0 FACULDADE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE O ESTRESSE, A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E SEUS IMPACTOS NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL. SÃO PAULO 2014 1 JEFFERSON CAPIM ALVES KEVIN LUCAS CAVALCANTE MENDONÇA SUZANA ANGELA DA SILVA O ESTRESSE, A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E SEUS IMPACTOS NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Programa de Graduação em Administração da Faculdade Carlos Drummond de Andrade como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Administração no 7º semestre. Orientadora Prof.ª Ms. Giuseppina Adele Rischioni. SÃO PAULO 2014 2 A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO, O ESTRESSE OCUPACIONAL E SEUS IMPACTOS NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL. Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para a obtenção do título de Bacharel em Administração no Programa de Graduação em Administração da Faculdade Carlos Drummond Andrade. São Paulo, de de 2014. Banca Examinadora ................................................................. Prof.ª Ms. Giuseppina Adele Rischioni – Orientadora ................................................................. Professor Especialista Neivaldo Gonçalves da Costa – Orientador ................................................................. Professor (a) .................................................................. Professor (a) ................................................................ Professor (a) 3 AGRADECIMENTOS Agradecemos a Deus, o criador de tudo e de todos, aos senhores professores que nos orientaram para tornar nosso trabalho possível, apresentando desafios e nos incentivando e acreditando em nossa capacidade de aprendizado e realização e a todos os integrantes do grupo pela união e empenho no desenvolvimento do trabalho e a união que foi o principal motivo para que tudo desse certo. 4 RESUMO Este trabalho tem como objetivo abordar a importância do estudo do estresse ocupacional e da qualidade de vida no ambiente de trabalho, demonstrando a evolução da área de gestão de pessoas, seus fundamentos e origens, bem como os conceitos básicos de higiene e segurança do trabalho, desde o surgimento das primeiras leis trabalhistas até as legislações vigentes. Abordará, também, o progresso deste tema e suas implicações de forma significativa no clima organizacional, salientando a influência da motivação e da satisfação dos colaboradores dentro da organização e também, os fatores que contribuem para a redução do estresse, bem como a implicação das suas consequências no ambiente de trabalho, sejam elas negativas ou positivas, enfatizando a diferença do distresse e eustresse e seus efeitos na vida do colaborador e suas influências na organização. Serão demonstradas ainda, formas de avaliação e redução de estresse bem como modelos de implantação de programas de qualidade de vida visando uma melhora no ambiente organizacional, o que implica diretamente na influência da produtividade dos colaboradores e consequentemente no sucesso dos resultados objetivados pelas empresas. Apresentará diversas abordagens de estudiosos sobre o tema, cada uma com seus pontos positivos e pontos negativos, além de demonstrar na forma de estudo de caso, as vantagens que a qualidade de vida no trabalho proporciona para as empresas, citando uma das maiores empresas do mundo, que foi eleita a melhor empresa para se trabalhar no ano de 2013 no Brasil. Este trabalho abordará, acima de tudo, a importância do ser humano para o sucesso da organização. Palavras-chave: Qualidade de vida no trabalho. Motivação organizacional. Estresse ocupacional. Gestão de pessoas. 5 ABSTRACT This work aims to address the importance of the study of occupational stress and quality of life in the workplace, demonstrating the evolution of the area of people management, its foundations and origins, as well as the basics of hygiene and safety, since the emergence of the first labor laws to the laws in force. Will also focus on the progress of this issue and its implications significantly in organizational climate, emphasizing the influence of motivation and satisfaction of employees within the organization and also the factors that contribute to stress reduction as well as the implication of their consequences in the workplace, whether negative or positive, emphasizing the difference in distress and eustress and its effects on the life of the employee and their influence in the organization. Will also be demonstrated, assessment methods and stress reduction as well as deployment models of quality of life programs for improvement in the organizational environment, which implies directly influence the productivity of employees and consequently the success of the companies targeted results. Present various approaches scholars on the subject, each with its strengths and weaknesses, as well as demonstrating a case study, the advantages that the quality of work life provides for companies, citing one of the world's largest companies , which was voted the best company to work for in 2013 in Brazil. This work will focus above all, the importance of the human being to the organization's success. Keywords: Quality of life in the workplace. Organizational motivation. Occupational stress. People management. 6 LISTA DE SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ARH Administração de Recursos Humanos CEPAA Council for Economic Priorities Accreditation Agency (Órgão de Credenciamento do Conselho de Prioridades Econômicas) CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CLT Consolidação das Leis do Trabalho DPI Departamento de Pesquisas Industriais INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia ISO International Organization for Standardization (Organização Internacional de Normalização) MASP Museus de Artes de São Paulo MBA Master of Business Administration (Mestre em Administração de Negócios) MTE Ministro de Estado do Trabalho e Emprego NR Normas Regulamentadoras NRR Normas Regulamentadoras Rurais OMS Organização Mundial de Saúde OHSAS Occupational Health and Safety Assessment Services (Série de Avaliação da Segurança e Saúde no Trabalho) OSHA Occupational Safety and Health Act (Ato de Segurança e Saúde Ocupacional) PDCA Plan / Do / Check / Action (Planejar / Executar / Verificar / Agir) PCMSO Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional PPRA Programas de Prevenção de Riscos Ambientais RH Recursos Humanos QVT Qualidade de Vida no Trabalho SA Social Account Ability (Capacidade em Responsabilidade Social) SAI Social Accountability Internacional) International (Responsabilidade Social 7 SEBRAE Serviço de apoio às micro e pequenas empresas SGA Sistema de Gestão Ambiental TCA Teoria Clássica da Administração TRH Teoria das Relações Humanas 8 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Comparativo entre a Teoria Clássica da Administração e a Teoria das Relações humanas.................................................................................................... 20 Quadro 2 - Percentual de comparação de estressores de homens e mulheres ........ 32 Quadro 3 - Rankings Invertidos ................................................................................. 34 Quadro 4 - Indicadores dependentes, que estão relacionados à satisfação dos empregados. ............................................................................................................. 61 Quadro 5 - Evolução do Conceito de QVT de Nadler e Lawler ................................. 63 Quadro 6 – Modelo de QVT de Walton ..................................................................... 66 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Pessoas como pessoas e pessoas como recursos .................................. 13 Figura 2 - Hierarquia das necessidades humanas segundo Maslow ........................ 22 Figura 3 - Pirâmide comparativa das teorias de Maslow e Herzberg ........................ 24 Figura 4 - Os três fatores da motivação para produzir .............................................. 26 Figura 5 - Os estressores na vida de cada pessoa ................................................... 31 Figura 6 - Modelo Holístico do Estresse .................................................................... 42 Figura 7 - Hexágono de Kertesz................................................................................ 45 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12 1 AS PESSOAS X AMBIENTE ORGANIZACIONAL .............................................. 13 1.1 Evolução da Teoria das Relações Humanas .............................................. 15 1.1.1 A Experiência de Hawthorne .......................................................................... 16 1.2 Teoria Clássica da Administração (TCA) X Teoria das Relações Humanas (TRH). .............................................................................................................. .........19 1.3 Motivação Humana ....................................................................................... 21 1.3.1 Teoria das Necessidades de Abraham Maslow .............................................. 21 1.3.2 Teoria de Dois Fatores de Frederick Herzberg ............................................... 23 1.3.3 Teoria dos Motivos Humanos de David McClelland ....................................... 25 1.4 Frustração ..................................................................................................... 26 1.5 Clima Organizacional ................................................................................... 27 2 ESTRESSE OCUPACIONAL ............................................................................... 29 2.1 Psicologia Organizacional ........................................................................... 29 2.2 O Estresse Ocupacional e os Estressores ................................................. 30 2.2.1 Os Principais Estressores ............................................................................... 35 2.3 Personalidade do Tipo A .............................................................................. 38 2.4 Eustresse....................................................................................................... 40 2.5 Sindrome de Burnout ................................................................................... 42 2.6 Métodos Para Redução e Avaliação do Estresse ...................................... 44 3 A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO .......................................................... 47 3.1 A Saúde dos Trabalhadores ........................................................................ 48 3.2 Higiene e Segurança do Trabalho ............................................................... 48 3.2.1 ISO.................................................................................................................. 50 3.2.2 SA 8000 .......................................................................................................... 51 3.2.3 OHSAS 18001 ................................................................................................ 52 3.2.4 Higiene do Trabalho ....................................................................................... 53 3.2.5 Segurança do Trabalho .................................................................................. 54 11 3.2.6 Normas Regulamentadoras (NR) ................................................................... 55 3.3 Evolução do Conceito de QVT ..................................................................... 59 3.4 Modelos de QVT ............................................................................................ 62 3.4.1 Modelo de QVT de Nadler e Lawler ................................................................ 63 3.4.2 Modelo de QVT de Hackman e Oldhan .......................................................... 64 3.4.3 Modelo de QVT de Walton.............................................................................. 65 3.5 Desafios e Vantagens da Gestão e Implantação da QVT............................... 67 4 OS ASPECTOS DA QVT PRESENTES NAS EMPRESAS BRASILEIRAS ........ 72 4.1 Programas de Qualidade de Vida Votorantim Cimentos Brasil ................ 73 4.2 A Filosofia Bonsai da Tagawa Propaganda ................................................ 74 4.3 Google – A Melhor Empresa para se Trabalhar no Ano 2013 ................... 77 4.4 Características em Comum dos Programas de QVT ................................. 79 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 81 REFERÊNCIAS WEBGRÁFICAS ............................................................................. 84 12 INTRODUÇÃO As organizações devem ficar atentas ao ambiente externo e interno, pois com a globalização da economia e a crescente concorrência em todos os âmbitos do mercado, os colaboradores acabam passando por situações que podem levá-los a se sentirem pressionados, causando o estresse ocupacional. Uma empresa que trata pessoas como pessoas sabe que deve balancear este conceito, precisa ficar atenta a situações que apresentam estresse de seus colaboradores, além de monitorar os resultados que podem implicar negativamente a saúde dos mesmos, bem como nos resultados finais para a empresa. Isso pode ser dosado e prevenido com programas de qualidade de vida no trabalho, fundamentais para proporcionar aos colaboradores um ambiente organizacional saudável, agradável e bom para se trabalhar. A qualidade de vida sempre foi objeto de estudo e preocupação da raça humana, por conta da necessidade de se sentir bem em diversos âmbitos da sua vida familiar, social e também profissional, e sobre tudo manter-se saudável psicológica e emocionalmente. A qualidade de vida no trabalho está ligada à satisfação dos colaboradores e a baixa rotatividade do quadro funcional em uma empresa. A satisfação do cliente está relacionada diretamente à satisfação do colaborador, e este, diretamente ao desempenho e aos resultados financeiros da organização. Mas como uma empresa moderna, a fim de alcançar suas metas e objetivos com máxima eficiência e eficácia, deve lidar com o estresse ocupacional e fundamentar e implantar um programa de qualidade de vida no trabalho? O estudo dos impactos no ambiente organizacional que são causados pelo estresse junto à implantação de programas de qualidade de vida é fundamental para que a gestão de pessoas possa gerenciar de maneira competente e enfrentar os imprevistos, bem como resolver os problemas de maneira eficiente e precisa, ao fazer com que os colaboradores e a empresa trabalhem por um objetivo em comum garantindo assim, o sucesso mútuo. Por fim com o estudo do tema, pretende-se aprofundar em estresse ocupacional, analisar suas causas, consequências e suas características. Compreender o propósito do plano de qualidade de vida no trabalho podendo assim identificar como se deve fundamentar e implantá-lo corretamente como uma das soluções do estresse ocupacional. 13 1 AS PESSOAS X AMBIENTE ORGANIZACIONAL Qualquer organização, independentemente do seu segmento ou área de atuação necessita de pessoas qualificadas para organizar, dirigir, controlar, produzir e entre outras funções, fazer com que a empresa execute suas tarefas com eficiência e eficácia e assim, alcance seus objetivos. “Toda organização é constituída de pessoas e dela depende para seu sucesso e continuidade” CHIAVENATO (2002, p. 73). Com as fortes mudanças ocasionadas pela Revolução Industrial no começo do século XX, tornou-se necessário a criação de um órgão mediador que abordasse as necessidades tanto da organização quanto da pessoa que trabalha no local, esse órgão inicialmente era chamado de Relações Industriais, que visava encontrar e controlar um ponto de equilíbrio entre empresa e funcionário que na época era extremamente conflitante, segundo CHIAVENATO (2009) era como se as pessoas e as organizações, embora estreitamente inter-relacionadas, tivessem comportamentos diferentes, com fronteiras fechadas, trincheiras abertas requerendo um interlocutor estranho a ambas para poderem entender ou, pelo menos reduzir suas diferenças. Com o passar do tempo após diversas mudanças, apenas na década de 70 surgiu o conceito de Recursos Humanos, ainda extremamente ligados à visão de que uma pessoa é mera ferramenta para a empresa, por isso, o estudo de pessoas é importante e dessa necessidade foi criada a administração de recursos humanos (ARH), que é a unidade básica da área de gerir pessoas. A ARH surgiu com duas diferentes vertentes para classificar as pessoas. A primeira é considerando pessoas como pessoas e a segunda, pessoas como recursos, conforme exemplificado na figura a seguir: Figura 1 - Pessoas como pessoas e pessoas como recursos Fonte: adaptado pelos autores de CHIAVENATO (2009, p. 46). 