Jornal Valor --- Página 14 da edição "05/08/2013 1a CAD C" ---- Impressa por CGBarbosa às 04/08/2013@17:22:44
Jornal Valor Econômico - CAD C - FINANCAS - 5/8/2013 (17:22) - Página 14- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW
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Segunda-feira, 5 de agosto de 2013
Finanças
Banco Rural encolhe após
envolvimento no mensalão
Kátia Rabello, a
bailarina que
virou banqueira
Talita Moreira e Carolina Mandl
De São Paulo
Felipe Marques
De São Paulo
Liquidação Crédito não se recupera, enquanto família faz vários aportes
O envolvimento no mensalão
abalou de forma decisiva as operações do Banco Rural, além de
dificultar sua venda. A carteira de
crédito da instituição nunca recuperou o patamar que tinha antes do episódio.
No fim de 2004, o portfólio de
empréstimos total era da ordem
de R$ 3,5 bilhões. O montante
despencou para R$ 1,505 bilhão
no fim de 2005, quando foram
feitas as denúncias sobre o esquema de corrupção.
A carteira de crédito da instituição caiu para R$ 805,8 milhões no fim de 2007, o menor
patamar dos últimos nove anos.
Depois disso, voltou a crescer e
estava em R$ 2,5 bilhões no fim
de setembro do ano passado. Os
números do crédito referem-se
ao conglomerado financeiro. Os
números dão pistas de que as
captações do banco também foram afetadas.
Levando-se em conta apenas o
banco, o portfólio era de R$ 2,1
bilhões no fim de janeiro deste
ano, segundo balancete entregue ao Banco Central (BC). Não
há dados sobre o conglomerado
para esse período. Desde setembro do ano passado, o banco não
publica seu balanço completo.
Desde que o envolvimento do
banco Rural no esquema de corrupção veio à tona, não foram
poucas as tentativas da família
Rabello de reerguer o seu banco.
Os controladores fizeram sucessivos aumentos de capital na instituição nos últimos anos, em
uma tentativa de reerguer as
Evolução do Rural
Desde mensalão, carteira de crédito do banco encolheu
Carteira de crédito (R$ milhões)
Capital (R$ milhões)
4.000
3.454
1.505
946
177,7
2.491
1.850
1.000
0
2.585
2.547
2.500
177,7
177,7
1.054
805
277,7
277,7
277,7
368,0
440,7
520,7
-500
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012*
Fonte: Balanços do banco * Até setembro
operações, fortemente abaladas
pelo mensalão. Em outras ocasiões, os aportes tiveram como
objetivo cumprir determinações
do Banco Central.
No fim de 2004, um ano antes
de o escândalo vir à tona, o Rural tinha um capital social de
R$ 177,7 milhões. Um primeiro
aporte, de R$ 100 milhões, foi
feito em 2007, ano em que a carteira de crédito apresentou um
forte encolhimento.
Novas injeções de recursos foram feitas em 2010, 2011 e 2012,
sendo que o último deles somou
R$ 80 milhões em setembro do
ano passado, data do último balanço publicado pelo banco. Nessa data, o capital do banco era de
R$ 520,7 milhões. A família ainda
se comprometia a colocar outros
R$ 20 milhões em breve, depois
que o Banco Central apontou insuficiência patrimonial no Rural.
Menos de um ano antes, o banco já havia sido levado a fazer um
aumento de capital de R$ 65 milhões depois que uma inspeção
realizada pelo Banco Central le-
vou a ajustes de R$ 180 milhões
em seu balanço. Os problemas
encontrados referiam-se a aumento de provisões por operações de crédito no Brasil e no exterior, reforços em provisões trabalhistas e para ações cíveis.
Os recentes aportes, no entanto, não foram suficientes para cobrir as necessidades da instituição, diante das provisões para
processos judiciais de mais de
R$ 1 bilhão necessárias.
Além disso, mais recentemente as capitalizações também começaram a levantar questionamentos das autoridades sobre a
origem do dinheiro, segundo o
Valor apurou.
Logo após o estouro do mensalão, a família Rabello, controladora do Rural, contratou um time de consultores para tentar recuperar o banco.
