B2 Economia %HermesFileInfo:B-2:20151026: O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2015 Editado por: PANORÂMICA Cátia Luz [email protected] Colaboraram: Fernando Scheller, Marina Gazzoni e Mônica Scaramuzzo AEROPORTOS Aché busca parceiro internacional A lhões em 2014, o grupo planeja reduzir ainda mais sua exposição a medicamentos genéricos e quer avançar em dermocosméticos, que tem uma margem de lucro maior que os medicamentos tradicionais. A empresa exporta para 12 países, sobretudo na América Latina e países africanos que falam língua portuguesa. O grupo tinha planos de abrir seu capital na Bolsa de Valores, mas a ideia foi deixada de lado por conta do cenário nada animador para o mercado de capitais por conta da crise econômica pela qual o País tem passado. sante é fazer parcerias para o desenvolvimento de medicamentos com empresas estrangeiras”, afirmou. A associação entre gigantes globais farmacêuticas para desenvolvimento de medicamentos é uma tendência global e o laboratório Aché não quer ficar de fora. A expectativa é de que o Aché coloque no mercado cerca de 25 novos medicamentos nos próximos meses, afirmou Nigro. Entre os lançamentos estão produtos neurológicos, saúde masculina e dermocosméticos (tratamento de pele). Com receita líquida de R$ 2,1bi- farmacêutica nacional Aché, controlada pelas famílias Dellape Baptista, Siaulys e Depieri, planeja fechar parcerias com empresas internacionais para desenvolvimento de medicamentos, afirmou ao Estado Paulo Nigro, presidente do grupo, ex-Tetrapak, que está no comando da farmacêutica há um ano. O laboratório, que já foi alvo de assédio de grandes farmacêuticas globais no passado e até de grupos nacionais para uma possível associação, não planeja fazer sua expansão fora do País. “O mais interes- O MAPA DA BOLSA ● As ações que mais subiram e as que mais caíram na semana entre 16 a 23 de outubro Melhores 7,5% 0% Locamérica ON NA SEMANA EM UM MÊS 15,67% EM UM MÊS IMÓVEIS 31,67% Coelho da Fonseca encerra todas as filiais fora de SP Gafisa ON EM UM MÊS 8,84% A Coelho da Fonseca, imobiliária voltada ao mercado de alto padrão, desistiu da expansão para outras regiões do País. A empresa decidiu encerrar todas suas filiais fora do Estado de São Paulo, desfazendo-se de aquisições feitas durante o “boom” imobiliário que o Brasil viveu nos últimos cinco anos. A empresa chegou a ter presença própria em mercados como Rio de Janeiro, Salvador, Brasília e Ribeirão Preto (interior de São Paulo). Ao decidir focar todos os seus esforços na capital paulista, a Coelho da Fonseca não tirou totalmente sua marca de outros mercados. Em Fortaleza e em Ribeirão Preto, a companhia permitiu que parceiros continuem a fazer uso de sua marca. A partir de São Paulo, a empresa também tem uma operação para vender imóveis de luxo no exterior. Os principais mercados procurados pelos ricos brasileiros são Miami, Nova York e Paris. Santos Brasil Unit ll 6% 21,84% 5% 22, ,0 -37 ,5% % 11 Ser Educacional ON EM UM MÊS 10 ,19 16,89% 54 21, % 75 1, %2 5% Eternit ON EM UM MÊS 8,9 16,29% 30% Comgás PNA EM UM MÊS -4,84% -8, 43 % -7,8 4% -30% ,5% % -22 % Magazine Luiza ON 37,5 EM UM MÊS % -22,11% Copasa ON EM UM MÊS -1 % EM UM MÊS 45 5% -9, 87 % -9, 49 75 , -18 7,36% NA SEMANA % EM UM MÊS -36,89% 0% FONTE: ECONOMATICA Crise US$ 312 milhões Oi PN -7,5 Piores O governo está avaliando reduzir a participação da Infraero nas próximas concessões de aeroportos, de acordo com o secretário de Política Regulatória da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Rogério Coimbra. “Isso está em discussão. Vários pontos vão ser avaliados, inclusive a questão fiscal (do governo)”, afirmou. A previsão inicial da SAC é realizar o leilão dos aeroportos de Salvador, Florianópolis, Fortaleza e Porto Alegre em maio de 2016. Se mantiver a participação de 49% nos aeroportos privatizados, como ocorreu nos aeroportos já leiloados (Guarulhos, Viracopos, Brasília, Galeão e Confins), a Infraero terá que entrar com valor equivalente do capital social da empresa. “Isso demanda um investimento inicial por parte do governo, com perspectiva de dividendos no longo prazo”, disse Coimbra. Mas hoje, em tempos de ajuste fiscal, a