114 CAPÍTULO 8 – DRENO VERTICAL - TECDREN® 1. Generalidades Os drenos verticais são denominados em inglês de “prefabricated vertical drains” (PVD) ou mais comumente de ‘wick drains”. É freqüente a pergunta: por que a denominação “wick drain”? Segundo Koerner, 1999, a resposta provável é porque este dreno é cravado verticalmente no solo, ficando com as pontas inferiores inseridas em uma camada abaixo do nível d’ água, e a água é expulsa desta sob pressão, parecendo uma série mexas ou pavios. O termo PVD (prefabricated vertical drains) também não é o mais apropriado, pois este dreno pode ser utilizado em qualquer inclinação, e não só na vertical, sendo algumas vezes usado até na horizontal. Vários bilhões de metros lineares, deste tipo de dreno, já foram cravados no mundo inteiro e o projeto para a determinação do espaçamento, da capacidade de vazão necessária e da profundidade dos mesmos, assim como da sobrecarga adequada, para que o recalque ocorra no prazo previsto, exige bons conhecimentos de mecânica dos solos e de engenharia geotécnica. O dreno vertical possui uma boa resistência à tração e quando são cravados com distâncias de 1 a 2 m, de centro a centro, eles oferecem um efeito de reforço considerável na camada, Koerner, 1999. 2. Histórico Os drenos verticais começaram a ser usados no final dos anos 70 nos projetos geotécnicos e de construções industriais sobre solos compressíveis, os quais sempre requerem algum tipo de tratamento desta camada. Antes destes drenos, eram usadas soluções como a colocação de uma sobrecarga, alternativa que pode levar muitos anos para que ocorra o recalque total, ou o dreno vertical de areia mais uma sobrecarga. 3. Adensamento de Camadas Compressíveis usando Drenos Verticais Quando se projeta qualquer construção em uma área, na qual a sondagem de reconhecimento do subsolo indique a ocorrência de camada de solo compressível, é usual provocar o pré-adensamento desta camada, para evitar recalques diferenciais, que causam danos às estruturas construídas sobre os mesmos. Uma das técnicas de adensamento destes solos é a colocação de um pré-carregamento em conjunto com drenos verticais. Como os solos compressíveis são geralmente argilas saturadas ou argilas siltosas saturadas, com elevado teor de umidade e baixa permeabilidade, um pré-carregamento produz inicialmente um aumento da pressão intersticial, a qual é dissipada gradualmente, fazendo com que ocorra o recalque e o aumento correspondente das propriedades mecânicas do solo em questão. Manual de Geossintéticos – 3ª edição 115 O tempo de adensamento em solos saturados de muito baixa permeabilidade varia diretamente com o comprimento e espaçamento do dispositivo de drenagem. O primeiro tipo de dreno vertical usado para esta finalidade foi o dreno de areia, pois como a areia tem um coeficiente de permeabilidade maior que o do solo a sua volta, o dreno torna-se um caminho de baixa energia potencial e a água da camada mole flui vertical e radialmente através dos drenos sob o gradiente hidráulico produzido pelo aterro de sobrecarga. Com isto, o comprimento do caminho de drenagem torna-se muito curto, o que ajuda a aumentar a velocidade do processo de drenagem e, conseqüentemente o adensamento da camada é acelerado, Kirmani, 2004. Durante vários anos os drenos verticais de areias mais sobrecarga foram considerados a solução com o melhor custo x benefício para o adensamento de solos compressíveis saturados. Estes drenos, que têm sido utilizados desde 1930, consistem em estacas de areia com diâmetro variando de 20 a 60 cm, espaçados de 1,5 a 6,0 m e comprimento atingindo a cota final da camada de solo mole, através dos quais a água é retirada desta camada. Após a execução dos drenos de areia, é colocada uma sobrecarga, sobre toda a