A missão de Gustavo Loyola,
ex-presidente do Banco Central,
e Paolo Zaghen, ex-presidente do
Banco do Brasil, Nelson Eizirik e
Caetano Vasconcellos Neto era
estabilizar as operações do Rural
depois do mensalão para depois
colocar o banco à venda.
Porém, a eclosão da crise financeira internacional, em
2008, a intervenção no PanAmericano, em 2010, e a sequência
de problemas em instituições financeiras de médio porte inviabilizaram o plano. Dados do balancete do Rural entregues ao
BC mostram que em janeiro a
instituição registrou um prejuízo líquido de R$ 10,4 milhões. O
patrimônio líquido do banco estava em R$ 360 milhões.
Os depósitos a prazo do Rural
somavam R$ 2,1 bilhões em títulos vendidos a investidores. Agora, parte disso deve ser reembolsado pelo Fundo Garantidor de
Créditos (FGC), que assegura
aplicações até o limite de R$ 250
mil para Certificados de Depósito a Prazo e Letras de Créditos e
de R$ 20 milhões para o Depósito
a Prazo com Garantia Especial.
Segundo o Valor apurou, cálculos iniciais mostram que o FGC
arcará com algo entre R$ 600 milhões e R$ 900 milhões.
Bióloga por formação. Bailarina por vocação. Banqueira por
ocasião. As três faces profissionais de Kátia Rabello, ex-presidente e acionista do Banco Rural,
são apenas uma fração do complexo conjunto de circunstâncias
que a levaram ao papel de protagonista da saga da instituição.
Se a liquidação decretada na
sexta-feira encerra a trajetória do
banco, está longe de ser o capítulo
mais dramático pelo qual passou o
principal rosto ligado à instituição. Na mais alta corte brasileira,
Kátia Rabello também foi personagem do histórico julgamento do
escândalo político do mensalão.
Junto com a cúpula do Rural, foi
condenada por gestão fraudulenta
e lavagem de dinheiro. A pena, 16
anos e oito meses de prisão.
Com pouco mais de cinquenta anos, a banqueira-bailarina
teve muitas vidas antes de virar
ré por crimes de colarinho branco. Não fosse uma imprevisível
sequência de acontecimentos,
Kátia talvez dificilmente chegasse ao comando do banco criado
pela família Rabello, junto com
o clã de Antonio Sabino e a família carioca Santana.
Embora tenha se formado em
Biologia, a dedicação fervorosa aos
estudos foi desde os 12 anos direcionada ao balé. Estudou dança na
Alemanha e na Inglaterra e, de volta ao Brasil, fundou a companhia
de balé Primeiro Ato, em 1982. Só
em 1995 passou a ter algum contato com o banco da família, como
responsável pelo marketing.
Foi na esteira de uma tragédia,
contudo, que Kátia se viu levada
a abraçar a carreira financeira.
Em 1999, teve de substituir no
banco a irmã, Junia, que morreu
em acidente de helicóptero. À
presidência do Rural só chegou
de fato em 2004, na ocasião de
outras duas mortes — a do pai,
Sabino, e a do então vice-presidente da instituição, José Augusto Dumont. Passado o estouro do
mensalão, Kátia deixou a gestão
do banco, que foi profissionalizada em 2008, e passou a presidir
o conselho de administração.
Até o batismo do Rural vai
além da simples aparência. O nome do banco foi emprestado de
um carro da Ford, um jipe, popular na década de 70. Sobre a insistência do patriarca da família, Sabino Corrêa Rabello, em manter
o controle do banco, Kátia uma
vez chegou a dizer: “Papai não
vende nem carro velho.”
JEFFERSON DIAS/VALOR
Governo ganha com fim de banco ligado a escândalos
Análise
Raymundo Costa
De Brasília
Com a liquidação do Banco Rural, o governo da presidente Dilma Rousseff livra-se de uma batata quente, talvez a última a ligá-lo
com o esquema do mensalão. O
Rural esteve envolvido em alguns
dos principais escândalos políticos ocorridos no país nos últimos
20 anos, e sua ex-presidente, Kátia Rabelo, condenada a 16 anos
de prisão pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) por sua participação no esquema.