14 Chiavenato (2002) explica que há pouco tempo atrás, as pessoas eram tratadas pelas organizações como objetos, como se fossem máquinas ou simplesmente ferramentas de trabalho. Notou-se que esse meio era ultrapassado e não ajudava a construir um ambiente organizacional satisfatório por parte de seus colaboradores, causando conflitos trabalhistas, insatisfações, distanciamento e alheamento das pessoas em relação às tarefas de trabalho, ocasionando assim, problemas de produtividade e qualidade em seus produtos ou serviços. A moderna ARH procura tratar as pessoas como pessoas, moldando assim, uma nova estrutura organizacional que visa à qualidade e produtividade através da satisfação ao trabalhar em um ambiente organizacional agradável no qual seus colaboradores sintam-se confortáveis e motivados ao executarem suas tarefas. As empresas modernas, para maximizar os resultados em seus objetivos, sejam estes organizacionais, metas em vendas, produção, entre outros, devem investir na qualidade de vida organizacional. Quando as pessoas estão felizes em seu ambiente de trabalho e se sentindo motivadas, elas contribuirão melhor para a empresa, sendo esta uma forma clara e benéfica para ambos os lados, tanto para os funcionários, que por serem tratados como pessoas, ou seja, ao serem tratados em seu lado humanitário sentem-se bem e satisfeitos em seu ambiente de trabalho, como também para a empresa, pois se o funcionário está bem, ele irá trabalhar bem e assim a empresa irá atingir suas metas, crescendo no mercado e alcançando seu sucesso. Com a globalização da economia e com todas as características do terceiro milênio, a forte competitividade no mundo dos negócios e as mudanças constantes e imprevisíveis do ambiente externo, as organizações evoluídas e modernas não administram mais as pessoas, pois isso significa tratá-las como agentes passivos e dependentes, sobretudo, elas administram pessoas junto às pessoas, isto é, segundo (TORRES)1, corresponde a “tratá-las como agentes ativos e proativos dotados de inteligência e criatividade, iniciativa e decisão, habilidade e competências e não apenas de capacidades manuais, físicas ou artesanais”. Assim, por entender que as pessoas participam da administração da empresa como parceiros e colaboradores e não como meros recursos, o conceito de ARH evoluiu para Administração de Pessoas ou Gestão de Pessoas que visa tratar as 1 Vide Webgrafia 15 pessoas não só como pessoas, mas como parte fundamental para o sucesso da organização, pois, conforme elucidado por Chiavenato (2009) o comportamento das pessoas dentro da organização é complexo e depende de diversos fatores ambientais internos que dependem da capacidade física, emocional e intelectual de cada um, relacionado à aprendizagem, motivação, entre outros, e de fatores externos decorrentes do ambiente de tarefa, como recompensas, punições, política, e fatores sociais. Considerando, ainda, que cada pessoa é diferente uma da outra, tem vontades e temperamentos diferentes, como fazer para agradar a todas? Tendo em vista que uma organização é formada por diversas pessoas, descobre-se um impasse em como agir frente a cada uma delas, para que todas fiquem satisfeitas e colaborem harmoniosamente para a empresa atingir suas metas. Apesar de todas essas diferenças, o processo que dinamiza o comportamento é mais ou menos semelhante para todas as pessoas. Em outras palavras, embora os padrões de comportamento variem, o processo do qual eles resultam é, basicamente, o mesmo para todas as pessoas. (CHIAVENATO, 2009, p. 51). É a partir disso que a área de Gestão de Pessoas deve organizar-se e através de um planejamento estratégico, criar várias ferramentas diferentes, analisando personalidades e criando métodos para assegurar que a qualidade de vida abranja um número grande de colaboradores e visando o bem estar de cada um na organização. 1.1 Evolução da Teoria das Relações Humanas Em relação à origem dos estudos da relação humana, é imprescindível citar Elton Mayo (1880-1949), que segundo (ELAINA) 2, foi um psicólogo, sociólogo que foi nomeado como o fundador das relações humanas por se opor a todas as teorias organizacionais da época até então, indo contra a visão Taylorista de que com a otimização do tempo poderia se melhorar a eficiência produtiva dos funcionários. Segundo (FERREIRA, S)3 através de experiências conduzidas por Elton Mayo à partir de 1927 na fabrica “Western Electric Company”, onde trabalhava, foi abordada 2 3 Vide Webgrafia Vide Webgrafia 16 uma visão humanista até então inexistente no âmbito organizacional mundial da época. Mayo acreditou que o comportamento da pessoa dentro da organização assim como a sua motivação, era proveniente da tradição e condições de trabalho. A experiência de Hawthorne questionou e derrubou alguns pontos que foram abordados pela teoria clássica e administração científica entre eles a sobreposição dos fatores fisiológicos sobre os fatores psicológicos. 1.1.1 A Experiência de Hawthorne Realizada entre o período de 1927 a 1932, a experiência de Hawthorne leva esse nome por ter sido feita na fábrica Western Electric Company localizada no bairro de Hawthorne em Chicago. (FERREIRA, A)4 explica que o experimento com o intuito inicial de relacionar a luminosidade do local de trabalho com base na produção da equipe. A partir dos resultados iniciais estenderam-se os estudos a fadiga, acidente de trabalho, rotação de pessoa e então a produtividade dos operários de acordo com as condições de trabalho. O experimento se desenvolveu em quatro frases, conforme sintetizadas a seguir. 1.1.1.1 Os Processos da Experiência De acordo com Chiavenato (2003), no primeiro momento pretendia-se verificar os efeitos sobre o rendimento dos funcionários. Separaram-se então dois grupos em salas distintas fazendo o mesmo trabalho, sendo um grupo de experimento e outro de referência, com condições idênticas, um dos grupos trabalhava sobre luz constante enquanto o outro trabalhava com a iluminação variável. E surpreendentemente não foi encontrada relações entre a iluminação e o rendimento dos operários. Já, segundo (REBOUÇAS) 5 , outro fator interessante foi notado durante essa fase, o fator psicológico que baseado em suposições pessoais fez com que o grupo que trabalhava com a luz variável produzissem mais quando a luz era intensificada no local. Pois os mesmos julgavam-se obrigados a produzir mais naquela condição, assim também como faziam o mesmo no momento em que diminuíam a luz. Essa fase abriu alas para o começo da teoria de que os fatores psicológicos eram o que influenciavam os operários a produzir. O que levou aos pesquisadores a trocarem as lâmpadas do ambiente por lâmpadas da mesma 4 5 Vide Webgrafia Vide Webgrafia 17 potência que fazia com que os operários acreditassem que a iluminação variava de acordo com a intensidade que os operários produziam. A segunda parte constituiu em utilizar seis mulheres separadas do restante do grupo formando o grupo experimental dividida apenas por uma divisória de madeira do grupo de referência, que continuava trabalhando em condições normais. A pesquisa foi dividida em 12 períodos e conforme Chiavenato (2003) consistia em observar as variações de rendimento de acordo com inovações propostas com o grupo de referência. As moças que participaram da experiência eram informadas das inovações sendo desde aumento salarial, variação no tempo de descanso e redução de carga horária. No fim do período experimental os resultados adquiridos não foram suficientemente satisfatórios, contudo, os resultados obtidos confirmaram mais uma vez os resultados que haviam sido apresentados na experiência da iluminação e chagaram a conclusão que: O grupo trabalhou com maior liberdade e menos ansiedade; Havia um ambiente amistoso e sem pressão; Não havia temor ao supervisor; Houve um entrosamento social no grupo experimental; O grupo desenvolveu por si a liderança e traçaram objetivos em comum. Com base nos resultados obtidos na fase anterior chegaram à terceira fase, onde as moças submetidas ao experimento tinham atitudes diferentes a do grupo de controle, os pesquisadores deixaram de trabalhar em cima das condições de trabalho e alçaram seus estudos sobre as relações humanas. Segundo Chiavenato (2003) iniciou-se em 1928 um programa de entrevistar primeiro em um setor específico de entrevistas, depois no setor operacional e enfim nos demais setores da empresa. Através desse sistema de entrevista a organização buscou coletar informações sobre atitudes e sentimentos dos seus colaboradores e também receber sugestões que poderiam ser aprovadas. Após boa aceitação do programa foi criado o Departamento de Pesquisas Industriais (DPI) para dar continuidade e utilizar os meios adquiridos através da pesquisa. Mais da metade dos 40.000 funcionários da indústria foram entrevistados, e a partir da aceitação dos funcionários, o DPI resolveu modificar as entrevistas, 18 passando a criar entrevistas onde os funcionários eram livres para dizer o que pensassem, sem que fossem direcionados a uma pergunta ou questionamento especifico, isso fez com que os funcionários externassem uma organização informal deles mesmos com ressalvas ao que lhe poderiam ser classificados como ameaças da administração ao bem estar dos mesmos. Chiavenato (2003) explica que com as descobertas da terceira fase, o foco da fase final do experimento foi analisar a organização informal dos operários. Para isso outro grupo experimental foi formado com nove soldadores e dois inspetores. Sendo eles observados todo tempo por um pesquisador, entrevistados por outro e seu pagamento era feito de acordo com a produção. Os pesquisadores notaram que após ser atingida uma quantidade produzida que eles julgavam serem suficiente, eles reduziam o ritmo de trabalho. Os inspetores informavam sua produção a modo de deixar um excesso de um dia para compensar a falta de outro, e no caso de excesso de produção exigiam o pagamento do mesmo. Basicamente o que se foi notado era a formação de uma sociedade grupal e organização informal do grupo. 1.1.1.2 Conclusões da Experiência Após esses anos de experiência, algumas conclusões puderam ser observadas pelos pesquisadores e então listadas conforme descrito abaixo por Chiavenato (2003): a. O nível de produção não é determinado pela capacidade física do funcionário e sim pela integração social do indivíduo (todos agem como parte de um grupo); b. O comportamento do funcionário é definido pelas normas e padrões da sociedade (buscam recompensas sociais); c. A empresa passou a ser vista como uma sociedade informal ao contrario dos valores agregados pelos líderes da organização, os empregados visavam atitudes, crenças e outras motivações para continuar produzindo; d. O aspecto de relações humanas formado pelos indivíduos a partir do momento em que eles se socializavam entre si e percebiam que uns indivíduos são e pensam diferentes dos outros; e. Notou-se a importância dos cargos, a partir do momento em que a pessoa exposta à mesma atividade repetitiva e diária fica cansada e se desmotiva 19 em relação ao dia a dia afetando negativamente o desempenho e reduzindo a satisfação e eficácia. f. A evidente atenção especial da teoria das relações humanas requerida a itens emocionais não planejados e de ímpeto irracional do ser humano. A partir desse ponto pode-se notar a influência do fator psicológico no desempenho do colaborador dentro da organização, fator que modificou a forma de estudo do comportamento organizacional de um indivíduo, abrindo um variado leque de estudo que diz respeito ao comportamento do indivíduo dentro da empresa. 1.2 Teoria Clássica da Administração (TCA) X Teoria das Relações Humanas (TRH) A teoria clássica da administração subdivide as organizações por hierarquias que são criados pelos gestores que supervisionam seus encarregados, que por sua vez, supervisionam os funcionários. Segundo Chiavenato (2003) a teoria clássica partia do todo organizacional e da estrutura em busca do aumento da eficiência em todos os departamentos. Além disso, na visão da TCA as interações interpessoais entre funcionários e até mesmo gerentes não são bem vistos. As regras devem ser absolutas e as demissões e admissões deverão ser feitas a partir somente de suas habilidades para com o cargo. Fayol, um engenheiro francês, fundador da teoria clássica da administração, partiu de uma abordagem sintética, global e universal da empresa, igualando uma abordagem anatômica e estrutural que rapidamente suplantou a abordagem analítica e concreta de Taylor. (CHIAVENATO, 2003, p.80). Embora nos tempos atuais esta não seja a teoria mais utilizada até mesmo pela quantidade de falhas, alguns procedimentos de sua base teórica dão foco nas organizações de hoje como, por exemplo, a diferença entre os problemas pessoais e profissionais dentro da empresa. Porém, no momento em que não é se levado em consideração os problemas pessoais de um funcionário pode-se não se ter a melhor produtividade do mesmo, podendo até levar a alta rotatividade de pessoas na organização. Já com base na teoria das relações humanas ou teoria da gestão comportamental, centraliza-se no estudo do comportamento do indivíduo, ela 20 permite a comunicação entre os indivíduos na organização e assim, faz com que as decisões na organização sejam tomadas com base nas opiniões e ponto de vista de cada colaborador. Além de, expor os colaboradores a técnicas motivacionais para que seja aumentada a produtividade. Chiavenato (2003) explica que ela surgiu como consequência dos resultados das experiências feitas por Elton Mayo, porém a TRH também tem os seus contras, afinal, um funcionário motivado pode ser facilmente influenciado por emoções deixando de levar em considerações operações e decisões em base concreta numérica. Apesar desses contras esse método de trabalho tem o grande potencial de retenção de funcionários e grande aumento de produtividade. Então se vê totalmente viável a divisão de ambas as teorias, pois a organização além de uma visão concreta e um modo de trabalhar sucinto e exato necessita da sensibilidade de conhecimento do comportamento humano para equilibrar as suas ações e motivá-los a produzir e dar o melhor desempenho pela organização. Para melhor demonstrar as diferenças entre a TCA e TRH segue quadro abaixo: Quadro 1 - Comparativo entre a Teoria Clássica da Administração e a Teoria das Relações humanas TEORIA CLÁSSICA DA TEORIA DAS RELAÇÕES ADMINISTRAÇÃO HUMANAS A organização é uma máquina A organização são as pessoas Autoridade centralizada Delegação de autoridades Linhas claras de autoridade Autonomia aos empregados Divisão total de trabalho Ênfase nas relações humanas Visão de regras absolutas Preocupa-se com a integridade das pessoas Fonte: Adaptado pelos autores de OLIVER 6 6 Vide Webgrafia 21 1.3 Motivação Humana MACEDO et al. (2007, p. 92) explica que “motivação significa o motivo para ação”, já Chiavenato (2009, p. 50) descreve que “motivo é tudo aquilo que impulsiona a pessoa a agir de determinada forma ou, pelo menos, que dá uma origem a uma propensão a um comportamento específico”. Baseado nisso, existem três premissas que explicam o comportamento humano: O comportamento humano é causado por estímulos de fatores externos ou internos; O comportamento é motivado, ou seja, há uma finalidade em todo comportamento humano; O comportamento é orientado para objetivos. O ciclo motivacional inicia-se a partir de uma necessidade do indivíduo, a qual irá fazer com que ele saia de seu estado de equilíbrio causando um estado de tensão, insatisfação, desconforto, entre outros. Isso faz com que o indivíduo aja para buscar formas de descarregar essa tensão, livrar-se desse desconforto ou desequilíbrio e satisfazer essa necessidade. 1.3.1 Teoria das Necessidades de Abraham Maslow Dentro de algumas das teorias comportamentais, pode-se citar a hierarquia das necessidades segundo Maslow. Maslow afirmava que existem cinco sistemas responsáveis por grande parte de nosso comportamento. Ele colocou esses sistemas em uma escala hierárquica, indo do mais primitivo e imaturo – em termos do comportamento que eles promovem – para o mais civilizado e maduro. (MONTANA E CHARNOV, 2000, p.205 apud MACEDO et al. 2007, p. 93). Para Maslow existem cinco níveis de necessidades: fisiológicas, segurança, sociais, estima e autorrealização, conforme exemplificado na figura a seguir: 22 Figura 2 - Hierarquia das necessidades humanas segundo Maslow Auto realização Estima Sociais Segurança Necessidades fisiológicas Fonte: adaptado pelos autores de Chiavenato (2009, p. 53). A teoria de Maslow contribui de forma importante ao distinguir as necessidades em níveis hierárquicos em grandes grupos, estabelecendo as prioridades e relevância do crescimento pessoal e da autorrealização em harmonia com os objetivos organizacionais. 1.3.1.1 Necessidades Fisiológicas Basicamente a base da pirâmide de Maslow é definida como necessidades básicas do ser humano tais quais as necessidades de alimentar-se, de repouso, necessidade de abrigo ou necessidade sexual. Segundo CHIAVENATO (2009) desde o inicio da vida as pessoas lutam para suprir essas necessidades básicas e inadiáveis. Elas monopolizam as ações dos recém-nascidos e predominam nos adultos sobre as demais necessidades enquanto não for alcançada sua satisfação. São relacionadas com a subsistência e existência do indivíduo. 1.3.1.2 Necessidades de Segurança O segundo nível da pirâmide refere-se às necessidades referentes à busca de segurança a ameaças, sejam elas reais ou irreais, pode ser basicamente definida como a busca de proteção contra ameaças ou privações, CHIAVENATO (2009) 23 define que elas surgem no comportamento humano quando as necessidades fisiológicas estão relativamente satisfeitas. 1.3.1.3 Necessidades Sociais São as necessidades que estão relacionadas com a vida pessoal das pessoas com outros indivíduos. Também fazem parte às relações de aceitação em outros grupos, e relacionamentos de amizade e afeto. Ainda segundo CHIAVENATO (2009) quando essa necessidade não é satisfeita, a pessoa torna-se hostil e resistente com relação a outras pessoas, tornando-o solitário e fazendo com que ele não se adapte a sociedade e demais indivíduos. 1.3.1.4 Necessidades de Estima Estas necessidades definem-se como a maneira em que o indivíduo vê a si próprio, esse tipo de necessidade está relacionado à auto avaliação e envolve a autoconfiança, necessidade de aprovação e reconhecimento social, prestígio e reputação. CHIAVENATO (2009) define ainda que a satisfação dessas necessidades leva o indivíduo a ter sentimentos de valor, autoconfiança, força, poder, capacidade e utilidade. Assim como a frustração na ausência delas, levam o indivíduo a ter sentimentos de inferioridade, fraqueza, dependência e desamparo. 