área do terreno, a qual vai sendo aumentada para forçar a eliminação da água contida nos vazios do solo compressível. Execução do Dreno Vertical de Areia Apesar de já terem sido instalados milhões de drenos verticais de areia em todo o mundo, há alguns problemas na sua utilização, como: • Possibilidade de seccionamento do dreno durante sua execução. • Possibilidade do solo de fundação sofrer cisalhamento durante a colocação da sobrecarga, e devido ao pequeno diâmetro do dreno de areia, este não contribuir com nenhuma resistência ao cisalhamento, o que limita a colocação dos incrementos da sobrecarga a valores muito pequenos. • Possibilidade de não haver jazida de areia nas proximidades da obra. Manual de Geossintéticos – 3ª edição 116 • Necessidade de que o aterro de sobrecarga tenha altura grande (às vezes da ordem de 10m ou mais), o que demanda grande volume de material de empréstimo para sua execução. • Quando o adensamento é completado, às vezes há necessidade de remover parte da sobrecarga colocada, por exigência de projeto, e esta operação é difícil, além do custo envolvido ser grande. 4. Dreno Vertical – Tecdren® O dreno vertical Tecdren® é usado como alternativa ao dreno vertical de areia, para acelerar a velocidade de recalque de construções executadas sobre solos moles, podendo reduzir o tempo de ocorrência destes, de anos para apenas alguns meses. É constituído por um núcleo maciço de PEAD – Polietileno de Alta Densidade, do qual saem diversas pequenas paredes verticais nas duas faces, formando canais. O núcleo é envolvido em um geotêxtil não-tecido, o qual funciona como filtro e separador, deixando apenas a água penetrar no dreno. A água captada pelo dreno é conduzida através dos canais do núcleo até a superfície do terreno, sendo drenada pela camada drenante superior, colocada na superfície do terreno. O dreno vertical Tecdren® é cravado no solo a ser adensado, por meio de uma haste e uma ponteira. A haste é retirada, deixando o dreno Tecdren® dentro do solo, o qual se fecha ao redor do mesmo. Na superfície do terreno, as pontas do dreno Tecdren® cravado são interconectadas por uma camada de solo granular ou por um geocomposto para drenagem, que conduzirão a água por eles drenada para um local apropriado. Dreno Vertical Tecdren® Manual de Geossintéticos – 3ª edição 117 ® 5. Aplicações do Dreno Vertical – Tecdren Tecdren® pode ser utilizado em vários tipos de obras geotécnicas e de proteção ambiental, em drenagem vertical, horizontal ou qualquer outra inclinação: • • • • • • • • • • • Estradas rodoviárias e ferroviárias Recuperação de pavimentos Base de aterros reforçados Taludes reforçados Aceleração de recalques de camadas de solo compressível Obras de proteção contra erosão Drenagem e filtração do subsolo Impermeabilização Sistemas de drenagem Muros reforçados com geogrelha ou geotêxtil Coberturas de valas e aterros 6. Projeto e Dimensionamento dos Drenos Verticais Dois parâmetros são importantes no projeto de drenos verticais: o espaçamento entre eles e a capacidade de vazão. 6.1. Espaçamento A determinação do espaçamento do dreno vertical é feita em função do tempo requerido para o adensamento da camada mole. Geralmente é usado o tempo para que ocorra 90% do recalque (t90), mas podem ser considerados tempos diferentes deste também. Uma das formas de se calcular o espaçamento é fazendo uma analogia com um dreno de areia, no qual a largura do dreno vertical determina o diâmetro do dreno de areia equivalente. O cálculo é feito considerando-se o dreno vertical envolto em um circulo vazio, tendo como diâmetro a sua largura, o qual se supõe preenchido com areia usando uma porosidade estimada, para obter o diâmetro do dreno de areia equivalente, Terzaghi & Peck, 1967. 