MANIPULAÇÃO E CÁLCULO DE NUTRIÇÃO PARENTERAL Dirce Akamine Curso de Especialização de Nutrição em Pediatria. ICR, 05.07.2010 OBJETIVOS • • • • Definições Manipulação de NP Processo asséptico Cálculos NUTRIÇÃO PARENTERAL Solução ou emulsão, composta basicamente de carboidratos, aminoácidos, lipídios, vitaminas e minerais, estéril e apirogênica, acondicionada em recipiente de vidro ou plástico, destinada à administração intravenosa em pacientes desnutridos ou não, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas. Solução = sem lipídio Emulsão = com lipídio (formação de micelas) Estéril = sem microrganismos Apirogênica = sem pirogênios (endotoxinas: substâncias produzidas pelos microganismos que provocam febre) Portaria n° 272/MS/SNVS, de 8 de abril de 1998 PRODUTOS ESTÉREIS • Produto estéril: aquele utilizado para aplicação parenteral ou ocular, contido em recipiente apropriado. • Injetável: preparação para uso parenteral, estéril e apirogênica, destinada a ser injetada no corpo humano. RDC nº.214, de 12 de dezembro de 2006 ESTERILIZAÇÃO TERMINAL Matéria prima + Emba lagens Processo de esterilização PRODUTO FINAL ESTÉRIL + Exci‐ pientes Tom Burkett, Ph.D. [email protected] Processo de Esterilização deve ser compatível com todos os componentes PROCESSO ASSÉPTICO MATÉRIA PRIMA Processo de Esterilização EMBALAGENS Processo de Esterilização Materias primas estéreis Embalagens estéreis Processo Asséptico CARPULE Processo de Esterilização Carpules estéreis EXCIPIENTES Processo de Esterilização Excipientes estéreis Tom Burkett, Ph.D. [email protected] PRODUTO FINAL ESTÉRIL NUTRIÇÃO PARENTERAL • • • • • • Aminoácidos Glicose Emulsão lipídica Eletrólitos Oligoelementos Vitaminas Processo Asséptico NUTRIÇÃO PARENTERAL QUATRO PILARES DE PROCESSO ASSÉPTICO ROBUSTO • Treinamento de pessoas e monitoramento • Monitoramento ambiental • Projeto adequado e HVAC (Heating, Ventilating and Air Conditioning) validado • Simulação do processo TREINAMENTO DE PESSOAS E MONITORAMENTO • Conhecer as fontes potenciaias de contaminação – Pessoas – Instalações – Equipamentos – Fluidos – Produtos PESSOAS HIGIENE PESSOAL ELIMINAR AS FONTES DE CONTAMINAÇÃO SALA LIMPA Sala na qual a concentração de partículas em suspensão no ar, é controlada; é construída e utilizada de maneira a minimizar a introdução, geração e retenção de partículas dentro da sala, na qual outros parâmetros relevantes, como, por exemplo, temperatura, umidade e pressão, são controlados conforme necessário ABNT NBR ISO 14644-1:2005 Filtro primário - G Filtro secundário - F Filtro HEPA - A REDUZIR O RISCO DE CONTAMINAÇÃO • Barreira • Técnica asséptica • Monitoramento ambiental CONTROLE DA ÁREA LIMPA CONFORMIDADE DO AR • ENSAIOS REALIZADOS: • Velocidade e uniformidade do fluxo de ar • Integridade dos filtros absolutos • Estanqueidade dos filtros absolutos • Contagem eletrônica de partículas • Contagem de microrganismos viáveis SBCC‐ RN‐005/97 NBR ISO 14 644‐1 ENSAIO DE VELOCIDADE DO AR ENSAIO DE VAZÃO Instrumento que mede a media volumétrica de vazão. UNIFORMIDADE ESTANQUEIDADE E INTEGRIDADE DOS FILTROS HEPA CONTAGEM ELETRÔNICA DE PARTÍCULAS CONFORMIDADE DO AR • Monitoramento eletrônico de partículas de ar de 0,5 e 5 m SBCC‐ RN‐005/97 NBR ISO 14 644‐1 CONFORMIDADE DO AR • Monitoramento contínuo de diferencial de pressão