perceber-se-á
que esta escalada insidiosa rumo à doença poderia, em algum momento, ter sido
preventivamente interrompida. Enfim, a identificação do problema principal, ou seja,
o primeiro degrau do período pré-patogênico, bem como o diagnóstico precoce de
distúrbios psicossomáticos, com instituições de ações preventivas antes que estes
transformem o policial em um indivíduo incapacitado para o trabalho e para a vida
em sociedade, são os principais objetivos desta pesquisa.
2.6 SOFRIMENTO E SAÚDE MENTAL ENTRE POLICIAIS MILITARES
Foi a partir do início dos anos 80 que a Psicopatologia do Trabalho se
preocupou em fundamentar a clínica do sofrimento, na relação psíquica com o
trabalho. Nessa nova abordagem o trabalho (CODO, 1993), na clínica psicológica,
pode então ultrapassar seus conceitos filosóficos, econômicos e sociológicos,
passando a ser definido como uma psicopatologia, sendo que a etiologia (o agente
causal) dessa psicopatologia tem sua origem nas pressões do trabalho; pressões
essas que põem em xeque o equilíbrio psíquico e a saúde mental, na organização
do trabalho (DEJOURS, 1993).
Mais do que identificar doenças mentais específicas correlacionadas ao
trabalho, o que se toma como eixo é a dinâmica que se refere à gênese e às
transformações do sofrimento mental vinculadas à organização do trabalho. Desse
modo, a investigação em saúde mental e trabalho impõe uma ruptura com modelos
médico e psiquiátrico clássicos. Além disto, impõe realizar uma reviravolta
epistemológica suplementar, deslocando o eixo de análise da loucura para a
normalidade (DEJOURS, 1993).
O desgaste emocional a que pessoas são submetidas nas relações com o
trabalho é fator muito significativo na determinação de transtornos relacionados ao
estresse, como é o caso das depressões, ansiedade patológica, pânico, fobias,
doenças psicossomáticas, alcoolismo etc. Em suma, submetido à exposição
constante a agentes estressores relacionados ao seu fazer profissional, o sujeito
apresenta maior vulnerabilidade, de modo a comprometer sua resposta à demanda
do trabalho, podendo vir a desenvolver respostas patológicas, geralmente
identificadas como irritabilidade, nervosismo, humor deprimido, dentre outros.
22
O profissional de segurança pública, mais especificamente, o policial militar,
carrega implícito em seu papel à responsabilidade de promover o bem-estar da
população mantendo a calma, controle e coerência em suas ações. Tais fatos
levam-no a defrontar-se o tempo todo com a polaridade: expectativas versus
limitação, além de favorecer um intenso gasto de energia, na busca pela
manutenção de estereótipos e representações, reforçando a imagem de força e
imunidade.
Tais
representações
em
muito
contradizem
corriqueiras de impotência, não-saber e fragilidade.
suas
experiências
23
3 FUNDAMENTOS GERAIS SOBRE ESTRESSE E SÍNDROMEBURNOUT
3.1 ESTRESSE: O QUE É ISSO?
Ao se deparar com o Agente Estressor, que pode ser interno ou externo, o
organismo desenvolve um processo fisiológico, que consiste no somatório de todas
as reações sistêmicas, conhecido como Síndrome Geral de Adaptação. Assim,
podemos entender que essa Síndrome Geral de Adaptação ou Estresse é a
alteração global de nosso organismo para adaptar-se à uma situação nova ou às
mudanças de um modo geral.
O Estresse é, portanto, um mecanismo normal necessário e benéfico ao
organismo, pois faz com que o ser humano fique mais atento e sensível diante de
situações de perigo ou de dificuldade. Mesmo situações consideradas positivas e
benéficas, como é o caso, por exemplo, das promoções profissionais, casamentos
desejados, nascimento de filhos, etc., podem produzir Estresse.
Na adaptação do organismo (e da mente) aos estímulos estressores,
devemos entender que mesmo as situações que requerem pequenas mudanças ou
adaptações, podem gerar um grau discreto de estresse, variável de pessoa a
pessoa, conforme as características pessoais de reagir aos estímulos.
Em termos científicos, o estresse é a resposta fisiológica e de comportamento
de um indivíduo que se esforça para adaptar-se e ajustar-se a estímulos internos e
externos. Como a energia necessária para esta adaptação é limitada, se houver
persistência do estímulo estressor, mais cedo ou mais tarde o organismo entra em
uma fase de esgotamento.
Sabendo que cada pessoa reage de forma diferente aos estímulos da vida,
elas também terão limiares diferentes de esgotamento por estresse. Segundo a
sensibilidade afetiva da pessoa, portanto, segundo a "visão" que cada um tem da
realidade, da valorização do passado ou das perspectivas do futuro, as reações de
estresse podem ser mais favorecidas ou menos. Uma representação pessimista da
realidade pode favorecer estas reações, enquanto a representação positiva produz
amenizar os efeitos estressores.
24
Efeitos indiretos sobre o
comportamento
Menor adesão ao
tratamento;
Atraso na busca de
atendimento;
Menor probabilidade
de buscar
atendimento;
Sintomas ocultos.
Efeitos indiretos mediados
pelo comportamento
Aumento do hábito
de fumar, beber e
usar drogas;
Nutrição pior;
Efeitos fisiológicos diretos
Sono deficiente.
Elevação da pressão
arterial;
Elevação do
colesterol;
Redução da
imunidade;
Maior atividade
hormonal.
Quadro 4: Efeitos do Estresse
Fonte: Psiqweb, 2008
3.2FATORES ESTRESSANTES
Em tese, Estresse é a resposta fisiológica, psicológica e comportamental de
um indivíduo que procura se adaptar e se ajustar às solicitações internas e/ou
externas. Essas solicitações capazes de levar ao Estresse são chamadas de
Fatores Estressantes ou Agentes Estressores.
Assim sendo, Fator Estressor é um acontecimento, uma situação, uma
pessoa ou um objeto capaz de proporcionar suficiente tensão emocional, portanto,
capaz de induzir à reação de Estresse.
Os fatores estressantes podem variar amplamente quanto à sua natureza,
abrangendo desde componentes emocionais, como por exemplo a frustração,
ansiedade, perda, até componentes de origem ambiental, biológica e física, como é
o caso do ruído excessivo, da poluição, variações extremas de temperatura,
problemas de nutrição, sobrecarga de trabalho, etc. De um modo geral vale a
classificação dos estressores como está no quadro ao lado.
Podemos ainda considerar os estressores como tendo origem interna ou
externa ao indivíduo. Se colocarmos um gato junto de um cão feroz, depois de
algum tempo o gato estará esgotado; primeiro ele terá muita ansiedade, entrará em
Estresse e, se o estímulo estressor persistir (presença do cão), ele se esgotará.
Tendo em vista o fato de o gato representar para o cão uma ameaça menos
agressiva que o cão representa para ele, o cão ficará esgotado depois do gato.
Nesse caso o cão representa para o gato um estímulo estressor externo, por estar
fora do gato e, inato, por fazer parte da natureza biológica de todos os gatos.
25
Assim sendo, nos animais os estímulos para desencadear a ansiedade
podem ter duas naturezas e uma só origem: quanto à natureza eles podem
serinatos, como vimos do tipo gato tem medo de cachorro ou, por outro lado,
condicionados por treinamento e experiência.
Quanto à origem serão predominantemente externos, partindo do pressuposto
que os animais não têm condições para alimentarem conflitos intrapsíquicos. Mesmo
assim, podemos dizer que alguns estímulos estressores para animais têm origem
interna quando provém de comportamentos inatos.
No ser humano, dito civilizado, esses estímulos costumam ter duas origens;
podem ser externos e, principalmente, internos. Os estímulos internos são oriundos
dos conflitos pessoais os quais, em última instância, refletem sempre a
tonalidadeafetiva de cada um. Os estímulos externos, por sua vez, representam as
ameaças concretas do cotidiano de cada um.
Nossa capacidade de perceber o mundo individualmente proporciona uma
representação pessoal da realidade. Essa percepção pessoal da realidade, diferente
em cada um de nós, é chamada de procepção da realidade. O principal
conhecimento que devemos ter disso é que a realidade será sempre representada
intimamente e de acordo com os filtros afetivos de cada um (para entender melhor
veja a sugestão no quadro abaixo).
Origem
Nos Animais
Natureza
Origem
No Ser Humano
Natureza
Externos
Condicionados
Externos
Adversidades, conflitos.
Internos
Inatos
Internos
Transtornos afetivos, traços de
personalidade.
Quadro 5: Procepção da realidade
Fonte: Psiqweb,2008
Portanto, por causa da percepção individual que temos da realidade não é
totalmente lícito dizer que esse ou aquele determinado fato são estressores, pois
alguns fatos podem representar estressores para alguns e não para outros.
A percepção pessoal da realidade engloba toda a realidade ou toda nossa
maneira de ver e sentir o mundo. Engloba não apenas a concepção que temos das
coisas que estão fora da gente como os conceitos que temos dentro da gente. Isso
26
inclui também a imagem que nós temos de nós mesmos, ou seja, inclui nossa
própria autoestima.
3.3A FORÇA DOS ESTRESSORES
Vários autores tentaram estabelecer alguma espécie de graduação de
importância para os vários estímulos estressores possíveis no cotidiano. Embora
algumas listas possam dar a ideia de grau ou da força variável dos estressores,
como por exemplo, o caso da separação conjugal que seria mais estressante que
mudança de emprego e menos do que a morte do filho, tais tabelas perdem o valor
quando consideramos que as pessoas são muito diferentes quanto à sua forma de
reagir aos desafios impostos pela vida.
Algumas pessoas podem superar perfeitamente alguma perda importante,
enquanto outros podem desenvolver um transtorno emocional como resposta à
acontecimentos estressantes de menor importância. As variáveis pessoais
desempenham um papel decisivo na maneira de reagir aos eventos de vida.
De um modo geral, pelo menos é bom termos em mente que existem
categorias de estressores que nos impõem grandes esforços adaptativos, como por
exemplo, a morte de um ente querido, uma grande perda, severos revezes
econômicos, constatação de doença séria, etc., e, ao lado desses, existem os
pequenos acontecimentos estressantes do cotidiano que acontecem com maior
frequência na vida das pessoas e, finalmente, existem ainda a influência dos
conflitos íntimos pessoais.
Ao se estudar a Violência Urbana e suas consequências psiquiátricas,
podemos encontrar tabelas (como a abaixo) que listam estímulos estressores
relacionados ao desenvolvimento Transtorno por Estresse Pós-Traumático de
intensidade moderada ou grave. Atualmente, as guerras e os refugiados que estas
ocasionam, também estão sendo objeto de especial atenção por parte dos
investigadores.
27
Estímulos estressantes e porcentagem de Transtorno por Estresse PósTraumático
Autor
Ano
Acontecimento
%
Terr
1981
Sequestro
100
Pynoos
1987
Ataque de franco-atirador
93
McLeer
1988
Abuso sexual
48
McLeer
1993
Agressão física
25
Reinherz
1996
Furacão
70
Shaw
1996
Terremoto
32
Najarian
1996
Guerra
71
Savin
1997
Incêndio
12
March
1999
Desastre nuclear
88
Korol
1999
Guerra
50
Sack
2000
Violência doméstica
24
Tabela 1: Violência urbana e suas conseqüências psiquiátricas
Fonte: Psiqweb, 2008
De qualquer forma é fundamental ter em mente que a força dos estressores
depende mais da sensibilidade do sujeito do que do valor do objeto, ou seja,
depende de como e com que peso a pessoa valoriza o evento (interno ou externo),
mais do que o evento em si. Há pessoas que vivenciam as mesmas experiências
que outros e regem diferentemente, experimentando estresse de grau variado ou, às
vezes, nem se estressando. É por isso que estudamos, a seguir, o aspecto pessoal
dos estressores.
3.4EFEITOS PESSOAIS DOS ESTRESSORES
Nossa capacidade de conhecer o mundo decorre de nossa percepção
pessoal da realidade. Essa percepção pessoal da realidade, diferente em cada um
de nós, é chamada de procepção da realidade.
