Julgamento do mensalão é ponto para a democracia Professores da Fundação Getúlio Vargas analisam o desmembramento do escândalo DIEGO WERNECK ARGUELHES FERNANDO LEAL Publicado:5/08/12 - 8h00 Atualizado:5/08/12 - 8h27 RIO - Os primeiros dias do julgamento do denominado mensalão mostraram muitas coisas. De trocas de palavras ásperas entre os ministros a surpresas, como a declaração de Toffoli de que já está com o seu voto pronto. Mas mostraram, sobretudo, que parecemos estar bem preparados para um julgamento dessa magnitude. A democracia vai bem, obrigado. As instituições estão funcionando. O Procurador Geral da República usou todo o tempo disponível para ler a sua acusação. Tudo correu sem surpresas. Os advogados dos réus se manifestaram sobre o que entendem ser direitos dos seus clientes e os ministros dedicaram longo tempo à questão de ordem sobre o desmembramento – principal tema da quinta-feira – porque não a viram como um mero pedido protelatório. Na visão da corte, estava em jogo, daquela vez, uma questão constitucional. Voltar ao desmembramento foi considerado muito diferente de reapreciar a possibilidade de usar power point na sessão, pedido repetido pela defesa que já tinha sido descartado pelo tribunal no dia anterior. Cada um vai exercendo o seu papel esperado em um Estado constitucional de Direito. No Supremo, nada aparentemente extraordinário. Confrontos mais acalorados entre ministros não são novidade no tribunal. O de quinta pode ser lido de diferentes maneiras. Na mais otimista, uma disputa sobre teses jurídicas sustentadas sobre bons argumentos. Dizer que as instituições estão funcionando não significa negar que tensões possam existir. Para a democracia, contudo, fundamental é refletir sobre como os conflitos foram equacionados. E as soluções encontradas foram institucionais. O ministro Gilmar Mendes reforçou ser um mito a visão de que o Supremo não está preparado para conduzir um processo como esse. Até agora, a performance do tribunal tem confirmado a tese. A mídia, por sua vez, vem dando ampla cobertura. Para que as soluções de conflitos como os de quinta sejam percebidas como legítimas, ela cumpre um papel fundamental. Nesses primeiros dias de julgamento, a cobertura tem sido abrangente e detalhada. Não faltam análises, descrições e opiniões. Não há opinião pública crítica sem informação. Além dos veículos tradicionais, a população também se engaja individualmente – ou em rede. No Twitter, o mensalão bateu as Olimpíadas e os últimos passos da vingança de Nina na novela. Enquanto a questão de ordem era apreciada, ouviuse muito que o processo precisa continuar andando para frente. Que continue assim. Diego Werneck Arguelhes e Fernando Leal são professores da FGV Direito Rio. Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/julgamento-domensalao-ponto-para-democracia-5690635#ixzz27UbDA76i © 1996 - 2012. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.