EURICO FIGUEIREDO Portugal encontra–se à cabeça de todos os países da União Europeia quanto à proporção de mulheres diplomadas pelo ensino superior em relação aos homens. Em 170 mulheres com diploma de ensino superior, encontramos 100 homens, para uma média comunitária de 110 para 100 (Eurostat, News Release, 09.98). No que diz respeito ao desemprego entre diplomados do ensino superior, também Portugal apresenta os melhores resultados da União Europeia favoráveis às mulheres (dois por cento de mulheres desempregadas, contra quatro por cento de homens). Todos estes sucessos por parte das mulheres foram alcançados sem quotas! As mudanças a nível dos valores e as mudanças reais deram-se progressivamente, sem ressentimentos, numa tranquila mas espantosa revolução na relação entre os sexos, que foi também sendo acompanhada por modificações profundas a nível dos direitos reais da mulher”. Os direitos humanos e a democracia política, o controlo da natalidade, as revoluções tecnológicas, ao alterarem profundamente o mundo do trabalho, contribuíram decididamente para que os dois sexos tendessem para uma situação igualitária a todos os níveis da vida social. Neste contexto, a mulher tem cada vez mais responsabilidades profissionais semelhantes às dos homens, acumulando com um papel no trabalho doméstico bastante mais activo que o do homem. Todos estes factores precipitaram a família numa profunda crise. A mulher, sendo que carreira profissional e vida pública são valorizadas e a vida doméstica não só é socialmente desvalorizada mas também perdeu muitos dos seus anteriores atractivos num mundo marcadamente comunitário, optou, como movimento social dominante, pela carreira profissional. Ficou, todavia, com responsabilidades em actividades domésticas reduzidas quase que exclusivamente ao trabalho caseiro. Esta situação acabou por ser extremamente gravosa para a condição feminina. Os dados de epidemiologia psiquiátrica revelam que, durante todo o século XX, em quase todo o mundo, aumentou a morbilidade depressiva atingindo preferencialmente o sexo feminino. Continua, contudo, sendo vítima (os trabalhos já clássicos de G. Brown – Social Origins of Depression: a Study of Psychiatric Disorder in Women, London, Tavistock, 1978 – demonstraram-no bem) se fica reduzida ao trabalho caseiro num mundo pobre de contactos como é geralmente o suburbano. A mulher, nestas condições, foi, pelo referido autor, caracterizada como pertencendo a uma população em risco de depressão. No último meio século sucederam-se uma série de modificações em todos os planos, tornando a vida familiar cada vez mais frágil e a possibilidade de ter filhos cada vez menos atractiva. Um outro factor, menos referido, contribuiu também para que esta situação se reforçasse: o desenvolvimento do estado social. Desde finais do século XIX que o primeiro mundo vê desenvolverem-se movimentos sociais por iniciativa cívica, primeiro, religiosa, depois, procu286