O principal conhecimento que devemos ter disso, é que a realidade será
sempre representada intimamente e de acordo com os filtros afetivos de cada um,
ou seja, de acordo com a sensibilidade (afetiva) de cada um.
A percepção pessoal da realidade engloba toda a realidade ou toda nossa
maneira de ver e sentir o mundo e só essa realidade (única para nós) nos interessa.
Nossa percepção pessoal da realidade engloba não apenas a concepção que temos
das coisas que estão fora da gente, como os fatos, eventos, objetos, pessoas, etc.,
mas também os conceitos que cultivamos dentro da gente, nossas escalas de
28
valores, nossos conflitos e complexos. Dentro de todo esse material interno ou
intrapsíquico inclui-se, também, a imagem que nós temos de nós mesmos, ou seja,
inclui nossa autoestima.
Nossa autoestima, por exemplo, poderá ser representada mais negativamente
ou mais positivamente, de acordo com a tonalidade afetiva de cada um. Algumas
pessoas se veem ótimos, outras se veem péssimos. Assim sendo, a ideia que temos
de nós mesmos pode, por si só, ser um estímulo agressivo e causador de
ansiedade, caso seja uma ideia de nós seja uma ideia ruim e que nos perturba
constantemente.
3.5ESTRESSE E TRABALHO
Talvez o ambiente do trabalho tenha se modificado e acompanhado o avanço
das tecnologias com mais velocidade do que a capacidade de adaptação dos
trabalhadores. Os profissionais vivem hoje sob contínua tensão, não só no ambiente
de trabalho, como também na vida em geral.
Há, portanto, uma ampla área da vida moderna onde se misturam os
estressores do trabalho e da vida cotidiana. A pessoa, além das habituais
responsabilidades ocupacionais, além da alta competitividade exigida pelas
empresas, além das necessidades de aprendizado constante, tem que lidar com os
estressores normais da vida em sociedade, tais como a segurança social, a
manutenção da família, as exigências culturais, etc. É bem possível que todos esses
novos desafios supere os limites adaptativos levando ao estresse.
O tipo de desgaste à que as pessoas estão submetidas permanentemente
nos ambientes e as relações com o trabalho são fatores determinantes de doenças.
Os agentes estressores psicossociais são tão potentes quanto os micro-organismos
e a insalubridade no desencadeamento de doenças. Tanto o operário, como o
executivo,
podem
apresentar
alterações
diante
dos
agentes
estressores
psicossociais.
Um dos agravantes do Estresse no Trabalho é a limitação que a sociedade
submete as pessoas quanto às manifestações de suas angústias, frustrações e
emoções. Por causa das normas e regras sociais as pessoas acabam ficando
prisioneiras do politicamente correto, obrigadas a aparentar um comportamento
emocional ou motor incongruente com seus reais sentimentos de agressão ou medo.
29
No ambiente de trabalho os estímulos estressores são muitos. Podemos
experimentar ansiedade significativa (reação de alarme) diante de desentendimentos
com colegas, diante da sobrecarga e da corrida contra o tempo, diante da
insatisfação salarial e, dependendo da pessoa, até com o tocar do telefone. A
desorganização no ambiente ocupacional põe em risco a ordem e a capacidade de
rendimento do trabalhador. Geralmente as condições pioram quando não há clareza
nas regras, normas e nas tarefas que deve desempenhar cada um dos
trabalhadores, assim como os ambientes insalubres, a falta de ferramentas
adequadas.
Fatores intrapsíquicos (interiores) relacionados ao serviço também contribuem
para a pessoa manter-se estressada, como é o caso da sensação de insegurança
no emprego, sensação de insuficiência profissional, pressão para comprovação de
eficiência ou, até mesmo, a impressão continuada de estar cometendo erros
profissionais. Isso tudo sem contar os fatores internos que a pessoa traz consigo
para o emprego, tais como, seus conflitos, suas frustrações, suas desavenças
conjugais, etc.
3.6SÍNDROME DE BURNOUT
Chamada Síndrome de Burnout é definida por alguns autores como uma das
consequências mais marcantes do estresse profissional, e se caracteriza por
exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade
com relação a quase tudo e todos (até como defesa emocional). Enfim, a Síndrome
de Burnout representa o quadro que poderíamos chamar ―de saco cheio‖ ou ―não
aguento mais‖.
O termo Burnout é uma composição de burn= queima e out = exterior,
sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de estresse consome-se física e
emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço. A
expressão Burnoutem inglês, entretanto, significa aquilo que deixou de funcionar por
completa
falta
de
energia,
por
ter
sua
energia
totalmente
esgotada,
metaforicamente, aquilo que chegou ao seu limitemáximo.
A prevalência da Síndrome de Burnout ainda é incerta, embora os dados
sugiram que acomete um número muito expressivo de pessoas. A epidemiologia da
Síndrome de Burnout tem aspectos bastante curiosos, como mostrou o detalhado
30
trabalho de Martinez, onde os primeiros anos da carreira profissional resultaram os
mais vulneráveis ao desenvolvimento da síndrome.
Também parece haver uma preponderância do transtorno nas mulheres,
possivelmente devido à dupla carga de trabalho que concilia a prática profissional e
a tarefa familiar. Com relação ao estado civil, tem-se associado a síndrome mais
com as pessoas sem parceiro estável.
Com muita frequência este quadro está associado a outros transtornos
emocionais,
geralmente
com
a
depressão
e/ou
ansiedade.
Esse transtorno tem importância na medida em que afeta a vida pessoal, seja
através das repercussões físicas desse estresse psíquico, seja no comprometimento
profissional quanto a eficiência e desempenho, seja social na desarmonia dos
relacionamentos interpessoais.
Como síndrome, o Burnoutseria o resultado da combinação entre as
características individuais do paciente com as condições do ambiente ou do
trabalho, o qual geraria excessivose prolongados momentos de estresse no trabalho.
Essa síndrome se refere a um tipo de estresse ocupacional e institucional com
predileção para profissionais que mantêm uma relação constante e direta com
outras pessoas, principalmente quando esta atividade é considerada de ajuda
(médicos, enfermeiros, professores).
De fato, esta síndrome foi observada, originalmente, em profissões
predominantemente relacionadas a um contato interpessoal mais exigente, tais
como médicos, psicanalistas, carcereiros, assistentes sociais, comerciários,
professores, atendentes públicos, enfermeiros, funcionários de departamento de
pessoal, telemarketing e bombeiros. Hoje, entretanto, as observações já se
estendem a todos profissionais que interagem de forma ativa com pessoas, que
cuidam e/ou solucionam problemas de outras pessoas, que obedecem a técnicas e
métodos mais exigentes, fazendo parte de organizações de trabalho submetidas às
avaliações.
Outros autores, entretanto, julgam a Síndrome de Burnout algo diferente do
estresse genérico. Para nós, de modo geral, vamos considerar esse quadro de
apatia extrema e desinteresse, não como sinônimo de algum tipo de estresse, mas
como uma de suas consequências bastante sérias.
Definida como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do
contato direto, excessivo e estressante com o trabalho, essa doença faz com que a
31
pessoa perca a maior parte do interesse em sua relação com o trabalho, de forma
que as coisas deixam de ter importância e qualquer esforço pessoal passa a parecer
inútil.
Entre os fatores aparentemente associados ao desenvolvimento da Síndrome
de Burnout está a pouca autonomia no desempenho profissional, problemas de
relacionamento com as chefias, problemas de relacionamento com colegas ou
clientes, conflito entre trabalho e família, sentimento de desqualificação e falta de
cooperação da equipe.
Os autores que defendem a Síndrome de Burnout como sendo diferente do
estresse, alegam que esta doença envolve atitudes e condutas negativas com
relação aos usuários, clientes, organização e trabalho, enquanto o estresse
apareceria mais como um esgotamento pessoal com interferência na vida do sujeito
e não necessariamente na sua relação com o trabalho.
No Brasil, segundo o decreto 3.048 de 6 de maio de 1999, que fala sobre
agentes patogênicos causadores de doenças ocupacionais, a Síndrome de Burnout
está classificada junto aos Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados
com o Trabalho, manifestando-se com a sensação de estar acabado. Neste caso a
Síndrome de Burnout aparece como sinônimo deSíndrome de Esgotamento
Profissional.
Refletindo mais realisticamente sobre alguns preceitos culturais que envolvem
o trabalho, tais como ―o trabalho enobrece... etc.‖, Dejours (1992) já afirmava que
nem sempre o trabalho possibilita a realização profissional. Algumas vezes o
trabalho pode causar desde insatisfação ou frustração, até a exaustão emocional.
Freudenberg foi um dos primeiros a descrever essa síndrome em 1974,
inicialmente constatando-a apenas em funcionários das equipes de saúde mental.
Observava que, com o passar do tempo, alguns desses funcionários apresentavam
uma síndrome composta por exaustão emocional e adaptativa, desilusão ou
frustração e vontade de isolamento social.
Os sintomas básicos dessa síndrome seriam, inicialmente, uma exaustão
emocional onde a pessoa sente que não pode mais dar nada de si mesma. Em
seguida desenvolve sentimentos e atitudes muito negativas, como por exemplo,
certo cinismo na relação com as pessoas do seu trabalho e aparente insensibilidade
afetiva.
32
Finalmente o paciente manifesta sentimentos de falta de realização pessoal
no trabalho, afetando sobremaneira a eficiência e habilidade para realização de
tarefas e de adequar-se à organização.
Esta síndrome é o resultado do estresse emocional incrementado na
interação com outras pessoas. Algo diferente do estresse genérico, a Síndrome de
Burnout geralmente incorpora sentimentos de fracasso. Seus principais indicadores
são: cansaço emocional, despersonalização e falta de realização pessoal.
33
4A PROFISSÃO POLICIAL MILITAR NO BRASIL ATUAL
4.1 O ESTRESSE VIVIDO PELO POLICIAL MILITAR
Enquanto instituição, a Polícia Militar (PM) do Brasil tem uma estrutura
burocrática, com raízes no século XIX, cuja lógica sofreu reconfigurações no período
dos governos militares. Mesmo com essas mudanças, o princípio de atuação se
manteve, com o impedimento de qualquer ideia de contestação social de grupos
legais (ou ilegais) contrários ao poder vigente na época.
Mas a atual conjuntura social, pela qual passa a sociedade brasileira,
diferencia-se daquela de tempos idos. Hoje, a PM não tem como prioridade
acompanhar ou coibir esses grupos, uma vez que existe uma realidade cadenciada
pelo aumento da violência difusa na sociedade e da criminalidade. Além disso, as
sociedades contemporâneas se caracterizam por um descompasso crescente em
relação às políticas públicas de cunho social e de infraestrutura.De um modo geral,
considera-se que a atividade exercida pelo policial militar é de alto risco, pois são
profissionais que lidam diariamente com a violência e a brutalidade. Segundo a
literatura, a profissão do policial militar é uma das que mais sofre de estresse, pois
trabalha sob forte tensão, muitas vezes em meio a situações que envolvem risco de
vida. (COSTA, 2007).
A principal função da polícia ostensiva, por exemplo, é o combate à
criminalidade. Então, pode-se dizer que estes policiais lidam diretamente com a
violência e, portanto, exercem uma atividade que envolve riscos à vida e à saúde,
desencadeando, muitas vezes, um desgaste físico e psicológico, o que acaba por
gerar estresse (BARCELLOS, 1999).
Segundo Amador (2000), outro aspecto importante do trabalho policial é que
este não tem reconhecimento da sociedade, o que acaba por gerar sentimentos de
frustração, inutilidade e improdutividade nos profissionais. Para Moraes, Gusmão,
Pereira e Souza (2001), a insatisfação dos próprios policiais se evidencia através
das greves e comportamentos violentos que ocorreram na última década. Tal
insatisfação, somada ao não reconhecimento do trabalho policial, resulta em uma
queda da autoestima dos policiais, o que influencia na motivação e no
comprometimento dos mesmos, propiciando, talvez, maior vulnerabilidade ao
estresse e outros transtornos.Ao se deparar com essa situação, os estudiosos da
área de segurança pública chegam a questionar a eficiência da organização do
34
trabalho que a PM brasileira emprega. Nesse contexto, a percepção de insegurança
pública torna-se visível e preocupante, para não dizer assustadora, nas grandes
cidades.
