XXIV ENANGRAD FIN – Finanças ANÁLISE DO POSICIONAMENTO DAS EMPRESAS DO SETOR DE CONSTRUÇÃO CIVIL DE CAPITAL ABERTO, NA MATRIZ DE ESTRATÉGIA FINANCEIRA Micheli de Almeida Muniz Lucimeire Cordeiro da Silva Florianópolis, 2013 FINANÇAS – Código: FIN ANÁLISE DO POSICIONAMENTO DAS EMPRESAS DO SETOR DE CONSTRUÇÃO CIVIL DE CAPITAL ABERTO, NA MATRIZ DE ESTRATÉGIA FINANCEIRA. JULHO/ 2013 1 RESUMO Esta pesquisa se propõe analisar o posicionamento de 21 empresas do setor de construção civil, de capital aberto, na matriz de estratégia financeira no ano de 2011. O objetivo final deste estudo será identificar a empresa que possui maior potencial de criação de valor e superávit de caixa. Para atingir este objetivo calculou-se o EVA (valor econômico agregado), a variação do crescimento nas vendas e a taxa de crescimento autossustentável das 21 empresas para o período de 2011, com a obtenção dos resultados foi possível a construção da matriz de estratégia financeira. A metodologia adotada foi bibliográfica e documental. Foram 21 empresas estudadas e suas posições na matriz foram as seguintes: nove estão posicionadas no primeiro quadrante com déficit de caixa e criação de valor, quatro no segundo quadrante, com superávit de caixa e criação de valor, seis no terceiro quadrante, com superávit de caixa e destruição de valor e duas no quarto quadrante, com déficit de caixa e destruição de valor. As empresas que se posicionaram no segundo quadrante, com superávit de caixa e criação de valor, foram: EZ TEC, HELBOR, JOÃO FORTES e TECNISA. Sendo a EZ TEC destaque com a maior geração de riqueza. As empresas que se posicionaram no quarto quadrante foram às empresas: SERGEN e a BROOKFIELD com destruição de valor e déficit de caixa, sendo esta a pior posição. Palavras-chave: Autossustentabilidade, déficit, superávit, criação e destruição de valor . ABSTRACT This research aims to analyze the positioning of 21 companies in the construction industry, publicly traded, the array of financial strategy in 2011. The ultimate goal of this study is to identify the company that has the greatest potential for value creation and cash surplus. To achieve this goal we calculated the EVA (economic value added), the variation in sales growth and the rate of selfsustaining growth of 21 companies for the period 2011 to obtain the results was possible to build the array of financial strategy. The methodology adopted was bibliographical and documentary. 21 companies were studied and their positions in the matrix were as follows: nine are positioned in the first quarter with cash shortfall and value creation, four in the second quadrant, with a surplus of cash and value creation, six in the third quadrant, with a surplus of cash and value destruction and two in the fourth quadrant, with cash shortfall and value destruction. The companies who have the best position in the second quadrant, with a surplus of cash and value creation were: EZ TEC HELBOR, JOHN STRONG and TECNISA. Being the EZ TEC highlighted with greater wealth generation. The companies that are positioned in the fourth quadrant were companies: BROOKFIELD SERGEN and with destruction of value and cash deficit, and this is the worst position. Keywords: self-sustainability, deficit, surplus, creation and destruction of value 2 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos ocorreu um grande crescimento do setor de construção civil. Este crescimento contribui para o aumento dos indicadores de empregabilidade do país. O Setor de Construção Civil é altamente sensível as variáveis macroeconômicas. Com o surgimento do Plano de Aceleração do Crescimento juntamente com a abertura comercial de diversas economias, criou um ambiente propício à maior competição no setor. As empresas passaram a privilegiar uma gestão orientada para a obtenção de produtividade e lucros como resultados da operação, o que desencadeou um processo de consolidação e a formação de grandes grupos. Diante do exposto acima, verifica-se a necessidade dos investidores em acompanhar a