OFICINA LITERÁRIA
AULA 5
CURSO DE LETRAS - PROF. Me. CLÁUDIA SOARES
Rio de Janeiro, 17 de novembro de 2011
O que é mesmo o ROMANCE?
•História de grande extensão com grande
número de personagens, sendo que muitas são
bem desenvolvidas. Há grande preocupação
com a psicologia das personagens, a
verossimilhança,
a
coerência
narrativa,
temporalidade, dentre outras características.
•Uma consulta ao "Novo Dicionário Aurélio da
Língua Portuguesa", cujo verbete romance
apresenta a seguinte definição, no âmbito
literário: "Descrição longa das ações e
sentimentos de personagens fictícios, numa
transposição da vida para um plano artístico".
1839 - 1908
Joaquim Maria Machado de
Assis, cronista, contista,
dramaturgo, jornalista, poeta,
novelista, romancista, crítico
e ensaísta, nasceu na cidade
do Rio de Janeiro em 21 de
junho de 1839. Filho de um
operário mestiço de negro e
português, Francisco José de
Assis, e de D. Maria
Leopoldina
Machado
de
Assis, aquele que viria a
tornar-se o maior escritor do
país e um mestre da língua.
É possível contar histórias em prosa que
compreendam personagens, utilizando outras
formas que não sejam o romance. A distinção
às vezes é sutil. Gide, por exemplo, preferia
chamar de “narrativas ou relatos (récits)
algumas de suas obras (O imoralista, A porta
estreita, Isabelle) porque nelas a história é
como que purificada, as personagens são
numerosas, a temática é concentrada. (...). Sem
contar essas discriminações particulares, a
tradição
reconhece
ALGUMAS
OUTRAS
FORMAS DE NARRATIVAS além do romance,
das quais é possível extrair leis estéticas.
• NOVELA
• CONTO
• CRÔNICA
• FÁBULA
• EPOPÉIA
• ENSAIO
O CONTO
Conto de Inverno – William Shakespeare
Uma boa receita -MarcosRodrigues*
Pequeno, guloso e curioso, perguntei a minha mãe como
fazer panqueca. Ela me disse para misturar bem uma
xícara de leite com dois ovos e mais uma xícara de farinha
de trigo. Uma pitada de sal, duas colheres de manteiga e
pronto. Derreta um pouquinho de manteiga numa frigideira
quente, derrame uma concha da mistura na frigideira e
espalhe sobre a superfície quente. Um pouco de um lado e
depois
do
outro.
Eis
a
panqueca.
Anos mais tarde, ouvi meu pai perguntar a um guarda de
estacionamento onde havia vaga. Ele disse para meu pai ir
devagar pelos corredores até encontrar um lugar vazio, ali
é a vaga. Uma resposta universal para vagas em qualquer
estacionamento do mundo! Gostei muito.
Assim, há tempos, convivo com receitas e algoritmos.
Existem sequências de operações que, quando
executadas
da
mesma
maneira,
nas
mesmas
circunstâncias, levam sempre a um certo resultado
esperado.
Vivi com isso por muito tempo até que reencontrei um
velho amigo uruguaio. Maduro e bem rodado, meio
cansado de certas coisas da vida. Em meio à conversa
que mergulhou noite adentro, ele me perguntou se eu
queria uma boa receita. Eu dissesim, claro, do quê?
Como, do quê? É uma boa receita. Mania infernal esta, de
que tudo tem que ter um propósito, tem que ser pra
alguma coisa, disse ele.
Existem boas receitas. Simplesmente boas. Às vezes
resultam numa coisa, às vezes noutras. Se quiser uma boa,
anote aí.Eu anotei.
Primeiro, com antecedência de meia hora, corte umas
rodelas de laranja, bem finas, e as deixe imersas no Grand
Marnier ou lambuzadas com um pouco de mel. Corte
pedaços finos de maçã verde, ou de pêssego, e algumas
rodelas finas de uva branca sem caroço, mas podem ser
pedaços finos de pera. Quem sabe umas amoras também?
Em uma jarra grande misture as lascas de frutas com uma
garrafa de Chardonnay gelado ou outro branco seco
qualquer. Adicione alguns cubos de gelo, a gosto.(...). Por
fim, adicione uma garrafa de Prosecco gelado, ou qualquer
outro espumante. Eis aí a primeira parte, o Clericot¹.
Segundo, é preciso uma tarde ensolarada de verão ou
primavera, mas pode ser de outono também. É desejável,
mas não indispensável, uma brisa fresca. Convém que o
lugar permita uma visão de horizonte largo. Verde é
melhor, mas também não é preciso. Pode ser mar. Pode
até ser uma paisagem urbana ou um quintal. Até mesmo
destes
pequenos,
com
varal.
Alto lá, eu disse, está tudo muito solto, muito aberto. Muito
incerto. Me incomoda. Já me volta ao peito a juvenil e
sombria sensação de que comigo as coisas não vão dar
certo.
Fique frio, disse ele. Lembre-se que não há o que esperar.
Ademais, não é tudo solto assim não. Anote aí. Até o fim.
Terceiro, em seu aparelho de som, pode ser destes
simples mesmo, ponha "On the Sunny Side of the Street",
com Willie Nelson. Ou "Slow Boat to China", com Louis
Armstrong. Ou mesmo "Let´s Misbehave", com Elvis
Costello. Na verdade, pode ser qualquer música. É a gosto
da pessoa. Melhor que seja baixo, mas pode ser alto
também.
Veja
lá.
Quarto, tenha a seu lado uma mulher interessante. Nada
de muito mais, mas absolutamente nada de menos.
Ele encerrou tudo com um você vai gostar.