4.2 O POLICIAL MILITAR
A prioridade, para a polícia militar, é guardar a cidade, promover a ordem e
garantir a segurança do cidadão, respeitando os direitos humanos fundamentais
(JESUS, 2004).
Para que possa ser um servidor eficiente, o policial militar, sem distinção de
sexo ou idade, terá que submeter-se a treinamento constante e assim evitar a
criação de soluções individuais para os mais variados problemas. A hierarquia
deverá ser absolutamente observada e o policial militar terá que adequar-se às
situações que se apresentem no trabalho diário, a fim de cumprir suas funções a
contento. Mais que acusar o funcionário policial militar pela insegurança
generalizada, nos dias atuais, a opinião pública dirige seus protestos contra a
instituição ―Polícia Militar‖, da qual o homem policial é legítimo representante
(JESUS, 2004).
A polícia é uma organização administrativa cuja atribuição é impor limites à
liberdade, na exata medida da salvaguarda e da preservação da ordem pública
(JESUS, 2004). O mesmo autor afirma que é correto pensar que a polícia militar
precisa ser eficaz naquilo que lhe cabe, e, para isso, deve e necessita melhorar
muito, justamente para resgatar a confiança da população assistida.
Um ponto importante a se considerar é que os policiais militares são oriundos
desta sociedade que lhes cabe proteger. Desta forma, Jesus (2004) acredita que os
especialistas em segurança pública, os políticos, as elites policiais, os intelectuais,
fazem um ―exercício perverso de análise das questões policiais‖, prejudicando o
encontro de soluções consistentes para o combate à criminalidade, arbitrariedade,
corrupção policial, por que insistem em ignorar que o policial militar atuante é
produto desta comunidade que exige competência em segurança.
É consenso que ser policial é uma atividade perigosa, e é evidente que um
ser humano – que se lança com tanto empenho para salvar vidas e promover o bemestar da coletividade – tem um desprendimento emocional diferenciado, sugerindo
ou uma propensão autodestrutiva (RIBEIRO, 1995) ou o ―complexo de super-
35
homem‖ (LIMA, 2002).
O ―ser herói‖ está envolto em um profundo simbolismo
sociocultural, mas, sendo uma conduta habitual no cotidiano do policial militar, esta
aura de ―mocinho cinematográfico‖ é incorporada pelo servidor, que passa a agir
como se fosse imune aos percalços da profissão, inclusive com a sensação de ser
blindado, ou, como diz Lima (2002), uma ―fênix‖, que renasce diariamente de suas
cinzas a cada início de turno. O indivíduo internaliza esta sensação de imortalidade
e julga-se superior aos outros mortais. ―Com o passar do tempo, há uma
sedimentação deste pensamento no inconsciente do policial, a ponto de supor-se
um ―árbitro do comportamento humano‖, ―um verdadeiro super-homem‖. Esta
configuração psicológica, associada à rotina, termina por criar uma alteração de
―complexo de super-homem‖ (LIMA, 2002).
O ―complexo de super-comportamental chamadohomem‖ exige do policial a
criação de uma couraça psicológica, no dizer de Lima (2005). Esta couraça é
variável conforme as configurações psicológicas de cada policial, mas o objetivo
principal é proteger o indivíduo de agressões psíquicas do cotidiano: as inerentes ao
trabalho acrescidas dos problemas familiares, conjugais, financeiros, consumo de
bebidas alcoólicas, demandas administrativas, enfim, tudo que conduza a um
desequilíbrio psíquico imediato e coloque em risco o emprego deste servidor.
Obviamente esta couraça cumpre sua função, na guerra diária vivida pelo policial, e
traz em si pontos positivos e negativos. Os positivos seriam reforçar o ânimo do
policial e permitir-lhe sobreviver psiquicamente a tantos dissabores trazidos pela sua
atividade laboral. Os aspectos negativos surgem quando o policial confia
demasiadamente em seu equilíbrio psicológico e enfrenta incidentes traumáticos
sem que esteja absolutamente preparado. Muitas vezes, nestes eventos críticos, sua
débil couraça se rompe e o policial sente-se fragilizado e incapaz de atuar, a curto e
médio prazo.
Os perigos da formação desta couraça psicológica traduzem-se no excessivo
distanciamento emocional em contatos interpessoais, atingindo o policial quanto à
sensibilidade nas relações humanas e enfoque de mundo (LIMA, 2005). Outro fator
que assombra o homem policial é o temor da morte.
O heroísmo é primeiro, e, sobretudo, um reflexo do terror da morte (LIMA,
2005). ―O medo é uma manifestação instintiva, de intensidade variável em cada um
de nós e é parte de um conjunto de impulsos próprios da autopreservação, visto que
nos faz fugir das situações de perigo‖ (GIKOVATE, 2002).Zilboorg (1943, apud
36
LIMA, 2005) salienta que o medo é, de fato, uma expressão do instituto da
autoconservação, que funciona como um impulso constante para conservar a vida e
sobrepujar os perigos que a ameaçam. Concluem, portanto, estes autores, que o
medo da morte é essencial para a manutenção da vida e Lima (2005) ousa, ao
sugerir que o temor da morte é que mantém o policial vivo e com sentidos aguçados,
em permanente estado de vigília.
Lima (2005) apresenta um modelo de perfil psicológico idealizado para o
trabalhador que pretende ser policial militar.
Esta lista, que inclui itens como autoridade, sensibilidade, atenção aos
detalhes,
resistência física,
capacidade de
comunicação oral,
inteligência,
sociabilidade, adaptabilidade entres outros, fica além do que se pode esperar de
jovens que desejam seguir a carreira policial militar. Já foi dito, anteriormente, que a
profissão não é valorizada como deveria, em face dos múltiplos problemas
enfrentados pelos policiais militares, sendo um dos mais visíveis a remuneração,
insuficiente para manter uma boa qualidade de vida. Portanto, existem algumas
regras mínimas para avaliação psicológica dos candidatos a policial militar, como em
todas as profissões em que o sistema organizacional precisa exercer controle sobre
seus funcionários com o intuito de evitar problemas. Qualquer erro praticado por
agente da lei, como aponta Lima (2005), afeta diretamente o cidadão, vítima do
despreparo ou erro policial; afeta a imagem da instituição à qual pertence,
maculando sua imagem e a confiabilidade pública; afeta genericamente a sociedade
que deve ser protegida pelo aparelho de segurança, e afeta o próprio policial, que
tem prejuízos funcionais com seu desempenho. Finalmente, Lima (2005), enumera
os tipos de perfis propensos a causar danos a si e à instituição ―Polícia Militar‖,
baseado em pesquisas realizadas por psicólogos para o Instituto Nacional de Justiça
do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. O estudo foi realizado como
proposta de rastreamento e estabelecimento de perfis problemáticos, e se utilizou de
entrevistas com policiais militares envolvidos com o uso indevido da força.
Os tópicos objetivaram evidenciar: policiais com desordem de personalidade,
grau de experiência dos policiais, policiais com problemas nos estágios, policiais que
apresentavam problemas pessoais e os que desenvolviam estilos de patrulhamento
impróprios. Através da análise destes parâmetros pode ser programada uma política
de recursos humanos que atinjam os objetivos institucionais (LIMA, 2005).
37
Quanto ao efetivo brasileiro, os números encontram-se no site da Revista
Exame, tendo como fontes o Ministério da Justiça, a Polícia Militar do Estado de
Sergipe e a Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais, Censo 2010. O Brasil tem
mais de 400 mil PMs, responsáveis pelo policiamento ostensivo.
A presença deles em cada Estado, porém, varia – dados de 2011,
contabilizando um total de 404.990 policiais militares em atividade. A apresentação
destes dados está relacionada à região de atuação do servidor. Há nítida maioria de
policiais na região sudeste, como se pode ver na tabela 2, a despeito de menor área
geográfica em relação às demais – com exceção da região sul, que é a menor
região do Brasil.
Região
Número de Policiais
Norte
37.480
Nordeste
110.301
Centro - oeste
38.275
Sudeste
172.465
Sul
46.469
TOTAL
404.990
Tabela 2: Distribuição da presença policial conforme as regiões do Brasil.
Fonte: Ministério da Justiça, Polícia Militar do Estado de Sergipe e Secretaria de DefesaSocial
de Minas Gerais.
Sobre gêneros, Calazans (2004) relata que, no Brasil, a facilitação para o
ingresso de mulheres nos quadros das policias militares deu-se na década de 80. O
Estado de São Paulo foi pioneiro nesta questão e, em 1955, passou a admitir
mulheres na instituição policial. Completa, observando que, até o ano de 2004, eram
26 os Estados brasileiros com policiais militares femininas em suas companhias e
batalhões.
No Brasil, a filosofia tradicional de policiamento é movida pelo espírito
belicoso do Exército Nacional e por ideologias machistas, assim, o tratamento para a
inserção de mulheres nos quadros das polícias dá-se de uma forma muito limitada e
com pouca visibilidade. Atualmente, nos Estados brasileiros, encontramos os mais
diversos tratamentos à incorporação de mulheres nas polícias militares, manifestos,
sobretudo por meio de restrições legais e informais, o que vem dificultando a
inserção e a ascensão na carreira. (CALAZANS, 2004).
38
4.3 ELEMENTOS QUE GERAM TRANSTORNOS PSÍQUICOS PSICOSSOMÁTICOS NO
POLICIAL MILITAR
A constatação do elevado índice de suicídios, em pesquisa realizada no início
dos anos 90, pela corporação policial militar do Estado de São Paulo, despertou a
cúpula administrativa das policias militares para um grave problema que exigia
intervenções imediatas. O estarrecedor resultado, acusando os policiais militares de
recorrerem ao suicídio de cinco a oito vezes mais que a população civil, veio
confirmar as suposições dos comandantes das instituições (RIBEIRO, 1995).
Segundo o autor, os oficias mais graduados observavam policiais com problemas de
suicídio, depressão, alcoolismo, indefinições amorosas, ao lado de patologias físicas
que provocavam incapacidades temporárias.
Para Ribeiro (1995), a mais traumatizante experiência do policial militar ocorre
à época de seu ingresso na corporação: a exigência – tida como pré-requisito para o
desempenho adequado de suas funções – da desvinculação do homem policial de
suas origens. A justificativa para esta imposição é garantir que o novo policial exerça
sua autoridade sem resistências, numa atuação isenta de chantagens emocionais.
Num primeiro instante, o indivíduo recebe uma nova identidade social: será
conhecido pelo seu ―nome de guerra‖, que consta, em geral, do prenome abreviado
e da prevalência do nome da família. ―O conhecido José da Silva, além de receber
um novo atributo que é o de ser Aluno soldado, deixa de ser simplesmente o José,
ou Zé, como sempre foi conhecido, desde criança, e passa a ser aluno Soldado
PMSilva‖ (RIBEIRO, 1995).
Este fato, completa Ribeiro (1995), associado à mudança de sua perspectiva
existencial, pode provocar uma dolorosa ruptura em sua história de vida e um atroz
acometimento de dúvidas quanto ao seu presente e seu futuro, pois ele nem está
totalmente inserido na nova realidade como nem se liberou da anterior. Outro evento
de impacto considerável na vida do policial militar em início de carreira é a ―ordem
unida‖. Consiste em exercício de marcha, em grupo, sob o comando de um instrutor.
O objetivo é condicionar e ensinar aos homens que todos devem se sujeitar ao
comando do seu superior – o comandante – e explicitar que as ordens deverão ser
cumpridas reflexamente e sem questionamentos. E, finalmente, para mostrar que as
ações serão mais efetivas se forem executadas em grupo. Ribeiro (1995), conclui
que por mais que a Corporação se esforce, o indivíduonão romperá com facilidade
39
os seus vínculos anteriores, o que dificultará a introjeção dos valores morais e éticoculturais pretendidos.
