O Perfilhamento Reduz a Resposta do Rendimento de Grãos do Milho ao Arranjo de Plantas Cleber Schweitzer1, Luís Sangoi2, Amauri Schmitt1, Anderson J. Pletsch3, Vitor Paulo Vargas1, Alexandre Saldanha3, Jefferson Vieira3, Maxciel A. Gattelli3, Ciro F. Fiorentin3 e Eduardo Siega3 1 Acadêmicos Mestrado em Produção Vegetal Universidade do Estado de Santa Catarina, CP. 281, CEP 88.520-000, Lages-SC. [email protected] 2 Professor Departamento de Agronomia UDESC. 3 Acadêmicos graduação Agronomia UDESC e bolsistas CNPq/PIBIC Palavras-chave: Zea mays L., perfilhamento, densidade, espaçamento, rendimento de grãos Entre os cereais de importância econômica, o milho é o de menor capacidade de perfilhamento (Silva et al., 2003). Esta característica decorreu da intensa seleção ao qual foi submetido durante o seu processo evolutivo do teosinto, que priorizou a dominância apical, reduzindo o número de ramificações laterais e concentrando toda a energia da planta no colmo principal ( Doebley et al., 1997). Os perfilhos são estruturas utilizadas pelas plantas da família das Poaceas como estratégia para compensação de espaços vazios dentro da comunidade. Nas espécies onde o perfilhamento é comum, tais como o trigo e o arroz, os perfilhos são considerados estruturas benéficas, aumentando o número de inflorescência por área e contribuindo para o incremento do rendimento de grãos (Almeida et al., 1998). A população de plantas é uma das práticas culturais que mais interfere na definição da produtividade do milho. Essa resposta está associada ao fato de que, diferentemente de outras espécies da família das Poaceas, o milho não possui um mecanismo eficiente de compensação de espaços, pois ele perfilha pouco, sua capacidade de expansão foliar é pequena e possui baixa prolificidade (Silva et al., 2006). O surgimento de híbridos de milho com alto potencial produtivo e elevada capacidade de produção de afilhos sugere que os perfilhos podem contribuir para o rendimento de grãos, principalmente em lavouras implantadas com baixas populações de plantas. Esta contribuição pode ser acentuada com a redução do espaçamento entre linhas, a qual, mantendo-se a densidade constante, promove uma distribuição mais eqüidistante das plantas na lavoura. O arranjo mais favorável de plantas propiciado pela aproximação das linhas pode estimular as taxas de crescimento da cultura no início do ciclo, reduzindo a dominância apical e favorecendo a emissão, a sobrevivência e a contribuição dos perfilhos à produtividade do milho, em híbridos que possuam esta característica. Este trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar a resposta do rendimento de grãos a variações no arranjo de plantas, promovidas pelo incremento na densidade e pela redução do espaçamento entre linhas, de um híbrido perfilhador de milho. O ensaio foi conduzido no município de Lages, localizado no Planalto Sul de Santa Catarina, cujas coordenadas geográficas são 27º50’35’’ de latitude sul e 50º29’45’’ de longitude oeste. O experimento foi implantando no dia 19 de outubro de 2007, no sistema de semeadura direta, sobre cobertura morta de aveia preta e ervilhaca, num Nitossolo Vermelho distrófico (Embrapa, 1999). O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados dispostos em parcelas subdivididas. Na parcela principal foram testadas quatro densidades de plantas: 30.000, 50.000, 70.000 e 90.000 pl ha-1. Nas subparcelas foram avaliados três espaçamentos entre linhas: 40, 70 e 100 cm. A adubação utilizada foi determinada seguindo recomendações da Rede Oficial de Laboratórios de Análise de Solo para a cultura do milho no Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Comissão de Química e Fertilidade do Solo - RS/SC, 2004), objetivando produtividades de 12.000kg ha-1. A adubação de manutenção com fósforo, potássio e nitrogênio foi fornecida no dia da semeadura, sendo aplicados 30 kg de N, 205 kg de P2O5 e 110 kg de K2O. A aplicação do N em cobertura (200 kg) foi dividida em duas aplicações, sendo metade em V4 e metade em V8. A semeadura foi realizada com plantadeiras manuais, utilizando-se três sementes por cova do híbrido P30F53. Quando as plantas estavam no estádio fenológico de três folhas expandidas (V3) da escala proposta por Ritchie et al (1993), efetuou-se o desbaste, deixando se o número de plantas necessário para atingir as densidades esperadas. As subparcelas foram constituídas de quatro linhas com seis metros de comprimento. Nas duas linhas centrais de cada subparcelas determinou-se o rendimento e seus componentes. A colheita do ensaio foi realizada no dia 25 de abril de 2008 quando a umidade dos grãos era de 18 a 22%. As espigas produzidas nos colmos principais e nos perfilhos foram colhidas separadamente, para se determinar a contribuição dos perfilhos na produtividade da cultura. Os dados