Educação Corporativa: atendimento aos setores prioritários da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior José Rincon Ferreira* *Diretor de Articulação Tecnológica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Lillian Álvares* *Gerente de Produção de Informação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Significados e Desafios As atividades do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior realizadas para apoiar a expansão da Educação Corporativa no Brasil podem resumidamente ser relatadas nesse artigo. A motivação para participação do Governo nesse tema essencialmente estratégico para o Setor Produtivo foi o lançamento da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior que privilegia ações para a inovação nas empresas brasileiras. Destacam-se os seguintes resultados: Portal da Educação Corporativa No Portal da Educação Corporativa, as informações contidas apresentam os principais especialistas brasileiros, as universidades corporativas em funcionamento, os documentos que expõem teorias, artigos selecionados, ações de governo e palestras nos eventos promovidos pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, entre outros. Exibe o cenário nacional e internacional. Esse último, base de um artigo da evolução da Educação Corporativa nos países pioneiros e sua consolidação nas principais empresas multinacionais. Destaca-se o uso de ferramenta de navegação hiperbólica que apresenta a informação de forma a minimizar a navegação desnecessária e possibilitar ao usuário acessar os conteúdos mais rapidamente, com o máximo de informações sobre a estrutura do site. Intitulada de Árvore do Conhecimento, ela se apresenta graficamente na forma de uma hipérbole cujo centro representa a informação desejada e de onde partem eixos radiais em direção aos nós, de onde, por sua vez, partem novos eixos e assim por diante. A árvore hiperbólica é, portanto, formada por uma rede de nós que contêm informações que se desdobram em suas componentes hierarquicamente dependentes, representadas por seus nós filhos. A inclusão de conteúdo em cada nó da árvore incluindo os textos principais propriamente ditos, e todo conjunto de informações adicionais e complementares, na forma de arquivos de texto, podem ser consultados na íntegra imagens, mapas, vídeos, sons, banco de dados, entre outros. O portal está disponível em: http://www.educor.desenvolvimento.gov.br/ Coletânea de Artigos A Coletânea de Artigos, por sua vez, ofereceu a comunidade a visão do tema por parte do setor público incluindo participações de autoridades do executivo, professores universitários e pesquisadores de centros de pesquisa. Do setor privado, pode-se contar com a contribuição de empresas e consultores independentes que elegeram a educação corporativa como instrumento estratégico da competitividade empresarial. O objetivo desta iniciativa é estimular a elaboração de trabalhos direcionados para uma compreensão maior do panorama que se descortina para a indústria brasileira nos próximos anos, segundo as linhas editoriais dessas publicações, e as óticas particulares dos autores, que puderam escolher suas abordagens específicas com total liberdade. A coletânea está disponível em: http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/sti/publicacoes/futAmaDilOportunidades/futIndEdu Corporativa.php) Pesquisa Sobre as Atividades de Educação Corporativa no Brasil A terceira atividade realizada, essencial para a continuidade do diálogo sobre o futuro da Educação Corporativa no Brasil, foi a realização da Pesquisa Sobre as Atividades de Educação Corporativa no Brasil. A pesquisa revelou a situação brasileira, incluindo os principais agentes no país e se constitui como elemento essencial ao planejamento das atividades de curto e médio prazo. Dentre os principais resultados alcançados na pesquisa, destaca-se que . Aproximadamente noventa iniciativas estruturadas de Educação Corporativa no Brasil são de organizações de grande porte, que atendem a mercados amplos e que possuem diversas unidades regionais. São as que, geralmente, mantêm uma estrutura centralizada de Educação Corporativa, através da qual promovem a difusão de conhecimentos para funcionários de todas as unidades da Corporação; . Mais de 50% das iniciativas registradas em levantamento recente surgiram no período 2000-2003, significando, portanto, que a estruturação de unidades de EC nas organizações é um fenômeno recente, pelo menos com as características de recurso estratégico das corporações, tal como acontece na maioria dos países do mundo; . As instituições que promovem Educação Corporativa, geralmente buscam: favorecer a competitividade organizacional, adquirir e/ou criar competência em áreas técnicas nas quais a empresa não tinha capacitação compatível com a demanda, facilitar os processos de inovação (de produto, de processo, de gestão) e de capacitar as equipes para atender às demandas decorrentes da adoção de novas práticas gerenciais. . 