José Pio Martins
Economista
POR QUE OS JUROS CAEM
José Pio Martins
Um colega professor me perguntou: a) por que razão os juros podem cair agora
e não podiam cair no passado?; b) por que Dilma “teve peito” para mandar baixar os
juros e outros presidentes, inclusive Lula, não tiveram?.
Identificar as respostas pode ser mais fácil se entendermos o contrário, ou seja,
por que os juros são altos. Primeiro, vale lembrar que a taxa de juros é um preço.
Podemos definir “preço” como sendo a expressão monetária pela qual um produto
ou um fator de produção é comprado, vendido ou alugado. “Produto” é um bem ou
serviço que resulta da atividade de produzir. Já “fator de produção” são os recursos
que entram no processo produtivo: natureza, trabalho, capital e iniciativa
empresarial.
A formação de preços está condicionada aos custos (gastos necessários para
produzir), ao valor (grau de utilidade de um produto, no sentido de capacidade de
satisfazer uma necessidade) e à lei da oferta e procura. Assim como o salário é o
preço do fator trabalho, a taxa de juros é o preço (aluguel) do capital financeiro e ela
é paga em duas direções opostas. De um lado, temos as taxas recebidas por
aqueles que poupam e aplicam seu dinheiro. De outro, temos as taxas pagas pelos
que tomam dinheiro emprestado.
Quando um banco capta bilhões de reais de seus clientes (pagando-lhes juros),
esse dinheiro é emprestado para três clientes: as pessoas (que tomam empréstimos
para consumir ou investir em moradia), as empresas (que fazem dívidas para investir
ou para girar a produção) e o governo (que toma empréstimo porque gasta mais do
que arrecada). Quanto ao governo, como ele é grande demais, a taxa de juros paga
nos títulos públicos define o rumo das taxas pagas pelas pessoas e pelas empresas.
Da parte dos bancos, as taxas de juros cobradas por eles resultam dos
seguintes elementos: a) os custos (juros) de captação; b) os gastos administrativos;
c) a inadimplência dos devedores; d) a tributação sobre operações de crédito; e) os
lucros bancários; f) o grau de competição entre os bancos (que é muito baixa).
Esses elementos respondem, em parte, pelas altas taxas de juros. Mas por que os
juros podem cair?
Razão no 1: A situação das contas externas do país é muito boa e as reservas
internacionais em dólares são altas. Quando o balanço de pagamentos do Brasil
com o resto do mundo era ruim, o país precisava oferecer taxas de juros altas nos
títulos da dívida pública para incentivar a entrada de capitais estrangeiros. Isso, hoje,
não é mais necessário.
José Pio Martins
Economista
Razão no 2: A economia brasileira cresceu, a arrecadação tributária aumentou
muito e a dívida pública não é grande como proporção do Produto Interno Bruto
(PIB). Assim, o governo não vive desesperado para tomar empréstimos, liberando os
bancos para emprestarem às pessoas e às empresas; e aí entra a lei da oferta e da
procura forçando a queda na taxa de juros.
Razão no 3: A inflação foi dominada. Essa é a razão principal da queda da taxa
de juros, já que a inflação dita os rumos dos juros. Se a inflação subir, o custo do
dinheiro subirá, pois a taxa de juros é o principal instrumento do Banco Central para
combater elevações nos níveis de preços.
Mas não devemos nos iludir: a taxa Selic de 9% ao ano dá uma taxa real de
4%, considerando o desconto de uma inflação de 5%, como rendimento real anual
para quem aplica dinheiro em títulos do governo. Todavia, para as pessoas e para
as empresas, o custo dos empréstimos ainda é muito alto e, mesmo caindo um
pouco, as taxas de juros para os tomadores continuam elevadas.
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
Os artigos de economistas divulgados pelo CORECON-PR são da inteira responsabilidade dos seus
autores, não significando que o Conselho esteja de acordo com as opiniões expostas. É reservado ao
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