A ambivalência de sentimentos que o policial militar apresenta, a partir do
momento em que passa a pertencer à organização militar, constitui-se num
importante fator de desequilíbrio psicossomático. Segundo Filho;Gall (2002) quando
policiais mais capacitados são submetidos a humilhações injustificadas, a tendência
é direcionarem sua revolta contra a própria família, contra os cidadãos comuns, e
investirem com agressividade contra si mesmos, tornando-se alcoolistas e tentando
autoextermínio.
Lima (2002) aponta que o suicídio é o pior efeito da tensão no policial.
Informa, como Ribeiro (1995), que a taxa de suicídios em policiais militares é muito
maior que na população civil, apesar da precariedade das pesquisas brasileiras.
Lima (2002) listou algumas características que promovem intenso estresse nos
policiais militares em atividade:
1)
São vistos como figuras de autoridade, e, ao mesmo tempo, temidas. A
população civil trata os policiais como se diuturnamente estes servidores
estivessem de plantão. Esperam, sempre, que os policiais militares resolvam
seus inúmeros problemas, mesmo os não relacionados à atividade laboral do
servidor.
2)
É consenso que o policial vive num mundo à parte. A partir do momento em
que um novo policial enverga um uniforme e usa um distintivo,
automaticamente será separado da sociedade à qual serve; considera-se que
este impulso de segregação aplicado ao policial – pela corporação e pelas
comunidades – termina por provocar sentimentos destrutivos no policial, e em
particular, a agressividade.
3)
A organização para a qual os policiais militares trabalham exige o sacrifício do
indivíduo para o bem da coletividade. A instituição é hierarquizada e, assim
estruturada, não se preocupa em analisar os anseios de cada um dos
integrantes da corporação, interessando-se apenas em fazer ―O grupo‖
funcionar a contento. Por melhor que seja o trabalho do indivíduo, ele será
sobrepujado pelas metas supremas à que a instituição se propôs. Como o
elemento policial militar não pode reagir, por questões de disciplina, acumula,
em si, as pressões externas – da sociedade e da corporação – e as internas:
40
suas dúvidas, seus temores, seu desejo de reconhecimento. Estas pressões
conjugadas, fatores de geração de estresse, contribuem para o aparecimento
de doenças físicas e mentais.
4)
Inexiste, para os policiais militares, um horário regular de trabalho. O corpo
humano segue padrões biológicos de funcionamento, sendo necessária uma
certa regularidade temporal na programação da alimentação e repouso. As
jornadas de trabalho estabelecem um rodízio de turnos e este procedimento
influencia de modo importante a saúde física e mental dos servidores. Por
influência destes horários irregulares, a vida familiar e o relacionamento
conjugal ficam prejudicados, aumentando os desentendimentos entre
pessoas, e predispondo o policial a situações como divórcio e incapacidade
de acompanhar o desenvolvimento de seus filhos.
5)
A camaradagem entre membros dos grupos é um fator importante para a
manutenção da ordem e coesão da equipe. O policial que interage com seus
pares com espírito de colaboração sabe que o apoio psicológico que o grupo
oferece será de grande valia quando da ocorrência de transtornos inerentes à
profissão. Necessário frisar o intenso sentimento de vergonha quando alguém
do grupo pratica atos socialmente reprováveis; nestes casos, toda a
instituição fica abalada, com sentimento de fracasso coletivo pela percepção
da perda de credibilidade da comunidade para com o servidor. Fator extremo
de tensão sobre o policial militar é quando um colega falece em serviço, no
cumprimento do dever.
6)
Tensão de estouro. Para a maioria das pessoas as tensões seguem um
processo escalonado, ou seja, vão aumentando gradativamente sua
intensidade, permitindo que, em algum momento, esta situação possa ser
interrompida, preventivamente. No caso dos policiais, esta escalada não
observa estas características, e, da calma completa o policial vai, em questão
de segundos, para um nível máximo de tensão. Esta particularidade é
chamada de tensão de estouro. O reflexo imediato desse ―estouro‖ é visto
diariamente nas reações emocionais, as mais imprevisíveis possíveis, e nas
ações intempestivas de alguns policiais militares, amplamente divulgadas
pelas mídias. Pode-se imaginar o quanto este descontrole psíquico afeta o
policial, a corporação e a sociedade civil.
41
7)
O policial e os direitos humanos – o policial sob a orientação da lei, da justiça
e do cumprimento do dever. A realidade cotidiana mostra, aos policiais
militares, as variações a que estes conceitos são submetidos. Nem sempre o
comportamento humano em relação ao padrão estabelecido está de acordo
com o prescrito pela instituição militar. O policial que detecta a inobservância
da lei em todas as suas fases e que identifica em si uma incerteza sobre a
efetividade da justiça desenvolve sentimentos de desesperança quanto aos
seus objetivos de vida e impotência na prática de seu ofício.
8)
―O mundo real do trabalho policial é muito negativo‖, conclui Lima (2002). Por
conviver intimamente com os piores segmentos da sociedade, o policial militar
perde a confiança irrestrita em seus amigos, vizinhos e familiares; o cinismo
passa a comandar seu “modus operandi”e o indivíduo cria uma visão de
mundo extremamente crítica.
9)
Lima (2005) afirma:
É mister que o serviço policial contínuo, sem mudanças de
setores e alternâncias de funções é o que mais provoca
traumas no policial e, quando associado a um incidente
crítico de encontro mortal, acaba por se tornar fatal para a
saúde mental dos policiais, que, de todos os agentes da lei,
são os que de uma forma ou outra são maiores vítimas
psiquiátricas reais ou em potencial no serviço policial.
Durante as guerras e na vida militar ocorre a chamada ―síndrome de
evacuação‖. Esta eventualidade, descrita por Lima (2005) está diretamente ligada ao
trauma do afastamento da linha de combate. A tendência do policial é considerar
que seu desligamento da linha de combate seja uma atitude arbitrária de seu
comandante, ―uma forma de castigo‖, e, ato contínuo, retrai-se em dúvidas e
temores, sendo reticente sobre as causas que provocaram o seu afastamento. Os
policiais da equipe intuem esta conotação negativa que a dispensa por motivos
indefinidos tem, e passam a mascarar seus traumas, com receio de também serem
afastados de suas atividades laborais. Infelizmente, na maior parte das vezes, as
vítimas de traumas, apesar de preventivamente dispensadas, retornam às suas lides
sem terem sido socorridas psicologicamente. As instituições militares preocupam-se
em fazer o funcionário reitegra-se ao serviço operacional rapidamente, sem
atentarem para os graves problemas que ele traz em si, e que refletirão, muito
provavelmente, nas atividades do grupo ao qual pertence.
42
O autor considera, também, que a interferência da mídia nas atividades
policiais e a maneira como interpretam eventos são fatores de alta tensão para o
policial, principalmente pelo desgaste e pela exposição pública à qual é submetido.
Opinião semelhante sobre a importância, como gerador de estresse, do treinamento
aplicado aos jovens aspirantes a policiais militares, têm Albuquerque; Machado
(2001), quando da profunda análise sobre Jornada de Instrução Militar (JIM) em
academia no Estado da Bahia.
A Jornada de Instrução Militar (JIM) é vista como um rito
revelador da enorme tensão hoje existente na corporação,
entre o que se quer reproduzir e o que de fato reproduz
quando da implementação de um novo quadro curricular e
de uma nova mentalidade, segundo Linhares de
Albuquerque (1999) e Bourdieu (1992). Foi a própria
Corporação que contratou especialistas para a elaboração
de um novo currículo capaz de dar conta de uma nova
fisionomia policial. Paradoxamente, ela sustenta e celebra
ritos que são formas de enfraquecer e boicotar essa
mudança (ALBUQUERQUE; MACHADO, 2001).
Essa jornada de instrução militar combina técnicas de sobrevivência na selva
com ensinamentos antiguerrilha. O treinamento, por ser baseado em táticas que
estimulam reações reflexas de medo e ansiedade, configura-se em fator altamente
estressante. O resultado é que os participantes permanecem em estado de absoluto
alerta emocional. O grupo de aprendizes é dividido em dois e implanta-se uma ideia
de confronto bélico contínuo entre eles.
A situação provoca enorme prejuízo em todos os confrontantes, e a ideia de
crueldade psíquica e física dos procedimentos das jornadas transmitem-se de ano a
ano, estabelecendo um clima de terror nos aspirantes que, obrigatoriamente, terão
que passar por este treinamento brutal e perigoso.
4.4PROBLEMAS DO DIA A DIA DO POLICIAL MILITAR E SUA INCIDÊNCIA
Percalços diários enfrentados pelos policiais militares já foram descritos ao
longo do texto. Existem outros problemas para serem resolvidos e referem-se a:
equipamento precário, falta de coletes à prova de balas, de protetores auriculares,
de viaturas em boas condições, de armas modernas, enfim, falta de tudo o que
possa fazer frente à criminalidade e permita ao policial desempenhar suas funções e
contento. Neves (2007) relata que, durante pesquisa sobre gerenciamento do risco
43
ocupacional, pode-se perceber que os equipamentos de proteção utilizados pelos
militares restringiam-se basicamente a: capacete balístico, colete à prova de tiro e,
eventualmente, protetor auricular.
A perda auditiva repentina resulta da pressão sonora
elevada do ruído de impulso que excede o nível crítico,
podendo causar lesões, mecânicas ou metabólicas, nas
estruturas do ouvido interno. Já a perda auditivagradual é
resultado de exposição durante anos aos ruídos de
impulso de arma de fogo que não são suficientemente
altos para causar o trauma acústico, mas têm efeitos
danosos, a longo prazo, às estruturas do ouvido interno.
(STEWART;et al 2002 apudNEVES, 2007).
Além disso, tem-se a pressão da opinião pública, a sobrecarga de trabalho, os
turnos que não respeitam o relógio biológico, a vigília permanente pela procura dos
serviços do homem policial mesmo que ele não esteja em seu horário de trabalho, o
salário não compatível com suas expectativas, a faltade reconhecimento do trabalho
policial, e problemas íntimos muitas vezes não revelados pelos policiais, por receio
da perda do emprego, ou vergonha de expor seus sentimentos e ser rotulado como
―fraco‖ (RIBEIRO, 1995). Corroborando o conceito: ―a teoria na prática é outra‖, os
policiais militares, no seu dia a dia, precisam ―dar um jeito por fora‖ – é a cultura dos
―bicos‖.
Os autores discorrem sobre envolvimento dos policiais com os mais diversos
interesses e interessados, inclusive a perigosa camaradagem com o pessoal do
―crime organizado‖. Pela dificuldade posterior do policial abandonar esta rede
insidiosamente armada à sua volta e composta pelos mais diversos tipos sociais,
considera-se este expediente, o ―bico‖, ou ―segundo emprego‖, ilegal no Brasil, como
um evento estressante, prejudicial ao indivíduo, a médio e longo prazo. Apesarde
policiais que usam deste expediente considerarem a prática normalíssima, para
complementar o salário e viver com um mínimo de dignidade, possibilitam o
surgimento de intermediários, atravessadores ou mercadores do poder de polícia
que se beneficiam e exploram a vagueza do mandato policial (MUNIZ; PROENÇA
JR.2007). E mais, conformam um ambiente de tolerância e permissividade, em que
florescem variedades de corrupção, nas quais intimidações e violências se
apresentam como moedas de troca.
As condições de moradia, saúde, lazer, enfim, a questão socioeconômica
influencia o ―modus operandi‖ do policial militar, sendo que esta forma de atuação
44
refletirá na própria imagem da Corporação, que não deve ser temida ou repudiada
pela sociedade (PATROCÍNIO; SOUZA, 2004).
Relato comum, em atendimentos clínicos em consultórios de psicólogos são
as longas distâncias que os policiais militares têm que percorrer, de suas casas até
seus postos de trabalho, aliados às condições nem sempre ideais de moradia, e à
escassez na alimentação culminando por prejudicar a sua saúde física e psíquica –
pela ausência do mínimo de nutrientes necessários para quem depende
primariamente do físico para atividade laboral (PATROCÍNIO; SOUZA, 2004).