obtidos foram avaliados estatisticamente através da análise de variância. Os valores de F para os efeitos principais e interações foram considerados significativos ao nível de significância de 5% (P<0,05). Quando alcançada significância foram ajustadas regressões que descrevessem o comportamento das variáveis. Os rendimentos de grãos do milho superaram a 13.000 kg ha -1 em todos os tratamentos e não foram afetados pela população de plantas e pelo espaçamento entre linhas. O rendimento de grãos do colmo principal aumentou com o acréscimo da densidade de plantas, chegando à produtividade máxima de 13.620kg ha-1 na densidade de 89.207 pl ha-1 (Figura 1). Já o rendimento de grãos dos perfilhos reduziu com o acréscimo da densidade de plantas na proporção inversa do colmo principal, iniciando com 5.985 kg ha-1 com 30000pl ha-1 e reduzindo até 462 kg ha-1 na população de 83.388pl ha-1. Na densidade de 30.000 pl ha-1, mais de 90% das plantas produziu espigas nos perfilhos, cujos grãos colhidos contribuíram com 44% do rendimento total (Tabela 1). A medida em que a população aumentou, houve decréscimo na percentagem de plantas com perfilhos, no número de espigas de perfilhos por planta e na contribuição dos perfilhos ao rendimento, que foi de apenas 3,3% quando se utilizou 90.000 pl ha-1. As populações de plantas recomendadas para a maioria dos híbridos de milho cultivados no Brasil oscilam entre 55.000 e 70.000 pl ha -1, sob condições favoráveis de clima e solo (Silva et al., 2006). O uso de populações de planta abaixo da faixa recomendada reduz a interceptação da radiação incidente devido à limitada capacidade de expansão foliar da cultura. No presente trabalho, mesmo utilizando-se uma população de 30.000 pl ha-1, equivalente a 50% do valor recomendado para o híbrido P30F53, não houve decréscimos significativos no rendimento de grãos. O rendimento de grãos obtido na menor densidade equivaleu a 97% da produtividade total registrada na densidade de 70.000 pl ha-1. Esperava-se que a redução do espaçamento entre linhas e a distribuição mais eqüidistante das plantas por ela promovida, dentro de cada densidade, estimulasse o perfilhamento e aumentasse a contribuição dos perfilhos ao rendimento de grãos. Esta hipótese não foi confirmada. Por outro lado, os dados obtidos no trabalho demonstraram que o perfilhamento foi uma característica desejável para a estabilidade produtiva do híbrido P30F53, tornando-o menos sensível às variações no arranjo de plantas. Nas menores densidades, a planta perfilhou mais, o que aumentou sua área foliar, incrementando a interceptação da radiação solar e impedindo reduções significativas na produtividade. Referências bibliográficas ALMEIDA, M.L. Modificação do afilhamento de trigo e aveia pela qualidade de luz. 1998. 121 p. Tese (Doutorado em Fitotecnia) – Curso de pós-graduação em Fitotecnia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO. Manual de adubação e calagem para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Sociedade brasileira de ciências do solo. 10. ed. Porto Alegre, 2004. 400p. DOEBLEY, J.; STEC, A.; HUBARD, L. The evolution of apical dominance in maize. Nature, v. 386, p. 485-488, 1997. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. Brasília: EMBRAPA, 1999. 412 p. RITCHIE, S.W. et al. How a corn plant develops. Ames: Iowa State University of Science and Technology, 1993. 26p. (Special Report, 48). SILVA, P.R.F.; ARGENTA, G.; SANGOI, L. Fatores determinantes da escolha da densidade de plantas em milho. In: REUNIÃO TÉCNICA CATARINENSE DE MILHO E FEIJÃO, IV, 2003, Lages, SC. Resumos Expandidos... Lages: CAV-UDESC, 2003. p.25-29. SILVA, P.R.F.; SANGOI, L.; ARGENTA, G.; STRIEDER, M.L. Arranjo de plantas e sua importância na definição da produtividade em milho. Porto Alegre: Evangraph, 2006. 64p. CP = 0,30538x – 1,7115E-6x2 R2 = 99,69 PERF = 13783,47 – 0,3195x + 1,9157E-6x2 R2 = 91,53 Figura 1. Rendimento de grãos do Colmo Principal (CP), dos Perfilhos (PERF) e Total do híbrido P30F53, em quatro densidades de plantas, na média de três espaçamentos entre linhas. Lages, SC, 2007/08. Tabela 1. Efeito da densidade de plantas sobre o perfilhamento e a contribuição dos perfilhos ao rendimento de grãos do milho, na média de três espaçamentos entre linhas. Lages, SC, 2007/8. Característica \ Densidade 30.000 50.000 70.000 90.000 - Porcentagem de plantas com 91,72 43,43 13,19 5,44 espiga nos perfilhos (%) - Número de espigas de perfilhos por planta 1,55 0,52 0,15 0,06 - Rendimento de grãos total (kg ha-1) 13494 13552 13908 14113 - Rendimento de grãos colmo principal (kg ha-1) 7508 11143 12914 13629 - Rendimento de grãos dos perfilhos (kg ha-1) 5986 2409 995 483 - Contribuição do colmo principal ao rendimento (%) 55,83 82,50 92,93 96,65 - Contribuição dos perfilhos ao rendimento (%) 44,17 17,50 7,07 3,35