AVALIAÇÃO DA PRODUTIVIDADE DE MILHO CRIOULO (VAR. PIXURUM ROXO) EM FUNÇÃO DO ARRANJO POPULACIONAL DE PLANTAS Farley Henrique Fernandes1,4; Emmerson Rodrigues de Moraes3,4; Lílian Lúcia Costa3,4; Roniram Pereira da Silva3,4; Adilson Pelá 2,4; Gláucia de Mello Pelá2,4 1 Bolsista PBIC/UEG Pesquisador(a) – Orientador(a) 3 Voluntário Iniciação Científica PVIC/UEG 4 Curso de Agronomia, Unidade Universitária de Ipameri - GO, UEG 2 Resumo - O cultivo de milho no sistema adensado é uma tendência atual, inclusive para as variedades utilizadas pelos pequenos produtores, e a densidade de plantio tem papel importante no rendimento de uma lavoura de milho. Informações sobre arranjo populacional de cultivares são escassas. Portanto, o presente projeto teve como objetivo avaliar a produtividade do milho crioulo em função dos espaçamentos entre linhas e população de plantas, para as condições de Ipameri e região. Foi conduzido um experimento de campo, em LATOSSOLO Vermelho-Amarelo, com o cultivo da variedade Pixurum roxo. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, em esquema fatorial 2x5, com dois espaçamentos 0,90 e 0,70m entre linhas, e cinco populações: 45, 55, 65, 75 e 85 mil plantas por hectare, com três repetições. A interação entre espaçamentos e populações foi não significativa. Porém, para a população de 55 mil plantas e espaçamento de 0,7m foram obtidas as maiores médias de produtividade. Palavras-chave: milho crioulo, arranjo populacional, produtividade. Introdução O milho é o segundo cereal de maior importância no Brasil, sendo que, apenas nos últimos anos, perdeu a primeira colocação para a cultura da soja. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho, com cerca de 13 milhões de ha cultivados, superado apenas pelos EUA e pela China. Apesar disso, o Brasil não se destaca com maior nível de produtividade. Considerando-se a produtividade média mundial que é pouco acima de 4.000 kg/ha, o Brasil, porém teve sua produtividade aumentada de 1.791 kg/ha, em 1990, para 3.307 kg/ha, em 2006 (CONAB, 2006). Criou-se um grande aparato agroindustrial para sustentar essa nova base genética, se assim pode ser chamada. Até então, as unidades de produção gozavam de um grau relativamente elevado de autonomia. Produziam suas sementes, faziam sua reciclagem 2 de nutrientes para seus cultivos e procuravam garantir a produção de subsistência. A partir dessas mudanças, passaram a ter um grau de dependência externa. Neste contexto, no setor de produção de sementes, as tradicionais ou crioulas foram substituídas por cultivares híbridas, melhoradas, com um potencial produtivo elevado, mas dependente de insumos externos e tecnologias intensivas. Os sistemas de produção definidos como modernos deram sinais de insustentabilidade econômica, ambiental e principalmente social, manifestada pela exclusão de agricultores que não conseguiram ou não puderam se adaptar (MENEGUETTI et al., 2002). Indiscutivelmente, esta busca se dará através de projetos, pesquisas e programas consistentes que garantam certa autonomia do produtor rural. A modernização causou a perda de pelo menos seis variedades de milho crioulo antigamente conhecido, o que é uma enorme perda não só do ponto de vista de germoplasma como também para a estabilidade e sustentabilidade dos sistemas de cultivo. Além disto, as perdas de variedades próprias reforçam a posição de dependência frente às empresas de sementes. Ouve-se muito no campo a opinião enfática de alguns técnicos que classificam o resgate de sementes crioulas uma tecnologia “atrasada”. Pinto e Garavello (2002) dizem que o uso do milho híbrido não implica aumento de produção, já que as condições técnicas e econômicas da agricultura familiar impossibilitam a adoção de todo o “pacote tecnológico” exigido para que se obtenha o desempenho esperado. Portanto no caso da agricultura familiar o resgate de sementes locais ou crioulas é uma ótima alternativa direcionada à autonomia do homem no campo e dispensa a enorme dependência de insumos industriais que se tornam cada vez mais caros. Isso não invalida os esforços na busca de melhoria da fertilidade de solo, infra-estrutura e condições para melhorar a produção. Significa dizer que esta tecnologia tem seu lugar no heterogêneo mundo da agricultura, principalmente familiar (MENEGUETTI, et al., 2002). Diante da tendência atual de redução no espaçamento e no aumento da população de plantas na cultura do milho híbrido, e em função da escassez de dados sobre produção nessas condições para variedades crioulas, este trabalho teve como objetivo avaliar a interação entre a população de plantas por unidade de área e o espaçamento entre linhas, visando geração de informações que permitam maximizar o potencial produtivo da planta, da disponibilidade de água, luz e nutrientes. Fornecer subsídios para os pequenos produtores da região e do Estado de Goiás aumente suas produtividades, diminuindo os custos de produção, aumentando a renda familiar. 