'Stress' profissional afeta trinta por cento dos trabalhadores 'burnout' Professores, polícias, médicos e enfermeiros são os profissionais mais afetados. Maior risco é entre os dez e 15 anos de carreira M., professora do ensino secundário de uma escola do Porto, 44 anos, a lecionar desde os 25 anos, casada e com dois filhos adolescentes. Apesar de ter estado colocada em escolas perto de casa, as sucessivas mudanças nas matérias que lecionava, o aumento da carga burocrática e do número de alunos por turma, e o facto de estar a dar aulas numa escola com um número crescente de casos de indisciplina, começou a fazê-la sentir irritabilidade constante, ansiedade com as tarefas e dificuldades de concentração. Sofre de burnout, ou seja, depressão relacionada com a profissão. Tal como ela, estima-se que 30% dos profissionais sofram deste problema. Um problema que pode ganhar dimensões devido à atual situação do País, reconhece a professora da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) Cristina Queirós. "Não sabemos se está a aumentar porque há estudos dispersos e sem ponto de comparação, mas podemos prever que venha a aumentar porque as condições iniciais são favoráveis pelo aumento de fontes de stress, aumento de exigências emocionais e diminuição dos recursos", justifica a também codiretora do Laboratório de Reabilitação Psicossocial (LabRP). Os dados em Portugal são ainda dispersos, mas algumas das investigações que Cristina Queirós tem coordenado mostram que "as pro- fissões mais vulneráveis são geral- mente as que envolvem serviços, tratamento e educação". Os números nacionais partem por isso das prevalências internacionais em que "tem variado de 5% a 30% conforme a profissão". Entre as profissões mais vulneráveis encontram-se professores, polícias, enfermeiros. Porque "a interação com o outro é feita em condições emocionalmente exigentes, em que este outro exige do profissional uma atenção que por vezes tem de ser dada em situações com fracos recursos laborais, cabendo ao profissional a responsabilidade de prestar o melhor serviço possível", aponta a professora que dirige hoje um seminário sobre o tema. Alguns estudos mostram ainda que a "dimensão de exaustão emocional costuma surgir com valores mais elevados nas mulheres e a dimensão de desumanização nos homens", refere. Isto por- que as mulheres desempenham papéis familiares e profissionais por vezes com dificuldade de conciliação e os homens têm maior dificuldade em lidar com as emoções e distanciam-se emocionalmente de forma mais fácil. Em relação à idade, "há estudos que referem o burnout ao fim de cerca de dez a 15 anos de carreira, quando há o esgotar progressivo dos recursos e se acumula cansaço em profissões emocionalmente exigentes". A cura pode ser um processo longo e nem sempre é corretamente diagnosticado. M. começou por ser medicada para uma depressão depois de uma discussão com alunos indisciplinados a ter levado para o hospital com fal- ta de ar, dor de cabeça forte e palpitações. Ficou um mês em casa e três meses depois uma nova discussão voltou a deixá-la de rastos. Finalmente foi-lhe explicado que a sua depressão tinha sido provocada pelo stress crónico no trabalho. Está em tratamento há um ano já se sente mais motivada para dar aulas mas ainda está desiludida com a profissão. Está agora a aprender a gerir as fontes de stress, a sua ansiedade e a aprender que que pode trabalhar sem sofrer, ana BELA FERREIRA P&R O que é o bwnoufí O burnouté um tipo de stressocu> pacional ou provocado pelo trabalho, de carácter crónico e que é sentido por profissionais envolvidos numa relação de cuidado com o "outro", de tipo continuado e com exigência emocional elevada. Quais os sinais de alerta? Pode começar por uma sensação de mal- estar vago e indefinido, de tipo físico ou mental e por uma > sensação e tensão psicológica, de stress permanente. Como se pode evitar? Devem ser examinadas questões como sobrecarga de trabalho, tipo de supervisão e apoio recebido, espaço dado ao trabalhador para que possa partilhar as suas dificuldades, pois nem sempre é fácil modificar as características e exigência da tarefa. > É possível recuperar? Sim mas é um processo lento. Há que fazer uma mudança (acompanhada) de relação entre traba> lho e trabalhador, stress e a tensão. aligeirando o