Artigo Assunta Camilo – Diretora do Instituto de Embalagens e da consultoria FuturePack A delicada relação entre Embalagens & Sustentabilidade U ma das consultas mais regulares que recebo no Instituto de Embalagens é se esta ou aquela embalagem é sustentável. Como se tal resposta pudesse ser dada sem ampla e completa análise. A questão é legítima, mas não deveria ser a mais importante. Perguntaria antes se a embalagem escolhida cumpre o seu mais importante papel: Protege o produto? • Está bem dimensionada? • Comunica para que serve o produto? • É higiênica e segura para o transporte e o manuseio? • Está rotulada corretamente (inclusive do ponto de vista ambiental)? • Orienta o descarte de maneira adequada? Há que se integrar ao desenvolvimento da embalagem (desde o momento em que definimos o produto) a questão da sustentabilidade. Prevenindo ou minimizando os impactos já na concepção. A embalagem sustenta nosso estilo e padrão de vida. Como poderíamos manter nossos hábitos sem ela? Se considerarmos a dimensão social, a embalagem é uma ferramenta importante para a redução de desperdícios. Por meio das embalagens, podemos viabilizar a distribuição de produtos a todas as camadas sociais, ganhando escala econômica. Podemos preservar qualquer produto. Até para catástrofes há embalagens especiais, como a de água e a de alimentos secos. A embalagem tem um valor muito maior do que o preço que custa e a proteção que promove. O valor do produto deve ser mais importante do que o valor investido na sua proteção. 48 questão de educação e esclarecimento Precisamos começar a empreender uma campanha, que deveria começar pelas próprias embalagens, esclarecendo que elas representam um grande bem e não um “mal necessário”. Com o cuidado de evitar o “GreenWashing”, selos ou ícones falsos que passam a ideia de um produto sério e, na verdade, apenas contribuem para desmoralizar as informações corretas. Devemos seguir a autodeclaração para a rotulagem ambiental (ISO 14021) adequada. Uma tarefa simples que demonstra a seriedade com que a empresa opta por suas embalagens e como comunica isso aos seus consumidores. Política Nacional dos Resíduos Sólidos A recente Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS) será uma grande oportunidade de mostrar o valor das embalagens. Elas podem e devem deixar de ser vistas como problema para se tornar parte da solução. Imagine quantas empresas e empregos serão criados. Quantas pessoas, hoje marginalizadas, passarão a ter sua atividade reconhecida e entrarão para a formalidade? A solução não será única. Não há uma única regra a ser seguida, nem sempre o melhor é a reciclagem mecânica ou a energética ou a biodegradação. Para cada caso, num determinado momento e local (região do País), haverá uma saída melhor. Existe a necessidade de uma ava- liação completa de análise de ciclo de vida que é sempre temporal e local. Claro que se a embalagem que nos sustenta puder também ser sustentável, tanto melhor. E pode. É mais simples do que parece. Precisamos investir no desenvolvimento correto da embalagem e pensar na sustentabilidade desde a concepção. Isso até estimula a inovação. Eis um belo desafio! Se quiser saber mais, consulte nosso livro Embalagens: Design, Materiais, Processos e Máquinas. Lá há roteiros sobre embalagens sustentáveis, além de conhecimento sobre os materiais, os processos, o ecodesign e as máquinas. Devemos nos unir, aliás, como na proposta de lei: temos responsabilidade compartilhada! Fabricantes de embalagens, de produtos, empresas, governos, comunidades e cidadãos. Todos somos responsáveis pela questão dos resíduos sólidos. Assim, todos devem contribuir, com a produção e o uso eficiente de recursos naturais, o que gera a diminuição do desperdício e a otimização da relação custo-benefício dos produtos e serviços. Ecologia rima com economia. Aqueles que primeiramente assumirem isso e praticarem serão os líderes do movimento e poderão conduzir a solução para o gerenciamento ambiental responsável. Qual é a melhor saída para os supermercados? Muito tem se falado sobre a questão da sacola de saída dos supermercados e das lojas. Algumas pessoas até legislam sobre o assunto, porém, 49 Precisamos usar a embalagem como instrumento de educação da população. Enfim, torná-la aliada, não vilã. Ela faz parte das nossas vidas e está inserida na questão da sustentabilidade. 