3 Material e Métodos O experimento foi conduzido na fazenda experimental da UnU-Ipameri - GO, num LATOSSOLO Vermelho-Amarelo, nas coordenadas: latitude 17º 41’S, longitude 48º 11’N e altitude de 800 m. O clima, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Aw, com temperaturas elevadas com chuvas no verão e seca no inverno. O experimento foi implantado no ano agrícola 2006/2007 (out/2006), sob sistema convencional. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, em esquema fatorial 2x5, com dois espaçamentos 0,90 e 0,70m entre linhas, e cinco populações: 45.000, 55.000, 65.000, 75.000 e 85.000 plantas de milho por hectare, com três repetições. A adubação foi realizada com o adubo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) de acordo com a recomendação de Sousa e Lobato (2004) para cultivares de baixa tecnologia, com base na análise química do solo. Antes da instalação do experimento foi coletada na área uma amostra composta por 20 sub-amostras na camada de 00,20m, para caracterização química sendo as análises feitas conforme metodologias descritas em Raij et al. (2001), cujos resultados são apresentados a seguir: pH CaCl2 = 3,7; MO= 12 g dm-3 ; CTC (cmolc dm-3 ) = 4,72; Sat. Bases (%) = 8,92; Sat.Al (%)=59,41; e Ca = 0,2; Mg = 0,1; K= 0,11; Al = 0,6 e H+Al = 4,3 na unidade cmolc dm-3 ; e micronutrientes: Co = 0,06; Zn = 0,5; B = 0,17; Cu = 0,9; Fe = 59,7; Mn = 2,7 e Mo = 0,08 na unidade mg dm-3 . As parcelas tinham 6 linhas com 4m de comprimento, tendo como área útil as duas linhas centrais, desprezando-se 0,5m das extremidades de cada uma delas. A semeadura do milho foi realizada manualmente, colocando-se duas sementes por cova. Quinze dias após a emergência, foi realizado desbaste, ajustando-se o número de plantas às densidades estabelecidas. A variedade utilizada foi Pixurum roxo de ciclo tardio, porte alto e arquitetura foliar aberta. A adubação foi realizada no sulco de semeadura, com 0,08–0,10m de profundidade. O N foi parcelado, aplicando-se 30% no sulco, por ocasião da semeadura. O restante do N foi aplicado em cobertura, utilizando-se uréia, no estádio de 6 a 8 folhas. O S foi fornecido juntamente com o P com superfosfato simples (11% de S na forma CaSO4 .1/2H2 O), contido na formulação NPK. A adubação com micronutrientes foi igual para todos os tratamentos, também por ocasião do plantio. O controle de plantas daninhas foi efetuado mediante a aplicação de herbicidas atrazine (3,5 l ha-1 ) + nicosulfuron (0,4 l ha-1 ), e complementado através de capina manual. Antes da semeadura (30–40 dias) o solo foi revolvido com uso de grade intermediária (duas gradagens). As espigas de milho foram colhidas manualmente, e a debulha realizada em trilhadora estacionária. Foram avaliados os seguintes índices de plantas: altura de plantas, altura de inserção de espigas, plantas acamadas, plantas quebradas, estande final, número de espigas por hectare, número de grãos 4 por fileira, peso de 1000 grãos, rendimento de grãos por espiga e rendimento de grãos. A altura da planta e altura de inserção da espiga foi medida em cinco plantas (tomadas ao acaso dentro da área útil) considerando-se, respectivamente, as distâncias do colo da planta ao pendão e do colo ao ponto de inserção da primeira espiga formada no colmo. As plantas acamadas e quebradas foram contadas na área útil momentos antes da colheita, considerando acamadas aquelas que apresentaram um ângulo de inclinação superior a 45° com a vertical e quebrada aquelas que estava m com o colmo quebrado abaixo da espiga. A contagem do estande final foi realizada pouco antes da colheita na área út il das parcelas e os dados foram transformados para número de plantas por hectare. O número de espigas/ha foi estimado por meio da extrapolação do número de espigas colhidas na área útil das parcelas para um ha e o número de espigas por planta foi determinado pela razão entre o número de espigas colhidas e o número de plantas existentes na área útil. O número de grãos por espiga foi obtido pela média da contagem de cinco espigas por parcela, e quatro