1.3.1.5 Necessidades de Autorrealização O topo da pirâmide da teoria de Maslow são as necessidades mais elevadas do ser humano e é definida como a necessidade de valorização da pessoa. Está diretamente ligada à independência, autonomia e competência. Chiavenato (2009) define como uma necessidade diferenciada, já que, todas as anteriores são recompensadas externamente, ou seja, dinheiro, amizade, comida. Já a autorrealização é uma realização interna onde a pessoa ao chegar ao seu objetivo deseja ter sempre mais. 1.3.2 Teoria de Dois Fatores de Frederick Herzberg Banov (2009) cita que Herzberg, através de sua pesquisa, identificou que os fatores que levam a motivação e a insatisfação estão interligados em escalas diferentes. E levou o nome de teoria dos dois fatores, pois trabalhou com conjuntos 24 distintos de necessidades que visavam o conforto e a satisfação que originou os fatores higiênicos e os fatores motivacionais. 1.3.2.1 Fatores Higiênicos Referem-se às condições do ambiente de tarefa do indivíduo, ou seja, condições externas que estão sob controle da empresa tais como remuneração, benefícios sociais, clima organizacional interno, entre outros. Segundo Banov (2009) para Herzberg comparando com a pirâmide das necessidades de Maslow esses fatores estão dentro dos três primeiros degraus da pirâmide ligados diretamente a necessidades fisiológicas que quando controlados previnem o baixo desempenho. 1.3.2.2 Fatores Motivacionais São fatores referentes ao conteúdo do cargo e do trabalho realizado e tem o poder de realizar motivação ao apresentar estímulos como salários variáveis e reconhecimento profissional. Ainda segundo Banov (2009) para Herzberg diferente dos fatores de higiene, a ausência não causa desconforto, ou seja, são neutros, são fatores que elevam o bem estar do indivíduo de forma motivacional. Figura 3 - Pirâmide comparativa das teorias de Maslow e Herzberg Fonte: adaptado pelos autores de Montana e Charnov (2000 apud Macedo et al. 2007, p. 95). 25 1.3.3 Teoria dos Motivos Humanos de David McClelland McClelland, segundo MACEDO et al. (2007), buscou destacar a importância das necessidades básicas classificando três conjuntos que são adquiridos pelo indivíduo a partir de suas experiências de vida, sendo eles: Realização: que se trata das metas impostas pela pessoa para se alcançar o sucesso, atingir metas e buscar a excelência. Afiliação: são basicamente o interesse por afeto, carinho ou amizade de terceiros, esse conjunto de necessidades demonstra o interesse no estreitamento de laço do indivíduo com outras pessoas. Poder: demostra a necessidade que o indivíduo cria de ter um status perante outros indivíduos, é através dele que a pessoa aprende e aprimora a capacidade de liderar, influenciar ou dominar os outros. Assim, a grande contribuição de Herzberg foi elucidar, conforme descrito por MACEDO et al. (2007, p. 95) “não basta criar boas políticas higiênicas ou de manutenção se não houver reformulação nos cargos e valorização efetiva das pessoas que os ocupam.” Então, ele propõe que as tarefas sejam constantemente acompanhadas e moldadas ao processo evolutivo de cada colaborador, num processo conhecido como enriquecimento das funções. Há também, a teoria da expectativa de Vroom, segundo Robbins e Firley (1997, p. 355 apud MACEDO et al. 2007, p. 97) essa teoria “ajuda a explicar por que muitos trabalhadores não são motivados em seus cargos e fazem apenas o mínimo necessário para não perdêlos”. Chiavenato (2009, p. 56) explica que a teoria de motivação de Vroom “se restringe exclusivamente à motivação para produzir, rejeita noções preconcebidas e reconhece as diferenças individuais”. Vroom apresenta a existência de três relações: Os objetivos individuais, relação entre a quantidade de esforço e o resultado - expectativa; Relação entre o desempenho e o alcance de seus objetivos pessoais; Relação entre recompensa e satisfação de cumprimento de suas metas pessoais. 26 Figura 4 - Os três fatores da motivação para produzir Fonte: adaptado pelos autores de Chiavenato (2009, p. 57). 1.4 Frustração A frustração é obtida a partir do momento em que a pessoa não atinge os seus objetivos, pode ser considerada a contramão da motivação, então o indivíduo acaba não se estimulando totalmente de acordo com a situação e além de não atingir os resultados, a pessoa acaba criando vazios que podem ser preenchidos em si mesmo com alguns mecanismos de defesa do corpo, ou conforme cita Piéron (1966 apud Macedo et al. 2009, p. 99) são mecanismos inconscientes pelos quais o ego se distorcia de impulsos ou afetos sentidos como perigosos para a integridade do organismo. Segundo Freud7, pode-se citar como mecanismos de defesa: Racionalização – querer algo que não se pode ter; Fantasia – trocar o que se tem pelo que se sonha; Projeção – tirar de si a culpa de seus problemas atribuindo a outros; Deslocamento – transferir emoções entre situações; Sublimação – colocar emoções e reações em objetivos ou situações fora da realidade; Generalização – descontentar-se com todas as situações e pessoas; Isolamento – afastar-se de outros indivíduos; Apatia – Se tornar indiferente a qualquer situação. Lembrando que tanto a questão de apatia ou motivação varia de pessoa a pessoa, sendo esses fatores não aplicados de forma absoluta para cada indivíduo. É 7 Sigismund Schlomo Freud, mais conhecido, apenas, por Sigmund Freud (6 de maio de 1856 - 23 de setembro de 1939), nascido na Áustria, foi neurologista e fundador da Psicanálise. Este grande nome da psicanálise foi o responsável pela revolução no estudo da mente humana. Vide Webgrafia. 27 papel do gestor de cada equipe conhecer aprimorar os pontos motivacionais de cada pessoa da equipe a modo de usufruir das melhores qualidades de cada indivíduo em prol dos resultados da empresa. Por isso segundo Vergara (2003 apud Macedo et al. 2007, p.100) “lidar com essas diferenças é a arte e a magia do gestor”. 1.5 Clima Organizacional O clima organizacional refere-se ao ambiente de tarefa, e está diretamente ligado ao nível de satisfação do indivíduo dentro da empresa. Tanto com os outros indivíduos dentro do mesmo ambiente bem como em seu estado de espírito durante o dia-a-dia. O seu conceito segundo Chiavenato (2009) é um ajustamento pessoal e mental que não pode ser definido apenas como satisfazer suas necessidades fisiológicas e de segurança, mas também a satisfação das necessidades de pertencer a um grupo social de estima ou autorrealização. Grande parte do clima organizacional tem haver com a situação da saúde mental do ser humano, sendo assim possível através do seu estado psíquico/mental propiciar um bom ou mau clima organizacional no ambiente de trabalho. Chiavenato (2009) cita três características básicas para se definir indivíduos com boa saúde mental, sendo elas: a. Sentem-se bem consigo mesmas; b. Sentem-se bem em relação a outras pessoas; c. São capazes de enfrentar por si as demandas da vida. Os programas de qualidade de vida implantados nas empresas brasileiras, conforme explicado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) 8 estão entre os mais completos do mundo, pois envolvem as principais áreas da gestão de pessoas para tornar o ambiente organizacional mais saudável, como ações psicossociais, de saúde física e mental, culturais, de cidadania e ambientais, entre outros. Dentre algumas ações que asseguram o bem-estar dos colaboradores, exemplificam-se: 8 Vide Webgrafia 28 Benefícios individualizados, no qual os colaboradores irão optar pelo benefício que seja do seu interesse, como alguns benefícios de desenvolvimento e aperfeiçoamento profissional como cursos de graduação, pós-graduação e especializações; Visitas de familiares; Programas de atividades físicas, como ginástica laboral e corridas; Programas sociais; Horários flexíveis. Essas medidas e programas para melhorar o clima organizacional, contribuem para reduzir o estresse ocupacional, melhorando o desempenho de seus colaboradores e preservando um bom ambiente de trabalho. A empresa só tem a ganhar ao implantar estes programas, pois além de maximizar seus lucros com a motivação de seus colaboradores, também terá uma baixa rotatividade de funcionários e maiores chances de manter seus talentos em seu quadro de pessoal. 29 2 ESTRESSE OCUPACIONAL Conforme Limongi-França e Rodrigues (2007), o termo estresse vem da física e tem o sentido do grau de deformidade que uma estrutura sofre quando é submetida a um esforço. Segundo Spector (2010), na maioria das organizações existem situações consideradas estressantes pelos funcionários, como ser repreendido pelo supervisor, ter limite de tempo para executar uma tarefa, ou sentir a possibilidade de demissão. Limongi-França e Rodrigues (2007) citam que hoje se pode compreender melhor o fenômeno estresse, seu lado bom e ruim. Por conta disto se torna cada vez mais importante estudar e analisar o aspecto do estresse ocupacional, entender o seu processo, os estressores, os riscos e as consequências, o lado positivo, para que o administrador tenha domínio sobre o tema e saiba identificar e administrar a situação. 2.1 Psicologia Organizacional Antes de abordar o assunto estresse ocupacional, é importante ter uma introdução à psicologia organizacional. Pois é através desta, que se dão os estudos com relação aos problemas dos indivíduos na organização. “A psicologia industrial/organizacional é definida como a aplicação da teoria e da metodologia psicológicas aos problemas das organizações e aos problemas de grupos e de indivíduos em ambientes organizacionais” (American Psychological Association9, 1981 apud Krumm, 2011, p. 4). Ainda segundo Krumm (2011), no decorrer das últimas décadas a psicologia industrial/organizacional incluiu muitos ambientes organizacionais além das empresas tradicionais. E seus princípios aplicam-se a hospitais, escolas, instituições militares, instituições beneficentes, fábricas e lojas. Com essa expansão para outros ambientes, a psicologia organizacional trouxe informações e novas áreas de conhecimento para todo o campo. Spector (2010) cita que as principais divisões entre a psicologia organizacional são justamente a psicologia industrial e a psicologia organizacional. 9 Associação Americana de Psicologia (traduzido livremente pelos autores). É a maior organização científica e profissional representando psicologia nos Estados Unidos. APA é a maior associação de psicólogos do mundo, com mais de 134 mil pesquisadores, educadores, médicos, consultores e estudantes como seus membros. Sua missão é promover a criação, a comunicação e a aplicação do conhecimento psicológico para beneficiar a sociedade e melhorar a vida das pessoas. Vide Webgrafia. 30 Embora os dois conteúdos sejam parecidos e não possam ser facilmente separados, tradicionalmente eles têm origens diferentes. A industrial é mais antiga, e tem seu foco com questões de eficiência e uso apropriado do recurso humano, enquanto a organizacional tem seu foco no comportamento individual e o aumento do bem-estar dos funcionários. A parte organizacional se desenvolveu a partir do movimento de relações humanas nas organizações. Seu foco no funcionário como indivíduo é maior do que o existente na parte industrial. Ela se preocupa em compreender o comportamento individual e aumentar o bem-estar dos funcionários no ambiente de trabalho. Os tópicos organizacionais abrangem as atitudes e o comportamento do funcionário, o stress no trabalho e praticas de supervisão. (Spector, 2010, p.8). Desta forma, com a ramificação da psicologia organizacional, tendo seu foco no indivíduo, muitos estudos são feitos com relação às doenças ocupacionais, principalmente com relação ao estresse ocupacional, muito por conta da popularização da palavra, a qual virou referência para representar qualquer tipo de aflição ou cansaço do corpo e mente. 2.2 O Estresse Ocupacional e os Estressores Segundo Baterman e Strasser (1983, apud ROSSI; PERREWÉ; SAUTER, 2012) torna-se cada vez mais preocupante o papel do estresse ocupacional na sociedade, de forma que é reconhecido como um dos riscos mais sérios ao bem-estar psicossocial do indivíduo. O estresse coloca em risco a saúde do funcionário de qualquer empresa, sabendo que de 50 a 80% das doenças relacionadas ao trabalho são psicossomáticas ou estão relacionadas ao nível elevado de estresse conforme cita Pelletier (1984, apud ROSSI; PERREWÉ; SAUTER, 2012). Segundo Chiavenato (2010), o estresse é um conjunto de reações físicas, químicas e mentais de uma pessoa decorrente de estímulos ou estressores existentes no ambiente. No entendimento de Wagner (2009) o estresse é um sentimento negativo que pode demonstrar insegurança e dúvida da capacidade da pessoa de acordo com as suas metas e objetivos. A pessoa pode sofrer reações adversas de acordo com o grau de estresse, podendo sofrer desde reações físicas a psicológicas. 31 É uma condição dinâmica que surge quando uma pessoa é confrontada com uma oportunidade, restrição ou demanda relacionada com o que ela deseja [...] estresse é a soma das perturbações orgânicas e psíquicas provocadas por diversos agentes agressores, como: traumas, emoções fortes, fadiga, exposição a situações conflitivas e problemáticas etc. O estresse provoca ansiedade e angústia. (CHIAVENATO, 2010, p.473). Para se compreender melhor o estresse no trabalho, devem ser compreendidas as diferentes concepções envolvidas no processo. Segundo Jex (1990, apud Spector, 2010) um fator estressante do trabalho é uma condição ou situação que exige a adaptação do funcionário. Figura 5 - Os estressores na vida de cada pessoa Fonte: adaptado pelos autores de Chiavenato (2010, p. 474). Chiavenato (2010) demonstra em sua obra, os estressores na vida de cada pessoa, através desta figura e cita que existem duas fontes principais de estresse no 32 trabalho, as causas ambientais, que envolvem grande variedade de fatores externos e contextuais e que podem conduzir ao estresse no trabalho, e as causas pessoais, que envolvem características individuais que predispõem ao estresse, como exemplo as pessoas que são viciadas no trabalho, e que por conta disto geralmente estão mais sujeitas ao estresse do que as outras. Estabelecer uma diferença das influências dos estressores, entre homens e mulheres, gera uma preocupação adicional. Holmes e Jorgensen (1971 apud ROSSI; PERREWÉ; SAUTER, 2012) fizeram um estudo tendo como principal objetivo comparar e contrastar o estresse ocupacional que pode afetar o bem-estar psicossocial de profissionais dos sexos masculino e feminino. Uma amostra com 900 profissionais escolhidos aleatoriamente, divididos em 450 mulheres e 450 homens de diferentes organizações brasileiras passou por um teste sobre o estresse. Foi distribuída uma ficha de questionário para cada pessoa, no total foram devolvidas 586 fichas sendo 220 dos homens e 366 de mulheres. Esse estudo visava demonstrar a diferença de estressores entre os gêneros e se tratava de um formulário onde os participantes deveriam responder 18 questões baseadas em situações estressantes no trabalho. Com a análise de dados observou-se que há uma distinta diferença entre o grau de estresse e os estressores de acordo com cada sexo, criando assim, um quadro que possibilita a visualização rápida dos resultados conforme o gênero. O quadro a seguir apresenta uma comparação dos percentuais de homens e mulheres. Os resultados indicam que há algumas diferenças entre homens e mulheres nos 18 estressores identificados. Quadro 2 - Percentual de comparação de estressores de homens e mulheres (continua) RANKING ESTRESSOR HOMENS N= 220 1 INCERTEZA 58,1% 2 SOBRECARGA DE TRABALHO 46,3% 3 FALTA DE CONTROLE 48,1% 4 DEMANDAS DO TRABALHO 47,2% 5 ESTRESSE INTERPESSOAL 48,1% 6 INCAPACIDADE DE ADM SEU TEMPO 34,5% MULHERES N=366 54,6% 59,5% 54,6% 52,4% 50,2% 45,3% 33 (continuação e conclusão) RANKING ESTRESSOR HOMENS N= 220 7 ESTRESSE TECNOLÓGICO 43,6% 8 CONFLITO DE FUNÇÃO 38,1% 9 AMBIGÜIDADE DE FUNÇÃO 30,0% 10 TAREFAS ROTINEIRAS 24,5% 11 RECURSOS INADEQUADOS 33,6% 12 LIDAR COM PROBLEMAS EMOCIONAIS 18,1% 13 CAPACITAÇÃO, TREINAMENTO 17,2% 14 ASSÉDIO MORAL 13,6% 15 FALTA DE FEEDBACK 10 MULHERES N=366 10,0% 16 MUDANÇA NO EMPREGO 10,9% 17 MUDANÇA NO AMBIENTE 4,5% 18 FALTA DE PARTICIPAÇÃO 11,8% 53,9% 38,7% 37,1% 32,7% 34,4% 24,5% 20,7% 15,3% 16,9% 16,9% 15,3% 14,2% 6,0% 59,0% Fonte: adaptado pelos autores de ROSSI; PERREWÉ; SAUTER (2012, p. 13). Observa-se que em geral, há algumas diferenças importantes entre os sexos com relação ao que lhes causa estresse no emprego. Segundo Rossi, Perrewé e Sauter (2012) a identificação da importância relativa das causas é fundamental para que possa tomar medidas para amenizar as consequências negativas que podem resultar do estresse. O quadro a seguir, apresenta o percentual dos rankings invertidos recebidos para os 18 estressores. Rossi, Perrewé e Sauter (2012) afirma que essas pontuações são importantes porque, enquanto a tabela anterior identificou todos os estressores com o mesmo valor, os rankings invertidos atribuem maior valor aos considerados mais perigosos ao bem-estar psicossocial do empregado. 