disponibilidade de recursos é mais limitada. % 15 5% -4 Prumo ON Infraero poderá ter fatia menor em novas concessões Empresas com volume diário de negociação superior a R$ 1 milhão e presentes em 80% dos pregões na semana foi o ganho dos bancos de investimento no Brasil com comissões no ano, segundo a consultoria Dealogic. É o pior resultado em mais de uma década. Primeira pessoa Leila Piani, gerente de operações da Herman Miller do Brasil ‘É mais interessante produzir no Brasil do que importar’ Presente há 50 anos no Brasil, a fabricante de cadeiras para escritório Herman Miller iniciou este mês a montagem de duas linhas no País. A companhia sempre abasteceu o mercado brasileiro com importações, mas sentiu sua competitividade cair com a forte desvalorização do real em relação ao dólar. Os produtos serão montados no centro de distribuição da empresa, localizado em Diadema, na Grande São Paulo. Leia a seguir trechos da entrevista com a gerente de operações da Herman Miller Brasil, Leila Piani. l Por que a empresa vai montar cadeiras no Brasil? A Herman Miller já tinha no seu planejamento estratégico a intenção de reforçar sua presença no Brasil. Com a alta do dólar, de fato, ficou financeiramente mais interessante para a companhia ampliar a produção local. Mas, mais importante do que isso, é que ganhamos agilidade. Com a importação, levamos 80 a 90 dias para trazer um produto para o País. As novas linhas de montagem já reduziram esse prazo para 30 dias. A nossa meta é atender o cliente brasileiro em dez dias. Sem um prazo competitivo, perdemos vendas. l As linhas produzidas hoje localmente representam quanto do total? Vamos montar duas linhas no Brasil, das cadeiras Sayl e Setu. Elas representam cerca de metade das vendas no País. Vamos produzir por um custo menor do que importávamos e o preço deve cair. Além de montar no Brasil, queremos nacionalizar algumas peças. l Muitas empresas desistiram de investir no Brasil em meio à crise. Por que a Herman Miller seguiu adiante? É lógico que nosso mercado sentiu uma queda da demanda em meio à crise. Mas o nosso interesse no Brasil é de longo prazo e queremos estar bem posicionados quando o mercado reagir. INFOGRÁFICO/ESTADÃO “Sem arroubos expansionistas, me preparo para a retomada do crescimento.” Abilio Diniz, empresário e presidente da administração da BRF e dono da Península, falando que prevê retomada como na crise de 2008 Opinião É preciso insistir ] l LUÍS EDUARDO ASSIS “D esista: não vai dar certo. Desista,enquantoétempo. As mãos não sabem o que pegam, os pés vão aonde não sabem. O mundo é sempre a esmo, desejo é uma porta aberta. Desista, que a vida é incerta. Ou insista. Dá no mesmo.” Os versos de Paulo Henriques Britto, uma ode ao pessimismo, retratam bem o beco sem saída em que a presidente Dilma Rousseff encalacrou a economia brasileira.Apopulaçãoassisteatônita à degeneração do nível de atividade, do emprego e da renda. Para cima, só a inflação, a taxa de câmbio e o desalento. Tudo sugere que chegamos a um ponto em que as soluções fáceis, que apenas empurram os problemas para a frente, não estão mais disponíveis. Nos últimos anos, o Brasil tem buscado um lenitivo para o crescimento dos gastos públicos no aumento da dívida e na elevação da carga tributária. Entre os anos 2000 e 2014, a despesa do governo central cresceu, em termos reais, 145%, passando de R$ 460,6 bilhões para R$ 1,13 trilhão. As despesas comjurostambémaceleraram.Nestemesmoperíodo, subiram89%aci- ma da inflação, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) registrou crescimento real pouco maior que 50%. Comoacomodarumcrescimentodasdespesas públicas acima do aumento do PIB? O aumento da carga tributária foi uma saída. As receitas do Tesouro Nacional neste mesmo período subiram 105% em termos reais, enquanto as receitasda Previdênciaaumentaramainda mais: 161%. Outra alternativa foi o aumento do endividamento. A dívida líquida interna do Tesouro aumentou 310% acima da inflação entre 2000 e 2014, superando R$ 1 trilhão no final do ano passado. Dá para aumentar ainda mais a dívida? Dá, mas não no ritmo em que ela vem crescendo. Há quem pense que a dívida não possa subir mais porque os investidores, em