fileiras por espiga. O peso de mil grãos foi determinado pela contagem manual de 200 grãos, pesagem e os valores obtidos foram multiplicados por cinco. O rendimento de grãos foi estimado por meio da extrapolação da produção colhida na área útil das parcelas para um hectare. O rendimento de grãos por espiga foi determinado pela relação entre o peso de grãos obtido na área útil das parcelas e o número de espigas colhidas na mesma. Os dados obtidos foram submetidos ao teste F para análise de variância; ao teste de Tukey para comparação entre as médias dos tratamentos a 5% de probabilidade. Resultados e Discussão De acordo com os resultados obtidos apresentados nas tabelas 1 e 2 pode-se verificar que as médias não apresentaram significância estatística. Mas apesar disso, é possível fazer algumas discussões baseados nos valores encontrados. As alturas médias do ponto de inserção das espigas nas populações de 75 e 85 mil plantas foram as que apresentaram os maiores valores (1,66m). Enquanto que os espaçamentos apresentaram os mesmos valores. A altura de plantas nos tratamentos com espaçamento de 0,9m teve maior valor médio (3,00m) 5 Tabela 1. Produtividade da cultura do milho em relação a diferentes espaçamentos e populações. TRATAMENTOS -1 3 População ha (10 ) AE AP DC PG (m) (m) (mm) (g) NF NG 45 1,50 2,83 20,33 283,33 12,83 29,83 55 1,16 3,00 19,83 273,16 13,00 28,66 65 1,33 2,83 18,50 272,33 12,83 30,33 75 1,66 3,00 19,00 267,00 12,50 28,00 85 1,66 2,83 19,33 260,33 12,66 27,00 DMS 0,96 0,48 2,55 38,91 1,19 7,21 0,7 1,46 2,80 19,40 274,80 12,66 28,86 0,9 1,46 3,00 19,40 267,66 12,86 28,66 DMS 0,42 0,21 1,12 17,09 0,52 3,16 CV(%) 37,80 9,62 7,54 8,22 5,35 14,36 Espaç. Entre linhas (m) Médias não diferiram pelo teste Tukey a 5 %. AE: altura de inserção da primeira espiga; AP: altura de plantas; DC: diâmetro de colmo; PG: peso de 1000 grãos; NF: número de fileiras das espigas; NG: número de grãos por fileira. O diâmetro de colmo foi maior com as populações de 45 e 55 mil plantas, 20 e 19,83 mm respectivamente, em relação às populações de 65, 75 e 85 mil plantas, com 18, 50, 19,00 e 19,33 mm de diâmetro. O peso de mil grãos diminuiu com o aumento da população e do espaçamento, sendo as populações de 45 e 55 mil plantas as que apresentaram os maiores valores, com 283,33 e 273,16 g respectivamente. O número de fileiras por espiga para a população de 55 mil plantas se destacou em relação às demais, com uma média de 13 fileiras por espiga. O número de grãos por fileira teve média superior na população de 65 mil plantas. A produtividade de grãos não apresentou diferença significativa estatisticamente para as variáveis espaçamento e população. No entanto, a população de 55 mil plantas e o espaçamento de 0,7m apresentaram as maiores médias de produtividade, com 3917,00 e 3828,53 kg ha-1 respectivamente. 6 Tabela 2. Médias da produtividade em relação a diferentes populações e espaçamentos. TRATAMENTOS PRODUTIVIDADE População ha-1 (103 ) kg ha-1 45 3706,33 55 3917,00 65 3705,66 75 3499,50 85 3508,33 ESPAÇ. ENTRE LINHAS (m) 0,7 3828,53 0,9 3506,20 Médias não diferiram pelo teste Tukey a 5 %. Conclusão Para todos os componentes da produção bem como a produtividade estudada, as diferentes populações e espaçamentos não influenciaram significativamente segundo o Teste de Tukey a 5% de probabilidade. Porém, com a população de 55 mil plantas e espaçamento de 0,7 m foram obtidas as maiores médias de produtividade. Referências Bibliográficas COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Consolidado e Acompanhamento da Safra 2005/2006, 2º Levantamento. Disponível em: <www.conab.gov.br> Acesso em: 22 de set de 2006. MENEGUETTI, G. A.; GIRARDI, J. L.; REGINATTO, J. C. Milho crioulo: tecnologia viável e sustentável. In: Agroecol e Desenv. Rur. Sustent. Porto Alegre, V.3, n 1, Jan/mar. 2002. PINTO, J. G; GARAVELLO, M. E.P. E. Transformação (agri)cultural ou entnossustentabilidade: relato de uma aldeia Bororo. In: Agroecol e Desenv. Rur. Sustent. Porto Alegre, V.3, n 2, Abr/jun. 2002. RAIJ, B. van; ANDRADE, J.C.; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A. Análise química para avaliação da fertilidade de solo tropicais. Campinas: Instituto Agronômico de Campinas, 2001. 285 p. 7 SOUSA, D.M.G. de; LOBATO, E. Calagem e adubação para culturas anuais e semiperenes. In: Sousa, D.M.G.; LOBATO, E. Cerrado: Correção do solo e adubação. 2ed., Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) – Embrapa Cerrados, Brasília DF, Cap. 12, p. 283-313, 2004.