10 De acordo com o dicionário Houaiss Feedback é a informação que o emissor obtém da reação do receptor à sua mensagem, e que serve para avaliar os resultados da transmissão. É um processo de alimentação que ocorre através do fornecimento de informações críticas para o ajuste de desempenho e performance de uma pessoa. Vide Webgrafia 34 Quadro 3 - Rankings Invertidos RANKING ESTRESSOR HOMENS N= 220 MULHERES N=366 1 SOBRECARGA DE TRABALHO 74,0% 94,3% 2 INCERTEZA 91,0% 83,1% 3 FALTA DE CONTROLE 75,1% 82,1% INCAPACIDADE DE ADMINISTRAR SEU 82,0% 4 TEMPO 72,8% 5 ESTRESSE INTERPESSOAL 76,3% 77,8% 6 DEMANDAS DO TRABALHO 54,5% 69,7% 7 AMBIGUIDADE DA FUNÇÃO 64,2% 57,4% 8 ESTRESSE TECNOLÓGICO 58,1% 55,4% 9 CONFLITO DA FUNÇÃO 38,0% 49,7% 10 TAREFAS ROTINEIRAS 44,7% 45,7% 11 RECURSOS INADEQUADOS 51,8% 36,9% 12 LIDAR COM PROBLEMAS EMOCIONAIS 24,5% 29,6% 13 CAPACITAÇÃO, TREINAMENTO 19,0% 24,3% 14 FALTA DE FEEDBACK 23,0% 21,3% 15 ASSÉDIO MORAL 14,7% 23,9% 16 MUDANÇA NO EMPREGO 15,5% 21,8% 17 MUDANÇA NO AMBIENTE 6,8% 19,7% 18 FALTA DE PARTICIPAÇÃO 16,7% 9,0% 82,1% 88,4% Fonte: adaptado pelos autores de ROSSI; PERREWÉ; SAUTER (2012, p. 14). Os autores continuam abordando a importância do quadro dos rankings invertidos, pois afirmam que através disto pode-se classificar cada estressor como “elevado”, “moderadamente elevado”, “moderado” ou “baixo”. Portanto, os cinco primeiros estressores constituem a categoria de estressor “elevado”, os três seguintes, a categoria “moderadamente elevado”, seguidos pelos três da categoria “moderado” e os últimos sete constituem a categoria “baixo” [...] Estas categorias podem permitir que os pesquisadores e profissionais que atuam na área de saúde e recursos humanos comecem a procurar os estressores que a maioria dos indivíduos considerou mais estressantes. (ROSSI; PERREWÉ; SAUTER, 2012, p.15). 35 Pode-se observar que os dados dos quadros se diferem. O aspecto mais notável, segundo os autores, são as trocas do primeiro e segundo e do quarto e sexto estressores. Embora os números sejam próximos, fica claro que as mulheres ficam mais estressadas com a carga de trabalho e que os homens se estressam mais com a incerteza do emprego, porém ambos afetam a percepção que os empregados têm da forma como administram seu tempo. 2.2.1 Os Principais Estressores Através das pesquisas de Rossi, Perrewé e Sauter (2012) será demonstrado a seguir mais profundamente alguns estressores que mais atingem homens e mulheres, dentre eles: sobrecarga de trabalho, incerteza, ambiguidade da função, estresse interpessoal e incapacidade de administrar o tempo. 2.2.1.1 Sobrecarga de trabalho Segundo Krumm (2011) sobrecarga de trabalho, é uma expressão utilizada para indicar que as demandas de trabalho referente à rapidez e/ou habilidade são demasiadas para um empregado. A autora ainda cita que a sobrecarga pode ser quantitativa ou qualitativa, sendo que a quantitativa significa que o empregado tem muito trabalho a ser realizado e seu tempo é curto, e a qualitativa refere-se que o trabalho a ser executado pelo empregado é muito difícil ou o mesmo não possui todas as qualidades técnicas que o trabalho exige. Conforme Kirmeyer e Dougherty (1990 apud Krumm, 2011, p. 281) “Em termos temporários, a sobrecarga de trabalho pode ser irritante ou exaustiva; em bases permanentes, é uma grande fonte de estresse, resultando em trabalho de qualidade mais baixa e menor satisfação no cargo”. Limongi-França e Rodrigues (2007) em sua obra dissertam referente à sobrecarga de papeis, que embora seja diferente da sobrecarga de trabalho, sua coexistência é frequente. Os autores definem que a sobrecarga de papéis ocorre quando a pessoa possui um número muito grande de papeis dentro da organização, exemplos comuns são pessoas que delegam pouco as tarefas, empresas que passam por momento de transição e executivos que estão sendo promovidos. 36 2.2.1.2 Incerteza A incerteza, ou o medo do desemprego é um aspecto que se tornou muito comum do cotidiano, as organizações muitas vezes utilizam desse artifício como forma de condicionar seus empregados a produzir, porém na maioria das vezes não sabem dosar isto. Segundo Rossi, Perrewé e Sauter (2012) desde a época da revolução industrial que os trabalhadores, de todos os níveis (operacional, tático e estratégico), não vivenciavam níveis de insegurança tão grandes como atualmente. Os autores citam em sua obra, uma pesquisa realizada na qual há uma demonstração de queda na satisfação dos empregados em termos de segurança do emprego em relação a qualquer um de seus concorrentes. Krumm (2011) faz um paralelo do tecnoestresse, que é um estresse resultante do temor de novas tecnologias, e da incerteza, pois com a evolução tecnológica os trabalhadores sentem-se mais inseguros tendo como perspectiva uma substituição da mão de obra humana, para a robotizada, ou até mesmo o indivíduo cria o temor quanto à sua capacidade de acompanhar a permanente mudança dos requisitos tecnológicos do local de trabalho. 2.2.1.3 Ambiguidade da Função A ambiguidade da função ou também como é frequentemente citada, ambiguidade de papéis, segundo Limongi-França; Rodrigues (2007) se dá quando a pessoa do ambiente de trabalho não tem muita certeza quanto ao papel que deve desempenhar. Durante uma fusão de empresas, pode haver pessoas de cada empresa executando o mesmo trabalho. No entanto, elas não estão seguras quanto à maneira como seus cargos serão estruturados na nova organização. As três causas mais comuns de ambigüidade de papéis são a complexidade das organizações, a taxa de mudança nas organizações e uma filosofia empresarial que acredita em ocultar informações dos empregados. (KAHN et al. 1964 apud KRUMM, 2011, p. 282). Conforme Limongi-França e Rodrigues (2007) é evidente que a ambiguidade é um fato gerador de estresse, visto que à medida que a pessoa tem dificuldades de situar nas tarefas que lhe cabem, seu desempenho poderá ser prejudicado. A intensidade desse estresse se dará através das características pessoais e também 37 do ambiente em que esta pessoa está situada. Os autores ainda complementam o pensamento de forma a ligar a ambiguidade com a incerteza, sendo que com a ambiguidade geram-se também incertezas no modo de atuar, aos limites de responsabilidades, as expectativas de terceiros quanto ao desempenho do indivíduo. 2.2.1.4 Estresse Interpessoal Segundo Silva11, o relacionamento interpessoal é o relacionamento entre duas pessoas, seja em qual ambiente for, escola, trabalho ou família. Da mesma forma não se deve restringir o estresse interpessoal, apenas pelas reações negativas que a pessoa tem no seu ambiente de trabalho. Rossi, Perrewé e Sauter (2012) em sua obra citam exemplos do estresse interpessoal visto da interface trabalho-família, onde o estresse gerado em casa é levado para o trabalho, e da mesma forma o contrário, o estresse gerado no trabalho é levado para casa. Esse tipo de situação gera conflitos psicológicos à pessoa, e ela começa a ter a sensação de que o trabalho está invadindo sua vida particular ou que a sua família está interferindo no seu sucesso profissional. Com relação a este conflito, podem surgir problemas com relação ao humor, satisfação, prioridade para atividades de trabalho ou familiares, habilidades ou comportamentos. Alguns pesquisadores indicam que o estresse interpessoal e este conflito trabalho-família podem ser tão fortes que o estresse causado no trabalho, pode ser transferido ao cônjuge devido a uma série de processos como as exigências de um cônjuge que geram novas exigências sobre o outro e dessa forma as exigências sobre um cônjuge influenciam o humor do outro. 2.2.1.5 Incapacidade de Administrar o Tempo A incapacidade de administrar o tempo é um problema comum de todos, e caso a pessoa esteja com muitos problemas para administrar seu tempo, a tendência de ficar estressada e ter conflitos em diversas áreas de sua vida é grande. Vieira (2010) fez uma entrevista com Christian Barbosa para a revista Você S/A, o qual é conhecido como o “senhor do tempo”. Ele é dono de uma consultoria cuja especialidade é oferecer soluções para reduzir o estresse, melhorar a vida das pessoas e aumentar a produtividade das organizações. Abriu sua primeira empresa 11 Vide webgrafia 38 aos 15 anos, e aos 19 coordenava uma equipe de quase 300 funcionários, começou a ter uma rotina muito acelerada e por conta disto ele desenvolveu um tumor no tubo digestivo, então mudar o estilo de vida tornou o seu desafio. Ele efetuou uma pesquisa detalhada sobre a gestão do tempo e desenvolveu uma metodologia sobre o tema. Segundo Vieira (2010), Christian Barbosa cita que as pessoas têm um volume muito grande de urgências, o que segundo ele reflete o comportamento de deixar as coisas para fazer na última hora. As pessoas que não administram bem o tempo têm o volume de urgências acima de 30% do tempo disponível e tem tarefas atrasadas acima dos 20%, é o tipo de pessoa que é questionada a quantas horas trabalha por dia, e a mesma não sabe a resposta. Os maiores ladrões de tempo dentro das organizações são as urgências desnecessárias, as reuniões, as quais dados revelam que somente um terço são necessárias, e o hábito de checar os e-mails à todo instante. 2.3 Personalidade do Tipo A Segundo Krumm (2011) a personalidade do Tipo A, refere-se a pessoas com características de personalidade combinadas que são associadas a doenças coronarianas, tais como agressividade, hostilidade, ansiedade e competitividade. Rossi, Perrewé e Sauter (2012) citam que com relação à personalidade e a características comportamentais Tipo A, o primeiro a observa-las foi Von Düsch, um médico alemão do século XIX, que comparou o envolvimento excessivo no trabalho e os ataques cardíacos. Em 1959, Friedman e Rosenman (apud ROSSI; PERREWÉ; SAUTER, 2012) publicaram um artigo que relacionava características comportamentais específicas a doenças cardiovasculares, embora os dois fossem cardiologistas e não tivessem nenhum conhecimento de psicologia, isto pareceu favorável, visto que os dois não tinham noções preconcebidas. Anteriormente outros psiquiatras já haviam descrito certas características de personalidade relacionadas a doenças cardíacas porém não conseguiram comprovar nenhuma relação casual. O termo Tipo A não foi mencionado no primeiro artigo de Friedman e Rosenman, mas surgiu no ano seguinte em outro artigo que descrevia como um “comportamento A” poderia ser detectado. 39 Segundo Friedman e Rosenman (apud ROSSI; PERREWÉ; SAUTER, 2012) os indivíduos exibiam certos padrões característicos de atividades incluindo: a. Padrões auto impostos que são, comumente, inviáveis, ambiciosos e perseguidos de forma inflexível. Junto a isto, há uma necessidade de manter a produtividade para ser respeitado e uma sensação de culpa quando está em férias ou relaxando. Há também uma necessidade de reconhecimento e uma atitude competitiva que frequentemente cria desafios mesmo quando estes não existem. b. Certos estilos de pensamento e atividade caracterizados pela vigilância e impulsividade, geralmente resultando na inclusão por várias linhas de pensamento ou ação juntas. c. Hiperatividade, frequentemente manifestada por uma tendência de interromper ou terminar uma simples conversa, geralmente de forma drástica, variando a fala, volume e/ou tom ou alternando rompantes rápidos de palavras com longas pausas de hesitação, indicando pensamento intenso. As pessoas do Tipo A frequentemente fazem gestos com a cabeça ou murmuram para concordar com seu interlocutor, ou dão risadinhas para indicar indiretamente ao interlocutor que o que está sendo dito está sendo redundante e que ele pode seguir em frente. d. Relacionamentos interpessoais insatisfatórios, pois os indivíduos do Tipo A geralmente são egocêntricos, maus ouvintes, têm atitude exibicionista em relação a sua própria superioridade e ficam com raiva com maior facilidade se seus desejos não forem respeitados ou seus objetivos não forem alcançados. e. Atividade na forma de gestos, movimentos e atividades faciais como caretas, ranger os dentes ou tencionar os músculos da mandíbula. Muita vez, estes indivíduos cerram os punhos ou talvez os batam na mesa para enfatizar algo. Mexem-se de forma irrequieta, batem o pé no chão ou balançam as pernas. Estes são comportamentos comuns. f. Padrões de respiração irregulares com suspiros frequentes, produzidos pela inspiração de mais ar do que o necessário enquanto falam e liberação do ar no meio ou no final de uma frase. 40 Limongi-França e Rodrigues (2007) fazem um paralelo da personalidade Tipo A com os workaholics. Este termo em inglês que hoje é conhecido e utilizado universalmente, é um silogismo que ocorre entre as palavras work (trabalho) e alcohoolic (alcoólico) e refere-se às pessoas que são dependentes do trabalho. São pessoas que não conseguem e não sabem fazer outra coisa a não ser trabalhar, e até mesmo nas férias essas pessoas tem a dificuldade de conviver com a família, lazer ou com outras pessoas. Os workaholics são mutio valorizados no meio empresarial, pois são pessoas muito produtivas, competitivas, eficazes, vivem para a empresa e em busca de objetivos relacionados ao trabalho, com o alto nível de rendimento profissional. Muitas dessas pessoas apresentam o que é denominado padrão Tipo A de personalidade. É importante frisar que esse padrão de personalidade não é exclusivo dos workaholics, mas é frequentemente observado entre executivos. (LIMONGI-FRANÇA; RODRIGUES, 2007, p. 108) Os autores descrevem que muitos estudos têm demonstrado correlações importantes entre o padrão de personalidade Tipo A, como uma tendência a reagir as situações estressantes e uma maior vulnerabilidade aos efeitos do mesmo. 2.4 Eustresse Constantemente os efeitos do estresse são ligados ao distresse (reações negativas a um fator estressante), com isso movimentos da psicologia e do comportamento organizacional têm como objetivo estudar conceitos positivos da vida no trabalho e consequentemente do estresse. Por conta disto, foi possível separar o eustresse do distresse. O distresse é definido como uma resposta psicológica negativa a um fator estressante, como é indicado pela presença de estados psicológicos negativos. O eustresse é definido como uma resposta psicológica positiva a um fator estressante, como é indicado pela presença de estados psicológicos positivos. O estresse positivo reflete até que ponto a avaliação cognitiva da situação é considerada benéfica ou aprimora o bem-estar de um indivíduo. (ROTHMANN; COOPER, 2009, p. 257). Ainda segundo os autores quando se avalia o eustresse, seus indicadores devem ser os estados psicológicos positivos, como atitudes ou emoções, fatores 41 estressantes estáveis não são indicadores aceitáveis do eustresse. Nelson e Simmons (2003 apud ROTHMANN; COOPER, 2009, p. 259) definem que “as atitudes no trabalho de afetividade positiva, significância e capacidade de ser administrado podem ser bons indicadores do eustresse”. A afetividade positiva demonstra um compromisso prazeroso e reflete o entusiasmo do indivíduo e o quanto está ativo e alerta. A significância é o quanto o trabalho faz sentido emocionalmente à pessoa e que mesmo com problemas e exigências, vale a pena o investimento de energia, comprometimento e a adesão. Por sua vez, a capacidade de ser gerenciado é o quanto alguém tem a percepção de que os recursos que estão à disposição de uma pessoa são adequados para cumprir as exigências da situação de trabalho. Rossi, Perrewé e Sauter (2012) citam a metáfora da banheira como uma maneira mais fácil de enxergar a abordagem sobre o estresse e também demonstram um modelo para compreender melhor o eustresse. Na metáfora da banheira, o exemplo dado é de que quando se quer tomar um banho agradável, utiliza-se de duas torneiras de água fria e quente para controlar a temperatura e o nível da água. O nível da água é controlado pela vazão das torneiras que mandam água para dentro da banheira, e pela vazão da água que sai pelo ralo. E a temperatura é controlada por sua vez, pela vazão simultânea da água que sai das duas torneiras. Os autores citam que por muito tempo os estudos relacionados ao estresse, foram estudos que só analisaram a água fria (distresse), isto não foi ruim, pois muitos avanços foram desenvolvidos com relação a água fria que sai pelo ralo, ou seja, como controlar a resposta do distresse e como lidar com ele. Porém para um estudo mais completo do estresse, deve-se ter uma visão das duas torneiras (distresse e eustresse), para que se possa ajustar de forma ideal o nível e a temperatura da banheira. Com relação ao modelo para uma melhor compreensão do eustresse, os autores demonstram em sua obra um modelo holístico do estresse através da figura a seguir. 42 Figura 6 - Modelo Holístico do Estresse Fonte: adaptado pelos autores de ROSSI; PERREWÉ; SAUTER (2012, p. 129). Neste modelo apresentado pelos autores os estressores são estímulos neutros. O que vai determinar eustresse, distresse ou até mesmo uma combinação dos dois será a avaliação de cada indivíduo, ou seja, as diferenças de cada pessoa com relação à resposta que dá ou que sente da situação estressante. Os autores defendem que as duas partes da resposta ao estresse podem ser modeladas utilizando os estados positivos e negativos estabelecidos como indicadores. Exemplo, a esperança que constitui indicador em potencial do eustresse, ou a raiva que constitui um indicador em potencial do distresse. 