EXEMPLOS Discentes: Eloisa Moriel Valença e Isabela Galdiano Docente: Profa Dra Claudia Zavaglia Lexicografia II 2014 INTRODUÇÃO Três textos, três tipos de dicionário Dicionários semasiológicos, escolares e bilíngues Questão 1: Segundo Pérez (2000, p. 50, apud. Pontes, 2012, p. 97) “um dicionário sem exemplos é um dicionário mais pobre.” Você concorda? Por que? Questão 2: A introdução do Le petit Robert mostra uma postura mais “radical” em relação à utilização de exemplos ao afirmar que “não é verdadeiro um dicionário sem exemplo.” (apud Pontes, 2012, p. 97) Qual sua opinião sobre essa afirmação? EXEMPLOS DE USO EM DICIONÁRIOS ESCOLARES BRASILEIROS PARA A LEITURA E A PRODUÇÃO TEXTUAL PONTES, A. L. Exemplos de uso em dicionários escolares brasileiros para a leitura e a produção textual. In: Rev. de Letras, n. 31, vol. (1/2) jan./dez. 2012, p. 93-100. ASPECTOS SEMÂNTICOS E PRAGMÁTICOS NO TEXTO-VERBETE “O verbete lexicográfico se constitui de informações semânticas e pragmáticas, que se integram e se complementam na construção do sentido.” (p. 94) “a definição incompleta, apoiada em exemplos, torna-se completa semanticamente graças ao exemplo que a acompanha.” (p. 94) “o exemplo lexicográfico expressa traços semânticos e informações pragmáticas integrados entre si e, por vezes, integrados a outros paradigmas no interior do verbete, caracterizandoo como texto.” (p. 94) “Todos os paradigmas no verbete são responsáveis pela construção da informação” (p. 94, grifo meu) “A informação é transmitida a partir de um ou mais de um tipo de indicações. São indicações a definição, os exemplos, as marcas gramaticais e pragmáticas, entre outras” (Gelpí e Castillo, 2004, apud Pontes, 2012, p. 94) O EXEMPLO LEXICOGRÁFICO: DISCUSSÕES CONCEITUAIS Fragmentos de textos autênticos ou adaptados Comprovam, ilustram ou abordam uma palavraentrada “modelos concretos que servem ao usuário do dicionário para repeti-los ou para formar enunciados paralelos com o aval de um modelo de construção atual e culto” (p. 94) “o exemplo de uso deveria ser o ponto de partida da definição e não simplesmente a prova de sua validade, mas uma parte integrante do verbete” (p. 94) O EXEMPLO LEXICOGRÁFICO: DISCUSSÕES CONCEITUAIS O dicionário não se presta só à decodificação (compreensão), mas também à codificação (produção) “a ausência quase total de exemplos é uma das maiores insuficiências da lexicografia escolar brasileira” (p. 95) Devem aparecer “com uma finalidade ou função comunicativa no interior do verbete.” (p. 95) TIPOS DE EXEMPLOS Quanto à função, quanto à seleção do material e quanto à estrutura textual FUNÇÃO: Para a leitura - Dar conta do sentido que uma palavra tem, explicando- a ou aclarando-a imerecido. Que a pessoa não merece: não merecido – Aquele escritor recebeu um prêmio imerecido: seu trabalho não era o melhor de todos. (MATTOS, 2010) - Distinguir uma acepção das outras: fibra 1.Anat. Bot. Qualquer das estruturas alongadas agrupadas em feixe que constituem tecido animal ou vegetal (fibra muscular): alimento rico em fibras. 2.Fio ou filamento de material diverso: fibra de vidro. (AULETE, 2009). - Incluir certas orientações ideológicas: abocanhar. Tomar alguma coisa para si: abiscoitar, apoderar-se, apossar-se – A nova direção da fábrica de brinquedos espera abocanhar em breve a maior parte do mercado. (MATTOS, 2010) - Apresentar informações enciclopédicas (informações históricas e culturais) “transmissão indireta de dados culturais e sociais” (p. 95) ca.cau. Fruto do cacaueiro, de cujas sementes se faz o chocolate. O Brasil é o 2º. maior produtor mundial de cacau, com 349 mil toneladas (14,1% do total). (ROCHA, 2005) - Acrescentar semânticas à definição informações Para a produção textual - Veicula informações sintático-semânticas e pragmáticas: - Incluir a palavra em um determinado contexto - informação sintática necessária sobre restrições seletivas (determinado verbo tem sempre um sujeito animado, determinado adjetivo se emprega só em tais contextos etc.) galhudo. 