Doenças Periglóticas Aressa Leal Feitosa Universidade Católica de Brasília Brasília, 20 de maio de 2014 www.paulomargotto.com.br Epiglotite aguda • Infecção bacteriana, com inflamação da epiglote e estruturas supraglóticas adjacentes. • Tradicionalmente, por H. influenzae tipo B. • Diminuiu após inclusão da vacina contra HiB no calendário básico da criança do PNI (pentavelente). • Importante quando criança não vacinada ou com situação vacinal desconhecida. • Outros agentes: Streptococcus pyogenes, Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus aureus. Epiglotite aguda QUADRO CLÍNICO: • • • • • • • Início e evolução rápidos (12 – 24h); Febre alta (39 – 40 º C); Prostração, toxemia; Dor de garganta e disfagia progressivas; Sialorréia; Disfonia; Estridor variável; Posição típica (“tripé): Criança sentada, com tronco inclinado para a frente, pescoço hiperestendido e língua protusa, com sialorreia. • Geralmente tardio, quando obstrução é iminente. • Importante desconforto respiratório, progressivo, com esforço (tiragens). Epiglotite aguda ABORDAGEM: • Dx pela visualização direta com laringoscópio: epiglote edemaciada, vermelho-cereja. • Não recomendado! • Suspeita clínica = abordagem terapêutica. • Não inspecionar orofaringe com abaixador de língua! --> obstrução/laringoespasmo reflexo/parada. • Posição confortável; • Suplementação de O2; • Estabelecer via aérea o mais rápido possível (intubação traqueal ou traqueostomia); • ATB IV 7 - 10 dias (ceftriaxona, cefuroxima, ampicilina-sulbactam, meropenem). • UTI. Epiglotite aguda EXAMES COMPLEMENTARES • Somente após a VA estabelecida, solicitar exames (hemograma, cultura de esfregaço supraglótico, hemocultura). • Hemograma: leucocitose com desvio à esquerda. • Rx cervical lateral: “sinal do polegar”. • Na prática, não indicado. Epiglotite aguda PREVENÇÃO: • Vacina (PNI); • Profilaxia com rifampicina para contactantes domiciliares do paciente, se houver no domicílio: • Criança < 4a com vacinação ausente ou incompleta; • Criança < 12m que não terminou esquema básico do 1º ano; • Criança imunocomprometida, mesmo vacinada. Crupe viral • Afecção infraglótica. • Nome genérico para tosse metálica, com ou sem estridor inspiratório, rouquidão e dispneia. • Diferentes graus de extensão da mucosa respiratória: • Laringite • Laringotraqueíte • Laringotraqueobronquite Raramente a infecção é limitada a uma única área (faixa etária). • Principal causa de obstrução respiratória alta em crianças (quadros agudos de estridor). Crupe viral • • • • Predomina na faixa etária de 3m – 5a de idade. Pico no 2º ano de vida. Mais comum no sexo masculino. Distribuição sazonal: maior incidência nos meses de outono/inverno. • Vírus parainfluenzae responde por 75% dos casos. • Outros: adenovírus, VSR, influenza (mais grave). Crupe viral QUADRO CLÍNICO: • 1- Pródromos catarrais – sintomas de resfriado comum: • Rinorreia, faringite, tosse leve e febre baixa por cerca de 1-3 dias. • 2- Sinais de obstrução das VAS: • Tosse ladrante/metálica (“tosse de cachorro”); • Rouquidão; • Estridor inspiratório; • Se presente em repouso, é sinal de gravidade. • Esforço respiratório (tiragens, batimento de asas de nariz). • Febre: varia entre ausente/baixa/alta. • Sintomas pioram à noite. • Criança prefere ficar sentada ou em pé. • Maioria autolimitada, 3-5 dias. Laringotraqueobronquite: - Redução de MV, - Estertores esparsos. Crupe viral DIAGNÓSTICO: • Diagnóstico é clínico. • Rx cervical: área de estreitamento infraglótico: “sinal da torre” / “sinal da ponta do lápis” inespecífico e pode estar ausente. Crupe viral TRATAMENTO: • Quadros leves (sem estridor em repouso / sem esforço respiratório): • Tto domiciliar. • Sintomáticos. • Desobstrução nasal com SF, hidratação oral, antipirético. • Umidificação. • Considerar corticoterapia. • Diminui edema e leva a menor necessidade de internação. Crupe viral TRATAMENTO • Quadros moderados/graves: • Estridor em repouso; • Esforço respiratório (tiragens, batimento de asas de nariz...); • Hipoxemia. • NBZ com adrenalina: • Constrição de arteríolas: reabsorção do edema de mucosa laríngea. • Início de ação rápido, porém efeito passageiro: 2h. • Corticoterapia: dexametasona ou NBZ com budesonida. • Efeito máximo em 6h, com duração de 2-3 dias. • Atmosfera com alta umidade, monitorização da FR, O2... • Intubação se necessário... Observar por, pelo menos, 2-3h, ideal 2-6h. Crupe viral • Internação hospitalar se: • • • • • • • • Estridor progressivo, intenso ou em repouso, Dificuldade respiratória importante, Hipoxemia, Agitação importante, Cianose/palidez, Depressão do sensório, Febre alta em criança com aparência toxêmica, Suspeita de epiglotite. • Considerar idade (<12m), condições sociais... Crupe viral Dx DIFERENCIAL: • Laringite estridulosa - crupe espasmódica: • • • • 1 – 3a. Sem pródromos. Etiologia desconhecida. Viral? Alérgica? Psicológica? Despertar súbito, agitada, tosse metálica, estridor inspiratório. Regressão em poucas horas; tendência a recorrer por algumas noites. • Laringite diftérica - crupe diftérico: • • • • • Precedido por IVAS durante vários dias, com evolução lenta. Obstrução pode ser súbita. Pode haver corrimento nasal seroso ou serossanguinolento. Orofaringe: membrana branco-acinzentada nas amígdalas. Linfonodomegalia cervical. • Outros: aspiração de corpo estranho; abscessos profundos do pescoço; angioedema (reação anafilática). Crupe viral COMPLICAÇÃO Laringotraqueíte bacteriana: • Piora do estado geral; • Febre alta (39-40º C); • Toxemia; • Abundante secreção purulenta nas vias aéreas; • Piora da obstrução rápida e progressiva. • Estridor e esforço respiratório. • Edema + secreção. • Ausência de resposta à NBZ com adrenalina. • Principal agente: S. aureus. • Outros: Moraxella catarrhalis; Haemophilus influenzae não tipável; anaeróbios. • Internação hospitalar + ATB IV com cobertura para S. aureus (oxa, vanco). Se necessário, intubação e ventilação. EPIGLOTITE CRUPE INÍCIO Súbito Gradual PRÓDROMOS Não Sim TOSSE Ausente ou fraca Intensa, metálica SIALORREIA Sim Não TOXEMIA Sim Não GRAVIDADE Alta Leve/moderada ETIOLOGIA Bacteriana (HiB) Viral Referências Bibliográficas • Manual ilustrado de Pediatria. Tom Lissauer, Graham Clayden. Rio de Janeiro : Elsevier, 2009. • Nelson Tratado de Pediatria – 17a edição, Elsevier, 2005. • J Pediatr (Rio J) 2003;79(Supl.1):S77-S86: infecções de vias aéreas superiores, vírus respiratórios.