2.5 Sindrome de Burnout No caso do estresse ocupacional, ou seja, no ambiente de trabalho, quando o indivíduo sente a falta de estímulo no dia-a-dia ou ausência de condições adequadas de trabalho, a resposta aos resultados esperados é sempre negativa, seja em baixo rendimento na produção e no cumprimento de metas, fazendo o indivíduo alcançar o seu esgotamento físico total levando-o a síndrome de burnout12. Segundo Ferrari13 a síndrome de burnout, acontece com o esgotamento físico total do indivíduo no ambiente de trabalho, ou seja, a partir da pressão imposta ao 12 De acordo com a PSI - revista de psicologia social e institucional, burnout, no sentido literal significa “estar esgotado” ou “queimado”. Vide Webgrafia 13 Vide Webgrafia 43 colaborador e aos resultados não adquiridos pelo mesmo, junto à insegurança e a cobrança por melhorias. Esta síndrome foi descrita pela primeira vez em 1974 nos Estados Unidos pelo psicólogo clínico familiar Herbert Freudenberger, a partir de estudos sobre a perda de motivação e comprometimento, acompanhados de sintomatologias psíquicas e físicas, como a perda de energia e a presença de fadiga, manifestados por voluntários de uma instituição para tratamento de drogados. Apesar de ter sido Freudenberger a pessoa que deu origem ao conceito de burnout, foi a pesquisadora Christina Maslach que no ano de 1982 definiu a síndrome de uma forma contundente. No entendimento de Rossi, Perrewé e Sauter (2012) burnout no trabalho é uma síndrome psicológica proveniente de uma reação prolongada a alguns estressores interpessoais crônicos, principalmente a exaustão extrema, sensações de ceticismo e desligamento do trabalho, sensação de ineficácia e falta de realização profissional/pessoal. Ainda segundo os autores, na dimensão da exaustão, representa-se o componente básico individual do estresse no burnout, refere-se a estar além dos limites físicos e emocionais. Uma queixa comum de trabalhadores neste estado é: “Estou sobrecarregado e tenho trabalhado demais – simplesmente é coisa demais.” As principais fontes desta exaustão são a sobrecarga de trabalho e o conflito pessoal no trabalho. No que se refere à dimensão do ceticismo representa o componente de interpessoalidade no burnout. É a reação negativa, insensível ou excessivamente desligada dos diversos aspectos do trabalho. Geralmente é resultado de uma sobrecarga de exaustão emocional do indivíduo, se tornando um tipo de amortecedor emocional de uma “preocupação desligada”, porém o risco é de que esse desligamento resulte na perda de idealismo e na desumanização do próximo. À medida que o ceticismo vai se desenvolvendo os trabalhadores começam a deixar de fazer o melhor, para fazer somente o mínimo necessário. Trabalhadores nesta dimensão podem ser resumidos da seguinte maneira: “Como consigo me safar, e mesmo assim receber meu salário e cair fora?” Esses trabalhadores continuam fazendo seu trabalho, porém fazendo sempre o mínimo necessário, o que fatalmente reduz a qualidade e desempenho. Os autores citam que a dimensão de ineficácia, representa o componente de auto avaliação da síndrome, são sensações de incompetência, e falta de realização e produtividade no trabalho. Essas sensações podem ser amplificadas pela falta de 44 recursos no trabalho ou uma falta de apoio social e de oportunidades. As pessoas que vivenciam esta dimensão geralmente perguntam-se: “O que estou fazendo? Por que estou aqui?” Essa sensação de ineficácia geralmente leva o indivíduo a não gostar do tipo de profissional que se tornou, com isso passam a ter uma consideração negativa de si mesmos e dos outros. Ainda segundo Rossi, Perrewé e Sauter (2012) o impacto no ambiente de trabalho se agrava a partir do momento em que a alta administração de uma empresa deixa de prestar atenção em um funcionário esgotado ou estressado acreditando ser um problema pessoal que deve ser deixado de fora no momento em que o empregado está em seu expediente. Pesquisas mostram que a síndrome de burnout deve ser analisada e ser considerada uma grande preocupação, por envolver custos adicionais à empresa agregando ao funcionário um mau desempenho, problemas de relacionamento familiar e até problemas de saúde. 2.6 Métodos Para Redução e Avaliação do Estresse Chiavenato (2010) descreve em sua obra, métodos para a redução do estresse, dos quais são: Planejamento: o estresse da vida pessoal e da vida no trabalho pode ser planejado. Deve-se ter tempo para planejar os objetivos pessoais e de carreira, como desenvolver um bom cronograma de atividades, ou como relacionar os objetivos com os da organização. Exercício físico: exercícios regulares contribuem para a saúde física e ajudam a reduzir o estresse, e como consequência ainda ajuda no condicionamento físico. Dieta: um prolongamento do estresse pode reduzir o suprimento de vitaminas, tornando-o mais suscetível a doenças. Uma boa dieta alimentar é essencial. Relaxamento: técnicas terapêuticas, técnicas asiáticas de relaxamento e ginásticas laborais são bons exemplos para a pessoa relaxar no trabalho gastando pouco tempo e tendo um resultado satisfatório. Psicoterapia e psicanálise: são técnicas interpessoais usadas para reduzir o estresse do indivíduo com a ajuda de um psicoterapeuta. Este profissional tem como finalidade analisar profundamente a personalidade do indivíduo para descobrir as raízes do comportamento anormal. Kertesz e Kerman (apud LIMONGI-FRANÇA; RODRIGUES, 2007) mostram de forma esquemática e simples, um modelo operatório para avaliação e manejo do 45 estresse. Chamam-no de Hexágono Vital, pois corresponde a analise de seis aspectos que revelam o estilo de vida de uma pessoa: Alimentação; Atividade física regular; Tempo de repouso adequado; Espaço para lazer e diversão; Trabalho que contenha a possibilidade de realização; Inserção em um grupo social (de apoio) Figura 7 - Hexágono de Kertesz Fonte: adaptado pelos autores de LIMONGI-FRANÇA; RODRIGUES (2007, p. 164). A avaliação pode ser feita por cada indivíduo periodicamente, analisando seu nível de estresse e a qualidade de vida por meio do hexágono de Kertesz. Através da Figura 7, ilustrada acima, pode-se verificar que os números presentes nos vértices do hexágono representam aspectos relacionados ao estilo de vida: (1) alimentação; (2) atividade física; (3) repouso e relaxamento; (4) lazer e diversão; (5) relação com o trabalho; (6) amigos. Além disso, há outra pontuação que vai de 0 a 5, sendo: 46 Ponto zero (centro do hexágono): carência total, descuido severo; Ponto um: pouquíssima atenção; Ponto dois: insuficiente; Ponto três: aceitável; Ponto quatro: satisfatório; Ponto cinco: ótimo. Segundo Limongi-França e Rodrigues, (2007) nos últimos anos, os movimentos sociais e a escola francesa, tem trazido novas leituras sobre a condição humana no trabalho pela análise da psicopatologia no trabalho. O que leva a discussão de uma qualidade de vida no trabalho, que é uma compreensão abrangente e comprometida das condições de vida no trabalho, “que inclui aspectos de bem-estar, garantia da saúde física, mental e social e capacitação para realizar tarefas com segurança e com uso da energia pessoal.” (LIMONGI-FRANÇA; RODRIGUES, 2007, p.166). A realidade gerencial no Brasil mostra que na prática, qualidade de vida no trabalho, tem sido compreendida de forma parcial e incompleta, muitas vezes tendo um referencial assistencialista. Por conta disto, será demonstrada a seguir a qualidade de vida no trabalho abordando melhor o assunto e evidenciando sua importância para as organizações modernas. 47 3 A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), segundo CHIAVENATO (2009, p. 334) “implica criar, manter e melhorar o ambiente de trabalho seja em suas condições físicas – higiene e segurança – seja em suas condições psicológicas e sociais”. Isto quer dizer que, um ambiente de trabalho saudável, agradável e amigável ocasiona em uma melhora na qualidade de vida das pessoas dentro de uma organização, e como consequência disso irá melhorar, também, a qualidade de vida das pessoas fora delas, ou seja, a qualidade de vida externa. De outra forma, (Ferreira, M, 2011) explica que a QVT é acreditar no valor do trabalho, na sua importância, ver sentido no que se faz além de ter orgulho de seu trabalho e de suas funções. É ser reconhecido por seus superiores, pelos seus colegas de trabalho, compartilhar momentos alegres, realizar suas funções com profissionalismo, mas sem pressão e seriedade extrema, em um ambiente descontraído, onde o indivíduo fique à vontade para realizar suas tarefas com máxima presteza e, também, com deleite. É ter a sensação de pertencer à organização, sentir-se parte dela. Não adianta implantar programas de QVT como proposta de um ambiente organizacional saudável se o estresse faz parte das rotinas de trabalho e a realidade de trabalho é enferma, assim não há a sensação acolhedora de um ambiente saudável para fazer com que o indivíduo se sinta parte da organização. Tem que haver uma ligação entre ambiente saudável, redução do estresse ocupacional para que os programas de QVT obtenham resultados positivos para os colaboradores e para a organização. QVT pode ser visto como um indicador da qualidade da experiência humana no ambiente de trabalho. Trata-se de um conceito estreitamente relacionado à satisfação dos funcionários quanto à sua capacidade produtiva em um ambiente de trabalho seguro, de respeito mútuo, com oportunidades de treinamento e aprendizagem e com o equipamento e facilidades adequadas para o desempenho de suas funções. (GONÇALVES; GUTIERREZ; VILARTA, 2005, p. 89). A QVT tem sido utilizada como um indicador das experiências humanas e o grau de satisfação das pessoas no local de trabalho, Chiavenato (2010) descreve que este conceito implica em um profundo respeito pelas pessoas, pois a fim de alcançar altos níveis de qualidade e produtividade, as organizações precisam de 48 pessoas altamente motivadas e participativas no trabalho que executam. FARIAS (2013, p. 36) explica, ainda, que “aspectos como ambiente físico de trabalho, recursos para a saúde pessoal, envolvimento da empresa na comunidade e ambiente psicossocial de trabalho afetam diretamente a saúde do colaborador”. 3.1 A Saúde dos Trabalhadores A saúde, segundo Gonçalves, Gutierrez e Vilarta (2005), é um bem inalienável para qualquer pessoa. Então, não é válido e aceitável que qualquer colaborador se desfaça desse bem, mesmo que parcialmente, ao realizar sua função na empresa. Com a globalização, as empresas modernas preocupam-se com a qualidade total, ou seja, não só com a qualidade final do produto, mas também, com a qualidade do ambiente organizacional, que levam à qualidade de vida no trabalho. A preocupação ao se prevenir doenças e acidentes relacionadas ao trabalho, bem como oferecer ambientes agradáveis tanto em questões psicológicas como também socialmente tornaram-se fundamentais. As empresas devem proporcionar condições de trabalho seguras e adequadas com higiene e segurança proporcionais ao trabalho empreendido pelo colaborador. Farias (2013) esclarece que os afastamentos por doenças e acidentes de trabalho afetam diretamente e financeiramente a empresa, por isso as empresas investem cada vez mais em práticas preventivas e gestão de saúde, através de programas de QVT. 3.2 Higiene e Segurança do Trabalho As pesquisas realizadas sobre a prática da aplicabilidade da higiene e segurança do trabalho, contam com apoio de Pacheco Junior (apud ARAUJO; GARCIA, 2009), que constata que os estudos sobre higiene e segurança do trabalho tiveram seu início no século XVI em função de muitas perdas humanas e da Revolução Industrial. “Tal evento resultou no surgimento de associações às quais defendiam seus associados lutando por direitos, organizando e estruturando suas atividades” ARAUJO; GARCIA (2009, p. 195). A partir de então começam a surgir as primeiras leis trabalhistas, e progressos são realizados com relação ao tema. Um grande progresso foi a 49 Occupational Safety and Health Act14 (OSHA), lei aprovada pelo congresso americano em 1970, que tinha por objetivo básico assegurar todos os trabalhadores no país, sob condições seguras e salutares e preservar o recurso humano. Uma das responsabilidades da Occupational Safety and Health Act é desenvolver e fazer cumprir os padrões obrigatórios de segurança e saúde do trabalho. Os padrões da OSHA dividem-se em quatro categorias principais: indústria geral, marítima, construção e agricultura. Eles cobrem o local de trabalho, máquinas e equipamentos, material, fontes de energia, processamento, roupas de proteção, primeiros socorros e requisitos administrativos. É responsabilidade das empresas familiarizarem-se com os padrões aplicáveis aos seus estabelecimentos e assegurar que seus funcionários usem dispositivos e equipamentos de proteção quando exigidos por segurança (BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005, p. 339). Há uma ligação entre a implantação de programas de QVT e melhorias na qualidade dos produtos, de tecnologias, de técnicas e no ambiente de trabalho. Gonçalves, Gutierrez e Vilarta (2005) explicam que quando a empresa investe em novas tecnologias, seja em novos maquinários, em segurança, ou novas técnicas de produção, isso auxilia na redução de acidentes e preserva a saúde do colaborador, bem como proporciona uma limpeza no local de trabalho, e qualidade do produto. Os autores ressaltam, ainda, a importância da saúde ocupacional nas organizações, pois a saúde do colaborador irá afetar diretamente os resultados, sejam na qualidade do produto ou serviço e quando não aplicada, gera uma alta rotatividade que é negativa em qualquer empresa. Esta nova visão empresarial, explicado por Gonçalves, Gutierrez e Vilarta (2005) mudou o conceito de higiene e segurança do trabalho e os avanços tecnológicos foram significativos para que todo esse processo levasse a preocupação com a responsabilidade social e à criação de selos para qualidade para serviços, produtos e clientes, como a criação da International Organization for Standardization (ISO), da Social Account Ability 8000 (SA 8000) e do Occupational Health and Safety Assessment Services 18001 (OHSAS 18001), conforme explicados a seguir. 14 Ato de segurança e saúde ocupacional, traduzido livremente pelos autores. 50 3.2.1 ISO De acordo com o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO)15, ISO é a sigla de International Organization for Standardization e quer dizer Organização Internacional de Normalização, esta sigla é uma referência à palavra grega ISO, que quer dizer igualdade. Foi criada em 1946 e tem sua sede em Genebra, na Suíça. É definido por Gonçalves, Gutierrez e Vilarta (2005, p. 72), como sendo “selos de qualidade dos produtos, serviços e dos meios de produção”. A ISO tem como objetivo criar normas e padrões mundiais que facilitem o comércio e promovam boas práticas de gestão e que traduzam o consenso dos mais diversos países no mundo de forma a facilitar o comércio internacional, além de disseminar conhecimentos. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é o representante brasileiro deste selo, que tem 130 países membros. Suas normas mais conhecidas são a ISO 9000, para gestão da qualidade, e a ISO 14000, para gestão do meio ambiente. 3.2.1.1 ISO 9000 A PGP Consultoria16, explica que a ISO 9000 é uma série de quatro normas internacionais para Gestão de Qualidade e Garantia da Qualidade. Tem como objetivo orientar a implantação de sistemas de qualidade nas organizações. Ela não é destinada ao “produto” em si e nem para nenhuma indústria específica. A empresa, se desejar, poderá certificar seus sistemas de gestão através dos organismos de certificação, o que nos dias atuais, se tornou fundamental para negociar produtos e serviços a nível mundial. Ainda, de acordo com a PGP consultoria, o certificado tem validade de três anos podendo ser renovado, sendo que o sistema na organização é auditado a cada seis meses para verificação se ainda estão sendo cumpridos os requisitos da norma. Os padrões e as regras da gestão da qualidade e garantia da qualidade são complementares ao produto, sendo implantadas para melhorar a sua qualidade. Sendo adotada no Brasil pela ABNT com o nome de NBR 9000. As seguintes normas que compõem a ISO 9000 são: 15 16 Vide webgrafia Vide webgrafia 51 ISO 9000: é formada pelos fundamentos e vocabulário, descreve os fundamentos da gestão da qualidade. ISO 9001: são os requisitos e os sistemas de gerenciamento da qualidade. É implantada quando a empresa quer aumentar o grau de satisfação dos clientes incluindo processos para melhoria contínua interna e garantia da conformidade com os requisitos do cliente. É considerada uma importante e poderosa ferramenta de gestão, pois congrega as melhores práticas em gestão empresarial mundiais. A empresa certificada pela NBR ISO 9001, de acordo com Inntelectus consultores associados17, possui competência para gerir seus processos com base no ciclo Plan / Do / Check / Action18 (PDCA) isso irá garantir que a organização utilize métodos para elaboração de atividades de forma padronizada em relação ao planejamento estratégico, realização de ações, monitoramento de indicadores que possam auxiliar na tomada de decisões através de ações corretivas e preventivas. ISO 9004: são os sistemas de gerenciamento da qualidade, sendo um guia para melhoramento do desempenho, fornece diretrizes para implantação destes sistemas, bem como processos para melhoria contínua o que contribui para a satisfação dos clientes. ISO 19011: é um guia para o gerenciamento e condução de auditorias internas da qualidade e ambiental. 3.2.2 SA 8000 Foi criada em 1998 por um grupo internacional liderado pelo CEPAA (Council for Economic Priorities Accreditation Agency – Órgão de Credenciamento do Conselho de Prioridades Econômicas), hoje chamada de Social Accountability International19 - (SAI) que é responsável pela sua supervisão e desenvolvimento. Seu principal objetivo é garantir os direitos dos trabalhadores. Gonçalves, Gutierrez e Vilarta (2005) explicam que esta é uma norma internacional de avaliação da responsabilidade social que existe para empresas fornecedoras e vendedoras. Esta norma traz toda metodologia e os requisitos de auditoria para uma correta avaliação 17 Vide webgrafia Planejar / Executar / Verificar / Agir (traduzido do inglês livremente pelos autores) 19 Responsabilidade Social Internacional (traduzido do inglês livremente pelos autores) 18 52 das condições do local de trabalho que incluem trabalho infantil, trabalhos forçados, saúde e segurança no trabalho, liberdade de associação, discriminação, práticas disciplinares, carga horária, benefícios e as responsabilidades da gerência em manter e melhorar as condições do trabalho. É a primeira certificação internacional de responsabilidade social. De acordo com o Instituto ATKWHH20, as principais áreas de objetivo da SA 8000 são: Trabalho infantil: não poderá ocorrer; Trabalho forçado: não poderá ocorrer; Saúde e segurança: é um direito e devem ser asseguradas; Liberdade de Associação e negociação coletiva: devem ser garantidas; Discriminação: não é permitida; Práticas Disciplinares: não são permitidas; Horário de Trabalho: não deve ultrapassar 48 horas semanais, bem como também não poderá ser além de 12 horas-extra semanais; Remuneração: deve ser suficiente de acordo com o mercado e com os requisitos do acordo; Sistemas de gestão: deve garantir que todos os itens e requisitos sejam cumpridos. 