A relevância do conceito de narcisismo na obra de Freud e alguns apontamentos de sua influência na contemporaneidade Marcos Paulo Shiozaki1 Resumo O presente trabalho pretende demonstrar a importância do conceito de narcisismo na obra de Sigmund Freud (1856-1939), explorando sua construção (a partir da nota de rodapé escrita em 1910 do texto de “Três ensaios sobre a Teoria da sexualidade” 1905) e também a relevância deste conceito para obras posteriores, seja de cunho social - como “Psicologia de Grupo e Análise do Eu”, de 1921- ou no desenvolvimento de outros conceitos metapsicológicos. Além disso, far-se-á necessário uma breve reflexão a respeito da influência desse termo para o pensamento contemporâneo, observando obras reconhecidas como a de Cristopher Lasch, Gilles Lipovetsky, Renato Mezan e Joel Birman. Objetivo Analisar o conceito de narcisismo e apontar alguns aspectos relevantes para a obra de Freud e para alguns autores contemporâneos. Referencial Teórico O conceito de narcisismo, na Psicanálise, foi sendo construído desde 1910, quando Sigmund Freud (1856-1949), ao rever uma edição de seu texto intitulado “Três ensaios sobre a Teoria da sexualidade”, de 1905, adicionou uma nota de rodapé com esse conceito, influenciado pelas idéias de Paul Näcke, que entendia o narcisismo como uma perversão. A partir daí o narcisismo foi amplamente estudado e modificado. Para isso, basta observar o texto “Leonardo da Vinci e sua infância”, de 1910, em que o conceito foi atribuído como uma característica homossexual, até culminar no “Caso Schereber”, de 1911 e “Sobre o Narcisismo: uma Introdução”, de 1914, em que Freud começou a atribuir o narcisismo como uma etapa importante do desenvolvimento. 1 Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), no ano de 2009. E-mail de contato: [email protected] O que é relevante apontar, é que esse conceito foi um importante ponto epistemológico para o desenvolvimento da Psicanálise. Isso pode ser observado nos prefácios de James Strachey, ou até em vocabulários reconhecidos como a de Michel Plon e Elisabeth Roudinesco, e o famoso de Jean Laplanche e Jean-Bertrand Pontalis. Ora, nem é necessário recorrer aos autores, bastando observar o que foi realizado posteriormente a 1914 (desde textos de cunho “mais” sociais como “Psicologia de grupos e análise do eu” e “O Mal-estar na civilização”, até em conceitos como o de pulsão e a construção da segunda tópica freudiana). Destarte, é importante entender que esse conceito-chave não foi relevante apenas à Psicanálise de seu tempo, mas também se apresenta presente em obras de cunho sociológico como a “Era do Vazio”, de Gilles Lipovetsky e; “A cultura do Narcisismo”, de Cristopher Lasch; além de obras que abarcam a Psicanálise como “O mal-estar na atualidade” e “Arquivos do mal-estar e da atualidade” de Joel Birman e; “Interfaces da Psicanálise” de Renato Mezan. Por fim, é necessário apontar que, nas obras de cunho social, pode-se observar que os autores tentam nomear como narcisista a qualidade do individualismo contemporâneo. Entretanto, é necessária uma fundamentação teórica sólida para estar avaliando se o conceito clássico, tal como Freud mostrou e pesquisou, acaba por confluir nos meandros dessas análises contemporâneas. Metodologia A metodologia consistiu em leitura, pesquisa e análise textual de levantamentos bibliográficos de Sigmund Freud e de seus comentadores, que versam sobre o tema do narcisismo. Desse modo, o trabalho visou identificar, compreender, revelar alguns dos aspectos que regem, definem e se apropriam desse tema. Resultados e Considerações finais Diante das produções contemporâneas que se utilizam do conceito de narcisismo, tal como é estudado por Freud, algumas considerações precisam ser mencionadas: no que diz respeito à época de Freud, é necessário explicar que a característica de grandes narrativas, quer dizer, citando Lyotard, as metanarrativas se encontravam imponentes, e a grande metanarrativa dessa época eram dos ideais revolucionários franceses, o de “liberdade, igualdade e fraternidade. Ora, ao se levar em consideração esse ponto, pode-se observar que há uma grande diferença entre a atualidade e essa época de Freud. Ao se levar isso em consideração, enfim, foi realizado um estudo meticuloso das obras de cunho social de Lipovetsky e de Lasch, para se concluir que uma pesquisa mais profunda, se mostra emergente para um entendimento dos sujeitos contemporâneos, ou seja, uma compreensão dessas novas formas de subjetividade no que inclui também, as novas formas de psicopatologias como a depressão, as fobias, as toxicomanias, os transtornos alimentares etc. Por fim, é necessário apontar que isso somente pode ser realizado, ao adentrar nos conceitos de Freud para conseguir criar uma sustentabilidade teórica capaz de discutir com esses autores de cunho social. É preciso também explicar que um suporte em comentadores contemporâneos respeitados como Birman e Mezan também se mostra necessário para uma riqueza na pesquisa. REFERÊNCIAS BIRMAN, J. Arquivos do mal-estar e da resistência. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. _____. O mal-estar na atualidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. FREUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas completas de Sigmund Freud. Trad. Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 2006. _____. (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Trad. Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 2006. Vol. VII. _____. (1910). Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância. Trad. Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 2006. Vol. XI. _____. (1914). Sobre o narcisismo: uma introdução. Trad. Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 2006. Vol. XIV. _____. (1930[1929]). Sobre O mal-estar na civilização. Trad. Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 2006. Vol. XXI. LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J-. P. Vocabulário de Psicanálise. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. LASCH, C. A Cultura do narcisismo: a vida americana numa era de esperanças em declínio. Rio de Janeiro: Imago, 1983. LIPOVETSKY, G. A era do vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo. Barueri: Manole, 2005. MEZAN, R. Interfaces da Psicanálise. Companhia das Letras: São Paulo: 2002. ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.