O PT também se livrou dos dirigentes partidários igualmente
condenados pelo STF: o ex-ministro José Dirceu e os deputados José
Genoino (SP) e João Paulo Cunha
(SP) foram excluídos da chapa do
novo Diretório Nacional do partido, a ser eleito em novembro. Os
três estavam dispostos a renunciar
à nova indicação, mas o PT se antecipou e vazou a notícia para a im-
prensa. Depois, tentou contemporizar e, em vez de afastar, aceitou
um pedido de “renúncia” dos três.
A rigor, não há uma relação direta entre os dois casos, a liquidação e o afastamento dos petistas,
mas eles não deixam de favorecer o
governo, no momento difícil em
que a presidente Dilma Rousseff
perde pontos nas pesquisas de opinião pública. Além disso, o Supremo retoma o julgamento do mensalão no próximo dia 14 e o governo poderia ser surpreendido com
alguma notícia sobre a leniência
com que estaria tratando o Rural,
banco que definitivamente estava
mal das pernas, não era de hoje.
Desde o início dos anos 1990 a
instituição aparece relacionada
com alguns dos principais escândalos políticos que acabaram em
CPI do Congresso. O maior deles,
em termos políticos, foi a CPI de PC
Farias, que levou ao impeachment
do ex-presidente e atual senador
por Alagoas, Fernando Collor de
Mello. Mas também foi investigado por operações fraudulentas pe-
la CPI dos Precatórios, do Banestado e, por último, do mensalão.
O Rural também aparece no
chamado “Mensalão Mineiro”,
um suposto esquema de financiamento da campanha do senador e ex-governador de Minas
Gerais Eduardo Azeredo. O processo atualmente está no Supremo Tribunal Federal. O “mensalão mineiro” também é chamado
de “mensalão tucano”, por envolver um ex-presidente do PSDB
(Eduardo Azeredo).
A CPI que investigou o ex-tesoureiro da campanha de Fernando Collor, em 1989, Paulo Cesar Farias concluiu que o Banco
Rural foi peça-chave do esquema
montado por PC, como era mais
conhecido. A relação de Collor
com o esquema foi estabelecida,
aliás, por um cheque do banco
usado para a compra do Fiat Elba
do ex-presidente da República. A
conta era movimentada por um
dos “fantasmas” — contas em nomes de pessoas fictícias usadas
para supostamente encobrir pa-
gamentos de propina a empresas
com contratos com o governo —
de PC Farias.
No “esquema do mensalão” ficaram famosos os casos dos saques efetuados na agência de
Brasília do Rural. Uma lista era
enviada da sede do banco, em
Belo Horizonte, para a agência
localizada em um dos principais
shoppings da capital da República. Os políticos beneficiados
com o dinheiro, destinado à
compra de votos dos deputados,
sacavam pessoalmente ou por
intermédio de terceiros. Todos
afirmam que se tratava, na realidade, de caixa 2 do PT.
Além de Kátia Rabelo, a maior
acionista do Rural, o Supremo
condenou o vice-presidente Vinicius Samarane e o ex-vice-presidente José Roberto Salgado. Em
quase meio século de existência,
o banco articulou uma ampla rede de apoios políticos, em praticamente todos os partidos, uma
teia de relações perigosas que
certamente aceleraram o seu fim.
Passado o escândalo do mensalão, Kátia tentou profissionalizar gestão do Rural
Fundação responsabiliza BC por perda com BVA
Agenda
Mercado imobiliário
Ana Paula Ragazzi
Do Rio
Dois fundos de pensão recorreram à Justiça Federal para responsabilizar o Banco Central
(BC) por perdas com investimentos realizados no Banco BVA, cuja
liquidação extrajudicial foi decretada em junho passado.
O escritório Bichara, Barata &
Costa Advogados entrou com as
ações em nome da Fundação Rede Ferroviária de Seguridade Social (Refer) e da FIPECq, que representa os empregados de Finep, Ipea, CNPq, Inpe e Inpa.
A alegação é que o BC aprovou
o investimento de ambas no BVA
já ciente dos problemas enfrentados pelo banco. Procurado pelo Valor, o BC disse que não comenta assunto protegido por sigilo e nem questão que envolve
ação judicial da qual é parte. “O
que podemos afirmar é que a
ação do BC se pautou nos estritos
termos da lei”, informou.
