Abordagem Atual no Tratamento do Mioma Uterino Publicado em 2007. Dr. Frederico José Silva Corrêa Diretor da Clínica Fertilité Professor da UCB O mioma uterino, também conhecido como leiomioma, fibróide e leiomiofibroma é o tumor pélvico sólido mais comum das mulheres. A prevalência do mioma uterino pode variar de 20% a 50% das mulheres no período reprodutivo (Verkauf, 1992) . Em estudo epidemiológico publicado recentemente nos Estados Unidos, 80% das mulheres negras e 70% das mulheres brancas até os 50 anos de idade apresentaram evidência de mioma uterino ao exame de ultrassonografia (USG) (Day Baird et al., 2003). A faixa etária mais frequente do aparecimento deste tumor situa-se entre 35 e 45 anos de idade, entretanto pode acometer as mulheres em qualquer época da vida. Parentes de primeiro grau de mulheres com esta patologia tem 2,5 vezes mais chance de desenvolver o tumor quando comparadas a pacientes sem casos na família (Dixon et al., 2006). A etiopatogenia ou a causa do aparecimento do mioma uterino é ainda uma questão bastante discutida. Parece haver evidências suficientes que demonstram um envolvimento genético (mutações em alguns genes), hormonal (estrogênio e progesterona) e de inúmeros fatores de crescimento além da matrix extracelular (colágeno e proteoglicanos) (Dixon et al., 2006; Wallach e Vlahos, 2004). O mioma uterino apresenta-se sob a forma de um ou vários nódulos circunscritos de tamanhos variados, podendo se localizar em qualquer parte do útero (colo, corpo e fundo uterinos). Além disso estes tumores podem se localizar em qualquer uma das três camadas uterinas, sendo denominados mioma submucoso aquele que cresce em direção a cavidade uterina, intramural o que cresce dentro da parede uterina e o subseroso aquele que se desenvolve rumo à parte externa do útero (serosa). A localização mais comum dos miomas é na região corporal e intramural do útero (Wallach e Vlahos, 2004). Os miomas uterinos na maioria das vezes são assintomáticos, menos de 50% das pacientes com esta patologia vão apresentar sintomas. Quando presentes, o principal sintoma é o sangramento uterino anormal (30% a 50% dos casos) na forma de metrorragias (sangramento em período inesperado), hipermenorréia (fluxo menstrual > 8 dias) ou menorragia (volume menstrual aumentado > 80ml). O segundo sintoma mais frequente é a dor pélvica que pode ocorrer em 20% a 50% dos casos de mioma uterino. Outros sintomas menos comuns são o aumento do volume abdominal, sintomas urinários ou intestinais devido a compressão tumoral, anemia, dispareunia (dor na relação sexual) e até mesmo a infertilidade conjugal (Wallach e Vlahos, 2004). O diagnóstico do mioma uterino depende da sintomatologia da paciente e de uma história clínica e exame físico bem feitos. Além disso alguns exames complementares podem nos ajudar na confirmação diagnóstica. Os principais exames utilizados na avaliação do mioma uterino são os exames de imagem, mais precisamente a ultrassonorafia transvaginal. Em casos de múltiplos nódulos de miomas a ressonância magnética pode ser muito útil na detecção exata do número, localização e do tamanho de todos os miomas, que são dados importantes na escolha do tratamento. A histeroscopia diagnóstica também pode ser importante na avaliação do mioma uterino em relação à cavidade do útero. O tratamento do mioma uterino só deve ser indicado aquelas pacientes com sintomas relacionados à presença do tumor e em casos de miomas grandes mesmo na ausênicia de sintomas (Wallach e Vlahos, 2004). Pacientes assintomáticas ou com miomas pequenos não necesssitam de tratamento (Wallach e Vlahos, 2004). A escolha do tipo de tratamento indicado para cada paciente depende de vários fatores que devem ser sempre analisados, tais como: tipo e intensidade dos sintomas, idade da paciente, número de filhos, tamanho, localização e número de nódulos de miomas e por fim o desejo ou não de preservação do útero pela paciente ( Wallach e Vlahos, 2004). Naquelas pacientes que não desejam preservar o útero, a histerectomia pode ser indicada. Caso contrário indica-se a miomectomia (retirado somente dos miomas), que pode ser por histeroscopia quando o mioma ocupa a cavidade uterina, por laparotomia (foto 1 e 2) ou por vídeolaparoscopia (foto 3). A vídeolaparoscopia seria procedimento de escolha nos casos de miomas < 10 cm e em número menor que 4 nódulos (Hurst et al., 2005). Outros tipos de tratamento como a embolização da artéria uterina ou miomatosa, a miólise (destruição dos miomas por frio ou calor) e a cirurgia por ultrasom guiada por ressonância magnética (teve seu uso liberado pelo FDA há pouco tempo para uso em mioma) são considerados métodos bons de tratamento porém ainda são pouco realizados no Brasil (Bruce et al.,2001; Ravina et al., 1995; Stewart et al., 2006). Para o futuro a biologia molecular tem demonstrado que poderemos um dia utilizar técnicas de engenharia genética, com uso de vetores para inclusão de genes dentro das células miomatosas levando a uma destruição da mesma com desaparecimento dos sintomas (Al-Hendy e Salama, 2006). Figura 1 e 2 – Mioma grande pesando mais de 1000g, miomectomia laparotômica com preservação do útero. Figura 3 – Miomectomia Laparoscópica, três miomas subserosos (foto) e dois intra murais (não mostrados na foto). Referências Bibliográficas Bruce McLucas , Louis Adler, Rita Perrella. Uterine Fibroid Embolization:Nonsurgical Treatment for Symptomatic fibroids. J Am Coll Surg 001;192:95–105. Day Baird D, Dunson DB, Hill MC, Cousins D, Schectman JM. High cumulative incidence of uterine leiomyoma in black and white women: ultrasound evidence. Am J Obstet Gynecol 2003;188:100 –7. Ravina JH, Herbreteau D, Ciraru-Vigneron N, et al. Arterial embolisation to treat uterine myomata. Lancet 1995;346:671–672. Verkauf B S. Myomectomy for fertility enhancement and preservation. Fertil Steril. 1992 Jul;58(1):1-15. Stewart EA, Rabinovici J, Tempany CMC, Inbar Y, Regan L, Gastout B, et al. Clinical outcomes of focused ultrasound surgery for the treatment of uterine fibroids. Fertil Steril 2006;85:22–9. Dixon D, Parrott EC, Segars JH, Olden K, Pinn VW. The second National Institutes of Health International Congress on advances in uterine leiomyoma research: conference summary and future recommendations. Fertil Steril. 2006 Oct;86(4):800-6. Wallach EE, Vlahos NF.Uterine myomas: an overview of development, clinical features, and management. Obstet Gynecol. 2004 Aug;104(2):393-406. Al-Hendy A and Salama Salama Gene therapy and uterine leiomyoma: a review Human Reproduction Update, 2006 Vol.12, No.4 pp. 385–400. Hurst B S, Matthews M L, Marshburn P B. Laparoscopic myomectomy for symptomatic uterine myomas. Fertil Steril 2005;83:1–23.