capacidade de autossutentabilidade do crescimento, ou seja, a capacidade das empresas de financiar o seu crescimento com recursos próprios sem recorrer a endividamento com terceiros, a empresa que obtém superávit de caixa, ou seja, aquela em que a variação de crescimento nas vendas foi inferior a taxa de crescimento autossustentável, está em uma posição mais confortável pois tem recursos para crescer ainda mais e ser mais competitiva. Além deste acompanhamento, é necessário focar a atenção na capacidade da empresa em criar ou destruir valor por parte das organizações através da relação entre o retorno do investimento e o custo do capital, sendo este de vital importância para a saúde financeira das organizações. A matriz de planejamento financeiro é uma ferramenta gráfica, muito importante na demonstração destas duas situações. De acordo com a posição relativa da empresa é possível saber se a empresa possui capacidade de autossustentabilidade de seu crescimento e geração ou destruição de valor (riqueza). O problema da pesquisa pode então ser colocado da seguinte forma: Qual a posição relativa das empresas do setor de Construção Civil na matriz de estratégia financeira? É possível identificar a empresa que ocupa a melhor posição na matriz de estratégia financeira, ou seja, a empresa que obteve superávit de caixa e geração de valor (riqueza)? Para responder a estas perguntas o objetivo final desta pesquisa será identificar a posição relativa das empresas na matriz estratégica. Tendo como objetivos intermediários, identificar a empresa que obteve superávit de caixa e geração de valor, relacionar as estratégias abordadas por Hawawini & Viallet conforme a posição relativa das empresas durante o período de 2011. Quanto à delimitação do estudo, a pesquisa abrangerá as informações econômicofinanceiras, a luz das demonstrações financeiras publicadas, do exercício de 2011 das empresas do setor de construção civil que possuem ações em bolsa. O estudo ficará restrito aos resultados do exercício de 2011. A Amostra será composta de todas as empresas do setor de construção civil que possuem ações em bolsa. São elas: Brookfield Incorporações S.A., Camargo Correa Desenvolvimento Imobiliário S.A., Construtora Adolpho Lindenberg S.A., CR2 Empreendimentos Imobiliários S.A., Cyrela Brazil Realty S.A.Empreend e Part, Direcional Engenharia S.A., Even Construtora e Incorporadora S.A., EZ TEC Empreend. e Participações S.A., Gafisa S.A., Helbor Empreendimentos S.A., JHSF Participações S.A., João Fortes Engenharia S.A., MRV Engenharia e Participacoes S.A., PDG Realty S.A. Empreend. e Participações, Rodobens Negócios Imobiliários S.A., Rossi Residencial S.A., Sergen Serviços Gerais de Eng. S.A., Tecnisa S.A., TGLT S.A, TRISUL S.A. E Viver Incorporadora e Construtora S.A. Quanto à relevância do estudo, diante das turbulências do Mercado Globalizado, verifica-se que há a necessidade do acompanhamento das empresas em gerar caixa e criar riqueza, sendo estes fatores, os mais relevantes para a sobrevivência das mesmas no mercado. A metodologia aplicada será descritiva, quanto aos fins, e quanto aos meios bibliográfica e documentais. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 Referencial Teórico 2.1.1. As Empresas do Setor de Construção Civil Construção civil é o termo que engloba a confecção de obras como casas, edifícios, pontes, barragens, fundações de máquinas, estradas, aeroportos e outras infraestruturas, onde participam arquitetos e engenheiros civis em colaboração com técnicos de outras disciplinas. 