3.2.3 OHSAS 18001 OHSAS é a sigla de Occupational Health and Safety Assessment Services, de origem britânica, e de acordo com a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein21, quer dizer Serviços de Avaliação de Saúde e Segurança Ocupacional. A Organização para Proteção Ambiental22 define OHSAS 18001 como um padrão internacional que estabelece requisitos relacionados à gestão da segurança e saúde ocupacional, no qual se torna possível aprimorar os conhecimentos acerca dos riscos existentes na empresa, proporcionando um controle em suas ocorrências sendo aplicado nos mais diversos setores por meio de planos de ação, indicadores, metas e auditorias. É uma ferramenta que orienta as organizações sobre como 20 Vide webgrafia Vide webgrafia 22 Vide Webgrafia 21 53 promover uma melhoria contínua do desempenho da saúde e segurança ocupacional. Alguns dos principais benefícios da OHSAS é que a legislação está cada vez mais exigente no que diz respeito à segurança do trabalho nas organizações, e com a implantação da OHSAS a empresa terá uma melhoria na cultura de segurança, na eficiência e, principalmente na redução de acidentes, sendo um sistema de melhorias contínuas o que trará muitos ganhos para a organização. 3.2.4 Higiene do Trabalho A higiene do trabalho tem relação com condições ambientais, e pode ser vista e estudada em diversos subtemas existentes. A Higiene do Trabalho refere-se ao conjunto de normas e procedimentos que visa à proteção da integridade física e mental do trabalhador, preservando-o dos riscos de saúde inerentes às tarefas do cargo e ao ambiente físico onde são executadas (CHIAVENATO, 2009, p. 334). Um plano de higiene do trabalho, geralmente tem os seguintes componentes: Plano organizado: envolvendo a prestação de serviços médicos adequados, como também de enfermeiros e auxiliares, podendo variar de tempo integral ou parcial dependendo do porte e da necessidade da empresa. Serviços médicos adequados: envolvendo primeiros socorros, exames médicos de admissão, periódicos e de demissão, controle de áreas insalubres focando sua eliminação, registros médicos, utilização de bons hospitais, ações preventivas quanto a maus hábitos e supervisão quanto à higiene e saúde. Prevenção de riscos a saúde: dentre eles riscos químicos, físicos e biológicos, buscando localização, diagnóstico e eliminação ou minimização. Serviços adicionais: são investimentos além destes componentes, tais como, programas de saúde e extensão de benefícios da área de saúde. 54 A higiene do trabalho tem como foco a prevenção, pois objetiva a saúde e o conforto do trabalhador, evitando assim que ele adoeça e/ou se ausente. Ela também envolve o estudo e controle das condições de trabalho, que podem ser divididas entre condições ambientais, de tempo e sociais, porém a higiene do trabalho ocupa-se do primeiro grupo que são as condições ambientais de trabalho, embora os outros grupos também sejam discutidos. Por sua vez, as condições ambientais podem se dividir em mais três grupos: iluminação, ruído e condições atmosféricas. No que se refere à iluminação, Chiavenato (2009) explica que para um sistema de iluminação adequado, a quantidade de luminosidade deve ser suficiente, constante e uniformemente distribuída. E ainda no tema de condições ambientais, o autor afirma que os ruídos podem ter efeitos desagradáveis dependendo da intensidade, variação e frequência, e que deve haver um controle dos ruídos visando à eliminação, ou pelo menos, à redução dos mesmos. Com relação a condições atmosféricas, pode-se dividir entre, temperatura e umidade, condições as quais também deve haver controle focando sempre a eliminação de condições insalubres. 3.2.5 Segurança do Trabalho De acordo com Chiavenato (2009) segurança do trabalho pode ser definida como um conjunto de medidas técnicas, educacionais, médicas e psicológicas utilizadas para prevenir acidentes, sendo assim indispensável para o desempenho satisfatório do trabalho. Provavelmente, o papel mais importante de um programa de segurança seja motivar gerentes, supervisores e subordinados a ter ciência das considerações de segurança [...] se os gerentes e supervisores não demonstrarem consciência, dificilmente se poderá esperar isso de seus subordinados [...] tão importante quanto a motivação para a segurança é o conhecimento dela e saber onde empregar esforços para garanti-la. (BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005, p. 343). 55 Segundo Chiavenato (2009), um plano de segurança envolve alguns requisitos, os quais são: Segurança em si, que é um dever de todos. As condições de trabalho, localização da organização, tamanho e o ramo de atividade que determinam os meios materiais preventivos. A segurança deve abranger toda a organização. O plano de segurança envolve a adaptação tanto da pessoa ao trabalho quanto do trabalho à pessoa, e também o fator sócio psicológico. A segurança do trabalho envolve treinamento de todos os colaboradores, e investimento por parte da empresa. 3.2.5.1 Prevenção de Acidentes Acidente é definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS apud CHIAVENATO, 2009, p. 340) como “um fato não premeditado do qual resulta dano considerável”. É algo inesperado, embora possa ser previsto e evitado na maioria dos casos, que pode causar danos ao colaborador como sofrimento, invalidez e até o óbito. De acordo com Chiavenato (2010), no Brasil ocorrem cerca de 1.000 (mil) acidentes por dia em média. A segurança em uma organização busca minimizar os acidentes no trabalho, e por lei, as estatísticas desses acidentes englobam não só os ocorridos dentro do local do trabalho, como também, os ocorridos no trajeto da residência do colaborador ao local de trabalho e vice-versa. Chiavenato (2009) explica que os acidentes de trabalho se classificam em acidente sem afastamento, onde o funcionário continua a trabalhar após o ocorrido e, acidente com afastamento, que é aquele que pode resultar em incapacidade temporária, incapacidade permanente parcial ou incapacidade permanente total. 3.2.6 Normas Regulamentadoras (NR) Assim como é bom existir um órgão de segurança e medicina do trabalho na empresa, por imposição legal da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Oliveira (2013) explica que foram criadas algumas Normas Regulamentadoras (NR) e 56 Normas Regulamentadoras Rurais (NRR), relativas ao capítulo V da CLT – Segurança e Medicina no Trabalho, aprovadas no ano de 1978 que são de caráter obrigatório nas empresas públicas, privadas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário criando, então, uma nova visão e conceito da atuação, controle e responsabilidade empresarial. As NR vigentes, de acordo com o Guia Trabalhista23, estão listadas a seguir: NR 01 – Disposições gerais; NR 02 – Inspeção prévia; NR 03 – Embargo ou interdição; NR 04 – Serviços especializados em engenharia de segurança e em medicina do trabalho; NR 05 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA); NR 06 – Equipamentos de Proteção Individual (EPI); NR 07 – Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO); NR 08 – Edificações; NR 09 – Programas de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA); NR 10 – Segurança em instalações e serviços em eletricidade; NR 11 – Transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais; NR 12 – Máquinas e equipamentos; NR 13 – Caldeiras e vasos de pressão; NR 14 – Fornos; NR 15 – Atividades e operações insalubres; NR 16 – Atividades e operações perigosas; NR 17 – Ergonomia; NR 18 – Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção; 23 NR 19 – Explosivos; NR 20 – Líquidos combustíveis e inflamáveis; Vide Webgrafia 57 NR 21 – Trabalho a céu aberto; NR 22 – Segurança e saúde ocupacional na mineração; NR 23 – Proteção contra incêndios; NR 24 – Condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho; NR 25 – Resíduos industriais; NR 26 – Sinalização de segurança; NR 27 – Registro profissional do técnico de segurança do trabalho no Ministério do Trabalho (revogado pela portaria GM nº 262/2008); NR 28 – Fiscalização e penalidades; NR 29 – Segurança e saúde no trabalho portuário; NR 30 – Segurança e saúde no trabalho aquaviário; NR 31 – Segurança e saúde no trabalho na agricultura, pecuária silvicultura, exploração florestal, e aquicultura; NR 32 - Segurança e saúde no trabalho em estabelecimentos de saúde; NR 33 - Segurança e saúde no trabalho em espaços confinados; NR 34 – Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção e reparação naval; NR 35 – Trabalho em altura; NR 36 – Segurança e saúde no trabalho em empresas de abate e processamento de carnes e derivados; NRR 1 – Disposições gerais - revogada pela Portaria Ministro de Estado do Trabalho e Emprego (MTE) 191/2008; NRR 2 – Serviço especializado em prevenção de acidentes do trabalho rural - revogada pela Portaria Ministro de Estado do Trabalho e Emprego (MTE) 191/2008; NRR 3 – Comissão interna de prevenção de acidentes do trabalho rural. revogada pela Portaria Ministro de Estado do Trabalho e Emprego (MTE) 191/2008; NRR 4 – Equipamento de proteção individual – EPI - revogada pela Portaria Ministro de Estado do Trabalho e Emprego (MTE) 191/2008; NRR 5 – Produtos químicos - revogada pela Portaria Ministro de Estado do Trabalho e Emprego (MTE) 191/2008. 58 As NRR foram revogadas no ano de 2008, e as aplicações das penalidades constantes foram estendidas a aplicação da NR nº 28. O Ministério do Trabalho emite alterações bem como emissões de novas Normas Regulamentadoras, pois visa continuamente a melhoria nos processos produtivos, equipamentos e nos procedimentos de prevenção de acidentes e doenças profissionais. “Atualmente as leis estão cada vez mais rígidas na proteção dos trabalhadores e, muitas vezes na procura dos responsáveis pelos infortúnios ocorridos” OLIVEIRA (2013, p.87), então, pode acarretar à empresa a possibilidade de ação civil para reparação dos danos, e ou aos empresários, ou gerente responsável o levantamento de uma ação penal. Ao praticar ações que visam à segurança e prevenção de acidentes, devidamente comprovadas, a empresa vai de encontro a uma política de resguarda não somente dos interesses dos colaboradores, como também, da empresa. A seguir, uma descrição de algumas NR, conforme estabelecidas na CLT. 3.2.6.1 NR 05 - CIPA Esta NR estabelece a obrigatoriedade das empresas públicas e privadas que tiverem funcionários regidos pela CLT, a organizarem e manterem em funcionamento, por estabelecimento, uma comissão formada por funcionários que irão fiscalizar o que já existe e apontar inconsistências para que sejam solucionadas, em relação aos atos inseguros dos trabalhadores e as condições de insegurança, explica CHIAVENATO (2009). O objetivo é eliminar possíveis causas de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais. 3.2.6.2 NR 06 – EPI Estabelece e define os tipos de equipamentos de proteção individual que as empresas são obrigadas a fornecer a seus empregados, quando as condições do ambiente de tarefa exigir, a fim de resguardar a saúde e a integridade física dos trabalhadores, de acordo com o artigo 166 da CLT. 3.2.6.3 NR 07 – PCMSO Esta NR estabelece a obrigatoriedade, elaboração e implantação por parte da empresa do programa de controle médico de saúde ocupacional, com o objetivo da preservação e promoção da saúde de seus colaboradores. O PCMSO monitora 59 através de exames laboratoriais e por anamnese24 a saúde dos trabalhadores. De acordo com o artigo 168 da CLT, é obrigatório exame médico, por conta do empregador, na admissão, na demissão do colaborador bem como, periodicamente. 3.2.6.4 NR 09 – PPRA Estabelece a obrigatoriedade o programa de prevenção de riscos ambientais, que define parâmetros visando à preservação da integridade física e da saúde dos colaboradores, através da antecipação, avaliação e controle de possíveis riscos ambientais que existam ou que poderão existir no ambiente organizacional. De acordo com os artigos 175 a 178 da CLT. 3.2.6.5 NR 17 - Ergonomia Conforme artigos 198 e 199 da CLT visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às condições psicológicas e fisiológicas dos colaboradores, de modo a proporcionar o máximo de conforto e segurança, bem como desempenho eficiente, e estão relacionadas ao levantamento, transporte de cargas, ao mobiliário e a própria organização do trabalho. 3.3 Evolução do Conceito de QVT Segundo Rodrigues (1999), a QVT, sempre foi objeto de estudo e preocupação da raça humana, tendo em vista que mesmo em outras situações ou com outros títulos ela já causava mudanças na sociedade. Surgiu há muito tempo visando o benefício dos colaboradores como, por exemplo, historicamente citando, a Lei das Alavancas25, formulada em 287 a.C., de Arquimedes, que ajudou a reduzir o esforço físico dos trabalhadores, ou ainda, os ensinamentos de Euclides, (300 a.C.) de Alexandria, considerado o pai da geometria, que trouxe os princípios da geometria que serviram como inspiração para a melhoria do método de trabalho dos agricultores à margem do Nilo. 24 É o histórico dos antecedentes de uma doença (doenças anteriores, caracteres hereditários, condições de vida etc.), que é verificado após uma entrevista do médico com o colaborador, de acordo com o Dicionário Michaelis. 25 Arquimedes, matemático, físico e inventor grego, 212 a.C., percebeu, que, por maior que fosse o peso, seria sempre possível equilibrá-lo (ou deslocá-lo), utilizando uma barra rígida (alavanca) desde que de aumentasse convenientemente à distância. O entusiasmo que esta conclusão provocou em Arquimedes o teria levado a formula a célebre frase: “Se me derem uma alavanca e um ponto de apoio, deslocarei o mundo”! Vide Webgrafia 60 A expressão Qualidade de vida no trabalho foi introduzida, publicamente, no início da década de 70, por Louis Davis, elucida Chiavenato (2010), ampliando assim, seu estudo sobre o projeto de delineamento de cargos. QVT é conceituado como o quesito que leva à preocupação com o bem-estar e saúde dos colabores em uma organização. Atualmente, o conceito de QVT envolve tanto os aspectos físicos e ambientais, como os aspectos psicológicos do local de trabalho. A QVT assimila duas posições antagônicas: de um lado, a reivindicação dos colaboradores quanto ao bem-estar e satisfação no trabalho e, de outro, o interesse das organizações quanto aos seus efeitos potenciadores sobre a produtividade e a qualidade. (CHIAVENATO, 2010, p. 487). A QVT funciona como indicador das experiências humana no ambiente de trabalho e o grau de satisfação das pessoas que desempenham uma função. Para França (1997, p. 80 apud VASCONCELOS, 2001, p. 3) 26: Qualidade de vida no trabalho (QVT) é o conjunto das ações de uma empresa que envolvem a implantação de melhorias e inovações gerenciais e tecnológicas no ambiente de trabalho. A construção da qualidade de vida no trabalho ocorre a partir do momento em que se olha a empresa e as pessoas como um todo, o que chamamos de enfoque biopsicossocial. O posicionamento biopsicossocial representa o fator diferencial para a realização de diagnóstico, campanhas, criação de serviços e implantação de projetos voltados para a preservação e desenvolvimento das pessoas durante o trabalho na empresa. Tratando da gestão da QVT, Limongi-França e Zaima (2002, p. 408 apud GONÇALVES; GUTIERREZ; VILARTA, 2005, p. 94) explicam, ainda, que “as empresas que não tem preocupação com a qualidade entre os seus objetivos organizacionais correm sério risco de desaparecer do mercado”. Por isso, que a QVT é importante para as empresas modernas, pois a época atual é extremamente competitiva e somente as empresas fortes permanecerão no jogo. Com relação à competitividade organizacional, teóricos compreendem que para atender bem ao cliente externo, a organização não deve se esquecer do cliente interno, ou seja, para satisfazer o cliente externo, as organizações precisam antes 26 Vide webgrafia 61 manter a satisfação dos colaboradores, os quais são responsáveis pelos produtos e/ou serviços prestados, ou seja, segundo CHIAVENATO (2010, p. 487) “a organização que investe diretamente no colaborador está, na realidade, investindo indiretamente no cliente”. A seguir, há o quadro explicativo com os indicadores dependentes, que estão relacionados à satisfação dos empregados: Quadro 4 - Indicadores dependentes, que estão relacionados à satisfação dos empregados. Fator de satisfação Descrição pessoal Organizacional Indicador Satisfação percebida com - Imagem da empresa - Níveis: relação - Valorização do produto Direção - Gerência à política organizacional; o que a empresa faz e se reflete no funcionário. Social Satisfação das informações geradas para percebida - Envolvimento da família - Assistência à educação de benefícios legais e formal - Realização de esportes Satisfação percebida ao das atendimento necessidades individuais de reconhecimento, e desenvolvimento. Satisfação - Critérios de recrutamento percebida / seleção - Avaliação de desempenho / carreira - Vida pessoal preservada - Índices de acidentes de quanto aos programas e trabalho serviços - Conscientização, saúde e que estar Idem - Camaradagem autoestima bem Operação Idem quanto ao suporte social quanto Biológica Qualidade comunicação interna espontâneos Psicológica Quem utiliza garantem físico ou recuperação de doenças e promoção da saúde. Idem segurança - Conforto físico / insalubridade - Alimentação - Hábitos saudáveis Fonte: adaptado pelos autores de Limongi-França; Zaima (2002, p. 410 apud GONÇALVES; GUTIERREZ; VILARTA, 2005, p. 96). 