6.2. Vazão A vazão que passa pelo dreno vertical é determinada através de ensaio de laboratório, conforme a norma ASTM D 4716. Segundo Koerner, 1999, valores de vazão usualmente obtidos neste ensaio, para estes drenos com 100 mm de largura, quando submetidos a gradiente hidráulico de 1,0 e pressão de 200 kPa, variam de 4,2 x 10-2 a 8,3 x 10-2 l/s.m. As tabelas de propriedades do item 9, mostram que a vazão do dreno vertical Tecdren® é bem superior a estes valores. No projeto os valores da vazão obtidos em ensaios devem ser reduzidos através de coeficientes de redução, que levam em conta a intrusão do geotêxtil no núcleo, a deformação do núcleo por creep, a redução de filtração do geotêxtil por colmatação química e biológica e a possibilidade de que seja feita uma dobra no dreno devido a carga exercida pela sobrecarga ou por falha na cravação. Portanto, a vazão admissível (Qadm) será a vazão do ensaio (Qensaio) dividida pelo fator de redução (FR). Manual de Geossintéticos – 3ª edição 118 Qadm = Qensaio [1 / FRIN . FRCR . FRCC . FRBC . FRKG] Ou, se todos os fatores de redução forem considerados juntos: Qadm = Qensaio [1 / FRTotal] Onde: Qensaio = vazão determinada segundo a ASTM D 4716. FRIN = fator de redução que leva em conta as deformações elásticas, ou intrusão, do geotêxtil no núcleo do dreno vertical. FRCR = fator de redução que leva em conta as deformações de creep do núcleo do dreno vertical. FRCC = fator de redução que leva em conta a colmatação química do geotêxtil e/ou precipitação de produtos químicos nos canais do dreno. FRBC = fator de redução que leva em conta a colmatação biológica do geotêxtil que envolve o núcleo do dreno vertical. FRKG = fator de redução que leva em conta possível dobra no dreno devido à carga exercida pela sobrecarga ou por falha na cravação. FRTotal = produto de todos os fatores de redução para as condições específicas da obra. A tabela abaixo, Koerner 1999, fornece os fatores de redução recomendados para alguns tipos de obras: Fatores de redução preliminares para a determinação da vazão admissível (Qadm) dos drenos verticais (wick drains) e geocompostos drenantes Tipo de Obra FRIN FRCR FRCC FRBC FRKG Drenos verticais (wick drains) Campos e Quadras Esportivas Captação de capilaridade Muros de arrimo, percolação em rocha e em taludes de solos Colchões drenantes Drenos superficiais de cobertura de aterros Dreno testemunho em valas de resíduos e aterros sanitários Dreno sobre a geomembrana em valas de resíduos e aterros sanitários Drenos tipo geoespaçador para estradas 1,5 a 2,5 1,0 a 1,2 1,1 a 1,3 1,0 a 2,5 1,0 a 1,5 1,0 a 1,2 1,0 a 2,0 1,0 a 1,2 1,1 a 1,5 1,0 a 1,2 1,1 a 1,3 1,1 a 1,3 1,0 a 4,0 - 1,3 a 1,5 1,2 a 1,4 1,1 a 1,5 1,0 a 1,5 - 1,3 a 1,5 1,2 a 1,4 1,0 a 1,2 1,0 a 1,2 - 1,3 a 1,5 1,1 a 1,4 1,0 a 1,2 1,2 a 1,5 - 1,5 a 2,0 1,4 a 2,0 1,5 a 2,0 1,5 a 2,0 - 1,5 a 2,0 1,4 a 2,0 1,5 a 2,0 1,5 a 2,0 - 1,2 a 1,8 1,5 a 3,0 1,1 a 5,0 1,0 a 1,2 - Manual de Geossintéticos – 3ª edição 119 ® 7. Vantagens do Dreno Vertical – Tecdren A substituição do dreno vertical de areia pelos wick drains ou drenos verticais, tipo Tecdren®, deve-se a várias vantagens oferecidas por este último, tais como: • A resistência da camada de solo mole é significativamente aumentada pela cravação dos drenos verticais (wick drains); no entanto, por ser um problema tridimensional é difícil quantificá-la. • Não há resistência ao escoamento da água, após sua entrada no dreno vertical. • A cravação do dreno ocasiona baixo efeito de amolgamento no solo mole, devido à pequena dimensão da haste de cravação. • A instalação do dreno vertical é simples, rápida e econômica. ® 8. Instalação do Dreno Vertical – Tecdren As fotos a seguir ilustram a instalação do Tecdren® e a seqüência executiva é a seguinte: Equipamento de Cravação do Dreno Vertical Manual de Geossintéticos – 3ª edição Bobina do Dreno Vertical durante a cravação (From Koerner, 1999) 120 Dreno Vertical – Início da Cravação (From Koerner, 1999) Drenos Verticais Instalados 8.1. O Tecdren® é colocado em um perfil de aço vazado, o qual é cravado no solo, até a camada que se quer adensar, na profundidade especificada no projeto. 