Refer e FIPECq investiram no
Fundo de Investimento em Participações (FIP) Patriarca, criado para
comprar ações preferenciais do
BVA. O FIP era, portanto, um veículo de capitalização do banco. As
duas fundações fizeram o investimento em setembro de 2010. A FIPECq aplicou R$ 7 milhões ou
2,46% do patrimônio líquido do
fundo. A Refer investiu R$ 40,083
milhões, ou 13,86% do FIP.
No entanto, para que o Patriarca
pudesse de fato comprar as ações
do BVA, era necessária a aprovação
do BC às alterações de capital da
instituição financeira. Oito aumentos de capital no banco foram
deliberados em assembleias entre
setembro de 2010 e dezembro de
2011 e, por mais de um ano, aguardaram a liberação da autarquia federal. Ela só veio em 16 de abril de
2012, mesmo mês em que o BC havia determinado um reajuste na
elaboração do balanço contábil do
BVA, o que gerou um impacto negativo em seu patrimônio líquido.
Por esse motivo, o BC exigiu que o
BVA elevasse substancialmente
suas provisões, uma vez que foram
reconhecidas receitas e despesas
fora do regime de competência.
As fundações afirmam que só
tomaram conhecimento de que
os dois eventos aconteceram
quase que simultaneamente
pouco mais de dois meses depois, em julho de 2012, quando
foram informadas sobre os fatos
pelo gestor do Patriarca.
“Quando o BC aprovou os aumentos de capital, após um longo período de análise, já tinha
fortes indícios dos problemas no
banco. Se tivesse sido no mínimo
prudente, deveria ter indeferido”, afirma Fábio Berbel, sócio do
Bichara, Barata & Costa Advogados. Em um segundo momento,
o BC ainda exigiu que o BVA revertesse alguns lançamentos
contábeis que divergiam de seu
entendimento. Em razão disso, o
BVA convocou a KPMG para, novamente, auditar seus demonstrativos financeiros. Ao fim desses eventos, os cotistas do Patriarca foram informados de que o
BVA deveria ser capitalizado em
R$ 630 milhões para fazer frente
às exigências do BC. Em outubro
de 2012, houve a intervenção.
As fundações alegam que,
quando decidiram fazer o investimento, não havia questionamentos sobre a solidez do BVA. No entendimento delas, o banco possuía
avaliações de rating que lhe apontavam alto grau de investimento e
era auditado por empresa de renome. Berbel diz que a ação também
busca responsabilizar pelas perdas
das fundações outras instituições
que prestaram serviços ao banco e
não atentaram para e sua condição, como a auditoria KPMG e a
Austin Rating — procuradas, ambas não deram entrevista.
Berbel conta que, por meio de
duas ações cautelares, o escritório
conseguiu o arresto de bens dessas
empresas. As liminares já foram
cassadas, segundo Berbel pelo fato
de KPMG e Austin serem empresas
solventes. No entanto, o advogado
destaca que é a primeira vez no
Brasil que um investidor responsabiliza auditoria e agência de rating
por prejuízos causados pela intervenção em um banco.
Na ação, as fundações querem
ser indenizadas pelas perdas e
consideram que o investimento
do Patriarca transformou-se em
uma “injeção considerável” de
recursos que capitalizaram o
banco antes da publicização de
suas irregularidades. Procurados, os executivos do BVA não foram localizados até o fechamento dessa edição. Antes da intervenção no banco, o patrimônio
do Patriarca, que possui diversos
outros cotistas, estava em R$
284,7 milhões. Em março passado, era de R$ 6,95 milhões.
A 13ª Conferência Internacional
da Sociedade Latino Americana de
Estudos Imobiliários terá como tema central as megacidades. Entre
os palestrantes, estão Octavio de
Lazari Junior, presidente da Abecip; Alessandro Vedrossi, da Brookfield; Martin André Jaco, da BR Properties e Hilton Rejman, da Cyrela.
Data: 11 a 13 de setembro
Horário: manhã e tarde
Local: Rua Ferreira de Araújo,
741 - São Paulo – SP
Informações: http://www.lares.org.br
Indicadores
± Hoje
I Nos EUA, o ISM divulga o ín-
dice de atividade do setor de serviços de julho
I Na Europa, saem o índice de
gerentes de compras (PMI) composto e as vendas no varejo
Fontes: BC, FGV e LCA
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