62 Compreende-se então que a QVT representa o grau em que os clientes internos são capazes de satisfazer suas necessidades pessoais, por conta de seu trabalho. Podem-se citar muitos fatores como componentes da QVT, Chiavenato (2010) exemplifica alguns como: Satisfação com trabalho executado. Possibilidades de crescimento na organização. Reconhecimento pelos resultados. Salário. Benefícios. Relacionamento interno dos colaboradores. Ambiente psicológico e físico de trabalho. A liberdade de atuar. Participação e engajamento nas atividades. A QVT afeta atitudes pessoais e comportamentais que são de grande relevância na questão da produtividade individual e de grupo. Entretanto a satisfação no trabalho não pode estar isolada da vida do indivíduo como um todo. Os colaboradores que possuem uma vida familiar insatisfatória tem no trabalho o maior meio de satisfação de muitas necessidades, dentre elas, principalmente, as sociais, explica RODRIGUES (1999). 3.4 Modelos de QVT Diversos autores apresentam modelos de QVT, e para Chiavenato (2010) a razão disso é de que a QVT não é determinada apenas por características individuais ou situacionais, mas também por conta da atuação sistêmica dessas características. O clima organizacional e o bem estar organizacional irá gerar satisfação nos colaboradores, e estes, por sua vez, se sentirão motivados a executar suas tarefas com excelência. Quanto menor for a qualidade de vida no trabalho, pior serão os resultados obtidos para as metas da empresa, afinal, se há um bom clima organizacional haverá bons resultados, pois conforme explicado por Chiavenato (2010), qualidade de vida no trabalho elevada ocasiona em uma confiança mútua, 63 no qual as pessoas irão aumentar suas contribuições para os resultados da empresa, bem como as empresas tenderão a reduzir os mecanismos rígidos de controle social. Porém, por existirem culturas, pensamentos e gostos diferentes, fazendo com que varie assim as importâncias das necessidades humanas, existem vários modelos de QVT elaborados por diversos autores diferentes, no qual Chiavenato (2010) cita três dos quais considera os mais importantes, que são os de Nadler e Lawler, de Hackman e Oldhan e o de Walton. 3.4.1 Modelo de QVT de Nadler e Lawler Neste modelo, Chiavenato (2010) explica que demonstra uma interessante e abrangente visão da evolução do conceito de QVT, conforme quadro a seguir: Quadro 5 - Evolução do Conceito de QVT de Nadler e Lawler (continua) CONCEPÇÕES EVOLUTIVAS DO CARACTERÍSTICAS OU VISÃO QVT 1. QVT como uma Reação do indivíduo ao trabalho. Investigava-se como variável (1959 a melhorar a qualidade de vida no trabalho para o 1972) indivíduo. 2. QVT como uma O foco era o indivíduo antes do resultado organizacional; abordagem (1969 mas, ao mesmo tempo, buscava-se trazer melhorias a 1974) tanto ao empregado como à direção. 3. QVT como um Um conjunto de abordagens, métodos ou técnicas para método (1972 a melhorar o ambiente de trabalho e tornar o trabalho mais 1975) produtivo e mais satisfatório. QVT era vista como sinônimo de grupos autônomos de trabalho, enriquecimento de cargo ou desenho de novas plantas com integração social e técnica. 4. QVT como um Declaração ideológica sobre a natureza do trabalho e as movimento (1975 relações dos trabalhadores com a organização. Os a 1980) termos “administração participativa” e “democracia industrial” eram frequentemente ditos como ideais do movimento de QVT. 64 (continuação e conclusão) CONCEPÇÕES EVOLUTIVAS DO CARACTERÍSTICAS OU VISÃO QVT 5. QVT como tudo (1979 a 1982) Como panaceia contra a competição estrangeira, problemas de qualidade, baixas taxas de produtividade, problemas de queixas e outros problemas organizacionais. 6. QVT como nada No caso de alguns projetos de QVT fracassarem no futuro, não passará de um “modismo” passageiro. (futuro) Fonte: Adaptado pelos autores de Fernandes (1996, p. 42 apud VASCONCELOS, 2001, p. 24)27. Chiavenato (2010) explica, ainda, que este modelo está fundamentado em quatro aspectos os quais quando são utilizados e implantados na empresa há uma melhora na QVT: Participação dos colaboradores no processo decisório da empresa; Reestruturação do trabalho através do enriquecimento de tarefas e ações e de grupos autônomos de trabalho; Influenciar o clima organizacional através da inovação de métodos de benefícios e recompensas; Melhoramento do ambiente organizacional pensando na flexibilidade do horário de trabalho e nas condições físicas e psicológicas. 3.4.2 Modelo de QVT de Hackman e Oldhan Eles apresentam um modelo de QVT no qual, Chiavenato (2010, p. 489) explica que as “dimensões do cargo produzem estados psicológicos críticos que conduzem a resultados pessoais e de trabalho que afetam a QVT”. Conforme exemplificados a seguir: Variedade de habilidades no cargo, o qual irá exigir várias habilidades, conhecimentos, competências do colaborador; 27 Vide Webgrafia 65 Identidade do trabalho, que quer dizer que uma pessoa deve realizar uma tarefa desde o seu início a sua conclusão para ver que seu resultado é palpável, ver que teve sua identidade no que foi produzido; Significado da tarefa, que quer dizer que uma pessoa deve ser consciente da importância da realização das suas tarefas no trabalho de outras pessoas; Autonomia; Retroação do próprio trabalho, que é uma auto avaliação do desempenho, por isso, a pessoa precisa saber de informações sobre o retorno de suas tarefas; Inter-relacionamento que é o contato interpessoal do colaborador com outras pessoas dentro e fora da empresa. Chiavenato (2010) expõe ainda que os autores salientam que as dimensões do cargo são de fundamental importância e determinantes da QVT, porque oferecem motivação através da satisfação das recompensas do cargo. 3.4.3 Modelo de QVT de Walton No modelo de QVT de Walton (CHIAVENATO, 2010), explica que existem oito principais fatores que o compõe: A compensação justa e adequada: o equilíbrio remunerativo, tanto internamente como externamente. Condições de segurança e saúde. Utilização e desenvolvimento de capacidades: proporcionar oportunidades de utilização de habilidades e conhecimento do colaborador. Oportunidades de crescimento contínuo e segurança: oportunidades de carreira dentro da organização e estabilidade na mesma. Integração social na organização. Constitucionalismo: referindo-se na questão de direitos e deveres do trabalhador na organização, e criando um clima democrático. Trabalho e espaço total de vida: no sentido do trabalho não interferir e tomar outros aspectos da vida do colaborador, como vida familiar e particular. 66 Relevância social da vida no trabalho: a organização onde o colaborador trabalha deve ser motivo de orgulho, a organização deve ter uma imagem adequada perante a sociedade. A seguir, um quadro demonstrativo com o modelo de QVT segundo a visão de Walton: Quadro 6 – Modelo de QVT de Walton (continua) Fatores de QVT 1. Compensação justa Dimensões e 1. Renda (salário) adequada ao trabalho 2. Equidade interna (compatibilidade interna) adequada 3. Equidade externa (compatibilidade externa) 2. Condições de segurança e 4. Jornada de trabalho 5. Ambiente físico (seguro e saudável) saúde no trabalho 3. Utilização e desenvolvimento 6. Autonomia 7. Significado da tarefa de capacidades 8. Identidade da tarefa 9. Variedade de habilidades 10. Retroação e retro informação 4. Oportunidade de 11. Possibilidades de carreira 12. Crescimento profissional crescimento e segurança 13. Segurança do emprego 5. Integração social organização na 14. Igualdade de oportunidades 15. Relacionamentos interpessoais e grupais 16. Senso comunitário 6. Garantias constitucionais 17. Respeito às leis e direitos trabalhistas 18. Privacidade pessoal 19. Liberdade de expressão 20. Normas e rotinas claras da organização 67 (continuação e conclusão) Fatores de QVT 7. Trabalho e espaço total de Dimensões 21. Papel balanceado do trabalho na vida pessoal vida 8. Relevância social da vida no trabalho 22. Imagem da empresa 23. Responsabilidade social pelos produtos/serviços 24. Responsabilidade social pelos empregados Fonte: adaptado pelos autores de CHIAVENATO (2010, p. 491). Rodrigues (1999) e Gonçalves, Gutierrez e Vilarta (2005) descrevem que para Walton, a expressão Qualidade de Vida é voltada para a humanização do trabalho e responsabilidade social da empresa, usada muitas vezes para exemplificar valores humanos e ambientais, negligenciados pelas sociedades industriais tendo em vista a globalização e os rápidos avanços tecnológicos e crescimento econômico. 3.5 Desafios e Vantagens da Gestão e Implantação da QVT As empresas só tendem a ganhar ao implantar programas de qualidade de vida na empresa, de acordo com Farias (2013) uma empresa que segue a filosofia da qualidade de vida mantém seus colaboradores satisfeitos e motivados a realizar suas tarefas com eficácia, aumentando a produtividade. Diminuirá o absenteísmo e a rotatividade na organização e desta forma a empresa terá uma maior chance de reter os talentos em seu quadro funcional. O crescimento será mútuo. Mas, não adianta a empresa dizer que proporciona qualidade de vida no trabalho, de acordo com FARIAS (2013, p. 36) “é preciso que os gestores sigam um planejamento bem elaborado, em que pesem todos os pontos necessários para que a satisfação e o incentivo aumentem”. A QVT é um instrumento gerencial e visa uma análise cuidadosa na implantação destes programas, bem como acompanhamento minucioso do ambiento de trabalho e da satisfação dos colaboradores para alcançar o seu sucesso na organização. 68 Apesar de toda a badalação em cima das novas tecnologias de produção, ferramentas de Qualidade etc., é fato facilmente constatável que mais e mais os trabalhadores se queixam de uma rotina de trabalho, de uma subutilização de suas potencialidades e talentos, e de condições que geram um aumento do absenteísmo, uma diminuição do rendimento, uma rotatividade de mão-de-obra mais elevada, reclamações e greves mais numerosas, tendo um efeito marcante sobre a saúde mental e física dos trabalhadores, e, em decorrência na rentabilidade empresarial. (FERNANDES, 1996 p. 38-39 apud VASCONCELOS, 2001, p. 29)28. A professora, palestrante e especialista em Jogos Corporativos e Dinâmica dos Grupos, Andressa Pinheiro e a Master of Business Administration29 (MBA) em Gestão Estratégica de Pessoas e de Negócios, Elaine Patta, ambas consultoras de QVT, conforme explicado por Farias (2013), fundaram a Movimento Saúde Corporativa há 15 anos para desenvolver projetos de qualidade de vida a serem implantados nas organizações, seguindo a metodologia das setes saúdes, conforme exemplificadas a seguir: Saúde física, que envolve cuidados médicos e preventivos, atividades físicas, alimentação e repouso adequado; Saúde emocional está ligada ao reconhecimento das emoções intrapessoais e interpessoais, autoconfiança, autoestima e esgotamento emocional; Saúde espiritual, que é a satisfação com a vida (felicidade); Saúde social são os relacionamentos, família, ambiente (moradia) e ação social; Saúde intelectual que significam as habilidades, conhecimentos, concentração e memória; Saúde profissional são aspectos que envolvem clima e ambiente organizacional, desemprenho e reconhecimento profissional; Saúde financeira que são as necessidades e gerenciamento de dívidas. Farias (2013) explica que a partir das sete saúdes, é delineada uma gestão estratégica para a implantação da QVT na empresa, no qual as consultoras vão 28 29 Vide Webgrafia Mestre em Admnistração de Negócios (traduzido livremente pelos autores) 69 delinear um processo que começa com alguns passos começando pela preparação que envolve toda a organização, depois vem o diagnóstico, que é um processo que procura entender o que realmente a empresa precisa, depois vem a etapa de priorização que adequa o programa a estratégia e as necessidades da empresa partindo para a implementação, que é onde são propostas soluções criativas e estrategicamente elaboradas de acordo com o perfil da empresa. Após esta etapa, segue para a avaliação que nada mais é que o acompanhamento constante dos resultados, por meio das impressões dos colaboradores, moldando o que for necessário para dar continuidade a efetividade das ações. E por ultimo, a etapa da melhoria contínua que identifica os resultados e traça uma nova estratégia do programa. Atualmente, há de se reconhecer que as empresas estão se esforçando no sentido de proporcionar um ambiente agradável e bem estar aos seus colaboradores. Um exemplo disso é a divulgação anual das melhores empresas para se trabalhar divulgadas em revistas de grande circulação como a Revista Época e a Revista Você S/A EXAME, no qual de acordo com Chiavenato (2009) esta última utiliza a metodologia de Robert Levering no qual, para se entrar na lista, as empresas são analisadas sob dois aspectos: ambiente de trabalho e perfil da empresa. Ambiente de trabalho analisa pontos como: Credibilidade que verifica a confiança que os funcionários depositam na liderança. Ética nos negócios, comunicação interna e resolução de problemas. Respeito: Como as pessoas são tratadas, seus papeis nas decisões, oportunidades de crescimento e desenvolvimento profissional. Pacotes de benefícios e valorização profissional. Imparcialidade: não ter diferenças nas avaliações por mérito Orgulho de trabalhar na empresa Camaradagem: Convivência com os concorrência desleal e trabalho em equipe. Perfil da empresa analisa pontos como: colegas de trabalho, sem 70 Benefícios: é quando a empresa visa as necessidades específicas do seu pessoal que nem sempre são ligadas a investimentos financeiros. Remuneração: analisa a satisfação dos funcionários em relação ao salário que recebem de acordo com as funções realizadas na empresa. Nesse item entra salário, bônus, participação nos resultados e todas as outras formas de reconhecimento financeiro. Ética e cidadania: a ética está relacionada a mecanismos oficiais como ombudsman ou ouvidoria. Cidadania são programas sociais que a empresa realiza na região onde está inserida. Desenvolvimento profissional: São benefícios ligados ao aprimoramento profissional como cursos especializados, apoio à educação continuada, treinamentos e possibilidades reais de promoção. Equilíbrio (trabalho e vida pessoal): quando os colaboradores harmonizam a vida profissional com a vida pessoal a pontuação é máxima, bem como empresas que proporcionam momentos de lazer nos intervalos, incentivo a praticas de esportes, preocupação com a saúde são fundamentais. Chiavenato (2009), explica, ainda, que cada item acima varia de 1 a 5 estrelas. E o que torna as melhores empresas para se trabalhar especiais são três itens: Elas creem que as pessoas são importantes para o sucesso da organização; Elas priorizam a comunicação, permitindo desta forma, que todos participem nos processos de tomada de decisões. Elas conhecem a sua cultura, por isso especializa seu método de recrutamento e programas de recompensas que são desenhados para satisfazer aquele público em especial. O consultor e gerente-geral da Movimento Saúde Corporativa, com MBA em Gestão e Marketing, João Luiz Zaggia, conforme elucidado por Farias (2013), afirma que toda empresa pode ter um programa de QVT, seja ela micro, pequena, média ou grande, desde que o veja como um fator estratégico e esteja empenhada em 71 implantá-lo. Mas para que isso dê certo, o programa precisa ser delineado de acordo com as necessidades de cada organização e de seus colaboradores e ter um acompanhamento minucioso desde o início da implantação deste programa. “(...) a chave para o sucesso é conseguir comprovar os resultados e os impactos gerados após a sua implantação”. ZAGGIA (apud FARIAS, 2013, p. 42). 72 4 OS ASPECTOS DA QVT PRESENTES NAS EMPRESAS BRASILEIRAS Conforme Limongi-França e Rodrigues (2007) vive-se a “era da qualidade”, onde as empresas para garantir sua sobrevivência, diante da concorrência acirrada, do marketing agressivo e dos consumidores mais exigentes, colocam o cliente sempre em primeiro lugar. Diante disto, as pressões sobre a organização e os funcionários são cada vez mais fortes, aumentando o estresse ocupacional. Mas como as empresas brasileiras têm lidado com isto para evitar o estresse e ainda conseguem cultivar a QVT, para manter assim seus funcionários motivados e felizes no trabalho? Um dos guias mais populares e de grande expressão no Brasil, “As melhores empresas para você trabalhar” da revista VOCÊ S/A EXAME, publica todo ano as 150 melhores empresas para se trabalhar, que são eleitas através de pesquisa de satisfação dos funcionários, avaliação da governança da empresa e avaliação dos benefícios que proporciona. Sendin (2013) enfatiza a importância dos benefícios para a satisfação dos funcionários das 150 melhores empresas eleitas em 2013. Benefícios como assistência médica e odontológica são quase que uma unanimidade entre as empresas, previdência privada também é um beneficio muito presente visto que 67% das empresas mantêm um plano para seus funcionários. A autora ainda cita que “mais do que benefícios tangíveis ou de prateleira, as empresas listadas neste Guia se destacam por oferecer práticas que vêm garantindo a seus funcionários um trabalho com mais qualidade de vida.” (SENDIN, 2013, p.61). Dentre as práticas estão o trabalho remoto, horários flexíveis, maior período de licença maternidade e benefício de licença também para novos pais. Outro aspecto salientado pela autora é a transparência da gestão, o que ela chama de qualidade rara. Onde as empresas manipulam e escondem informações de estratégias, resultados e salários dos funcionários. Dentre as melhores empresas do guia, todas informam formalmente sua estratégia, e 7% delas abrem a tabela salarial integralmente até mesmo para os funcionários operacionais. Prática também das melhores empresas, é um programa formal de adoção de ideias advindas dos empregados, independente da área ou nível hierárquico, dessa forma aperfeiçoando seus instrumentos de gestão e aproximando mais os funcionários de seus negócios tonando-se mais transparentes. 