Conforme Silva(2000), os governos consideram o policial como um
funcionário qualquer, esquecendo-se que nenhuma função pública ou privada reúne
tantos fatores estressantes como o trabalho policial. O resultado deste descaso do
estado para com a classe traduz-se em desinteresse e desesperança do militar em
relação à sociedade que o pressiona continuamente.
4.5RELAÇÕES INTERPESSOAIS
Lima (2002) salienta o quão importante é o apoio familiar aos policiais em
atividade. É sabido que os entes queridos, próximos ao indivíduo afetado por
problemas emocionais decorrentes do serviço, padecem psiquicamente: membros
da família podem sentir-se feridos, alienados, frustrados ou desencorajados. Se o
policial perde o interesse na família ou nas atividades familiares, elas acabam se
irritando e sentindo-se abandonadas e esquecidas por este membro (LIMA, 2002). O
autor frisa que frequentemente as famílias se ressentem quando percebem que o
policial está distante, preocupado, exigente, e, consequentemente, apresentando
condutas antissociáveis. A deterioração dos laços familiares torna-se uma constante
quando o policial sucumbe aos efeitos negativos dos estressores.
Ribeiro (1995) lembra que, durante a fase inicial de treinamento do novo
policial, frequentemente lhe é dito que a sua família agora é a PM, e frisa que o
relacionamento conjugal só tem chances de sucesso se o cônjuge introjetar esta
mesma cultura a que o policial estará submetido doravante. Vale acrescentar que a
diminuição da libido, resultado da pressão profissional e pessoal do indivíduo, afeta
as pessoas a tal ponto que grande parte dos casais acaba por se separar (LIMA,
2002).
45
Porto (2004) observa, em pesquisa sobre violência realizada no Distrito
Federal, com policiais militares, civis e do exército: ―distinção presente em algumas
representações é entre o policial de rua e o que atua no interior das corporações.
Por essa distinção, o policial de rua é visto como alguém que é violento à
semelhança da sociedade da qual se origina, mas também para responder às
expectativas e anseios dessa mesma sociedade‖. Em um dos depoimentos, o
entrevistado contemporiza:
[...] e procura reforçar a ideia de que a associação entre
função policial e a violência é algo profundamente arraigado
na cultura militar, esse sentido valorativo vem, por assim
dizer, da própria sociedade. Nesse caso, o dirigente deixa
de levar em consideração que o policial de rua está
submetido a um risco e a uma pressão que em nada se
compara à função desempenhada pelo policial que atua no
interior das burocracias e dos quartéis. A violência como
representação não apenas orienta como também justifica
condutas (PORTO, 2004).
A seguir, a autora expõe a opinião de um policial militar: ―então, a expectativa
da própria sociedade é do policial violento. [...]. Quantas e quantas vezes a gente vê
a mãeque o filho não quer comer: olha, se não comer, eu chamo o guarda. Então, o
mecanismo repressivo é uma coisa que está também num inconsciente coletivo‖.
Spode; Merlo (2006) apresentam o sentimento de ambivalência da população
quando de sua interpretação do trabalho policial. Comentam os autores, que a
atuação dos policiais ocupa um ―território de controvérsias‖. A mídia se encarrega de
disseminar a conotação de ―heróis‖ destes indivíduos quando são veiculadas as
ações policiais no combate ao crime. Da mesma forma, faz questão de retratá-los
como vilões, quando corrompem, ou são corrompidos, e quando prejudicam
inocentes. Esta particularidade do trabalho policial é interessante: ―a do policial
trabalhador, cuja função é conter a violência, mas que, ao mesmo tempo, corre o
risco de reproduzi-la e/ou de ser vítima dela‖. (SPODE; MERLO, 2006)
Pensando o ofício policial a partir dessa perspectiva, não
édifícil deduzir que se trata de uma categoria profissional
bastante vulnerável à produção de sofrimento psíquico, uma
vez que o exercício do trabalho é marcado por um cotidiano
em que a tensão e os perigos estão sempre presentes. Em
se tratando especificamente dos trabalhadores da Polícia
Militar, às exigências do contexto de risco permanente vivido
nas ruas, somam-se àquelas relacionadas à forma como o
trabalho está organizado, marcado por um alto rigor
prescritivo e alicerçado e vigilância também permanentes.
(em um sistema de disciplina SPODE; MERLO, 2006).
46
Quando o resultado das relações interpessoais no trabalho é deficiente, os
policiais se defrontam com outra ameaça à sanidade psíquica: a humilhação de se
explicar para seus pares e, caso condenado por eles e pela opinião pública, sofrer
draconianas punições.
Lemgruber;Musumeci; Cano (2003) apontam para o fato de policiais de todas
as patentes serem unânimes em afirmar que, quanto ao regulamento disciplinar da
PM, ocorrem falhas e injustiças, derivadas sobretudo, do absurdo rigor com que ele
pune pequenos desvios internos e da inconstitucionalidade dos procedimentos
adotados. A Corregedoria da polícia militar enfrenta vários obstáculos em seu
trabalho, a começar pela dificuldade de formação de equipes. Lemgruber,
Musumeci; Cano (2003) referem que o órgão tem má fama, principalmente junto aos
escalões inferiores das polícias. O setor é considerado um lugar de ―dedos duros‖,
em que os policiais, por absoluta incompetência para fazer o ―verdadeiro‖ trabalho
de polícia, dedicam-se a tarefas burocráticas, passando a ser conhecidos como
―carrascos‖ de seus pares. A composição das equipes, por esta razão, costuma
depender de convites, dos próprios corregedores, a pessoas de seu conhecimento e
confiança. Corregedores definem a tarefa como uma atividade ―antipática‖.
Obviamente ninguém gosta de se indispor com seus colegas, mas, enfim, a
sociedade exige uma resposta precisa aos seus apelos.
Quanto a isso, há que se ter muito cuidado no recebimento das queixas pela
Ouvidoria da polícia militar. Relatam os corregedores, que existem situações em que
as denúncias não podem ser aceitas, para que se possa agir com extrema justiça.
As denúncias anônimas são um problema para a Corregedoria, pois algumas vezes
as pessoas são induzidas, ou incitadas a ligar e concretizar uma denúncia apenas
por sentimentos de vingança ou rivalidade, atingindo, injustamente a reputação de
policiais (LEMGRUBER; MUSUMECI; CANO, 2003). Estes autores salientam as
opiniões de policiais militares que não trabalham em Corregedorias. Segundo estes
servidores, a avaliação da atuação destes órgãos é direcionada para dois pontos:
―parcialidade ou imparcialidade‖, e ―a dependência ou independência dos
instrumentos de correição‖. Para estes militares, apesar dos aspectos positivos que
o órgão possa ter, há uma conduta nebulosa quando se trata de punir grupos
distintos; o órgão também promove injustiças, por tratar, com presunção de culpa,
todos os policiais, o que fere princípios elementares do Direito. De um corregedor da
polícia militar:
47
Um policial bandido é pior que o próprio bandido. Policial
bandido é pior do que qualquer outra pessoa que esteja no
mundo do crime. Ele é uma pessoa treinada, trabalha
dentro de uma instituição que tem como missão principal
combater o crime, e ele, sendo um criminoso e estando
dentro da instituição com a missão de combater o crime,
ele provoca um mal muito maior do que qualquer
criminoso. (LEMGRUBER;MUSUMECI;CANO, 2003)
O procedimento das Corregedorias suscita reclamações. Salientam os
policiais militares, que,como alvo da denúncia, é chamado a depor, não sabe do que
está sendo acusado, e,não pode preparar previamente sua defesa.
Segundo um soldado da PM, ―... Como é que pode? Você vai pra um lugar,
quando então toma conhecimento da denúncia. Você fica pensando: O que eu fiz?
Você não sabe nem o que você fez, chega perante o oficial que irá ouvir-lhe, ‗ah,
não sei o que é não‘(LEMGRUBER;MUSUMECI;CANO, 2003).
Informação relevante, disponível para o estado de São Paulo, é a notória
diferença, influenciada pelos cargos e patentes, da punição aplicada pela polícia
militar. Os policiais de graus hierárquicos inferiores sinalizam que a medida
disciplinar é, preferencialmente, direcionada para as bases, preservando as cúpulas
das corporações, garantindo impunidade para delegados e oficiais. (LEMGRUBER;
MUSUMECI, CANO, 2003).
4.6ESTRESSE, DISTÚRBIOS MENTAIS E ALCOOLISMO NA POLÍCIA
MILITAR
Policiais, em todo o mundo, constituem uma das categorias de trabalhadores
com maior risco de vida e de estresse. No caso específico dos policiais militares, o
nível de estresse tem sido apontado como superior ao de outras categorias
profissionais, não só pela natureza das atividades que realizam, mas também pela
sobrecarga de trabalho e pelas relações internas à corporação cuja organização se
fundamenta
em
hierarquia
rígida
e
disciplina
militar.
Tais
características
estruturantes tornam a instituição resistente a mudanças e repercutem na saúde
física e mental dos servidores. Destacam-se, ainda, como fontes geradoras de
estresse, as relações, por vezes, tensas e conflituosas dos policiais com o Sistema
de Justiça e com o público a quem atendem.
Segundo Ribeiro (1995), o policial militar apresenta altíssima probabilidade de
morrer em serviço, pelo muito que se encontra exposto a toda sorte de riscos.
48
Frequenta o submundo da sociedade, tem contato com criminosos, o que implica em
ameaças físicas constantes, acrescido da facilidade em se conseguir bebidas, sexo
e drogas. Schwartz (1977 apud RIBEIRO, 1995) relata que é tradição de alguns
departamentos policiais o fornecimento e o incentivo ao uso do álcool como fator
encorajador quando da saída dos policiais para uma diligência. Ora, é sabido que
um dos efeitos das bebidas alcoólicas é a diminuição dos reflexos. Portanto, alguns
autores delineiam um impasse: o policial que utiliza álcool como estímulo para o
trabalho terá dificuldade para dirigir com segurança, empunhar uma arma de
maneira adequada, além do que seu organismo físico sofrerá as consequências do
uso contínuo desta substância (RIBEIRO, 1995).
Dejours (2007) pontua que a organização do trabalho talvez inscreva seus
efeitos mais nas possibilidades de tratamento de uma doença mental do que em seu
determinismo. E acrescenta: ―mesmo que a realidade tratada nas descompensações
psicóticas e neuróticas não tenha nenhum poder patogênico, a não ser pelo
conteúdo que veicula, admitamos que a realidade, mesmo sem nenhuma ocorrência
específica, pode favorecer o surgimento de uma descompensação‖. Explica que a
descompensação psicótica, ou neurótica, depende da estrutura das personalidades.
Dejours (2007) observa que a livre organização do trabalho torna-se uma
peça essencial do equilíbrio psicossomático e da satisfação.
Refere ainda que a organização do trabalho é a causa de uma fragilização
somática, na medida em que ela pode bloquear os esforços do trabalhador para
adequar o mundo operatório às necessidades de sua estrutura mental. Desta forma,
se existe uma incompetência organizacional que provoque, além dos problemas
mentais, doenças somáticas nos trabalhadores, mesmo em ambientes isentos de
nocividade, é por que os sistemas orgânico e psíquico encontram-se perfeitamente
integrados e sua desestruturação refletirá sobre a saúde física e mental dos
indivíduos (DEJOURS, 2007).
É consenso que a ansiedade decorrente do exercício profissional provoca
alterações psíquicas no indivíduo, com consequente desintegração do núcleo
familiar (RIBEIRO, 1995; SILVA, 2000; LIMA, 2002; LIMA, 2005; MYNAIO, 2007).
Estes autores analisaram amplamente os efeitos que o excesso de estresse produz
nos seres humanos. Na tentativa de entorpecer seus sentidos e sentimentos, o
sofredor psíquico frequentemente recorre às bebidas alcoólicas, mais acessíveis que
as drogas ilícitas, e, a partir de tal decisão, torna-se consumidor convicto.