82,8 % das organizações informam que suas atividades em educação derivam predominantemente das suas diretrizes estratégicas. . Das organizações pesquisadas, 12,5% informam que não atendem a clientela externa; das 87,5% restantes, a maioria somente atende a participantes vinculados a organizações da sua cadeia produtiva e as demais atendem a qualquer interessado. . Quanto aos recursos humanos utilizados para a implementação de atividades de Educação Corporativa, 44,0% das organizações afirmam utilizar recursos de consultoria externa institucional predominantemente, enquanto outras 44% o fazem raramente e 12,0% buscam consultoria externa institucional freqüentemente. . As empresas consultadas permitiram a constituição de uma lista de 108 diferentes instituições com as quais mantêm parcerias para a implementação das atividades em Educação Corporativa. . os principais resultados alcançados pelas instituições por meio das ações de Educação Corporativa são que: - facilitou o cumprimento das metas de planejamento da empresa. - favoreceu a competitividade organizacional. - adquiriu competências em áreas técnicas nas quais a empresa não tinha capacitação compatível com a demanda. - facilitou a integração do trabalho de equipe, inclusive o grau de satisfação dos funcionários. promoveu o alinhamento de ações educacionais corporativas às metas, resultados e modelo de competências adotado. permitiu a educação continua dos empregados. tratou o ensino com enfoque na aplicação prática. encorajou a formação de líderes. difundiu a visão, missão e cultura da corporação. contribuiu para a imagem de empresa socialmente responsável. disseminou a cultura de auto-desenvolvimento. estimulou maior integração das áreas de negócios das empresas do grupo. Finalmente, a pesquisa revelou o que esperam as organizações quanto às ações de apoio do setor governamental: maior integração a políticas públicas, em especial à Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior; maior integração com a estrutura governamental e a melhoria e agilidade do processo de certificação acadêmica. Oficinas de Educação Corporativa A partir da finalização dos projetos acima, deu-se início a promoção do diálogo entre as instituições envolvidas com o tema - agentes de desenvolvimento e de inovação e universidades corporativas - e ao estímulo das parcerias entre o setor público e privado. Tornou-se iminente a realização de reuniões de trabalhos, intituladas “Oficinas de Educação Corporativa”. A cada ano, desde 2003, acontecem as oficinas de trabalho, promovidas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior com apoio de inúmeras instituições do governo e do setor privado. Já são três até 2005. Com o diagnóstico em fase de manutenção (primeira fase) e conhecendo a realidade e o pensamento nacional acerca do tema (segunda fase), iniciou-se a terceira etapa das atividades. Percebeu-se a importância de conhecer qual a inserção do processo de Educação Corporativa no quadro de desenvolvimento do setor produtivo e quais as formas de contribuição do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Desenvolvimento e Inovação O marco para entender a situação do setor produtivo nacional foi a realização pela Confederação Nacional da Indústria do Mapa Estratégico da Indústria, especificamente no estudo Tendências da Indústria Mundial: Desafios para o Brasil. Nesse trabalho, a CNI apresenta os novos indutores da competitividade: . Maior valor agregado na produção provém atualmente do conhecimento. . Informação é um insumo básico para a competitividade. . Agilidade, velocidade e qualidade são agora essenciais. . Inovação em constante mudança. Para o estudo, a explicação para a convergência desses componentes em relação a intangibilidade dos insumos de competitividade é que “a estratégia da competitividade é portanto, complexa, mas depende fundamentalmente de uma revolução no sistema de educação e de geração e difusão de conhecimento. A chave dessa transformação reside em ações voltadas para elevação da qualidade da educação básica e na criação de condições para o desenvolvimento de um sistema de educação continuada flexível e de qualidade (DAHLMAN; FRINSCHTAK, 2005).” E vai mais além. Destaca quem são os indutores críticos do crescimento e da competitividade: criatividade, adequada infra-estrutura de comunicações, mão-de-obra educada, flexível e treinada que possa aprimorar continuamente suas habilidades e inovação e espírito empreendedor para enfrentar a revolução do conhecimento e quais são os aspectos críticos do Sistema Nacional de Inovação: (a) acesso ao conhecimento global; (b) criação e adaptação de conhecimento; (c) disseminação do conhecimento e (d) utilização do conhecimento. Nesse contexto, é evidente que a evolução das empresas tradicionais para os novos paradigmas estão: Tabela 1 – Evolução Estratégica no Setor Produtivo Empresas Tradicionais Novos Paradigmas Eficiência induz competitividade Inovação induz competitividade Crescimento por maiores volumes Crescimento por inovação Competição de empresas Competição entre fornecedores Habilidades Gerenciais Habilidades de conhecimento Controle da poluição Desenvolvimento Sustentável (Fonte Mapa da Indústria, CNI, 2005) A CNI salienta que dentre as implicações para o Brasil, pode-se afirmar que o país se arrisca perigosamente em perder novas ondas de desenvolvimento, porque tem dificuldades de explorar o potencial do estoque crescente de conhecimento global e que é preciso desenvolver estratégias para usar tanto o conhecimento já existente quanto o novo. E, alerta sobre as oportunidades e ameaças no momento: Tabela 1 – Oportunidades e Ameaças Empresas Tradicionais Novos Paradigmas