2. Zool. Que tem chifres grandes. (rena galhudo). (AULETE, 2009) - Suprir as explicações gramaticais (regime dos verbos, regência preposicional de certos advérbios, o uso transitivo ou intransitivo dos verbos e sua pronominalização) as.sis.tir 1. Acompanhar visualmente; ver, testemunhar: Assistir a uma sessão de cinema. (FERREIRA, 2010) - Mostrar a palavra-entrada no contexto o.ca.si.o.nar. 1. Causar, motivar: A desatenção ao volante pode ocasionar acidentes graves. (FERREIRA, 2001) - Indicar o uso de colocações típicas isócrono. Que se realiza ao mesmo tempo ou com intervalos de tempo iguais: (movimentos isócronos). (AULETE, 2009) - Ilustrar modelos gramaticais homicida. amf ou smf. 1. Que mata outra pessoa – o assaltante homicida foi preso. / O homicida foi preso. (MATTOS, 2010) - Indicar registros ou níveis estilísticos gamar. Ficar encantado com pessoa ou coisa; amarrar-se, vidrar-se – Desde que viu a moça, o rapaz gamou por ela. (MATTOS, 2010) - Indicar usos regionais maçante 2. [Regionalismo: Nordeste]. Que leva muito tempo fazendo as coisas: vagaroso o balconista maçante atende a poucas pessoas. (MATTOS, 2010). - Atestar o uso real das expressões linguísticas chocho pop. 1. Sem suco: “Pouco potássio causa maior número de grãos chochos e alta porcentagem de raízes podres.” (AZ) SELEÇÃO DO MATERIAL: (exemplos autênticos, exemplos exemplos adaptados) fabricados, Exemplos autênticos: selecionados a partir de corpora Pérez (2000, p. 49, apud Pontes, 2012, p. 96) “as citações literárias raramente funcionam eficazmente como exemplos, pois não revelam o uso normal de uma comunidade” Exemplos fabricados: o lexicógrafo cria seus próprios enunciados Polêmica Questão: Na sua opinião, o lexicógrafo deve ou não utilizar exemplos inventados (por ele mesmo) na microestrutura do dicionário? Por que? Exemplos fabricados Focalizar exatamente o ponto linguístico que deseja ilustrar Calderón Campos (1994, p. 68): “O que é verdadeiramente importante é que os exemplos, sejam representativos, naturais, imitáveis e levem à curiosidade e ao interesse dos alunos e dos usuários, de um modo geral, a utilizar novas palavras. Se conseguirmos atingir esses objetivos, pouco importa que os exemplos sejam inventados ou autênticos.” Exemplos adaptados: extraídos de corpora, mas adaptados pelo lexicógrafo. Binon e Vellinde (2000, p.106), “mais esclarecedores, mais significativos, mais prototípicos e menos efêmeros” ESTRUTURA TEXTUAL: Há exemplos em forma de enunciados e os que se reduzem a fragmentos de orações - colocações e sintagmas lexicalizados Revista¹ sf. Ato de revistar - a revista das bagagens. - enunciados Entrante amf. Que está entrando ou começando - O ano entrante deve ser melhor que este. “A maioria dos metalexicógrafos reconhece que o enunciado, como se vê acima, é a forma mais adequada para representar o exemplo de uso, por ser capaz de contextualizar a entrada de maneira completa, tanto situacional, como semântica e distribucionalmente.” (p. 97) Questão: Pensando na estrutura textual, é essencial que se utilizem enunciados completos como exemplos ou o emprego de sintagmas e colocação também é válido? Esses dois tipos de estrutura possuem a mesma função? IDEOLOGIA NOS EXEMPLOS Questão: Os exemplos veiculam posicionamento ideológico? De que forma? É possível evitar ou minimizar isso? IDEOLOGIA NOS EXEMPLOS Manifesta-se em todos os paradigmas do dicionário, mas “é nos exemplos que a ideologia e a situação sociocultural se manifestam mais claramente” (Ezquerra,1982, p.201, apud Pontes, 2012, p. 97) Revelam um posicionamento moral e uma atitude política, representam mitos e rituais compartilhados, referências históricas “não há verdadeiramente dicionário neutro, nem ingênuo, pois quem o produz tem um posicionamento ideológico.” (p. 98) “ao menos os dicionários escolares deveriam ajustar os exemplos aos princípios constitucionais e à declaração dos direitos humanos” (Pérez, 2000, p. 51) “exemplos de cunho enciclopédico são os que mais veiculam informações culturais e ideológicas, no sentido de representarem referências históricas e o imaginário coletivo” (p. 98) Abocanhar [...] 