49
Quanto à eficácia de sua escolha, obtém êxito nas primeiras investidas,
porquanto o álcool é substância capaz de relaxar física e psicologicamente o
indivíduo.
Com
o
uso
contínuo,
problemas
serão
delineados,
e,
as
descompensações – aa que se refere Dejours (2007) – proliferam neste terreno
fértil.
Kay;Tasman (2002) estimam que exista um risco de alcoolismo sete vezes
maior em parentes de primeiro grau de pessoas dependentes do álcool. Destacam,
também, que o risco de dependência do álcool pode ser determinado por fatores
ambientais, que interagem com a genética, através de complexos mecanismos.
No Brasil, até o presente momento, inexistem pesquisas que definam com
exatidão o número de policiais militares alcoolistas e qual a correlação com doenças
psíquicas. ―Os problemas – estresse e álcool – estão intimamente ligados e atingem
um elevado percentual de militares – de soldados a coronéis. A estimativa é que a
média de policiais atingidos com os dois problemas está em torno de 40% dos
membros da Corporação, de acordo com o Comando Geral da Polícia Militar do
estado da Paraíba‖ (SOARES, 2003). O presidente da Junta Médica Especial da
Polícia Militar Tenente Coronel Roderico Toscano, afirmou que o número de policiais
militares alcoólatras é significativo, mas a Polícia Militar nunca fez qualquer trabalho
no sentido de levantar esses dados reais‖, completa Soares (2003).
Distribuição de gráficos das amostras pesquisadas em questionários quanto à
satisfação profissional dos policiais militares do Estado de Rondônia. Foram
realizados 500 questionários no período de julho e agosto de 2013 (Gráfico 1).
QUAL O MOTIVO QUE O
LEVOU A SEGUIR A
CARREIRA MILITAR
Salário
Estabilidade financeira
Vocação
Influência da família
SEM RESPOSTA
29%7% 6%
48%
10%
Gráfico 1
Fontes: do autor, aplicado pelos Maj PM CPL Marrieli e Hilda Borck
50
Esse gráfico mostra que 48% dos policiais militares ingressaram na Polícia
Militar para terem estabilidade financeira. Porém a insatisfação salarial pode causar
vários problemas na atividade fim, que é prestação de um serviço de qualidade a
comunidade, pois um ser humano insatisfeito com o salário, provavelmente terá
dificuldades em seu relacionamento familiar, social e profissional (Gráfico 2).
ACHA SEU TRABALHO
PREJUDICIAL A SAÚDE?
SIM
NÃO
9%
35%
SEM RESPOSTA
0%
56%
Gráfico 02
Fontes: do autor, aplicado pelos Maj PM CPL Marrieli e Hilda Borck
Dos 500 questionários distribuídos, 500 foram respondidos.
Esse gráfico mostra que 56% dos policiais militares acham o seu trabalho
prejudicial à saúde devido ao estresse vivido no dia a dia (Gráfico 3).
ACHA SEU TRABALHO
ESTRESSANTE?
SIM
NÃO
SEM RESPOSTA
10%
15%
75%
Gráfico 03
Fontes: do autor, aplicado pelos Maj PM CPL Marrieli e Hilda Borck
Dos 500 questionários distribuídos, 500 foram respondidos.
51
Esse gráfico mostra que 75% dos policiais militares acham o seu trabalho
estressante, pois o tempo é determinante do sucesso das ações e da capacidade de
prever, impedir e resolver situações de crise. O policial tem responsabilidade
excessiva, uma vez que, precisa garantir a ordem pública através de atos de
prevenção e repressão (Gráfico 4).
FATORES QUE
INFLUENCIAM DE FORMA
NEGATIVA...
ANSIEDADE /SOMATIZAÇÃO
IRRITABILIDADE/DEPRESSÃO
EXALTAÇÃO DO HUMOR
DESVALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
8%
57%
10%
10%
12%
3%
Gráfico 04
Fontes: do autor, aplicado pelos Maj PM CPL Marrieli e Hilda Borck
Dos 500 questionários distribuídos, 500 foram respondidos.
Esse gráfico mostra que 57% dos policiais militares acham que a
desvalorização profissional devido a baixos salários e condições muitas vezes
precárias de trabalho influenciam negativativamente a profissão (Gráfico 5).
COMO É O SEU
RELACIONAMENTO COM
OS SUPERIORES
HIERÁQUICOS?
Ótimo
Bom
12%
Regular Péssimo
8%
3%
Sem resposta
32%
45%
Gráfico 05
Fontes: do autor, aplicado pelos Maj PM CPL Marrieli e Hilda Borck
52
Dos 500 questionários distribuídos, 500 foram respondidos.
Esse gráfico mostra que 45% dos policiais militares têm um bom
relacionamento com seus superiores hierárquicos onde os mesmos são tratados
com respeitos e são ouvidos quando precisam falar (Gráfico 6).
COMO É O SEU
RELACIONAMENTO COM
SEUS COLEGAS DE
TRABALHO
Ótimo
Bom
Regular
2%
0%
Péssimo
9%
Sem resposta
44%
45%
Gráfico 06
Fontes: do autor, aplicado pelos Maj PM CPL Marrieli e Hilda Borck
Dos 500 questionários distribuídos, 500 foram respondidos.
Esse gráfico mostra que 45% dos policiais militares têm um bom
relacionamento com seus colegas de trabalho, pois os mesmos muitas vezes
precisam um dos outros para troca de serviço e/ou turno (Gráfico 7).
QUANTO TEMPO TEM DE
SERVIÇO?
0a3
3a6
6a9
9 a 12
12 a 15
Acima de 15
Sem resposta
9%
5%
11%
15%
43%
11%
6%
Gráfico 07
Fontes: do Autor, aplicado pelos Maj PM CPL Marrieli e Hilda Borck
Dos 500 questionários distribuídos, 500 foram respondidos.
53
Esse gráfico mostra que 43% dos policiais militares já têm acima de 15 anos
de serviço, e de 03 a 06 anos 11%. A grande maioria se encontra mais perto da
aposentadoria (Gráfico 8).
QUAL A FUNÇÃO QUE
EXERCE?
Motorista
Patrulheiro
Praça
Comandante
NRA
4%
0%
Sem resposta
8%
9%
25%
34%
20%
Gráfico 08
Fontes: do Autor, aplicado pelosMaj PM CPL Marrieli e Hilda Borck
Dos 500 questionários distribuídos, 500 foram respondidos.
Esse gráfico mostra que 34% dos policiais militares são praças, trabalham
com a função de proteger a comunidade (Gráfico 9).
QUAL O SEU ESTADO CIVIL?
Casado
Solteiro
União estável
Sem resposta
Viúvo
20%
44%
15%
0%
21%
Gráfico 09
Fontes: do Autor, aplicado pelosMaj PM CPL Marrieli e Hilda Borck
Dos 500 questionários distribuídos, 500 foram respondidos.
Esse gráfico mostra que 44% dos policiais militaressão casados. Esses dados
mostram a importância da psicologia como um benefício junto a esse público, que
54
em sua maioria possui um relacionamento conjugal estável. O policial militar deve
saber se portar como autoridade de forma a não causar problemas na família e nem
no trabalho. Assim os 21% que são solteiros com o trabalho da psicologia
conhecerão os valores de família e a importância de sua família. Analisarão melhor
uma ocorrência policial ao se deparar com ela, especialmente quando for um fato
que envolva família, além de evitar que se envolvam em relacionamentos alheios,
que posteriormente poderão trazer consequências desagradáveis para sua vida
pessoal e profissional (Gráfico 10).
COMO É O SEU
RELACIONAMENTO
FAMILIAR ATUALMENTE?
Ótimo
Bom
Regular
5% 1%
Péssimo
Sem resposta
10%
57%
27%
Gráfico 10
Fontes:do Autor, aplicado pelosMaj PM CPL Marrieli e Hilda Borck
Dos 500 questionários distribuídos, 500 foram respondidos.
Esse gráfico mostra que 57% dos policiais militares têm um ótimo
relacionamento com seus familiares, 27 % bom relacionamento e apenas 5% tem
relacionamento
regular
1%
péssimo.
É
importante
que
haja
um
ótimo
relacionamento familiar, pois a família é o alicerce de qualquer ser humano (Gráfico
11).
55
QUAL A SUA FAIXA ETÁRIA?
18 a 20
41 a 50
21 a 30
31 a 40
51 a 60
Sem resposta
11%
0%
22%
4%
26%
37%
Gráfico 11
Fontes: do Autor, aplicado pelosMaj PM CPL Marrieli e Hilda Borck
Dos 500 questionários distribuídos, 500 foram respondidos.
Esse gráfico mostra que 37% dos policiais militarestêm idade entre 41 a 50
anos, 26% entre 31 a 40 anos, 22 % entre 21 a 30 anos e uma minoria de 4% entre
18 a 20 anos (Gráfico 12).
TEM DIFICULDADE PARA
DORMIR?
Sim
Não
Sem resposta
11%
33%
56%
Gráfico 12
Fontes: do Autor, aplicado pelosMaj PM CPL Marrieli e Hilda Borck
Dos 500 questionários distribuídos, 500 foram respondidos.
Esse gráfico mostra que 56% dos policiais militares não têm dificuldades para
dormir e 33% sente essa dificuldade (Gráfico 13).
56
PREOCUPA-SE COM
DOENÇA?
Sim
Não
Sem resposta
11%
25%
64%
Gráfico 13
Fontes: do Autor, aplicado pelosMaj PM CPL Marrieli e Hilda Borck
Dos 500 questionários distribuídos, 500 foram respondidos.
Esse gráfico mostra que 64% dos policiais militares têm preocupação com
doenças adquiridas ou não no trabalho que desempenha. Os 25% dos policiais
militares não têm essa preocupação e nem pensa nisso (Gráfico 14).
TEM PERÍODOS TRISTES?
COM DESÂNIMO?
Sim
Não
Sem resposta
12%
28%
60%
Gráfico 14
Fontes: do Autor, aplicado pelosMaj PM CPL Marrieli e Hilda Borck
Dos 500 questionários distribuídos, 500 foram respondidos.
57
Esse gráfico mostra que 60% dos policiais militares enfrentam problemas
como tristeza e desânimo, muitas vezes interferindo no desempenho de suas
funções. Os 28% dos policiais militares não sofrem com esse problema(Gráfico 15).
FICA AGRESSIVO, EXPLODE
COM FACILIDADE?
Sim
Não
Sem resposta
11%
31%
58%
Gráfico 15
Fontes:do Autor, aplicado pelosMaj PM CPL Marrieli e Hilda Borck
Dos 500 questionários distribuídos, 500 foram respondidos.
Esse gráfico mostra que 60% dos policiais militares ficam agressivos
eexplodem com facilidade não somente exercendo suas funções, mas também no
dia a dia como um civil. Os 58% dos policiais militares não têm problemas com
agressividade.
Dos relatos apresentados pelos vários autores, já referendados neste trabalho
monográfico, depreende-se que a reivindicação salarial está sempre em lugar de
destaque, haja vista a necessidade de realização de ―bicos‖ para completar o
orçamento mensal, como apontam Muniz; Proença Jr (2007).
O tempo de cada jornada laboral é outro ponto importante a se considerar: os
autores consultados relacionaram o estresse ocupacional à excessiva carga de
trabalho, dentre outras razões. Pela constante humilhação imposta ao indivíduo,
quando de sua formação policial, pelas chefias, pode-se inferir que novos policiais
anseiam, também, por relacionamentos profissionais respeitosos. Freud (1921apud
PATROCÍNIO; SOUZA, 2004) conclui que um grupo militar é mantido coeso através
da ilusão de haver um chefe que dedica a todos um sentimento afetivo igual.
58
A grande dificuldade que se encontra para que se possa combater o estresse,
segundo Fontana (1991, apud RIBEIRO, 1995), é:
[...] que as pessoas afetadas pelo estresse não admitem estarem
precisando de um apoio de um profissional de saúde. Acreditam
que é um sinal de fraqueza, acham que devem aguentar a
qualquer custo, quaisquer que sejam as consequências, tanto
para o trabalho que insiste em continuar fazendo, como para a
sua própria saúde física, mental ou psicológica e ainda para
conturbar o seu relacionamento familiar ou com amigos e
colegas de serviço.