3 A construção é a execução do projeto previamente elaborado, seja de uma edificação ou de uma obra de arte, que são obras de maior porte destinadas a infraestrutura como pontes, viadutos ou túneis. É a execução de todas as etapas do projeto da fundação ao acabamento. Consistem em construir o que consta em projeto, respeitando as técnicas construtivas e as normas técnicas vigentes. No Brasil, o termo reforma é o mais utilizado quando se trata de fazer alguma ampliação, inovação, ou restauração, ou apenas uma pintura, ou a troca de um piso cerâmico de um imóvel, seja comercial, industrial ou residencial. Os termos construção e obra também são utilizados. Os termos construção civil e engenharia civil são originados de uma época em que só existiam apenas duas classificações para a engenharia sendo elas civil e militar, cujo conhecimento, por exemplo de engenharia militar, era destinada apenas aos militares e a engenharia civil destinada aos demais cidadãos. Com o tempo, a engenharia civil, que englobava todos as áreas, foi se dividindo e hoje conhecemos vários divisões, como por exemplo a engenharia elétrica, mecânica, química, naval, etc. Exemplos como engenharia naval, dão origem à construção naval, mas ambas eram agrupadas apenas na grande área da civil. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) regulamenta as normas e o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) fiscaliza o exercício da profissão e a responsabilidade civil. Toda a obra de construção civil deve ser previamente aprovada pelos órgãos municipais competentes, e sua execução acompanhada por engenheiros ou arquitetos registrados no CREA. As empresas listadas pela BOVESPA do setor de construção civil são: Brookfield Incorporações S.A., Camargo Correa Desenv. Imobiliario S.A., Construtora Adolpho Lindenberg S.A., CR2 Empreendimentos Imobiliarios S.A., Cyrela Brazil Realty S.A.Empreend e Part, Direcional Engenharia S.A., Even Construtora e Incorporadora S.A., EZ TEC Empreend. e Participacoes S.A., Gafisa S.A., Helbor Empreendimentos S.A., JHSF Participacoes S.A., Joao Fortes Engenharia S.A., MRV Engenharia e Participacoes S.A., PDG Realty S.A. Empreend. e Participacoes, Rodobens Negocios Imobiliarios S.A., Rossi Residencial S.A., Sergen Servicos Gerais de Eng S.A., Tecnisa S.A., TGLT S.A, TRISUL S.A. E Viver Incorporadora e Construtora S.A. 2.1.2. Coeficiente Beta O coeficiente beta mede a sensibilidade de um ativo em relação às movimentações da carteira de mercado, ou seja, exprime o risco sistemático de um ativo. Segundo TITMAN SHERIDAN ET al. (2010: 166), o beta da empresa representa quão sensível é o seu retorno de capital às variações nas taxas de retorno da carteira de mercado, como um todo. O desenvolvimento da conceituação de beta surgiu dentro do modelo CAPM – modelo de precificação de ativos de capital (capital asset pricing model), desenvolvido por Willian Sharpe e Harry Markowitz, objetivando a busca de carteira eficiente de títulos, ou seja, aquela que tivesse o maior retorno e o menor risco. Quanto maior o beta de um investimento, mais alto seu risco. O beta representa a co-variância do retorno de um título ou investimento individual com o da carteira (mercado) dividido pela variância do retorno dessa carteira. β= Cov x , y σ2 (a) Onde: = Beta 2 = Variância do retorno do mercado Covx,y = Covariância entre a variação do retorno do mercado e dos investimentos Portanto, o coeficiente beta, medida de risco do modelo CAPM, indica o incremento necessário no retorno de um ativo de forma a mensurar adequadamente seu risco. 4 2.1.3. Valor Econômico Adicionado (EVA) O valor econômico adicionado é uma medida de criação de valor identificada no desempenho operacional da empresa. É um indicador sobre se a empresa está criando ou destruindo valor. Sua popularização se deu com o nome de Economic Value Added (EVA). Segundo Assaf Neto & Lima (2009, p.317) o valor econômico agregado é uma medida de criação de valor. Demonstra se a empresa está sendo capaz de cobrir todos os seus custos e despesas, e com isso, gerar riqueza aos seus proprietários. Sendo assim para os autores o EVA é o resultado de uma empresa que sobra após a dedução do custo do capital próprio como despesa. Quando positivo, esta criando valor aos proprietários. Esta ferramenta mede o lucro econômico, englobando o conceito de lucro contábil e o custo do capital investido. Para Lemes Junior et all (2005, p.79), o Valor Econômico Agregado mensura o desempenho financeiro da empresa ou de um