Marco Antonio Cruz de Lacerda
Numa interpretação livre, recepção é a consequência que se apresenta quando se
bate à porta de uma casa que se deseja conhecer. Sem dúvida que tal movimento já responde a
algum interesse prévio despertado, por exemplo, pelo que se ouve falar dessa casa, pelos seus
frequentadores.
Porta aberta, entrada franqueada; mas é necessário permanecer por algum tempo
na antessala
para uma prosa sobre as regras, seus moradores, suas atividades, sua
organização.
Tal foi a incumbência levada a cabo pela Comissão de Percurso da Sociedade de
Psicanálise Iracy Doyle que acompanhou o Grupo de Recepção durante o ano de 2010. Nesses
encontros mensais, foram apresentados aspectos mais específicos sobre a instituição, sua
estrutura de funcionamento, seus operadores na formação e transmissão do saber
psicanalítico, suas demais comissões, seu caráter plural, sua história.
É com satisfação que se pode ouvir na SPID o som amplificado das palavras do
Primeiro Psicanalista quando este coloca ênfase na exigência:
“(...) de que ninguém deve praticar a análise se não tiver adquirido o direito de
fazê-lo através de uma formação especifica. Se essa pessoa é ou não um médico, a mim me
parece sem importância”.1
Acredito não constituir uma distorção estender à Psicologia a sustentação de Freud
em relação à Medicina; até porque, na origem da SPID, está o Instituto de Medicina
Psicológica (IMP).
Este realce à pluralidade repousa no fato de que, não obstante a formação
acadêmica, importa muito mais o engajamento na análise pessoal: essencial sustentáculo do
clássico tripé que sustenta a formação do analista e que se articula com a teoria e supervisão.
Realçando este aspecto, Freud lança a advertência aos representantes das ciências mentais
para que não se contentem somente com o transposto para a literatura analítica:
1
FREUD,S. A questão da análise leiga – Conversações com uma pessoa imparcial, Vol. XX, Edição
Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud [ESB], Rio de Janeiro: Imago, 1980, p.
265.
“Eles devem aprender a análise da única maneira possível – submetendo-se eles
próprios a uma análise.” 2
Importantíssimo gradiente é a percepção da Comissão de Percurso, durante as
reuniões, de que o candidato a membro pulsa ajustado à singularidade da Psicanálise; importa
igualmente se as impressões dos três membros psicanalistas, quando das respectivas
entrevistas, indicam que o candidato sustenta sua escolha e que isto transpira dele por todos
os poros
3
; também é relevante anotar uma quarta entrevista procedida pela comissão de
percurso, por sua componente Dirce Cunha, onde mais elementos da convicção psicanalítica
deste pretendente puderam ser apresentados.
As portas foram abertas, e agora é trabalhar na casa e pela casa.
Dez.2010
A responsabilidade dos artigos assinados é dos seus autores.
2
Ibid. p. 281
Idem. Fragmentos de um caso de histeria: o caso Dora. FREUD, 1905 [1901], Vol. VII, (ESB). p.75
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Marco Antonio Cruz de Lacerda Numa interpretação livre