50 infelizmente, sem ter todas as informações ou conhecer a situação real: do supermercado, da comunidade, da cidade, enfim, de todo o contexto. Saiba que há alternativas possíveis para vencermos a batalha da sacola de saída de supermercados e lojas. Ela não é a culpada pela geração do lixo urbano! Essa é uma questão de educação ambiental e orientação para o descarte responsável! Diante desse dilema, resolvemos abrir o nosso acervo de embalagens e apresentar soluções vistas na prática em outros países. A primeira informação relevante é que, na maioria dos países europeus, a sacola é cobrada. Como têm preço e custo, as pessoas entendem que têm valor e, assim, há considerável redução no consumo. Em Portugal, um grupo de supermercados se uniu por meio da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (Aped) e desenvolveu o “Saco Verde”. Quando este está danificado, pode ser trocado em qualquer um dos supermercados conveniados por outra sacola nova. A proposta tem uma imagem bem educativa, promovendo os três Rs: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Alguns supermercados têm adotado as sacolas de material plástico renovável, biodegradável e até mesmo compostável, que, além de funcionar como sacolas, podem se transformar em sacos de lixo. O problema é que são menos resistentes. O que constatamos é que, em todos os casos, no mínimo, as sacolas trazem claramente a informa- ção do material utilizado, conforme a norma ISO 14000 preconiza, e apresentam mensagens educativas. Há diversas alternativas em uso em vários países, incluindo o Brasil, mas vale refletir sobre alguns pontos comuns em quase todas elas: 1. Normalmente, o que é dado não reflete valor, então cobrar pelas sacolas, em alguma medida iria valorizar e gerar redução de consumo ou o consumo consciente. 2. Identificação do material utilizado conforme norma é fundamental e não custa nada. 3. Promover “educação ambiental” com mensagens educativas também não custa, vale muito e poderia contribuir para melhorar a situação. 4. Usar material reciclado pós-consumo, sejam embalagens costuradas ou recicladas, papéis ou plásticos, promoveria toda a cadeia de reciclagem e faria a roda da fortuna girar. 5. Criar campanhas de troca de sacolas usadas por novas pode ser uma saída interessante que promoveria a valorização, a reciclagem, o consumo responsável e a educação. Além disso, reduziríamos muitas sacolinhas soltas no meio ambiente. Qualquer uma dessas alternativas, isoladamente, ajudaria um pouco. Agrupadas, poderiam gerar melhoria significativa para o meio ambiente, para a imagem do setor e para a solução do impasse. Compartilhe e pratique a nossa crença: Embalagem Melhor. Mundo Melhor. Pessoas podem envelhecer na vida, mas projetos sociais não podem envelhecer na gaveta. 55 61 3335-0953 [email protected] www.institutoprojectus.com.br O Instituto Projectus é uma instituição especializada em potencializar a atuação do poder público, ONGs e empresas em iniciativas sociais, ajudando a construir projetos sustentáveis. O Instituto Projectus desenvolve o planejamento, o monitoramento e a avaliação de programas e políticas na área social, por meio de consultorias, assessorias, publicações, pesquisas e formação de gestores e técnicos. Tudo isso para que o projeto de sua gestão possa acontecer e ganhar visibilidade. Instituto Projectus. Qualificando com você a gestão de projetos sociais e políticas públicas. Estratégias de Gestão • Capacitação • Estratégias de Comunicação • Publicações • Projetos e SICONV Organização e Produção de Encontros • Construção de Sistemas de Gestão e de Indicadores • Pesquisas