investimento que está sendo avaliado. Assim seu objetivo é saber se os resultados da empresa ou os previstos no investimento estarão contribuindo para aumentar a riqueza dos proprietários. Seu calculo é subtrair todos os custos de capitais utilizados, próprios e de terceiros, dos lucros operacionais após os impostos. Se no final resultar em valor positivo significa que a empresa esta gerando lucros, ou seja, esta contribuindo para aumentar a riqueza dos proprietários; e se no resultado final for negativo a empresa ou investimento esta gerando lucros em volumes menores do que os custos dos capitais empregados, reduzindo a riqueza dos proprietários. Conforme Matias (2007, p.178), para os administradores terem reais informações dos negócios e tomarem decisões financeiras para melhorar os resultados, o EVA é fundamental. Nele se calcula a diferença entre o retorno sobre o capital investido menos o custo do capital investido. Segundo os autores Brigham & Ehrhardt (2001, p.50), “O EVA mede a extensão na qual a empresa adicionou valor ao acionista”. É considerada uma base útil para fixar a execução da administração. É o método mais usado pelas empresas, para a decisão da remuneração dos administradores. Portanto, o valor econômico agregado é uma ferramenta utilizada para medir o desempenho financeiro da empresa, onde seu objetivo é saber se os resultados estão gerando riqueza. Quando o valor é positivo, significa que está criando valor aos proprietários. E quando o valor é negativo, significa que está causando prejuízo aos mesmos. O cálculo do valor econômico pode ser obtido da seguinte forma: EVA = ( ROA − CMPC ) × INVESTIMENTO (a) Onde: ROA = Retorno sobre o Ativo CMPC = Custo Médio Ponderado de Capital Verifica-se que caso o retorno seja maior que o custo médio ponderado capital, a empresa estará criando valor em caso contrário estará destruindo valor. Situação que será analisada e calculada neste estudo; onde será calculada a taxa de retorno sobre o ativo e diminuído do custo médio ponderado de capital. Caso o resultado seja positivo, significará que a empresa estará criando valor. Em caso contrário estará destruindo valor. 2.1.4. O Modelo de Precificação de Ativos de Capital – CAPM (capital asset pricing model) O modelo do CAPM considera dois tipos de risco: o diverisficável (que pode ser minimizado através da diversificação de investimento) e o risco não diversificável proveniente da fatores externos (inflação, taxa de juros e outros). Portanto o risco de uma carteira é a média ponderada de todos os betas dos títulos individuais. Segundo Matias (2007, p.94) a propagação mais indicada para o calculo do custo de capital próprio é o método CAPM. Nele se reflete o risco da empresa e representa o custo de capital próprio e capital de terceiro de longo prazo. Para Assaf Neto e Lima (2009, p.500) o custo de capital próprio é o retorno mínimo que equivale ao rendimento mínimo que a empresa deve obter para remunerar seus acionistas e manter o preço de mercado de suas ações. O CAPM é um método usado para mensurar o custo de capital próprio que é derivado da aplicação do modelo de precificação de ativos. Quanto maior apresentar o risco da decisão, maior o retorno exigido; para níveis mais baixos, é possível remunerar os investidores com taxas de retorno também mais reduzidas. 5 “É o retorno mínimo que os acionistas exigem por sua participação no financiamento permanente da empresa.” (LEMES JUNIOR et all 2005, p.187) Sabendo-se que o beta mede o risco, o prêmio por risco de um investimento deve ser igual ao prêmio por risco do mercado multiplicado pelo coeficiente beta. Portanto pode-se obter o custo de capital próprio com o modelo CAPM: RT = R F + ( R M − R F ) × β (b) Onde: RT = Retorno esperado do título RF = Taxa livre de risco RM = Retorno do mercado RM – RF = prêmio por risco de mercado. 