Ribeiro (1995), também policial militar, estudou exaustivamente as causas de
suicídios entre seus pares, e, transcrevendo fidedignamente suas palavras:
O que não está plenamente firmado na consciência individual, é
que o estresse vai se acumulando dia a dia. [...]a atividade
policial militar exige cada vez mais responsabilidades, com um
horário muitas vezes apertado, com uma carga de trabalho que
aumenta continuamente, somando-se ainda a dificuldade de
encontrar algum colega com quem possa discutir seus
problemas. A situação se agrava, pois eles abusam, não
respeitando os sinais do corpo que pede para diminuir o seu
ritmo, e vão trabalhar, mesmo que não estejam se sentindo bem,
ou devido à necessidade de ‗provarem‘ para si mesmos que são
capazes. Já para os oficiais, existe ainda o medo de que
decisões desfavoráveis a ele e ao serviço sejam tomadas à sua
revelia, e ainda de ser encarado como um ‗mão cansada‘.
Provavelmente seja esta razão pela qual os policiais militares relutam em dar
suas opiniões abertamente. O receio de serem considerados menos aptos para o
serviço militar, com suas inevitáveis consequências no ambiente de serviço, fazem
com que ocultem dos colegas de equipe, de seus superiores, de sua família, e
também dos pesquisadores, detalhes de seus desejos e temores, preservando,
deste modo, o perfil idealizado para si e por si, sobre o homem policial, guerreiro por
natureza.
4.7AÇÕES PREVENTIVAS DE TRANSTORNOS PSICOSSOMÁTICOS NOS
POLICIAIS MILITARES
O Guia CEC (Guia da Comissão Europeia) apresenta uma lista de soluções
preventivas do estresse ocupacional. A argumentação se refere à grande
59
possibilidade de sucesso se forem realizadas mudanças organizacionais (ROSSI;
PERREWÉ; SAUTER, 2005). Basicamente, o guia sugere às organizações:
1)
Dispor de tempo de trabalho adequado para desempenho satisfatório;
2)
Descrever claramente o que se espera do trabalhador;
3)
Recompensar o bom desempenho laboral;
4)
Permitir que o trabalhador faça queixas, que serão tratadas com respeito;
5)
Equilibrar a autoridade e responsabilidade de cada trabalhador;
6)
Incentivar a tolerância, a segurança e a justiça no ambiente de trabalho;
7)
Descartar exposições físicas desnecessárias;
8)
Identificar fracassos e sucessos, e suas relações com saúde do trabalhador.
De acordo com Putnam (2000) e Marmot (2004) e focalizado pó Rossi;
Perrewé; Sauter(2005), atenção especial deverá ser dada ao ambiente de trabalho:
―proporcionar oportunidades de interação social, incluindo apoio emocional e social e
ajuda entre os colegas de trabalho‖.
Lima (2000), sobre as reações psicossomáticas apresentadas pelos
indivíduos atingidos pelo estresse, pondera que ansiedade crônica e entorpecimento
emocional também são considerados modos de aprender, identificar e administrar
estados internos, concluindo que, a partir das manifestações fisiológicas pode-se
conhecer o estado psíquico das pessoas. Recomenda, em primeiro lugar, sessões
de treinamento em estresse, envolvendo todos os integrantes da unidade policial
militar. Esta espécie
de
participação, monitorada
por pessoas realmente
capacitadas, estimularia os policiais a comentarem exaustivamente sobre a atividade
profissional, identificando, assim, os pontos que provocam problemas psicológicos.
A prática destes encontros, supervisionados por equipes multidisciplinares,
proporcionaria, aos policiais, o entendimento dos mecanismos do estresse, o que
culminaria numa maior tranquilidade durante suas atividades operacionais.
―processo educacional é uma troca mútua‖, completa Lima (2002), e pode existir
desejo do policial em compartilhar, com seus conselheiros e sua equipe de ajuda,
suas emoções mais íntimas.
Como segunda técnica para prevenção do estresse no policial militar, Lima
(2002) destaca a atividade física, acompanhada, obviamente, por um treinador
habilitado. Se a iniciativa do exercício físico for deixada a cargo do policial, pobres
serão os resultados obtidos. A interação com o preparador físico e com os demais
60
membros de sua equipe militar facilitam a assimilação da rotina de treinamentos,
tornando-a uma atividade agradável, prazerosa.
A nutrição tem participação efetiva no humor do indivíduo. A tendência, nos
casos específicos de policiais que trabalham nas ruas, é o consumo exagerado de
cafeína, na degustação contínua do ―cafezinho‖, durante todo o turno de trabalho.
Os refrigerantes, chocolates e as mais variadas ervas para chás, têm elevada
quantidade de cafeína, estimulante do sistema nervoso central, e secularmente
utilizada. A deficiente alimentação, nos plantões e em casa, contribuem para
debilitar o organismo físico, ao lado do consequente sentimento de angústia que a
ausência de determinados nutrientes provoca no indivíduo (LIMA,2002).
A espiritualidade representa importante fator na contenção de sentimentos
aflitivos no indivíduo submetido a estresse. ―Para os adeptos das religiões principais,
esta dimensão espiritual pode ser conceitualmente como sentir o amor de Deus‘,
sentencia Lima (2002), mas atenta para o fato de muitas pessoas entenderem a
espiritualidade como sentimento sublime de harmonia e comunhão com a
humanidade ou natureza.
Merwin; Smith-Kurtz(1988 apud LIMA, 2002) consideram a espiritualidade um
estado de estar completamente vivo e aberto ao momento.
Lima (2002) aponta para o fato de a espiritualidade influenciar positivamente a
vida psicossocial de indivíduos com a atividade ocupacional permeada por
problemas, como é o caso dos policiais.
Concomitantemente
a
estas
ações
preventivas
de
alterações
psicossomáticas, acrescenta-se o papel fundamental que o apoio e a integração
social exercem na vida do indivíduo, mesmo que este não verbalize esta intenção.
Encerrando suas considerações, Lima (2002) formula propostas para reuniões
psicoterápicas com os policiais e suas famílias, sempre que possível, pois estas
ajudarão seus entes queridos a encontrarem soluções para transtornos inevitáveis,
isto é, um caminho menos traumático em sua trajetória profissional.
Ribeiro (1995) corrobora as instruções de Lima (2002), e adiciona
recomendações: o exame admissional, na polícia militar, deveria ser usado como
parâmetro rastreador de problemas psíquicos. Ribeiro (1995) relata que testes
psicológicos são aplicados, a intervalos regulares, nas unidades policiais. O
resultado destes testes deveria ser utilizado para identificar comportamentos
limítrofes, próximos a um limiar de fragilização. O que ocorre, na prática, segundo o
61
autor, é que os médicos da PM são extremamente sujeitos a pressões para não
abordarem adequadamente a questão do homem estressado, além do que, existe a
preocupação com a doença e um corporativismo muito forte. Desta forma, o autor
insiste que a avaliação do policial em início de carreira e a dos policiais com
comprometimento comportamental não devam ser apenas do profissional médico e,
sim, de equipe multidisciplinar.
Finalmente, é provável que a preservação da espécie humana não dependa
apenas de evitar transtornos: a questão salarial é decisiva para a saúde psicossocial
das corporações policiais.
Conforme Patrocínio; Souza (2004) ocorre adoecimento dos policiais quando
se sobrecarregam em trabalhos, os ―bicos‖, onde procuram complementar a renda
familiar.
Ainda no que concerne à nutrição, a Polícia Militar da Bahia criou um spa para
tratar policiais acima do peso. Somente os casos mais críticos, onde há a procura
individual do policial ou indicação de superiores, têm acesso.
O CORREIO DA BAHIA mostrou ontem 15/07/2013 que a tropa da PM baiana
não só está acima do peso como beira a obesidade. O Índice de Massa Corporal
(IMC) atinge, em média, 29,5 Kg/m², bem próximo dos 29,9 Kg/m², limite dos obesos
de nível 1. Mas, poderia ser pior. Há pouco mais de um ano, diante do porte físico
avantajado de boa parte da corporação, o Departamento de Saúde (DS) criou uma
espécie de spa para cuidar dos policiais mais gordinhos. A chamada Clínica de
Profilaxia e Saúde, com centro de educação física, funciona na Academia da Polícia
Militar, nos Dendezeiros. Somente os casos mais críticos, onde há a procura
individual do policial ou indicação de superiores, têm acesso. Como qualquer spa, o
centro tem como premissas a reeducação alimentar com dietas rigorosas e, claro,
muita atividade física.
62
Desde o início do funcionamento da clínica, 150 policiais já passaram pelo
tratamento, ficando afastados de suas atividades de rua em períodos de seis meses.
―Temos capacidade para turmas de 50 PMs. É o início de um trabalho para mudar a
realidade física da tropa‖, afirmou o coronel Nelson Ribeiro, coordenador do DS.
O número de reabilitados é pequeno, reclamam os policiais. ―O período de
acompanhamento também é curto. Eu mesmo fiz cirurgia de redução do estômago e
deveria dar continuidade ao tratamento, mas não posso porque existe um período
máximo‖, disse um soldado, que recentemente passou pelo spa. ―É muito pouco. A
demanda é bem maior‖, critica o presidente da Associação de policiais e Bombeiros
da Bahia (Aspra), Marco Prisco.
De qualquer forma, o projeto da PM da Bahia é anterior a um programa
semelhante lançado em abril deste ano pelo Batalhão de Operações Especiais
(Bope), a tropa de elite do Rio. É que 13 caveiras acima do peso tiveram que ficar
confinados ao longo de semanas e enfrentaram uma maratona de exercícios, além
de dieta rigorosa. Tudo para conseguir carregar 30 quilos a mais, entre coletes à
prova de bala, munições e fuzil.
A programação é um pouco mais pesada que o da PM baiana. Incluiu
caminhadas de quase duas horas na mata fechada. O cardápio de 1,2 mil calorias
por dia era metade da necessidade diária para um adulto homem.
63
No interior, corporação conta com quatro unidades de atendimento. Além da
clínica de profilaxia, a PM acompanha a saúde dos policiais de Salvador através do
ambulatório médico do DS e de cinco unidades descentralizadas e juntas médicas.
No interior, há unidades de atendimento médico apenas em Alagoinhas, Feira
de Santana, Itabuna e Teixeira de Freitas. O antigo Hospital da Polícia Militar está
fechado há dois anos. Até a Copa do Mundo 2014, segundo o coordenador do DS,
Nelson Ribeiro, o objetivo é inaugurar sete unidades básicas de saúde, além de um
centro de reabilitação para PMs. Também existe um projeto para que todos mais de
30 mil policiais da tropa passem a fazer exames periódicos.
Atualmente, a única exceção dentro da PM é a Tropa de Choque — que
passa por exames de sangue a cada seis meses e tem acesso à academia de
ginástica e outras atividades físicas. Em nota, a PM informou que policiais
submetidos a cursos de atualização e especialização também são submetidos à
avaliação clínica e exercícios. (Jornal Correio da Bahia, 2013).
4.8CONSIDERAÇÕES GERAIS
Diante do exposto apresentado, pode-se inferir que a vida do policial militar
não tem sido exatamente o que o indivíduo esperava, em termos de atividade
profissional. É uma atividade que por si só, gera situações de tensão, apreensão,
perigo e medo. O policial militar sofre um desgaste físico e mental, decorrente da
demanda cada vez maior do serviço, em detrimento do número usificiente do
recurso humano, o que causa uma péssima qualidade de vida no trabalho dos
profissionais que ali atuam, estressando-os e acarretando problemas, em função,
inclusive do trabalho árduo do seu dia a dia.
O policial militar deve, pela lógica da corporação militar, comportar-se de
maneira cortez, dar sua vida pelo bem-estar da população, concordar placidamente
com os turnos de serviço, fazer as diligências com rapidez e eficiência, controlar
seus impulsos agressivos em todos os momentos e, sendo, muito das vezes
impiedoso para consigo mesmo, tendo oficialmente a polícia militar como sua
verdadeira família, em detrimento dos laços afetivos com pais, cônjuges e filhos.