2.Tomar alguma coisa para si: abiscoitar, apoderar-se, apossar-se - A nova direção da fábrica de brinquedos espera abocanhar em breve a maior parte do mercado. EXEMPLO DE USO E TIPOLOGIA DE DICIONÁRIO “Nem todos os tipos de dicionários têm que, necessariamente, contemplar exemplos em sua microestrutura: um dicionário definitório que se destina apenas à leitura pode não conter exemplos e ser, não obstante, um bom dicionário.” (p. 98) Porém: dicionário de uso, dicionário monolíngue para estrangeiros, dicionário escolar não podem ser considerados de qualidade aceitável se não incluírem exemplos LOCALIZAÇÃO DOS EXEMPLOS NO VERBETE Em geral - imediatamente depois da acepção Destaque dado pelo tipo de letra Destaque na palavra dentro do exemplo Falta de tratamento adequado dos exemplos nos dicionários escolares NENHUM EXEMPLO Baixa frequência de exemplos em entradas de terminologias, fraseologias, estrangeirismos, variantes regionais e variantes populares Autores de dicionários reconhecem tais ocorrências como fatos de língua, “mas entendem que devam ser evitados nos contextos reais de comunicação formal, refletindo assim uma concepção normativa ou purista” (p. 98) Termos técnicos, numa visão clássica da Terminologia, são considerados monossêmicos OBSERVAÇÕES SOBRE OS DICIONÁRIOS BRASILEIROS “No Brasil, a maioria dos lexicógrafos não tem reconhecido a importância dos exemplos de uso nos dicionários escolares” (p. 99) Ferreira (2010) - número pequeno de exemplos do tipo inventado (em itálico) e um número ainda menor de exemplos autênticos da literatura brasileiro (entre aspas) Mattos (2010) - exemplos (em itálico) “abundantes, claros e funcionais, embora nem sempre apareçam atrelados a acepções que são oportunas.” (p. 99) Kury (2002) e Bueno (2007) - não apresentam exemplos de uso Luft (2004) - pouquíssimos exemplos Sacconi (2010) - exemplos em linguagem simples e clara. Ilustram as construções sintáticas mais comuns e as diferenças de significado associados a diferentes regências Rocha (2005) - exemplos para várias unidades (posição: no final do verbete). Gera a dúvida de a qual acepção dentro do verbete o exemplo pertence? Função de incluir informação enciclopédica. CONSIDERAÇÕES FINAIS “Em termos de importância, o exemplo de uso acumula várias funções para ajudar o consulente não só a compreender as palavras que buscam, mas também a saber como usá-las num contexto real de comunicação.” (p. 100) Uma das funções do exemplo “é concretizar significado veiculado” (p. 100) Pérez (2000, p. 114): “os exemplos sempre devem ser retirados de um corpus, principalmente no caso das unidades fraseológicas”. Corpora “refletem o uso real e natural destas expressões” (p. 100) Pérez (2000, p.50) “um dicionário sem exemplos é um dicionário mais pobre” (p. 97) Le petit Robert: “não é verdadeiro um dicionário sem exemplo” (p. 97) Porém: “Nada vale sua presença sem desempenhar uma função essencial no conjunto da acepção.” (p. 97) EL EJEMPLO EN LOS DICCIONARIOS BILINGÜES MODEL, B. A. El ejemplo en los diccionarios bilingües. In: MORÁN, M. T. F. Y MODEL, B. A. Investigaciones sobre lexicografía bilingüe. Granada: Ediciones Tragacanto, 2009. pp. 117-157 INTRODUÇÃO Problemas teóricos que não podemos resolver. O exemplo lexicográfico