2.1.5. Custo de Capital de Terceiros (CCT) Segundo Matias (2007, p.96) o custo de capital de uma empresa é utilizada como taxa mínima de atratividade. Esse custo indica criação de valor quando o retorno operacional for maior que a taxa requerida de retorno determinada pela alocação de capital. Sua definição é de acordo com os passivos onerosos situados nos empréstimos e financiamentos da empresa. De acordo com Assaf Neto e Lima (2009, p.498) o custo de capital de terceiros são as dividas da empresa, assim como empréstimos e financiamentos no mercado. É definido nos passivos onerosos identificados nos empréstimos e financiamentos. “É o custo de tomar recursos emprestados após o imposto de renda.” (LEMES JUNIOR et all, 2005, p.185) O custo de capital de terceiros pode ser facilmente identificado, por ser um custo explicito expresso em contrato, por ser divulgado no mercado financeiro, ou por ser calculado através do fluxo de caixa esperado até o vencimento do titulo. Portanto, o custo de capital de terceiros pode ser obtido da seguinte maneira: CCT = Despesas financeiras Capitais de terceiros (c) Onde: CCT = Custo de Capitais de Terceiros 2.1.6. Custo Médio Ponderado de Capital Segundo Hoji (2012, p. 205), “o Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) é a soma dos custos ponderados resultantes da multiplicação dos custos efetivos pelas respectivas taxas de participação (pesos) na estrutura de capital planejada.” Conforme Carmona et al (2008, p. 116), o CMPC procura mostrar o custo médio futuro das diversas fontes de capital a longo prazo. Tendo como objetivo ponderar a participação de cada fonte e seu respectivo custo. Portanto, pode-se representar o Custo Médio Ponderado de Capital da seguinte maneira: CMPC = %CT × CCT (1 − I ) + %CP × CCP (d) Onde: %CP = Proporção de capital próprio na estrutura CCP = Custo de capital próprio %CT = Proporção de capital de terceiro na estrutura CCT = Custo de capital de terceiro I = Imposto De acordo com Carmona et al (2008, p. 117), para a empresa seria importante captar o máximo possível de capital de terceiros, o que permitiria que seu custo fosse reduzido. No entanto, existem limitações, como o risco operacional e financeiro. Lima (2008, p. 116) sustenta que o CMPC é usado quando o investimento em um negócio envolve um risco similar ao da empresa determinada da obtenção do custo médio. 6 Martelanc, Pasin e Cavalcante (2006, p.151) afirmam: O CMPC reflete a taxa de atratividade da empresa (e a taxa de desconto a ser utilizada em sua avaliação) na análise de viabilidade de propostas de investimento de capital. É importante ressaltar que essa ponderação de taxas deve ser feita com base em valores de mercado, e não em valores contábeis registrados. Camacho et al (2006, p. 20) ressalta: O custo do capital de terceiros é menor que o de capital próprio até o limite em que o endividamento excessivo aumenta significantemente a probabilidade de inadimplência. Até esse nível, o financiamento através de emissão de dívidas possibilita uma redução no WACC devido aos benefícios fiscais gerados pelo endividamento. 2.1.7. Variação de Crescimento e Taxa de Crescimento Autossustentável De acordo com Hawawini & Viallet (2010, p.155) quando as vendas aumentam, mais contas a receber são geradas, é necessário mais estoques, e assim mais ativos são exigidos para sustentar os níveis altos de vendas. Existem duas maneiras que as empresas podem financiar seu crescimento esperado: internacionalmente com acréscimos a lucros retidos, ou por meio da emissão de ações e com dinheiro emprestado. A taxa de crescimento autossustentável é o indicador do crescimento máximo que pode ser alcançado pela empresa sem recorrer à capital próprio externo. Para Hawawini & Viallet (2009, p.155): “É a taxa máxima de crescimento das vendas que uma empresa pode alcançar sem emitir novas ações ou alterar sua politica de operações (ou seja, manter sua margem de lucro operacional e o giro de seu capital) ou sua politica de financiamento (ou seja, manter o mesmo quociente entre capital de terceiros e capital próprio e o mesmo índice de distribuição de lucros).” A taxa de retenção, segundo Hawawini & Viallet (2009, p.156), pode ser obtida através da