ANÁLISE GEOGRÁFICA DA RELAÇÃO SOCIEDADE/NATUREZA BIANCHI, Aline Barrim Universidade Federal de Santa Maria – UFSM Centro de Ciências Naturais e Exatas – CCNE Curso de Geografia Licenciatura email: [email protected] Orientador: Bernardo Saião Pena e Souza Prof. Dr. Depto de Geociências – UFSM Resumo A história da evolução da humanidade demonstra que as relações que as sociedades vêm mantendo com a natureza estão carregadas de concepções específicas a cada período e que a definição de natureza vem sofrendo mudanças de paradigmas. No entanto, ainda carregamos uma herança dessas concepções, ainda que estejamos assistindo a uma ampliação de movimentos ambientalistas que tentam dar conta de problemas ecológicos. O trabalho teve por objetivo fazer uma análise da relação que as sociedades vêm mantendo com a natureza ao longo do tempo. Como meio metodológico foram analisados textos a respeito do assunto de diferentes autores e diferentes paradigmas a respeito da questão ambiental bem como as possíveis soluções aos problemas ecológicos discutidos ao longo da história da Humanidade e pela comunidade Científica. A maioria deles discute problemas específicos relacionados ao meio ambiente, mas também tentam analisar novas concepções que possibilitem uma relação harmoniosa entre o homem e o ambiente natural. Palavra chave: sociedade, natureza, ecologia, meio ambiente. 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo estudar a relação das sociedades com a natureza e as contribuições geográficas relevantes para o presente estudo. O estudo da geografia se baseia na necessidade que o homem tem de ocupar e trabalhar o espaço, espaço esse, que consideramos socialmente construído. Desde os tempos mais remotos que o homem necessita de espaço para abrigo, energia/alimentação e reprodução. Durante a evolução, as relações sociais perante essas necessidades foram se intensificando e dando origem às sociedades. Metodologicamente, o trabalho pretende analisar os diferentes paradigmas a respeito da questão ambiental e como influenciam ainda hoje no pensamento da sociedade Contemporânea. 2 RELAÇÃO SOCIEDADE/NATUREZA Do ponto de vista ecológico o homem faz parte dos ecossistemas como um animal, no entanto, existem algumas particularidades que os distingue dos outros animais e que nos levou a uma evolução social e complexidade como: a evolução de uma consciência, a capacidade de construção sintética, ou seja, a transformação de materiais da natureza, a intensidade das ações em escala crescente o tempo inteiro, o fato de ser o maior predador do planeta e a manipulação genética que era feita antigamente por observação visual e purificação da raça. A análise geográfica atualmente está fundamentada no espaço ocupado por coisas concretas em que fazemos uma leitura a partir de imagens que temos de coisas construídas e de símbolos, é a obra do homem construindo cidades e que nos da um espaço diferenciado: espaço público, centros de consumo, lugar de lutas sociais, lugar das funções urbanas, uso diferenciado do solo urbano, centro de inovações, lugar das justiças e injustiças sociais, expressão concreta de processos sociais na forma de um ambiente construído sobre o espaço geográfico (HARVEY,1980), lugar por excelência da acumulação do capital e da reprodução da força de trabalho. O homem, em sua capacidade de transformação dos materiais da natureza, passa de coletor caçador a produtos, estabelecendo laços de sedentarismo com o meio ambiente em que vive ou escolhe para viver e desenvolve relações complexas de sociedade e de trabalho. A economia no mundo intensificou o processo de industrialização nas últimas décadas, onde antes sua base era agrária, com isso, houve crescimento urbano, de infraestrutura, tecnologia e ciência. O processo levou a um rápido crescimento das cidades, gerando cidades com deficiência em planejamento urbano e concentração populacional excessiva, gerando problemas como resíduos industriais e residências, desde sólidos, líquidos e gasosos, esgotamento de recursos, desmatamento para agropecuária, risco de agrotóxicos e transgênicos, ameaça a biodiversidade, caos no sistema de transporte urbano, fome, miséria e desigualdade social e econômica. No entanto, com o surgimento dos processos industriais, foi visto como gerador de desenvolvimento, empregos, conhecimento e maior expectativa de vida. O homem se afastou do meio natural, como se não fizesse mais parte dele e como se o desenvolvimento tecnológico e científico solucionasse todos os problemas das sociedades. Com todo esse processo industrial e tecnológico, a humanidade vem contaminando o próprio ar que respira, a água que bebe, o solo que provém os alimentos, os rios e florestas. Assim é que a Ecologia se instala em um momento em que a pressão sobre o meio ambiente nos faz pensar que a ciência não pode mais ser feita puramente pela ciência, mas pensar os riscos da própria sobrevivência dos seres humanos. Com tudo isso é que assistimos o conflito político entre proteção ambiental e lucros. Teoricamente, a economia trata do gerenciamento dos recursos naturais disponíveis em benefício da humanidade, na prática, o atual sistema econômico trabalha para maximizar os benefícios/lucros. Ecologia, desenvolvimento sustentável vem sendo pensado mais recentemente em momento que fazemos uma reflexão sobre a ideia de recursos finitos e sobre o poder da tecnologia e ciência em resolver os problemas do mundo atual. No entanto, a forma como resolvemos os problemas da atualidade é fruto da herança clássica (PONTING, 1995). Um dos aspectos fundamentais, existentes em todas as tradições, é o relacionamento entre os seres humanos e o resto da natureza. Os seres humanos seriam parte integral da natureza, ou estão completamente separados dela, sendo, de alguma forma, superiores? A resposta a essa pergunta é crucial para determinar como os diferentes pensadores e religiões decidiram