como indicação microestrutural: - não é um componente autônomo - ao contrário dos outros componentes (como lema, infralema, transcrições fonéticas) não possuem características universais que ajudem a averiguar o que podemos considerar “exemplo”. “A falta de coerência na lexicografia geral afeta os tratados metalexicográficos, impedindo assim de alcançarmos as metas desejáveis: que os estudos descritivos sobre o exemplo tenham valor mais além de seus respectivos objetos de estudo e que as propostas prescritivas sejam aplicáveis (p. 17, tradução nossa)”. O autor primeiramente trata: - das funções que o exemplo deve e pode cumprir nos dicionários (contrastando as funções que têm nos dicionários mono e bilíngues. - critérios lexicográficos para descrever os diferentes tipos de exemplo e permitir uma taxonomia dos mesmos. EXEMPLO E DICIONÁRIO DE LÍNGUA A função e a forma dos exemplos dos dicionários bilíngues são muito diferentes dos dicionários monolíngues. A finalidade dos exemplos é a de oferecer informação relevante para as unidades descritas. Sua função é cumprir as lacunas informativas que as outras indicações lexicográficas deixam de cobrir. DICIONÁRIO MONOLÍNGUE X BILÍNGUE Diferença na tradição lexicográfica A. No dicionário monolíngue os exemplos podem estar marcados em cursiva, o que os separa dos outros componente, às vezes estão separados por dois pontos, que indicam o limite entre definição e exemplo. B. No dicionário bilíngue quase não temos sinais tipográficos que designem um exemplo como tal. - O DB nunca respeita a maiúscula ao início de um enunciado. - Nos dicionários bilíngues temos alguns quadros que são incluídos na macroestrutura, bem como apêndices nos circuntextos. DIFERENÇA POR TEORIAS Função no DM é complementar a informação definitória, ajudar a entendê-la. O equivalente funciona como definição do signo lemático, dando-lhe não só um significante, mas também o conceito correspondente. As definições do DM sempre correm o risco de explicar o que é o objeto descrito em vez de explicar o significado deste. Às vezes, nos DM as informações enciclopédicas servem mais para ilustrar o conceito concreto que a mera definição da palavra chave. Isso acontece para evitar que influenciem na definição, por isso incluem essas informações nos exemplos. JÁ OS DICIONÁRIOS BILÍNGUES: O equivalente em sua função definitória implica tanto a palavra como a designação, por isso, quase nunca encontramos informação enciclopédica nos exemplos dos DB. Função de ilustrar as diferenças semânticas das várias acepções. Nos dicionários bilíngues essa função depende de vários aspectos: primeiro, o DB não analisa a estrutura semântica da palavra chave, mas as relações que mantém essa palavra com as possíveis traduções. CONVERGÊNCIA X DIVERGÊNCIA A convergência se apresenta quando um equivalente tem um raio de significado mais amplo que o signo lemáticos. No caso da divergência, quando um equivalente reproduz somente uma parte das noções da palavra chave que não se distinguem na língua de partida, o exemplo é um bom método para auxiliar esta especificação. Exemplo: para a palavra cadáver em espanhol temos três equivalente em alemão diversos, um para significar cadáver de animais, outro para designar cadáveres de seres humanos e outro para designar defuntos concretos. CONTEÚDO DOS EXEMPLOS No DB o formato do exemplo não está entrelaçado com a fraseologia, como nos DM. O DB dispõe de formatos próprios para apresentar as diferentes unidades fraseológicas, as colocações servem muitas vezes para discriminar acepções, criando o formato do cotexto. As unidades fraseológicas apresentam-se em forma de infralemas, as parêmias também. FUNÇÕES DO EXEMPLO EXCLUSIVAS DO DICIONÁRIO BILÍNGUE A unidade entre exemplo de língua de partida e exemplo de língua de destino pode ser interpretada de muitas formas: a tradução não é somente uma indicação do exemplo precedente, mas também uma indicação de equivalente. Se somente fossem traduzidas as unidades institucionalizadas da língua de partida, muitas unidades da língua de partida se veriam passadas por alto, por exemplo, as unidades usuais que não tem equivalência plena na língua de partida. Consignar v.t. 1. Alocar, destinar. Consignaron 10% para el sector de educación. Destinaram 10% para o setor de educación. 