multiplicação da taxa de retenção pelo retorno sobre o capital próprio. A taxa de crescimento autossustentável (TCS) é igual a taxa de crescimento do patrimônio dos acionistas que pode ser escrita conforme abaixo: TCS = TR x ROE Onde: TCS=Taxa de crescimento autossustentável TR= Taxa de retenção do capital próprio ROE= Retorno sobre o capital próprio Portanto, é a taxa máxima de crescimento possível para uma empresa que mantém um índice de endividamento geral constante e não emite novas ações. A taxa de crescimento sustentável é a taxa máxima de crescimento que uma empresa pode alcançar sem financiamento externo de capital próprio e mantendo o quociente capital próprio e capital de terceiros constante. Conforme Hawawini & Viallet (2009, p.156), se o crescimento sustentável for menor do que o crescimento real por um período prolongado, a empresa não pode sustentar a sua atividade sem financiar esse crescimento, (TCS < CR). Quando o crescimento sustentável é maior do que o crescimento real, a empresa tem um potencial de engrenagem para cima, (TCS > CR). 2.1.8. Retorno sobre o patrimônio líquido (RPL) ou Retorno sobre o capital próprio (ROE – Return On Equit) Segundo Gitman (2010, p.60) mede o retorno do investimento dos acionistas na empresa. 7 De acordo com Assaf Neto (2009, p.230) este indicador mede o retorno dos recursos aplicados na empresa pelos proprietários. É obtido pela relação entre o lucro liquido e o patrimônio liquido conforme abaixo: RPL= Lucro Liquido Patrimônio liquido 2.1.9 LAJIR ou EBIT (Lucro antes dos juros e imposto de renda; Earning before interest and taxes) Segundo Matias (2007, p.182) o Lucro Antes do Imposto de Renda tem uma eficiência financeira determinada pelas estratégias operacionais adotadas. Nele é incluído todo tipo de receita e despesa operacional, já as receitas e despesas financeiras são excluídas. Quanto mais superior o valor final, mais eficiente à formação de caixa das operações dos ativos. O LAJIR (Lucro antes dos Juros e Imposto de Renda) demonstra o resultado operacional antes de impostos, resultado que a empresa teria tido se não tivesse endividamento. 2.1.10 . Matriz de Estratégia Financeira Segundo Hawawini & Viallet (2010, p.486 e 538) para posicionar empresas na matriz estratégica financeira, existem duas etapas: Etapa 1: Estimar a margem de retorno de cada empresa para determinar a sua capacidade de criar valor. A margem de retorno é a diferença entre o retorno sobre o capital investido (Roic) de uma empresa e o seu custo médio ponderado de capital (WACC). Se a margem de retorno for positiva, o mesmo acontecera com o valor econômico adicionado (EVA), e a empresa terá criado valor durante o período em analise. Se a margem de retorno e o EVA forem negativos, terá havido destruição de valor durante o período do diagnostico.” Etapa 2: “Estimar a taxa de crescimento autossustentável de cada empresa para determinar a sua capacidade de financiar seu crescimento por meio da retenção de lucro. A taxa de crescimento autossustentável (TCS) é igual á taxa de retenção de lucro (b) multiplicada pelo retorno sobre o capital próprio (ROE). Compare a TCS de cada empresa á sua taxa de crescimento das receitas de venda. Se o crescimento das receitas de venda for superior á TCS, a empresa estará passando um período de insuficiência ou déficit de caixa. Se o crescimento das receitas de venda for inferior á TCS, a empresa estará tendo um superávit de caixa.” A unidade pode enfrentar quatro situações possíveis numa unidade: “(1) a unidade tem capacidade de criação de valor, mas sofre de insuficiência de caixa (quadrante superior direito); (2) a unidade tem capacidade de criação de valor e gera um excedente de caixa (quadrante superior esquerdo); (3) a unidade destrói valor, mas gera excedente de caixa (quadrante inferior esquerdo) e (4) a unidade destrói valor e sofre de insuficiência de caixa (quadrante inferior direito). Além disso, caso a empresa fique posicionada no primeiro quadrante, ou seja, se encontre em uma situação de geração