quais as ações humanas que podem ser vistas como legítimas ou moralmente justificáveis. (PONTING, 1995, p.127.) Quando falamos em ecologia parece que estamos tratando da natureza intocada, separada dos homens, ou seja, das plantas e dos outros animais, mas nos esquecemos que o homem não pode ser dissociado do espaço pois tratamos de um espaço socialmente construído. Além disso, essa forma de pensamento remete à ideia de superioridade humana em relação a natureza, de dominação e na crença em que a tecnologia e a ciência resolvem todos os problemas. Mas desde então assistimos a uma progressiva perda de sentido da vida nos países do Norte e uma progressiva degradação da vida nos países do Sul como o tráfico de drogas, o Estado paralelo, a militarização, a um poder judiciário e policial doente, a exportação de poluição/indústrias, o que torna os países pobres em países “em desenvolvimento”. Trata-se de considerar o problema ecológico não só a partir do viés ambiental, mas social também. (VIOLA e LEIS,1989). Hoje os dramas se apresentam em senários nacionais, mas os autênticos dramas, seus protagonistas, suas soluções, são globais. Diz o informe Brundtland que o desenvolvimento auto sustentado e o bem estar da humanidade dependem do êxito em alcançar uma ética global. Acrescentamos que esta ética deve estar imbuída de valores ecológicos e espirituais; sem uma reforma moral, que propicie um desenvolvimento interior da pessoa, não será possível um desenvolvimento social de longa duração. (VIOLA e LEIS, 1989, p. 158) 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Procuramos a solução desses problemas ecológicos na tecnologia, na crença que o desenvolvimento por si só soluciona todos os problemas. Considera-se que um retrocesso tecnológico e científico é inviável como solução para os problemas sociais e ecológicos. Rousseau (1978) descreve os seres humanos no estado puro da natureza, não corrompida pela civilização; já Hobbes (1997), descreve o ser humano em estado puro da natureza em constante estado de guerra. Mas Rousseau (1978), argumenta que para os seres humanos estarem em estado de guerra, precisam ter processos de pensamento complexos que envolve noção de propriedade, de cálculos sobre o futuro e habilidades de linguagem. Essas faculdades, segundo Rousseau (1978), não são naturais, mas sim, desenvolvidas historicamente. Tanto Rousseau (1978) como Hobbes (1997) atacam a noção clássica de seres humanos como naturalmente sociais, principalmente a visão clássica de Aristóteles (apud. ROUSSEAU, 1978, p. 79), que afirma que o estado da sociedade civil é o estado natural do ser humano. Ambos partem do princípio do estado puro da natureza para o homem e tentam explicar os eventos históricos que mudaram os seres humanos para o estado de sociedade civil atual. Se para Rousseau (1978), as consequências da sociedade civil atual foram o conhecimento e temor da morte, doenças e uma sociedade miserável; para Hobbes(1997), a presença do Estado em todo o território trata de assegurar a manutenção do “contrato social” pois a consequência do „estado natural” é a ameaça da manutenção da humanidade, que leva os homens a pactuarem entre si e de transferirem o direito de autodefesa presente no estado natural para o Estado e este deve garantir a efetividade do contrato (HOBBES, 1997). O contrato justifica a violência física legítima controlada pelos dirigentes, ou seja pelo Estado. Trata-se aqui de justificar porque a população permite que homens comuns circulem armados no espaço, ou seja, permitem a presença da polícia. Segundo Foucault: A polícia,..., é o que permite ao Estado aumentar seu poder e exercer sua potência em toda sua amplidão. Por outro lado, a polícia deve manter as pessoas felizes – a felicidade sendo compreendida como uma sobrevida, a vida e uma vida melhorada (FOUCAULT, 2006, p. 383). 4 CONCLUSÕES Se, como solução para os problemas ecológicos e sociais da atualidade, não podemos retroceder a um estado “puro de natureza”, ou seja, retroceder a revolução técnico-científica, vivenciamos alguns avanços, mesmo que pontuais, que tentam responder e apontar algumas soluções. Outro avanço significativo é o de que a humanidade começa a rever a crença em sua superioridade e entender que nem tudo pode ser resolvido através de tecnologia apenas, mas que, a ética, a relação correta com a natureza também deve estar presente. Para que o termo sustentabilidade seja empregado em seu correto significado, é necessário a consciência de que não se trata apenas de sustentabilidade do meio ambiente, mas de sustentabilidade social, cultural, econômica, política, uma correta distribuição territorial e equilibrada de assentamentos humanos e atividades, sustentabilidade do sistema internacional visando a paz, ao invés de guerras modernas que são genocidas e “ecocidas”, ou seja, um desenvolvimento sustentável fundamentado em um desenvolvimento negociado (SACHS, 2002, p.72). REFERÊNCIAS FOUCAULT, Michel. Org. MOTTA, Manoel B., Tradução: RIBEIRO, Vera Lúcia. 2ª ed. Estratégia Poder Saber. Coleção Ditos e Escritos IV. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006. HARVEY, David. A Justiça Social e a Cidade. São Paulo: Hucitec, 1980. HOBBES, Thomas. Tradução: MONTEIRO, João Paulo; SILVA, Maria Beatriz. Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil. Editora Nova Cultural, São Paulo, 1997. PONTING, Clive. Uma história verde de mundo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social; Ensaio Sobre a Origem das Línguas; Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens; Discurso sobre as Ciências e as Artes. 2ª edição. Coleção Os pensadores, São Paulo, Abril Cultura, 1978. SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2002. VIOLA, Eduardo J.; LEIS, Hector R. Desordem Global da Biosfera e Nova Ordem Internacional: o Papel Organizador do Ecologismo. Revista Sintesis, nº 09 Colombia, 1989.