entre salas, de temperatura e umidade relativa • Visual e com alarme CONTAGEM DE MICRORGANISMOS VIÁVEIS ANÁLISE MICROBIOLÓGICA Esterilidade das soluções é comprovada por testes laboratoriais que garantem a validade do processo asséptico. Realizada em isolador. Detecção da contaminação: difícil – baixa sensibilidade dos métodos disponíveis Safe Practice for Parenteral Nutrition, ASPEN Board od Directors, 2004.JPEN,2004, v.28(6). U.S. Pharmacopeia National Formulary (USP 30 NF 25) , The Official Compendia of Standards; (volume 1), 2007; Chapters <797> Pharmaceutical Compounding. PORQUE CONTROLAR A CONTAMINAÇÃO DURANTE A PREPARAÇÃO? • O produto pode se contaminar por: • Procedimento ineficaz de limpeza • Conduta pessoal • Minimizar o risco: • Definir a zona do produto • Limitar interferência pessoal • Controle do parâmetro ambiental (pressão diferencial da sala, alterações do ar) •ABNT NBR ISO 14644-4; Moia, E. Revista da SBCC, 2001 CONTROLE MICROBIOLÓGICO • • • • Controle de áreas limpas Controle na preparação Controle do produto acabado Controle durante a administração NUTRIÇÃO PARENTERAL PADRONIZAÇÃO DO PROCESSO DE NUTRIÇÃO PARENTERAL DECLARAÇÃO DA ASPEN NUTRIÇÃO PARENTERAL ‐ 2007 Padronização do Processo de Manipulação de Nutrição Parenteral Redução de Riscos PADRONIZAÇÃO DA NUTRIÇÃO PARENTERAL Termo mal interpretado... PADRONIZAÇÃO DA NUTRIÇÃO PARENTERAL Termo mal interpretado... Padronização do Processo ≠ Etapas definidas Gerenciamento de riscos Controle Monitoração NP Padronizada PACIENTES NOS QUAIS A NP PADRONIZADA É DE DIFÍCIL USO • Indivíduos com risco de síndrome de realimentação, • Pacientes com comprometimento renal, hepático ou de outros órgãos, • Pacientes com intolerância à glicose, • Pacientes pediátricos e de neonatologia, • Adultos com composição corpórea anormal, • Pacientes com grandes perdas de fluido gastrointestinal, • Paciente Crítico, •Pacientes em NP domiciliar com perdas de fluido e eletrólitos. PADRONIZAÇÃO DO PROCESSO DE NUTRIÇÃO PARENTERAL Personalização da Terapia Nutricional FARMACOGENÉTICA TESTES GÊNICOS + MEDICAMENTOS NUTRIGENÔMICA FARMACONUTRIÇÃO: O PARADIGMA EMERGENTE Imunonutrição Juntos Glutamina Arginina AG 3 Antioxidantes Sem efeito Farmaconutrição Novas abordagens (Dose ótima) Antioxidante Arginina AG 3 Glutamina Heyland & Dhaliwal, Intensive Care Med (2005) 31: 501‐503; ESPEN 2006. (Canadá); Naomi Jones & Daren Heyland, 2008 PADRONIZAÇÃO DO PROCESSO DE NUTRIÇÃO PARENTERAL PRESCRICAO AVALIACAO ADMINISTRACAO Declaração da ASPEN – Nutrição Parenteral ‐ 2007 MANIPULACAO ROTULAGEM JOINT COMMISSION Segundo a Joint Commission, deve‐se limitar o número e as concentrações de fármacos utilizados por uma instituição. Essa recomendação pode ser aplicada para a NP, mas a necessidade do uso de vários componentes torna esta conduta mais complicada no contexto da NP comparada a soluções contendo um único fármaco. FÁRMACOS Poucos Fármacos Único Fármaco Única Concentração Pronto‐para‐uso (A.S.P.E.N.) NP Multicomponentes Complexa Avaliação de uso para cada tratamento PADRONIZAÇÃO DO PROCESSO DE NUTRIÇÃO PARENTERAL • Unidades de medidas: • g, mg, mcg, mmol, mEq,UI etc. • Formulários específicos de prescrição • Prescrição por sistema eletrônico • Controles em cada etapa do processo SISTEMAS DA NUTRIÇÃO PARENTERAL Sistemas 2-em-1: compostos por aminoácidos, glicose e micronutrientes Sistemas 3-em-1: compostos por aminoácidos, glicose, lipídios e micronutrientes Sistemas com vitaminas: a NP pode ter aparência amarelada VIAS DE ACESSO Determinante da escolha: Osmolaridade Tolerância das veias periféricas a infusão Se osmolaridade excessiva: flebite ou ressecamento da veia Via Central <= > 900mOsm/L Via Periférica < 900mOsm/L A escolha da via de acesso depende, principalmente: • Osmolaridade da NP - número de partículas osmoticamente ativas de soluto contidas em 1,0L de solução (mOsm/L). • Concentração de nutrientes – NP como única fonte de nutrição. • Tempo de uso de NP – Curta ou longa duração Soluções hiper-osmolares (mais de 900 mOsm/L) devem ser infundidas via de acesso central Safe Practices for Parenteral Nutrition. JPEN 28(6) Suppl. Nov-Dec, S39-S70, 2004 CÁLCULO DA OSMOLARIDADE • Qual a osmolaridade de uma solução de glicose a 5%? Peso molecular da glicose = 180 C6H12O6 CÁLCULO Glicose 5% ‐ 5g/100mL Em 1L = 50g 50g= 50 000mg 50.000/180= 278 • Resposta 278 mOsm • • • • Glicose Monoidrata e Anidra Glicose anidra Glicose + H2O Glicose 1 molécula Peso Molecular Glicose monoidratada 180 198 1g de “Glicose” 1g =glicose + água 1g só de Glicose Densidade calórica Conc. a 50% 3,85 kcal/g 100mL=50g de glicose 3,4 kcal/g 100mL=45,5g de glicose 50g de glicose= 109,89mL LIPÍDEOS LIPÍDEOS Composição da EL Ácidos graxos livres Água Triacilgliceróis e Glicerol Fosfolipídios Representação esquemática Cabeça polar Cadeia carbônica apolar Formação de partículas Fase Aquosa Fase Oleosa ESTRUTURA DE ÁCIDOS GRAXOS INSATURADOS Dupla ligação Susceptível a ataque eletrofílico Quebra da linearidade da molécula Ácido Oléico cis 18:1 9 H H C C Primeira dupla a partir da metila terminal () 9 carbonos = 9 1 Carboxila (Polar) ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DA NPT FASES DE SEPARAÇÃO DAS EMULSÕES LIPÍDICAS Coalescência Creaming Neutralização de cargas Floculação Irreversível Dispersão ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DA NPT CAUSAS DA SEPARAÇÃO DE FASES DAS EMULSÕES LIPÍDICAS Neutralização de cargas por diminuição do pH Diluição do agente emulsificante H+ H+ H+ H+ H+ H+ H+ H+ EMULSÃO LIPÍDICA INSTÁVEL Neutralização de cargas por cátions divalentes (Ca2+ e Mg2+) EL x Ca2+ x Heparina Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ HEPARINA Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ EMULSÃO LIPÍDICA USO DE HEPARINA “Há controvérsias na segurança de sua adição à NPT, mesmo em baixas concentrações, como 0,2 UI/mL” Heparina não melhora a utilização intravenosa de lipídios e não deve ser administrada com a emulsão lipídica de forma rotineira, a menos que haja outra indicação. Guidelines on Paediatric Parenteral Nutrition of the European Society of Paediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition (ESPGHAN) and the European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN), Supported by the European Society of Paediatric Research (ESPR) Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition 41:S1–S4 _ November 2005 ESPGHAN.. ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DA NPT CÁLCIO E FOSFATO - INSTABILIDADE Precipitação Interação entre o cálcio e fosfato da solução formação de fosfatos de cálcio (insolúvel) Ca3(PO4)2 fosfato cálcico Imediato e CaHPO4 fosfato cálcico dibásico Mediado pelo tempo embolia pulmonar em RN Fontes de fósforo Fosfatos de Potássio Alto risco de formação de precipitados x Fósforo Orgânico Glicerofosfato de sódio Compatibilidade com Ca +2 Oferta adequada de Ca+2 e PO4-3 (RN) Diminui risco de embolia pulmonar Pereira‐da‐Silva L et al. Compatibility of calcium and phosphate in four parenteral nutrition solutions for preterm neonates. Am J Health‐Syst Pharm. 2003; 60:1041‐4. • Instabilidade: A soma da concentração de cálcio (mEq/L) e magnésio (mEq/L) é maior que o usual (16mEq/L). • Concentração final da emulsão lipídica menor do que 2% pode desestabilizar a emulsão lipídica pela diluição do fosfolipídio emulsificante. pH concentração luz material da embalagem tempo de armazenamento LIPOPEROXIDAÇÃO • Os ácidos graxos essenciais polinsaturados na presença de O2 podem ser peroxidados e degradados formando radicais livres, que pode resultar em estresse oxidativo e toxicidade. • Os oligoelementos, a exposição à luz e as altas temperaturas, aumentam significativamente o processo de lipoperoxidação COMO EVITAR? • • • • Utilizar protetores de bolsa Utilizar equipo fotoresistentes Utilizar bolsas impermeáveis a O2 Adicionando antioxidantes a bolsa como: • • • • α ‐ tocoferol ácido ascórbico β ‐caroteno acetilcisteína • Administração de sequestradores de O2 (alopurinol) • Armazenamento da bolsa protegida e sob refrigeração. CÁLCULOS • Calcule a concentração em mEq/mL de uma solução de NaCl a 20%. • PM sal = 58,4 PM sal = 58,4 • Cloreto de sódio a 20% • 20% = 20g em 100mL = 200g em 1000mL • mEq = (g/L) x valência x 1000/ PM • mEq = 200 x 1 x 1000/ 58,4 • mEq = 3424,66 (em 1L) • 1Eq=1000mEq • Acetato de sódio 2 mEq/mL correspondem a quantas g? • PM sal = 82,03. CH COONa 3 • mEq/L= (g/L) x valência x 1000 / PM • 2000= (g/L) x 1 x 1000 / 82,03 • g/L = 164,06 • PM em gramas (82,03g) ‐‐‐‐‐1 mol • 164,06 g ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐X=2 mol (em 1 L) = 2mmol/ mL • OU: • mEq = mmol x valência (mmol = 2 (mEq/mL) / 1 = 2 mmol/ mL) Fosfatos de Potássio 2mEq/L O insumo de origem é composto por dois sais de fosfato: • Gluconato de Cálcio 0,5mEq/mL (raciocínio: conversão de mEq para g e depois, para mol ou “direto”) • = 500mEq/L C12H22CaO14(CH2OH(CHOH)4COO)2Ca • PM sal = 430,38 • mEq/L= (g/L) x valência x 1000 / PM • 500= (g/L) x 2 x 1000 / 430,38 • g/L = 107,595 • PM em gramas (430,38g) ‐‐‐‐‐1 mol • 107,595 g ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐X= 0,25 mol (em 1 L) = 0,25 mmol/ mL • OU: • mEq = mmol x valência (mmol = 0,5 (mEq/mL) / 2 = 0,25 mmol/ mL) INCOMPATIBILIDADE • Relação Cálcio + Fósforo • Valor do Cálcio em mMol/L + Fósforo “Fonte: Fosfatos de Potássio” em mMol/L = Soma(Ca+P) • Caso o “Soma (Ca+P)” for > que 50, • ”A soma das concentrações molares de Ca e P em “Resultado da soma (Ca+P)” (maior que 50) pode provocar precipitação de fosfatos de cálcio”. Calcular a concentração de glicose aminoácidos 6,5g glicose 20g lipídios 5g cálcio 4mEq sódio 5mEq potássio 3mEq fósforo 3mEq magnésio 1,25mEq acetato 5mEq Trezevit A+B=10mL volume final=250mL 20g ‐‐‐ 250mL X ‐‐‐‐‐‐ 100mL X= 8% CONCLUSÃO EQUIPE MULTIDISCIPLINAR Médico Farmacêutico Paciente Enfermeiro Nutricionista AJUSTAR A NPT AO PACIENTE E NÃO O PACIENTE A NPT. [email protected]