73 Sendin (2013) cita, ainda, que não basta as empresas terem boas práticas de Recursos Humanos (RH), é necessário que os funcionários se beneficiem delas, e que o passaporte das empresas para serem classificadas como melhores empresas são a consistência e a coerência. 4.1 Programas de Qualidade de Vida Votorantim Cimentos Brasil Kamanchek (2011), explica que a Votorantim Cimentos Brasil está presente nos últimos 5 anos na edição de VOCÊ S/A EXAME – As melhores empresas para se trabalhar. A empresa situada em Votorantim, interior de São Paulo, hoje se destaca pela fidelização dos seus funcionários, isso porque a empresa aposta em uma comunicação aberta entre todos os níveis hierárquicos da empresa. Trabalho implantado pelo setor de RH desde o ano de 2005 fez com que os funcionários compartilhassem valores entre si que serviu para estreitar os laços entre todo o seu pessoal. Entre as ações de comunicação há divulgações de metas, ouvidorias internas, reuniões periódicas e boletins informativos. Um dos grandes diferenciais da Votorantim Cimentos – uma das dez maiores fabricantes de cimento do mundo e líder de setor no Brasil – é manter uma comunicação eficiente e aberta entre os 5.590 funcionários espalhados pelas mais de 50 unidades. (KAMANCHEK, 2011, p. 152). Kamanchek (2011) elucida, que além de tudo, a empresa destaca-se pelo fato de transformar a área onde se instala expandindo a empresa além dos muros onde está. A empresa investe na comunidade entorno da empresa e promove reuniões e debates com os líderes da comunidade para estar por dentro da demanda local e das necessidades da comunidade. Só em 2010 a empresa investiu 12 milhões em educação e cultura, e quando se trata de seus funcionários ela oferece avaliações físicas periódicas a todos, investe em convênios com teatro, cinemas e até subsídio a academia. Sobre remuneração a empresa oferece participação nos lucros, e investem em um programa de inovação aos funcionários com bonificações que podem chegar a R$ 10.000 (dez mil reais) individuais e R$ 15.000 (quinze mil reais) em grupos e também, atrativas folhas de pagamentos entre líderes e gestores que cercam até 10,5 salários mínimos. Com todos os investimentos e iniciativas proporcionadas pela empresa para a implantação de programas de QVT, o diretor 74 de RH, Guilherme Rhinow, visa um crescimento de produção de 40% nos próximos anos. 4.2 A Filosofia Bonsai da Tagawa Propaganda Tagawa Propaganda é uma agência de propaganda criada por Alexandre Tagawa no ano de 1999 que, segundo Farias (2013), tinha problemas em incentivar e delegar, o que prejudicava sua liderança fazendo-o acreditar que mandar resolvia todas as questões. A alta rotatividade de pessoal e a grande dificuldade em desenvolver seus colaboradores fez com que a empresa quase afundasse duas vezes por não saber delegar as atividades do dia-a-dia. Porém em 2007 o diretor Alexandre Tagawa fez um curso de liderança e começou a ter noção do real papel do seu pessoal na empresa. Farias (2013) explica que para Alexandre as pessoas tinham 5% de peso na estrutura total da empresa, e ainda achava que se tinham sido contratados, deveriam fazer o que mandassem sem discutir. Além de tudo, a grande rotatividade devia-se ao ambiente não propício a uma carreira e nem uma missão clara e nem democrática entre os funcionários. Foi a partir de então que surgiu a necessidade de um plano de ação que incentivasse e levasse mais qualidade de vida às pessoas que trabalham na organização, surgindo então, a filosofia bonsai, que conforme Farias (2013) atua de forma a inspirar por meio do profissional e espiritual, prosperando em qualidade de vida, reconhecendo as conquistas das pessoas e gratificando-as da maneira que se deve. Como objetivo, o projeto visava aumentar a produtividade, elevar a motivação, influenciar no estilo de vida dos colaboradores, diminuir o turnover, que quer dizer rotatividade de funcionários, e ressaltar a imagem da empresa chegando a 2014 com as 7 saúdes equilibradas, conforme citadas no capítulo anterior. A primeira etapa para implantar a filosofia bonsai foi definir uma missão, valores e visão futura da empresa, em seguida, escolher os três principais funcionários para se tornarem sócios financeiros-administrativos, sócio de criação e produção dividindo assim a liderança em 4 líderes. Apesar de ainda majoritário, o empresário Alexandre Tagawa consulta e bota em pauta todas as decisões que são definidas reuniões periódicas para o bom andamento da empresa. Farias (2013) elucida que só este caminho foi possível, pois através de uma empresa de consultoria foi instalado um programa de qualidade de vida na empresa. 75 Foi criada uma pesquisa entre os colaboradores que demonstrou que não havia mudanças satisfatórias no ambiente de trabalho em relação à evolução de processos e pessoal. A importância do comitê de pesquisa e consultoria começou a progredir a partir do momento em que implantavam as ideias na empresa que eram apresentadas pelos próprios funcionários. A saúde física foi considerada o primeiro objetivo levando em consideração as pressões do dia-a-dia, a péssima alimentação, a má qualidade do sono. Os colaboradores passaram a se preocupar com a prática de exercícios físicos e com isso a empresa passou a fornecer salada a todos os funcionários e começou a distribuir barras de cereal e frutas todos os dias. Conforme citado por Farias (2013) as seguintes ações passaram a ser implantadas na Tagawa Propaganda: Reuniões periódicas juntamente com o comitê e a consultoria semanalmente para discutir os resultados sobre as medidas tomadas diante as ações propostas e aplicadas. Plano de melhoria contínua com reavaliações e diagnósticos de qualidade de vida; Reembolsos imediatos de gastos com táxis, ajuda com vale alimentação e reembolsos do plano de saúde; Avaliação física de todos os funcionários a cada 6 meses; Gincanas entre equipes que beneficiam financeiramente aqueles que cumprirem metas referente à performance, perda de peso e flexibilidade; Eventos esportivos e sociais mensais; Ginástica laboral todas as terças-feiras; Orientação nutricional e física; Fornecimento de alimentos saudáveis; Palestra financeira e coaching financeiro, que é uma consultoria individual, para que cada colaborador apresente sua planilha e receba orientações sobre aplicações; Pesquisas de cargos e salários que faz com que a agência saiba da sua situação em comparação a outras agências; Esclarecimento sobre os benefícios cedidos pela empresa; 76 Coaching dos sócios: consultoria dos sócios, reunião entre os lideres para alinharem toda evolução que a empresa teve no período; Sweet break30, que é uma parada das atividades todas as segundas feiras: trata-se de um momento de reflexão e meditação; Day Off31: toda a equipe equilibra o banco de horas, caso alguém trabalhe 2 horas a mais em um dia, no outro ele entrará 2 horas mais tarde também. Semanalmente todas as horas deverão ser equilibradas em um relatório; Final de semana Off: No ramo publicitário, as agencias costumam trabalhar no fim de semana, já na Tagawa não; Encontro Tagawa que reúne todos os colaboradores para alinhar periodicamente a visão futura de empresa, a evolução e praticar ferramentas para o desenvolvimento; Health Day32: Cada funcionário tem direito a um dia para fazer o Check-up e saber como está a saúde; Endomarketing e e-mail marketing com cada conquista e nova ação, que é um meio de comunicação interna voltada para os colaboradores da empresa que busca estratégias do marketing interno para que venha ser utilizado como meio de abordagem no mercado e também no ambiente da empresa, que tem como objetivo trazer motivação, qualidade de vida, informação e valorização de seus colaboradores. Farias (2013) cita, ainda, que segundo Tagawa, tudo o que um dia sonhou estava se tornando realidade, graças à implantação do programa de QVT na empresa: Um ponto fundamental é como está o seu bonsai, ele precisa de cuidado, não pode ter excesso nem falta de água, e ter raízes profundas. Isso faz haver força para buscar água mesmo em situações difíceis e ser moldado pelas mãos, como a qualidade de vida, que é totalmente moldada. Cada profissional é identificado como bonsai e não um jardim de eucaliptos, pois tem sua personalidade e sua maneira de ser. Há empresas que acham que por inserir a ginastica laboral está fazendo qualidade de vida, mas será que está proporcionando algum benefício? Como está sendo 30 Doce pausa, traduzido livremente pelos autores em seu sentido literal. Dia de folga ou dia livre, traduzido livremente pelos autores. 32 Dia Saudável. Traduzido livremente pelos autores. 31 77 feito o desenvolvimento? Só a ginastica laboral é necessária para atender as necessidades de qualidade de vida do colaborador? Quando se começa a ir fundo, as necessidades ficam contextualizadas. A nossa meta é aplicar as sete saúdes. Estamos no processo inicial e quando concluirmos esse ciclo, queremos ser a melhor agência para se trabalhar no mercado. (TAGAWA, 2013 apud FARIAS, 2013, p. 48). Os colaboradores estão satisfeitos e definem a implantação deste programa de QVT como uma forma positiva, Farias (2013) cita que antes da implantação do programa eles estavam cansados, estressados fisicamente e intelectualmente, agora eles afirmam que a empresa passou por uma transformação muito grande, partindo dos líderes, desde a forma de lidar com as pessoas bem como a visão de futuro. O ambiente de trabalho melhorou extremamente, proporcionando uma equipe mais unida, uma qualidade de vida individual melhor, tanto física como mentalmente. Com o incentivo da empresa, os colaboradores passaram a se cuidar melhor partindo da alimentação até a prática de exercícios físicos, e a motivação que a organização propicia aos colaboradores, fazem com que eles sintam vontade de crescer na empresa e principalmente a gostarem de fazer parte dela. 4.3 Google – A Melhor Empresa para se Trabalhar no Ano 2013 Conforme publicado por Reschke (2013), a sede da Google em São Paulo tem um ambiente de trabalho invejável por todas as organizações, isso por seu peculiar ambiente que dificilmente é copiado em varias partes do mundo por algumas empresas. A Google ocupa três andares de um prédio empresarial da Faria Lima que a cada lance de escadas surpreende os visitantes pela sua criativa decoração baseada em pontos conhecidos pelos paulistanos, variando desde a Rua Oscar Freire, até o Museus de Artes de São Paulo (MASP), o que mais chama a atenção são as áreas de lazer e descanso que seguem um padrão de bem-estar que já é mundialmente conhecido que contém salas de jogos, poltronas em alguns cantos, pufes e redes os momentos de rápido cochilo e um estúdio que contém instrumentos musicais para que seus funcionários possam usufruir nas horas vagas. Ainda segundo Reschke (2013), os funcionários são conhecidos como googlers e contam com um amplo refeitório onde são servidas as refeições principais como café da manhã, almoço e janta com uma incrível vista do terraço, 78 onde ainda, existem áreas com decorações de feira livre, onde são servidos lanches extremamente saudáveis como frutas, a qualquer hora do dia sem qualquer limite de quantidade por pessoa. Além dos benefícios alimentares, os googlers podem contar com um pacote de benefícios idêntico em qualquer nível, ou seja, o plano de saúde do presidente é o mesmo do estagiário novato. Reschke (2013) explica, ainda, que a Google proporciona a cada colaborador uma cota anual de R$ 16.000,00 (dezesseis mil reais) para estudar, onde 20% podem ser destinados a qualquer tipo de curso que o colaborador deseje até mesmo cursos de instrumentos musicais, pois isso agrega ao repertório cultural da pessoa estimulando a criatividade. A empresa convida palestrantes de diversas partes do país para falar sobre assuntos que não são ligados a negócios. Por se tratar de uma empresa internacional, pedidos de expatriação são facilmente atendidos, e o primeiro quesito que proporciona essa facilidade é a natureza internacional da Google, sendo assim, não existem barreiras para o crescimento da empresa. Outro fator predominante é a banco de vagas aberto a todos os colaboradores na rede interna da empresa, deixando assim a vista de qualquer um que se interesse em sair do país. Segundo Reschke (2013) o processo seletivo da Google é totalmente exigente, mas de uma forma “justa”. Os resultados são cobrados a partir da sua qualidade, excluindo a obrigatoriedade de metas de horas cumpridas dentro do escritório. Além disso, todo suporte é dado pela equipe de recursos humanos que oferecem ferramentas essenciais para que o colaborador alavanque sua carreira, podendo contar com treinamentos internos e externos, coaching e programas de monitorado global que visam o desenvolvimento profissional de cada pessoa. Embora a Google tenha se tornado uma empresa referência em buscas globais e a principal página acessada na rede global de internet, o fato de se trabalhar em uma empresa que é tão conhecida já à torna atraente. A empresa também criou ações para que seus colaboradores contribuam com a cidadania e sustentabilidade. Por exemplo, Reschke (2013) cita que a empresa tem estacionamento disponível para seus funcionários, porém, aqueles que preferirem ir pedalando até o escritório ganham pontos que no final de um período é revertido em doações a instituições assistencialistas. Uma vez por ano todos os funcionários da 79 Google no mundo tiram o dia para a realização de trabalhos voluntários, e ainda oferecem cinquenta dólares a cada cinco horas extras em trabalhos sociais. Com todas essas ferramentas a Google se tornou uma empresa que todo jovem sonhou um dia trabalhar, isso porque a empresa conseguiu com esse estilo inovador ao modificar o modo de trabalho na sua rotina, implantando e priorizando a qualidade de vida no trabalho, fazendo com que os funcionários incorporem o espírito da empresa, aceitem seus desafios e adotem a gestão da empresa como um verdadeiro estilo de vida. 4.4 Características em Comum dos Programas de QVT Uma característica existente em todas as empresas que implantam programas de QVT é o fato de elas compreenderem quais as reais necessidades de cada funcionário. As necessidades e fatores motivacionais variam de pessoa para pessoa, e se expandem além de benefícios materiais, assim como conhecer a necessidade física, psicológica e pessoal de cada um torna-se ferramenta fundamental para o sucesso de um programa de qualidade de vida. Conforme explicado por Chiavenato (2004) nos dias de hoje o conceito de QVT envolve tanto aspectos físicos e ambientais, como os aspectos psicológicos do local de trabalho. Limongi-França (2009) elucida que o aumento da produtividade não se deve ao resultado das máquinas, mas sim do esforço de trabalho físico e mental do colaborador. Todos os fatores citados são trabalhados nos cases apresentados, e de tal forma influenciaram na atitude, motivação e desempenho dos funcionários sendo que os efeitos dos programas de QVT beneficiaram diretamente e de forma positiva não somente os colaboradores, como também os resultados das empresas citadas. 80 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho procurou mostrar os impactos que o estresse ocupacional e a qualidade de vida causam em um ambiente de trabalho e em uma organização como um todo, visto ser um tema que aborda uma grande gama de assuntos e áreas de estudo. As organizações modernas, em busca da qualidade total, voltam agora olhares à qualidade de vida no trabalho, o que antes era considerado tema de qualidade apenas no aspecto organizacional. Programas de higiene e segurança no trabalho são fundamentais para um melhor desempenho dos colaboradores, bem como o estudo de aspectos comportamentais e estresse ocupacional considerando o ambiente mercadológico moderno e competitivo, já que o estresse ocupacional existe paralelo ao sucesso das organizações, pois existe pressão e cumprimento de metas causando esgotamento de seus colaboradores e quando não acompanhada e gerenciada de perto, suas consequências podem impactar no clima organizacional e influenciar negativamente os resultados da empresa. Perante a isso, a qualidade de vida no trabalho tem grande importância no sucesso de uma organização, ela é representada pelo grau de satisfação das pessoas em relação à empresa e ao ambiente de trabalho, pois influi diretamente nos resultados, sejam eles relacionados à produção ou qualidade dos produtos e serviços, já que afeta atitudes pessoais e comportamentais importantes para a produtividade individual e como consequência, ocasiona em melhores resultados para a empresa. 81 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Maria Margarida de. Redação científica: Elaboração do TCC passo a passo. 2. ed. São Paulo: Factash, 2007. ARAUJO, Luis Cesar G. de; GARCIA, Adriana Amadeu. Gestão de pessoas: Estratégias e Integração Organizacional. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. BANOV, Márcia Regina. Psicologia no gerenciamento de pessoas. São Paulo: Atlas, 2009. BERGAMINI, Cecília Whitaker. Motivação nas organizações. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1997. BOHLANDER, George; SNELL, Scott; SHERMAN, Arthur. 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