de valor de déficit de caixa as estratégias propostas para esta situação são eliminação de pagamentos aos sócios (dividendos) e busca de capital através de emissão de ações, no caso das empresas de capital aberto. Caso o posicionamento seja no segundo quadrante, a situação da empresa será criação de valor de excedente de caixa, as estratégias propostas pelo autor será utilizar o excedente de caixa reinvestindo na própria empresa para seu crescimento e/ou , diversificar o negócio com investimentos rentáveis. Caso esteja no terceiro quadrante, o ideal é corrigir o mais rápido possível antes que o excedente se esgote, devolvendo parte aos acionistas, e parte utilizar na reestruturação, objetivando aumentar o retorno. Já no quarto quadrante, é a situação mais difícil, onde esta destruindo valor com caixa insuficiente se for possível, reestruturar rápido; caso contrário vender logo. (HAWAWINI & VIALLET: 2010.p 486). 8 EVA > 0 Criação de Valor Figura 01: Matriz de Estratégia Financeira G receita de vendas < TCS G receita de vendas > TCS EVA < 0 Déficit de Caixa Destruição de Valor Excedente de Caixa Fonte: Hawawini & Viallet, 2010,p.486 Verifica-se na figura acima que, no eixo “x”, quando a variação de crescimento nas vendas é maior que a taxa de crescimento autossustentável a empresa se encontra em uma situação de déficit de caixa, pois cresceu além de sua capacidade de autofinanciamento. Quando a variação da receita de vendas for menor que a taxa de crescimento autossustentável a empresa está com excedente de caixa, ou seja, a empresa cresceu abaixo de sua capacidade de autofinanciamento, obtendo superávit de caixa. No eixo “y” é demonstrada a relação do retorno sobre o ativo com o custo médio ponderado de capital. Quando o retorno é maior que o custo de capital a empresa está criando valor, caso contrário, quando o retorno é menor que o custo de capital a empresa está destruindo valor. 2.2. Metodologia 2.2.1 Tipo de Pesquisa A pesquisa será quanto aos fins e aos meios da seguinte forma: a) quanto aos fins: • pesquisa descritiva: exposição do índices para análise da matriz de estratégia financeira . b) quanto aos meios: • pesquisa bibliográfica: consulta de material (livros didáticos, artigos, e sites) relacionado ao tema. • pesquisa documental: este estudo utilizará os dados de Informação Financeiras públicas das empresas das empresas do setor de construção civil para o período estudado, que se limitará ao ano de 2011. 2.2.2. Coleta de Dados Serão utilizadas diversas publicações relacionadas ao tema em questão. Os dados serão obtidos através do site da BOVESPA. 9 2.2.3. Tratamento dos Dados A amostra será composta de empresas do setor de construção civil, como descrito acima. O tratamento dos dados será da seguinte forma: a) obtenção dos dados das empresas em estudo; b) levantamento da cotação das ações da empresas através de pesquisa ao site da BOVESPA; c) cálculo do coeficiente beta; d) cálculo do valor econômico adicionado; e) cálculo do CAPM; f) cálculo da variação de crescimento e taxa de crescimento autossustentável; g) construção da matriz de estratégia financeira; h) análise dos resultados. 2.3. Resultados e Discussão 2.3.1. Resultados Tabela 01: Principais dados para construção da matriz de estratégia financeira. Fonte: os autores 10 Tabela 02: Relação dos resultados do EVA e variação do crescimento nas vendas – TCS Fonte: Os autores. Figura 02: Matriz de Estratégia Financeira Superávit de caixa e criação de valor Déficit de caixa e criação de valor Superávit de caixa e Déficit de caixa e destruição destruição de valor de valor Fonte: Os autores 11 2.3.2. Discussão dos Resultados Destacam-se duas empresas na pior situação, no quarto quadrante: a SERGEN e a BROOKFIELD com destruição de valor e déficit de caixa. Nesta situação é necessário uma reestruturação drástica de sua estrutura de capital, aumentar sua rentabilidade em relação ao seu custo de capital, diminuir a taxa de retorno dos sócios, renegociar as dívidas e diminuir o crescimento insustentável