algum momento, não afinanciariam.Nãoébemporaí.Aquasetotalidade dadívida é financiada por investidores locais, que não têm melhores alternativas para alocar seus recursos. Mesmo se, num caso extremo, houvessefuga de capital,a porta é muito estreita e a taxa de câmbio flutuante inibiriaaevasão.Adívidanãopodecontinuar a subir nesse ritmo porque isso deteriora a capacidade financeira do setor público, levando a rebaixamentossucessivos nas avaliaçõesdas agências de risco, o que tende a elevar os juros que incidem sobre os títulos. Chega uma hora em que a conta não fecha. O aumento da carga tributária também parece ter chegado a um limite. A discussão sobre o retorno da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) provocou tamanho rechaço por parte da sociedade que fica difícil de imaginar que essa alternativa possa ser utilizada com a largueza de outros tempos. Claro que o Congresso Nacional pode aprovar nova rodada de aumento de impostos num contexto de nova correlação de forças políticas (sem a presidente Dilma), mas essa alternativa está esgotada como solução duradoura. Clareza. Limitadas as saídas fáceis, seja pelo aumento da dívida, seja pela Crescimento sustentado, de verdade, só será viável quando a sociedade brasileira for capaz de redefinir o papel do Estado elevaçãodos impostos, o problema fiscal pode ser visto com maior clareza. A sociedade brasileira optou, já há muitosanos, porum Estado redistribuidor derecursos–maisatédoqueumprovedor de serviços. O erário coleta recursos e os injeta de novo na sociedade. Um equívoco encontradiço é acreditar que estes recursos não retornam, como se houvesse um incinerador de moedaem Brasília. Nãosó eles voltam, como a existência de um déficit nomi- nal significa, por definição, que o setor público coloca na economia mais dinheirodo quedela retira – daí orombo. Outra falácia é imaginar que o cerne do problema está na ineficiência do gasto. Claro que a incompetência grassa. Parafraseando Milton Friedman, se o Palácio do Planalto administrasse o Deserto do Saara, em cinco anos faltaria areia. Mas nem uma eficiência alpina nos tiraria do atoleiro estrutural derivado do fato de que os gastos públicos tendem a crescer mais do que o produto. Porfim, é bomtambémrefreara tentaçãodeatribuirnossasmazelasexclusivamente ao desvio criminoso de dinheiro público. Até as galinhas sabem que no Brasil campeia a corrupção, mas isso não basta para explicar por que o dinheiro acabou. É isso e muito mais: construímos um Estado franqueado a pressões corporativistas que estão organizadas para atacá-lo nos momentos de fraqueza, como agora, para aumentar seu quinhão no butim. Os grupos organizados pensam primordialmente em como convencer seusrepresentantespolíticosaaumentarem subsídios, direitos, privilégios e sinecuras em detrimento de um Estadoregulador,forte,maspequeno,dedicado a promover a concorrência e a produtividade, sob o primado da lei. O próximo governo – que não tardará – não terá grande dificuldade em retirar o País da recessão. O ajuste de preços relativos já foi feito, as contas penduradas da lambança fiscal de 2014 estão sendo pagas, os juros estão exageradamente altos, o saldo comercial acelera fortemente e a inadimplência será acomodada por renegociações de dívida. Parar de andar para trás não é tão complicado. Andar para a frente, no entanto,e tertaxas de crescimentodecentes exigirá uma ampla discussão de um novo pacto social capaz de moldar um Estado competente para promover o progresso e criar riquezas novas – o que exige trabalho e sacrifício –, e não apenas realocar o pouco que temos. Do governo atual nada se deve esperar. É praticamente impossível que nas atuais condições políticas possamos equacionar os problemas econômicos e ter algum crescimento. O ministro Joaquim Levy deixará o cargo com um PIB menor do que no dia de sua posse. Um novo governopoderá tirar o Paísda recessão. Mas crescimento sustentado, de verdade, só será viável quando a sociedade brasileira for capaz de redefinir o papel do Estado. É preciso insistir. Não dá no mesmo. ] ECONOMISTA, FOI DIRETOR DE POLÍTICA MONETÁRIA DO BANCO CENTRAL DO BRASIL E PROFESSOR DA PUC-SP E DA FGV-SP E-MAIL: [email protected]