2. Designar, incumbir. Me consignó esa tarea. Designou-me essa tarefa. 3. Consignar, registrar, assinalar. Vamos a consignar su queja. Vamos registrar a sua queixa. [...] (Flavian e Fernández, 2001). OS EXEMPLOS E A TRADUÇÃO Os exemplos podem advertir o usuário de traduções supostamente óbvias, mas errôneas. Indicam o limite dos usos aceitáveis de um equivalente, mostrando assim o que não pode fazer com o equivalente ou em que lugar temos que levar em consideração restrições de maior alcance. (p. 126) CRITÉRIOS FORMAIS PARA DESCREVER O EXEMPLO LEXICOGRÁFICO. “Por isso, sua descrição [do exemplo] tem que partir do próprio texto lexicográfico sem estabelecer exigências prévias desenvolvidas a partir da linguística” (p. 127). AMPLITUDE SINTÁTICA DO EXEMPLO Frase completa ou simples Vários sintagmas sem chegar ao nível da frase Na lexicografia, o mais comum são os exemplos com frases completas Exemplos correspondentes a frases incompletas são unidades verbais cujos actantes não se enumeram. Material utilizado para indicar os elementos dependentes de uma palavra. Corte duro x corte suave. Corte duro é uma forma generalizada de indicar os elementos dependentes e/ou sua flexão. Ex: jdm. Etw. Zu (+Dat.) schenken – regalar algo a alguien por; dank (+Gen,) – gracias a algo. Corte suave substitui as abreviações por material léxico que indica tanto as posições existentes como sua flexão. Ex: dem Sohn eine Wafen zum Abitur schenken – regalar(le) al hijo un coche por su bachillerato. (p.130) O corte duro é um infralema, visto que suas indicações são próprias da palavra chave e não dão nenhum exemplo de uso. A grande vantagem do corte duro é que permite a generalização enquanto o corte suave contém elementos livremente escolhidos cuja generalização pressupõe que o usuário saiba deduzir os complementos abstratos dos dados. É importante lembrar que o exemplo e sua tradução não precisam ser da mesma classe, e nem sempre compartilham a a mesma amplitude sintática. RELAÇÃO ENTRE O EXEMPLO E SUAS DIREÇÕES Os exemplos dos dicionários bilíngues possuem duas partes: o exemplo da língua de partida e sua tradução. Essa segunda parte permite uma classificação característica partindo da relação entre a tradução e seu equivalente precedente. 1) Exemplo ilustrativo: A tradução pode retomar o equivalente de sua acepção, ou seja ilustrar o uso de uma voz já indicada. Dog. Cachorro. Yesterday I walked my dog. Ontem levei meu cachorro para passear. 2) Exemplo “suplementario”: ou pode introduzir um equivalente novo, ou seja acrescentar um elemento até então não mencionado. Dog. Cachorro. Yesterday I walked my dog. Ontem levei meu cão para passear. O exemplo pode referir-se ao lema ou a um infralema que o precede. Exemplos ampliadores: exemplos que se referem diretamente ao lema e que ampliam a informação. Exemplos explicitadores: exemplos que não introduzem uma nova informação. OUTROS TRAÇOS PARA A DESCRIÇÃO DOS EXEMPLOS 1. Tipografia e metalinguagem A forma tipográfica que os exemplos tem depende das normas editorias do dicionário, se não há uma distinção tipográfica é necessário que haja uma marca que anuncia o exemplo. 