8.2. Na ponta do perfil, o Tecdren® é dobrado ao redor de uma barra de aço ou outro tipo de base. 8.3. Quando a profundidade prevista da cravação é atingida, perfil é retirado deixando o Tecdren® dentro do solo. 8.4. O equipamento é então deslocado para o próximo ponto e o processo de cravação é repetido. 8.5. Na superfície do terreno, as pontas dos Tecdren® cravados são interconectadas por uma camada drenante de solo granular ou por um geocomposto drenante. Manual de Geossintéticos – 3ª edição 121 8.6. Geralmente o espaço entre estes drenos é de 1 a 2 m, dependendo do tempo requerido para que haja o recalque total do solo compressível, o qual é determinado pelo projeto. 8.7. O Tecdren® chega na obra em rolos, que são colocados no equipamento de cravação dentro de um aro metálico, de forma a facilitar o desenrolar do dreno, à medida que vai sendo cravado, como mostra a figura acima. ® 9. Propriedades do Dreno Vertical Tecdren ® 9.1. Tecdren 40 C Dreno Vertical – Tecdren® 40 C Drenagem Capacidade Drenante para várias inclinações Método de Vertical Ensaio Propriedade Propriedade Hidráulica: Vazão [l/s.m] Pressão / Gradiente → 1,0 20 kPa 50 kPa 100 kPa 200 kP\a 300 kPa 1,72 0,50 1,17 0,10 0,05 3,88 x 10 -1 -1 0,025 2,40 x 10 -1 2,28 x 10 -1 0,01 1,56 x 10 -1 1,20 x 10-1 1,49 x 10 -1 1,04 x 10-1 ASTM D4716 1,61 1,12 3,58 x 10 1,52 1,05 3,39 x 10-1 2,15 x 10-1 1,37 x 10-1 8,92 x 10-2 1,36 9,15 x 10-1 2,87 x 10-1 1,81 x 10-1 1,20 x 10-1 8,30 x 10-2 1,22 7,96 x 10-1 2,48 x 10-1 1,55 x 10-1 1,06 x 10-1 7,52 x 10-2 Propriedades Físicas e Apresentação do Tecdren® Massa por unidade de comprimento [g/m] Espessura do Núcleo [mm] Largura / Comprimento Forma do Núcleo Polímero do Núcleo 75 NBR 12568 5 100 mm / 200 m Maciço com pequenos canais nas duas faces Polietileno NBR 12569 - Propriedades Mecânicas Resistência à Tração em Faixa Larga [kN/m] 20 NBR 12824 Geotêxtil Tipo e Polímero Polímero Tipo Poliéster Não-tecido Manual de Geossintéticos – 3ª edição - 122 ® 9.2. Tecdren 80 C Dreno Vertical – Tecdren® 80 C Drenagem Capacidade Drenante para várias inclinações Método de Vertical Ensaio Propriedade Propriedade Hidráulica: Vazão [l/s.m] Pressão / Gradiente → 1,0 20 kPa 50 kPa 100 kPa 200 kP\a 300 kPa 0,50 0,10 0,05 0,025 0,01 6,27 x 10-1 3,79 x 10-1 1,08 x 10-1 6,51 x 10-2 3,88 x 10-2 2,45 x 10-2 5,40 x 10-1 3,23 x 10-1 9,18 x 10-2 4,97 x 10-2 3,19 x 10-2 2,07 x 10-2 -1 2,80 x 10-1 7,81 x 10-2 4,81 x 10-2 2,97 x 10-2 1,92 x 10-2 3,78 x 10-1 2,22 x 10-1 6,17 x 10-2 3,85 x 10-2 2,29 x 10-2 1,61 x 10-2 3,39 x 10-1 1,96 x 10-1 5,40 x 10-2 3,27 x 10-2 2,03 x 10-2 1,19 x 10-2 4,69 x 10 ASTM D4716 Propriedades Físicas e Apresentação do Tecdren® Massa por unidade de comprimento [g/m] Espessura do Núcleo [mm] Largura / Comprimento Forma do Núcleo Polímero do Núcleo 77 NBR 12568 5 100 mm / 200 m Maciço com pequenos canais nas duas faces Polietileno NBR 12569 - Propriedades Mecânicas Resistência à Tração em Faixa Larga [kN/m] 20 NBR 12824 Geotêxtil Tipo e Polímero Polímero Tipo Poliéster Não-tecido 10. Referências Bibliográficas 10.1. Kirmani, S. M. H. (2004-2005). “Consolidation of Soil for Foundation by using Sand Drains” – IEP – SAC Journal, pp. 49- 54. 10.2. Koerner, R. M. (1999). “Designing with Geosynthetics” – Fourth Edition. Prentice Hall, N.J. 10.3. Terzaghi & Peck (1967). “Soil Mechanics in Engineering Practice” – John Wiley & Sons, N.Y. Manual de Geossintéticos – 3ª edição -