Não me lembro como se perdeu o assunto naquela noite,
mas as anotações estão aqui. Talvez ele não tenha falado
em sorte porque a tem.
Não
sei,
preciso
pensar
um
pouco
no
assunto.
*Marcos Rodrigues é engenheiro civil , professor titular da Poli - USP
e
dedica-se
também
à
literatura
¹Os ingleses, em meados do século XIX, no Punjab, na Índia,
inventaram o Claret Cup. Este refrescante drinque era preparado com
um gelado Claret (vinho de Bordeaux, França) com frutas e outros
ingredientes. Esta bebida foi mais tarde levada para o Uruguai onde
sofreu transformações, até no nome. Virou Clericot, pronunciado
clericô.
Muita gente define o conto como sendo uma narrativa
pequena. Mas a definição precisa não é esta. A chave
para se entender o conto, enquanto gênero, está na
concentração de sua trama. Não é possível falar de vários
assuntos ou apresentar várias situações dentro de um
conto. Ele trata, geralmente, de uma situação, a qual se
desenrola sem pausas e sem recuos.
O seu foco é levar o leitor ao desfecho, que é, também, o
clímax da história. É o momento com o máximo de
tensão. Neste momento final, quase não há descrições.
No conto, deve existir um cuidado na seleção de tudo
aquilo que será apresentado ao leitor. Tudo deve ser
muito simples, sem grandes complicações psicológicas e
sem grandes peripécias.
O conto é uma obra de ficção, um texto ficcional.
Cria um universo de seres e acontecimentos de
ficção, de fantasia ou imaginação. Como todos
os textos de ficção, o conto apresenta um
narrador, personagens, ponto de vista e enredo.
Classicamente, diz-se que o conto se define pela
sua pequena extensão. Mais curto que a novela
ou o romance, o conto tem uma estrutura
fechada, desenvolve uma história e tem apenas
um clímax. Num romance, a trama desdobra-se
em conflitos secundários, o que não acontece
com o conto. O conto é conciso.
A HISTÓRIA DO CONTO
Surgiu com as narrativas religiosas. As pequenas
histórias bíblicas fazem parte do nascimento do conto.
Depois de anos, muitas narrativas religiosas foram, aos
poucos, perdendo suas características, pois o folclore
inseriu, em tais narrativas, dragões, seres fantásticos,
fadas. Dessa forma, os contos de fadas e as fábulas vão
absorver os elementos do folclore.
A palavra conto deriva do verbo contar, que tem sua
origem em computare, isto é, enumerar objetos ou
enumerar acontecimentos. Na Idade Média, contar era a
mesma coisa que enumerar fatos ou relatar algo,
construindo, assim, narrativas. Só, no século XVI, ganha,
especificamente, um sentido literário, caracterizando-se
como gênero.
A unidade do Conto
O conto não fala de várias
situações. Ele gravita em
volta de um só conflito.
Isto lhe garante unidade
de ação. E, de onde surge
o conflito? Ora, surge do
embate
entre
as
personagens. A respeito
do conflito do conto, tudo
converge para um único
núcleo. O drama é só um,
por isso não há grandes
questionamentos.
No conto, o passado e o
futuro não interessam.
O que conta é o momento
presente.
Por isso, a personagem
esgota,
em
apenas
algumas horas, todas as
suas potencialidades.
O espaço do conto
À unidade de ação corresponde a unidade de
espaço. O que isto significa? Ora, apenas um
ambiente se configura como palco do conflito.
Ali está concentrada a dramaticidade.
O tempo do conto
Tudo, neste tipo de narrativa, se
passa em um tempo curtíssimo.
São, apenas, algumas horas ou
dias.
Graças ao critério da brevidade,
pode-se eliminar a incerteza
entre o conto e o romance. O
conto se distingue do romance,
por ser um relato curto. (...). Ao
conto, aplicar-se-iam regras de
concentração (assunto único,
personagens pouco numerosos
etc.), narração pura (verídica ou
fictícia).
(STALLONI,
2003,
p.118)
O conto e o leitor
O leitor é o foco do conto.
Ele tem que ser impactado
pela história que vai ler.
Para ser interessante, o
conto tem que ter um tom
que desperte no leitor uma
única impressão, a qual
pode ser: pavor, piedade,
ódio, simpatia, ternura ou
indiferença.
O conto sempre opera com
ação. Não opera com
caracteres.
Isto
para
despertar essa impressão
única no leitor.
O conto tem como foco um tom que desperta no leitor uma
única impressão. os conflitos apresentados funcionem
como espelho para o leitor. Cria-se um movimento dei
dentificação. Por isso, o contista se esforça para criar um
drama que desperte, de forma quase imediata, um
sentimento forte no leitor.
Os personagens do conto
O ROMANCE:
O CONTO:
A linguagem do conto
Se a compreensão de um
conto deve ser imediata,
o leitor não pode se
deparar
com
muitas
metáforas. A linguagem,
portanto,
deve
ser
objetiva. Não há espaço
para segundas intenções
nas palavras. Não há
espaço
para
obscuridades. As coisas
são da forma como são
ditas.
A estrutura do conto
No conto, a trama é linear
e
objetiva.
O
tempo
predominante
é
o
cronológico,
sendo
marcado regularmente. O
leitor
vê
os
fatos
acontecerem
com
a
mesma seqüência, com a
mesma continuidade da
vida real. O andamento é a
ordem lógica da vida,
caminhando para frente.
Por outro lado, o conto é um gênero literário que apresenta uma grande flexibilidade,
podendo se aproximar da poesia e da crônica. Os historiadores afirmam que os ancestrais
do conto são o mito, a lenda, a parábola, o conto de fadas e mesmo a anedota.
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