2. Conteúdo Os exemplos ilustram como podemos usar uma palavra, por isso ela é inserida em um contexto e necessariamente terá mais unidades da língua. Às vezes os dicionários incluem vários exemplos num só segmento, apesar de constituir uma unidade tipográfica na realidade contém mais de um exemplo: Mich packt die Leidenschaft/ die Rieselust/ das Enstsetzen la pasión / el deso de viajar / el espanto se apodera de mí;. OUTRAS UNIDADES SEMELHANTES AO EXEMPLO Outras unidades semelhantes ao exemplo Às vezes a tradução é descrita como requisito definitório e em outras ocasiões essa tradução faz com que a indicação não se considere como exemplo. O autor considera a tradução um requisito significativo do exemplo lexicográfico. Muitos dicionários contém frases ou textos inclusos cuja tarefa também é exemplificar usos da língua, mas que não estão inseridos na macroestrutura. Em alguns casos há a explicação de dificuldades gramaticais, a compilação de material léxico e a exibição de conhecimentos enciclopédicos. DEFINIÇÃO DO EXEMPLO LEXICOGRÁFICO As funções dos exemplos são numerosas e nem sempre se pode prever o verdadeiro uso que o usuário fará do exemplo. Model (2009) considera como exemplo uma indicação: Pluriverbal Que pertence à microestrutura Que contém uma das formas paradigmáticas do signo lemático ou de um signo infralemático que precede Que apesar de alojar eventualmente unidades fraseológicas contém pelo menos uma unidade não fraseológica Que abarca uma ou mais traduções Que se apresenta com o próprio formato ou em forma de infralema CONCLUSÃO Certa forma tipográfica O foco ativo serve sobretudo para tratar questões de equivalência, como a eleição acertada de um equivalente em diferentes contextos, os aspectos em que se diferem equivalentes parciais e o acesso onomasiológico a equivalentes e tradução acima do nível da palavra solta. (p. 152) Apesar da liberdade, o lexicógrafo não deve recorrer em excesso ao formato de exemplo. Perguntar: se por acaso a um tipo de informação não corresponde outro formato mais adequado e se em geral sua inclusão na microestrutura ou inclusão no dicionário está justificada. O exemplo cumpre funções quase unicamente ativas. Quando se limita ajudar a entender o significado de uma palavra ou uma unidade pluriverbal, o formato do exemplo está mal escolhido ou o exemplo se encontra no foco errôneo. Contrariamente a outros componentes lexicográficos, o exemplo não deve ter a tarefa primordial de servir para entender a língua estrangeira (para isso servem os equivalentes e infralemas), mas a manejá-la bem na hora de usar as palavras. (p. 154) O EXEMPLO COMO INFORMAÇÃO DISCRETA E DISCRIMINANTE EM DICIONÁRIOS SEMASIOLÓGICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA FARIAS, V. S. O exemplo como informação discreta e discriminante em dicionários semasiológicos de Língua Portuguesa. In: Alfa, São Paulo, 52 (1), 2008, pp. 101-122. INTRODUÇÃO Inegável valor lexicográfico dos exemplos Funções: “complementar a definição, apresentar contextos sintáticos, introduzir informações culturais, ou, simplesmente, atestar a ocorrência de uma palavra ou acepção.” (p. 101) A autora comenta a “falta de uma metodologia que possibilite converter o exemplo em um fato efetivamente funcional na microestrutura dos dicionários. A carência de parâmetros para a apresentação dos exemplos restringe ou, mesmo, anula o valor funcional desta informação na microestrutura do dicionário.” (p. 102) Não basta oferecer exemplos, é preciso que eles contenham informações discretas e discriminantes (Discreta: informação realmente relevante; Discriminante: permite ao leitor retirar algum proveito com relação ao uso o conhecimento da língua (p. 102)) O que torna o exemplo uma informação discreta e discriminante? Qualidade + Utilidade para o consulente Necessidade de definição taxonômica do dicionário e de delimitação do perfil do usuário para que a macro e microestrutura sejam funcionais