Eficiência induz competitividade Inovação induz competitividade Crescimento por maiores volumes Crescimento por inovação Competição de empresas Competição entre fornecedores Habilidades Gerenciais Habilidades de conhecimento Controle de poluição Desenvolvimento Sustentável (Fonte Mapa da Indústria, CNI, 2005) A reflexão imediata sobre a situação apresentada é que o futuro da indústria brasileira está intimamente ligado à educação e ao conhecimento. E para sustentar essa afirmação, basta verificar que dentre os 63 programas estratégicos apresentados como urgentes para o Brasil estão o de Formação Profissional e de Formação Continuada. De fato, o país tem investido nas variáveis que compõem o sistema educacional, na infraestrutura de informação e comunicação, nos itens que compõem o sistema nacional de inovação, conforme mostram as figuras a seguir. Os resultados podem ser sentidos na pequena melhoria do Brasil na economia mundial do conhecimento, conforme mostram as figuras a seguir. A participação do Governo Do cruzamento dos dados sobre a Educação Corporativa no Brasil e sobre os novos indutores de competitividade, nota-se que é necessário, sem demora, irradiar as experiências de Educação Corporativa relatadas por ocasião da I, II e III oficinas de trabalho. Em princípio, percebeu-se a importância de trazer para o fórum de discussão das oficinas do Ministério do Desenvolvimento, as 500 maiores empresas atuantes no Brasil, o que se dará na realização da próxima oficina. Em continuidade, deve-se considerar o envolvimento dos programas e diretrizes no âmbito da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior. Destacam-se a participação de: . . . . Fóruns de Competitividade, cujas cadeias produtivas selecionadas como prioritárias para o país são as relacionadas a seguir: Aeroespacial, agronegócios, agroquímica, automotiva, bens de capital, biocombustíveis, biotecnologia, carnes, complexo eletrônico, construção civil, couro e calçados, exportação de serviços de engenharia, farmacêutica, gemas e jóias, higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, madeira e móveis, naval e marinha mercante, papel e celulose, plástico, siderurgia, software, têxtil e confecções, transporte aéreo e turismo;As instituições que atuem com as opções estratégicas da PITCE: bens de capital, fármacos, semicondutores e software; As empresas cujos conteúdos tecnológicos possam ser classificados como portadores de futuro: biomassa , nanotecnologia e novos materiais e atividades derivadas do Protocolo de Kyoto; Os Arranjos Produtivos Locais (APLs) selecionados sobretudo pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ministério da Ciência e Tecnologia e Sebrae; Os programas voltados para incremento da exportação, cujos conteúdos sejam de acordos internacionais, barreiras comerciais, classificação de produtos, defesa comercial (dumping, subsídios e salvaguardas), financiamento à exportação, formação de empresas exportadoras, legislação de exportação, preferências tarifárias na exportação, regimes aduaneiros especiais, sistema geral de preferências, transporte internacional e tributação; . . . . participantes do Processo Produtivo Básico; Fórum Setorial de Franquia; Programa Brasileiro de Design; Programa do Artesanato Brasileiro. A busca permanente da competitividade A condução das atividades acima descritas deverão obedecer a seguinte metodologia: (a) realização de reuniões setoriais de educação, (b) identificação de módulos instrucionais com potencial de compartilhamento, (c) contratação de conteúdistas para necessidades identificadas e (d) disponibilização em ferramentas de Educação à Distância. Com esses passos descritos simplificadamente, espera-se auxiliar na solução dos problemas a resolver para efetivamente estimular a inovação, a produtividade e a competitividade que o setor produtivo nacional requer. Os mecanismos instituídos pelas empresas e pelo governo devem ser permanentemente aprimorados para, inclusive, fomentar uma maior aproximação da massa crítica existente na academia e no setor empresarial. Vem daí, pois, a importância que o Governo Federal confere às iniciativas de Educação Corporativa, buscando fazer uso de seu potencial no âmbito da nova Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior, particularmente no tocante à capacitação de recursos humanos. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, por meio de sua Secretaria de Tecnologia Industrial, em articulação com o Ministério do Trabalho e o Ministério da Educação, continuarão realizando sucessivas oficinas, com o objetivo de reduzir os entraves existentes, na aproximação da educação corporativa, no desenvolvimento regional. Referências Bibliográficas AGUIAR. Afrânio Carvalho. Corporações brasileiras: alguns fundamentos teóricos e políticos. 2004 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior. Brasília, 2004. ___________. Secretária de Tecnologia Industrial. Relatório Final da I Oficina de Educação Corporativa. 2003. ___________. Secretária de Tecnologia Industrial. Relatório Final da II Oficina de Educação Corporativa. 2003. ___________. Secretária de Tecnologia Industrial. Relatório Final da III Oficina de Educação Corporativa. 2003. DAHLMAN, Carl; FRISCHTAK, Cláudio. Tendências da indústria mundial: desafios para o Brasil. Brasília: CNI/DIREX. 2005.