Convém lembrar que o Brasil dispõe de poucas pesquisas e estatísticas sobre
descontentamento e desagregação social dos policiais militares. A cultura
64
estressante das academias de polícia foi exaustivamente descrita por alguns dos
autores pesquisados, mas deduz-se que a sociedade policial militar não aceita que o
realinhamento psíquico pretendido seja a maior fonte de estresse do policial atual.
Enquanto não for valorizado o fator humano e suas relações com a atividade laboral,
independentemente do segmento da sociedade que tenha gerado o homem policial,
as comunidades continuarão a ver seus homens de confiança sofrendo e fazendo
sofrer.
Historicamente o ethos guerreiro valida esta opção profissional, não
importando as justificativas sociais a ela atribuídas; inclusive sobrepuja o status
intrínseco ao fardamento e finge-se cego ao irrisório salário recebido às custas de
tanto sacrifício.
A correlação da cultura policial militar com os transtornos psicossomáticos
advindos desta atividade ocupacional enquadram-se perfeitamente no modelo
epidemiológico ―campo de saúde‖ (DENVER, 1988). Poderia ser incluído, neste
contexto, os ―eventos-sentinela de Rutstein‖, que ligam um acontecimento
desfavorável a uma possibilidade de prevenção (DENVER,1988); no caso dos
policiais, o sinal de alerta é emitido observando-se as características das
corporações como um todo, e analisando cada integrante das unidades como um
indivíduo que precisa ter mantida, em boas condições, a sua saúde psíquica e
social.
Importante salientar que, no Brasil, não há registros de setores da polícia
militar dedicados à prevenção de psicopatologias. Quando muito, após algum evento
traumático de grande repercussão na mídia, o policial militar psicologicamente
fragilizado é encaminhado a psicólogos e psiquiatras que trabalham para planos de
saúde, ou para ambulatórios especializados que são referência para as regiões do
estado, ou, ainda, para postos de saúde, que praticam o SUS – sistema único de
saúde.
Pela incapacidade financeira do servidor dos baixos escalões em pagar
serviços médicos e avaliações com psicólogos, o tratamento consiste em resolver
rapidamente a queixa do paciente policial e devolvê-lo, urgentemente, ao trabalho
nas ruas. Pela ênfase dada por Dejours (2007) sobre uma tendência prévia – ao
trabalho estressante – do indivíduo para a doença mental, a adição de uma atividade
ocupacional
problemática
anteciparia
o
descontrole
e
a
descompensação
psicossocial deste trabalhador. Provavelmente estes fatores coexistentes é que
65
provocam as doenças psicossomáticas. De vital importância seria a avaliação
psicológica dos candidatos a polícia militar, e, após o ingresso, acompanhamento
constante.
Pode-se afirmar que os pensamentos e conclusões dos autores consultados
estão direcionados para ações preventivas, inclusive por razões econômicas (custobenefício), de disfunções psicossomáticas. O policial militar, cuja face visível não
deixa transparecer a turbulência psíquica que o acomete, merece uma reavaliação
das normas e conduatas do setor de recursos humanos da corporação, pelo muito
que faz num mundo onde a violência desmesuradamente avança.
Os autores reforçam a ideia de ambivalência, tanto nos anseios das
comunidades como no comportamento conflitante que o policial militar ostenta em
sua prática diária. O poder da polícia e de polícia não tem sido exercido de acordo
com a legislação do país, mesmo porque cada estado tem suas regras próprias e as
corporações a elas são submissas.
Fica clara a importância do bem-estar e a saúde do indivíduo no trabalho, pois
é no trabalho que se passa a maior parte do tempo. A qualidade de vida está
diretamente relacionada com as necessidades e expectativas humanas e com a
respectiva satisfação desta. Corresponde ao bem-estar do indivíduo, no ambiente de
trabalho, expresso através de relações saudáveis e harmônicas.
A Saúde do Trabalhador se define, não enquanto uma disciplina homogênea,
mas por metas e bases de ação, dentre os quais a luta pela saúde, produzida nas
transformações dos processos, na eliminação dos riscos e na superação das
condições precárias de trabalho. Outra base está na valorização das demandas e
dos conhecimentos advindos da experiência, fazendo com que a participação dos
trabalhadores seja considerada fecunda e indispensável.
66
5
CONCLUSÃO
O policial militar brasileiro desde o momento em que resolve, por inúmeras
razões, ser um indivíduo policial, traz em seu íntimo uma predisposição para a
superação. A ambiguidade de emoções, a que está submetido, constantemente
mescla-se aos conflitos da comunidade que o gerou, e à qual desejar servir. Porém,
vê-se, de repente, na margem oposta. Paradoxais e ambivalentes são também os
sentimentos desta sociedade, exigindo o máximo deste homem-guerreiro, que ali
está para proteger ou censurar pessoas, na dependência dos atos de cada um. A
cultura militar introjeta seus valores no novo policial; após constatar que o indivíduo
assimilou características que permitam a sua atuação como agente da lei, a
instituição policial conduz este homem a um sem número de situações inusitadas,
das quais terá que se desvencilhar de acordo com o seu equilíbrio psíquico. A
prioridade é a sobrevivência do policial e da comunidade à qual presta serviços. Os
momentos de desesperança sobre o seu futuro, a incerteza quanto a seus laços
afetivos, o lazer escasso, o excesso de trabalho minando suas forças físicas e
psicológicas, o permanente contato com transgressores, a ausência de ética nas
relações humanas, a exacerbação da auto-crítica, sem dúvida alguma elegem o
trabalhador policial como um exemplo de persistência. Quanto mais anódino o
indivíduo policial, mais integrado à sua equipe estará, maior será sua identificação
com os ideais militares e mais resultados satisfatórios obterá em suas jornadas
operacionais. Métodos preventivos de alterações psicossociais existem e são
eficazes. É necessário que os comandos da polícia militar apliquem os novos
conhecimentos, embasados cientificamente, e permitam que os policiais possam ser
melhor acolhidos por seus chefes, aprendendo a absorver os impactos da profissão
com maior tranquilidade e segurança que seus antecessores. O risco inerente a esta
atividade ocupacional não deixará de existir, mas a deterioração física e psíquica
poderá ser retardada e, talvez, eliminada. O policial militar brasileiro atual realmente
transcende: pela sociedade que o admira sem compreendê-lo.
O que não se pode esquecer é que os policiais são seres humanos, que
possuem vínculo familiar e que possuem vínculo social. Enxergá-los como máquinas
de segurança pública ou robôs é chamar o caos para a sociedade, pois um homem
descompensado psicologicamente, treinado e armado é uma máquina de guerra e
67
não um defensor da sociedade. Investir em tecnologias, treinamentos, compra de
veículos e material bélico é necessário, mas, se o homem que foi investido de
autoridade pelo Estado não está psicologicamente habilitado para manuseá-los
pode-se dizer que se equipou uma arma de guerra que causará danos físicos,
sociais e emocionais na sociedade.
Diante da pesquisa sugere-se o seguinte:
Contratação de Psicólogos através de concurso público ou não, que
trabalhem nas áreas clínicas, sociais, do trabalho, familiar, infantil, hospitalar
e ambiental dentro das várias abordagens da psicologia em número suficiente
para atender os Policiais e familiares;
Criação de grupos de encontro em dias e horários diferenciados para atender
o público alvo;
Realização de pesquisas em todos os quartéis dos Estados para avaliar suas
necessidades.
Avaliação periódica sobre a atuação do psicólogo;
Criação de uma força tarefa composta por psicólogo, assistente social e
capelão para atender o policial e sua família;
Acredita-se que havendo atendimentos físicos, emocionais, sociais e
espirituais, na próxima pesquisa os resultados serão diferentes, com teor
positivo e a sociedade realmente estará recebendo um ser humano
responsável pela sua segurança. Então o investimento em tecnologias,
treinamentos, compra de veículos e armamentos poderão ser bem utilizados
porque haverá equilíbrio interno e externo na ação policial.
Espera-se que este trabalho subsidie os Comandos das Policias Militares em
sua análise sobre a real situação dos policiais, de forma que possa entender que o
policial militar como profissional possui família e solicita ajuda para si e para sua
família.
Como a Policia Militar tem a missão de fazer o policiamento preventivo e
ostensivo, infere-se que a prevenção é o seu principal trabalho, então a prevenção
no que se refere ao cuidado com o policial militar é inadiável, pois posteriormente
pode ser irreparável.
REFERÊNCIAS
68
ABBUD, E.L: BENEDICTO, S.C. Estresse e psicopatologias no ambiente
detrabalho: conceitos, contextos, manifestações e consequências. In: SEMINÁRIO
EM ADMINISTRAÇÃO, 2006. São Paulo:Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade, USP, 2006.
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www.pm.al.gov.br./cas.asp>. Acesso em: 03 mai. 2007.
ALBUQUERQUE, Carlos Linhares de.; MACHADO, Eduardo Pães. Sociologias.
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(Mestrado em Psicologia) – Instituição de Psicologia Pontifícia, Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1999.
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71
ANEXO A – QUESTIONÁRIO
O seguinte questionário será aplicado a fim de levantar questões
aos dados sócio-demográficos e psicossociais dos policiais
Corporação da Polícia Militar do Estado de Rondônia. Dessa
elaboradas perguntas que podem contribuirpara caracterizar os
deste estudo e os fatores causadores do adoecimento no trabalho.
relacionadas
militares da
forma foram
participantes
1.Qual o motivo que levou a seguir a carreira militar?
a. ( ) Salário
b.(
) Estabilidade financeira
c. ( ) ?
d. ( ) ?
2. Acha seu trabalho prejudicial à saúde?
a. ( ) Sim
b. ( ) Não
3. Acha seu trabalho estressante?
a. ( ) Sim
b. ( ) Não
4. Fatores que mais influenciam de forma negativa no bom desempenho de seu
trabalho.
a. ( ) Ansiedade/somatização
b. ( ) Irritabilidade/ depressão
c. ( ) Exaltação de humor
d. ( ) Valorização profissional
e. ( ) Outros
Quais?___________________________________________________________
________________________________________________________
5. Como é o seu relacionamento com os superiores hierárquicos?
a. ( ) Ótimo
b. ( ) Bom
c. ( ) Regular
d. ( ) Péssimo
6. Como é o seu relacionamento com seus colegas de trabalho?
a. ( ) Ótimo
72
b. ( ) Bom
c. ( ) Regular
d. ( ) Péssimo
7. Quanto tempo tem de serviço?
a. ( ) 0-3
b. ( ) 3-6
c. ( ) 6-9
d. ( ) 9-12
e. ( ) 12- 15
f. ( ) Acima de 15
8. Qual a função que exerce?
a. ( ) Motorista
b. ( ) Patrulheiro
c. ( ) Praça
d. ( ) Comandante
e. ( ) NRA
9. Qual o seu Estado Civil?
a. (
) Casado
b. (
) Solteiro
c. (
) Viúvo
d. (
) União estável
e. (
) Amaziado
10. Como é o seu relacionamento familiar atualmente?
a. ( ) Ótimo
b. (
) Bom
c. ( ) Regular
d. ( ) Péssimo
11. Qual a sua Faixa Etária
a. (
) 18 a 20 anos
b. (
) 21 a 30 anos
c. (
) 31 a 40 anos
d. ( ) 41 a 50 anos
e. () 51 a 60 anos
73
f. ( ) acima de 60 anos.
12. Tem dificuldades para dormir?
a. (
) Sim
b. (
) Não
13. Preocupa-se com doenças?
a. ( ) Sim
b. (
) Não
14. Têm períodos tristes? Com desânimo?
a. (
) Sim
b. (
) Não
15. Fica agressivo, explode com facilidade?
a. (
) Sim
b. (
) Não
Fontes: Maj PM CPL Marrieli e Hilda Borck
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A SAÚDE PSICOSSOCIAL NA SEGURANÇA PÚBLICA BRASILEIRA