Consequentemente, para que o exemplo seja uma informação funcional FUNÇÕES DO EXEMPLO NO DICIONÁRIO SEMASIOLÓGICO Dicionário semasiológico = dicionário padrão Principal função: decodificadora (compreensão) Porém: os usuários também atribuem a ele função codificadora (produção) Corresponde a dois tipos de exemplos: 1) exemplo para a compreensão 2) exemplo para a produção - Pomba! Um... um... Que cabeça a minha. A palavra me escapou por completo. É uma coisa simples, conhecidíssima. - Sim senhor. - O senhor vai dar risada quando souber. - Sim senhor. - Olha, é pontuda, certo? - O quê, cavalheiro? - Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim, faz uma volta, aí vem reto de novo, e na outra ponta tem uma espécie de encaixe, entende? Na ponta tem outra volta, só que esta é mais fechada. E tem um, um... Uma espécie de, como é que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta, a pontuda, de sorte que o, a, o negócio, entende, fica fechado. É isso. Uma coisa pontuda que fecha. Entende? - Infelizmente, cavalheiro... - Ora, você sabe do que eu estou falando. - Estou me esforçando, mas... - Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo? - Se o senhor diz, cavalheiro. - Como, se eu digo? Isso já é má vontade. Eu sei que é pontudo numa ponta. Posso não saber o nome da coisa, isso é um detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero. - Sim senhor. Pontudo numa ponta. - Isso. Eu sabia que você compreenderia. Tem? - Bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Tente descrevê-la outra vez. Quem sabe o senhor desenha para nós? - (Comunicação, Luis Fernando Veríssimo) CRITÉRIOS PARA A APRESENTAÇÃO DOS EXEMPLOS NO DICIONÁRIO SEMASIOLÓGICO EXEMPLOS PARA A COMPREENSÃO A paráfrase definidora tem a função mais importante na microestrutura O exemplo para a compreensão tem função de complemento dessas paráfrases Ou seja: “somente serão uma informação pertinente dentro do verbete se a paráfrase definidora, por si só, não conseguir dar conta de esclarecer ao consulente a significação de determinada unidade léxica.” (p. 105) 1) Paráfrases transparentes: esclarecem a significação da UL sem necessidade de elementos complementares 2) Paráfrases opacas: não esclarecem a significação da UL 2 -a) Paráfrases opacas deficitárias: poderiam ser melhor redigidas 2 - b) Paráfrases opacas propriamente ditas: ULs que são realmente difíceis de definir (por sua natureza) Portanto, o exemplo para compreensão só será informação funcional se acompanhar a paráfrase opaca propriamente dita PARÁFRASE OPACA DEFICITÁRIA Escanteio [...] 1. falta em que a bola é lançada para fora do campo, pela linha do fundo, por jogador da equipe que defende essa linha; corner. Ex: o juiz marcou e. contra o Flamengo. 2. [...] cobrança dessa falta, devendo o jogador posicionar-se junto à bandeira de corner para retornar a bola ao jogo; corner, tiro de escanteio, tiro de canto, tiro esquinado. Ex: o jogador bateu um e. (HouE, 2001, s.v.) Não pode ser submetida à prova de substituição, casos de colocação desconsiderados. Nesse caso o exemplo serviria para a produção, e a compreensão poderia ser melhorada na paráfrase definidora. PARÁFRASE OPACA PROPRIAMENTE DITA Única paráfrase que vai ser realmente complementada por um exemplo para a compreensão Unidades “naturalmente” difíceis de definir: animais, frutos, plantas; vocábulos gramaticais como preposições e conjunções Exemplo 1: alfinete de segurança [...] Bras. 1. Espécie de alfinete formado de duas partes articuladas, e cuja ponta se prende em uma cavidade da cabeça, a fim de que não pique nem se desprenda; segurança, joaninha [...] (AuE, 1999, s.v. alfinete) Exemplo 2: e [...] 