para as mesmas. As empresas que estão na melhor situação, com superávit de caixa e criação de valor, no segundo quadrante são: EZ TEC, HELBOR, JOÃO FORTES e TECNISA. Sendo a EZ TEC destaque com a maior geração de riqueza. A estratégia aconselhada para esta posição é de usar o excedente de caixa para crescer mais rapidamente, realizar novos investimentos e distribuir o excedente de caixa através de pagamentos de dividendos. Verifica-se que estas empresas são concorrentes potenciais para o setor. No primeiro quadrante estão posicionadas nove empresas: CR, CYRELA, DIRECIONAL, EVEN, JHSF, MRV, PDG, RODOBENS e ROSSI. Verifica-se uma situação de criação de valor e déficit de caixa ou seja, as empresas crescem a uma proporção acima de sua capacidade de autossustentação, podendo gerar no futuro problemas de caixa para sustentar o crescimento. Com o provável aumento do seu endividamento no futuro para sustentar o seu crescimento acima de sua capacidade aconselha-se, neste caso, diminuir suas vendas desacelerando seu crescimento bem como, diminuir pagamentos de dividendos e saídas de caixa. No terceiro quadrante, estão posicionadas as empresas com superávit de caixa e destruição de valor, são elas: CAMARGO CORREA, GRAFISA, TGLT, TRISUL e VIVER. Estas estão com superávits de caixa porém, com um custo muito elevado de capital. A estratégia aconselhada por Hawawini & Viallet para esta posição é de distribuir parte do excedente de caixa e usar o restante para aumentar a rentabilidade bem como, rever a estrutura de capital pois, o custo de capital está muito elevado quando comparado com a rentabilidade. 2. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a obtenção dos resultados verifica-se que das empresas estudadas, totalizando vinte e uma, nove estão posicionadas no primeiro quadrante com déficit de caixa e criação de valor, ou seja, ocorre uma expansão do crescimento para as mesmas porém, elas não possuem capacidade de autossustentação sendo obrigadas a se endividarem para manter a taxa de crescimento. A estratégia mais adequada para as mesmas é a desaceleração do crescimento e aumento do controle das saídas de caixa e endividamento pois, o descontrole pode aumentar o custo de capital. Quatro empresas estão posicionadas no segundo quadrante, com superávit de caixa e criação de valor, sendo esta a posição mais confortável para as mesmas. As empresas que obtiveram esta posição, no segundo quadrante, com superávit de caixa e criação de valor foram: EZ TEC, HELBOR, JOÃO FORTES e TECNISA. Sendo a EZ TEC a empresa destaque com a maior geração de riqueza. A estratégia aconselhável para este caso é usar o excedente de caixa para realização de investimentos objetivando o crescimento mais rápido e distribuição do excedente de caixa com pagamentos de dividendos. Verifica-se que estas empresas são concorrentes potenciais para o setor. Seis empresas estão posicionadas no terceiro quadrante, com superávit de caixa e destruição de valor. Verifica-se a necessidade de utilizar o excedente de caixa para aumento da rentabilidade, reestruturar o custo de capital pois, está muito elevado em relação ao retorno do investimento, gerando, conseqüentemente, destruição de riqueza. Duas empresas ocupam a pior posição, com déficit de caixa e destruição de valor: a SERGEN e a BROOKFIELD. Neste caso, é urgente a necessidade de uma reestruturação drástica. Pois, verifica-se que o alto endividamento e a baixa rentabilidade afetam o caixa das empresas dificultando a sustentação do seu crescimento. Este estudo não se encerra por aqui, para continuidade da pesquisa sugere-se a utilização de outras ferramentas de análise do valor econômico da empresa com a utilização da metodologia de fluxo de caixa livre e valor econômico agregado para os acionistas. 12 3. REFERÊNCIAS ASSAF NETO, Alexandre. Finanças Corporativas. 3ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2007. ASSAF NETO, Alexandre, GUASTI LIMA, Fabiano. Curso de Administração Financeira. 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