2. Conjunção adversativa, quando equivale a mas, contudo:[...] Difamou o outro e bancou o ofendido [...] (MiE, 2001, s.v.) É elucidativo? Dá para ver que é uma adversativa? “tão importante quanto identificar os tipos de unidades léxicas cujas paráfrases precisaria ser complementadas por uma exemplificação, é dispor de uma técnica de redação do exemplo que auxilie a tornar essa informação um fato discreto e discriminante dentro da microestrutura.” (p. 111) EXEMPLOS PARA A PRODUÇÃO “os exemplos oferecidos nos verbetes, se bem selecionados ou construídos, também podem ser uma ferramenta de ajuda na produção linguística, dado que cumprem a função de apresentar os contextos sintáticos das unidades lexicais definidas.” (p. 111) Mais importante para adjetivos relacionais, alguns nomes e verbos, e para indicar colocações ADJETIVOS RELACIONAIS Não apresentam significado constante, é o contexto (o substantivo ao qual se unem) que determinará o significado Exemplo: Comercial: local onde se faz comércio (rua comercial), para o comércio (imóveis comerciais), do comércio (monopólio comercial)... Solução “oferecer uma definição em metalinguagem de signo que indique o campo semântico que o adjetivo abrange, e apresentar exemplos de substantivos aos quais o adjetivo em questão é passível de unir-se.” (p. 113) [Metalinguagem de signo: não dá verdadeiramente uma definição, mas uma explicação de como ou com que fim tal UL se emprega; comum para unidades gramaticais.] DESIGNAÇÕES “unidades léxicas aplicadas a mais de um referente extralinguístico distinto.” (p. 113) Exemplos: termos hiperonímicos como “pomo” “chiqueiro” (predicativo do sujeito em expressões que indicam que um lugar está muito sujo) Solução: definição em metalinguagem de signo e exemplos de uso bem formulados para que o consulente saiba empregar a unidade léxica. VERBOS “Em geral, se a valência dos verbos estiver marcada na paráfrase definidora, os exemplos para a produção tornam-se desnecessários no verbete.” (p. 114) A autora dá exemplos de verbetes que indicam a valência, e que não “precisariam” do exemplo para a produção, mas também de verbetes cujos exemplos complementaram a já indicada valência. PROPOSTAS PARA A GERAÇÃO DE EXEMPLOS NO DICIONÁRIO SEMASIOLÓGICO EXEMPLOS PARA A PRODUÇÃO - - Substantivos concretos e adjetivos qualificadores Devem apresentar elementos que ajudem o consulente a entender o significado do lema Sugestões: informações enciclopédicas, “a utilidade, a função que executa, de que forma e por quem é usado etc.” (p. 116) - - - Substantivos abstratos de ação Hiperônimos como “ação” ou “efeito” não são muito esclarecedores... Acepções de “ato”, “processo” e “efeito” deveriam aparecer separadas e com seus respectivos exemplos Trazer no exemplo elementos-chave “que permitam ao consulente identificar se dada acepção do substantivo em questão denota o início de uma ação, todo o processo, ou ainda, a consequência ou resultado de uma ação ou processo.” (p. 118, grifos meus) Exemplo: Crescimento 1. processo de desenvolvimento de [alguém/algo] Os pais acompanham o ~ dos filhos O governo assiste ao ~ da criminalidade de braços cruzados. 2. efeito do desenvolvimento de [alguém/algo] O comércio registrou um ~ nas vendas no Natal passado. A inércia do governo resultou no ~ da delinquência juvenil. - PROPOSTAS DE EXEMPLOS PARA A PRODUÇÃO Adjetivos relacionais: - Possíveis substantivos que podem ser combinar com o lema em questão - Bastam sintagmas nominais - Exemplo: Comercial: Relativo ao comércio. Associação ~ ; junta ~ ; diretor ~ ; representante ~. - - Designações: “devem apresentar as construções mais comuns com a palavra em questão.” (p. 119) “o banheiro da rodoviária parece um chiqueiro.” Verbos: - Destacar os actantes e as preposições, tornar a informação de valência acessível ao leitor. - Exemplo: Propender: Ter inclinação a [algo] [A natureza humana] propende para [o mal]. (repare na ideologia no exemplo!)