ANTES DO BAILE VERDE - LYGIA FAGUNDES TELLES 18 narrativas, escritas no período de 1949 a 1969. Literatura contemporânea Linha intimista da narrativa. Ficção introspectiva. Penetração psicológica para delinear os conflitos do homem na sociedade contemporânea, através de uma variedade de sentimentos que a vida moderna e basicamente urbana sucinta. A tensão das personagens ou narradores é interiorizada, o que frequentemente as leva a não a agir, mas a evadir-se, subjetivando seus conflitos. Narrativas polissêmicas, repletas de sugestões conotativas, decorrentes da constante presença de metáforas e símbolos, que corporificam as temáticas dos textos. Personagens e objetos são interrelacionados para formar uma estrutura simbólica muito forte. Escrita alusiva e elíptica, ou seja, não há muitas descrições objetivas. Narradores oscilam entre 1ª e 3ª pessoas. Usa o discurso indireto-livre e o fluxo de consciência, do monólogo interior, através dos quais o leitor conhece os pensamentos e emoções dos protagonistas. A cor verde está sempre presente para indicar o jogo com a palavra literária e poética, já que as narrativas de Lygia contêm tantos sentidos metafóricos. Ao final da leitura ficará a cargo do leitor criar o clima de mistério, de terror, de desamor e desencontro, de solidão e abandono. Os finais dos contos provocam o imaginário coletivo e convocam os leitores a participarem do ponto de vista das personagens e narradores. Narrativas reticentes e instigantes 1- OBJETOS Construído através do discurso direto: por meio das falas de um casal, Lorena e Miguel, há a revelação gradual de uma cena da intimidade dos dois. A voz do narrador pontuará as ações de ambos através de descrições, que mais servem de marcações de cena do que de explicações propriamente ditas sobre as reações do casal. “Os objetos só têm sentido quando têm sentido, fora disso... Eles precisam ser olhados, manuseados. Como nós. Se ninguém me ama, viro uma coisa ainda mais triste do que essas, porque ando, falo, indo e vindo como uma sombra, vazio, vazio. É o peso de papel sem papel, o cinzeiro sem cinza, o anjo sem anjo, fico aquela adaga ali fora do peito. Para que serve uma adaga fora do peito?” 2- VERDE LAGARTO AMARELO Relação entre Rodolfo, o narrador, e seu irmão mais novo, Eduardo. Aborda as complexas temáticas da família, da memória, da infância e dos sentimentos de amor e de rejeição. O narrador descreve a sensação de sufoco decorrente da visita inesperada de Eduardo, destila a raiva que sente por ter sido preterido, rejeitado pela mãe já morta, Laura, que implicava constantemente por ele suar excessivamente e chamava sua atenção, para não ofender ou machucar o irmão menor. Rodolfo é escritor e vive só. As três palavras do título do conto remetem à perspectiva autocrítica de Rodolfo, por ser um sujeito sempre arredio, com problemas de aparência. “Não queria suar, não queria, mas o suor medonho não parava de escorrer manchando a camisa de amarelo com uma borda esverdinhada, suor de bicho venenoso, traiçoeiro...” Reflexão metalinguística: “Era enjoativo de tão doce mas se eu rompesse a polpa cerrada e densa, sentiria seu gosto verdadeiro. Com a ponta da língua pude sentir a semente apontando sob a polpa. Varei-a. o sumo ácido inundou-me a boca. Cuspi a semente: assim queria escrever, indo ao âmago do âmago até atingir a semente resguardada lá no fundo como um feto.” Monólogo interior revela dores e angústias do narrador. A conversa dos irmãos, que entrecorta pensamentos do protagonista, leva à alternância de tempos. Uso da “pele de lagarto” como máscara para esconder seus sentimentos: tristeza, amargura, inveja e raiva do irmão. “(...) Senti meu coração se fechar como uma concha. A dor era quase física. Olhei para ele. Você escreveu um romance. É isso? Os originais estão na pasta... É isso?” 3- APENAS UM SAXOFONE O conto começa com a narradora exclamando um palavrão em francês, e a menção a um indivíduo, meramente identificado como “ele”, que fora um amante marcante na vida dela, hoje cercada por objetos caros, numa mansão bem decorada, mas profundamente solitária. A reflexão inicial feita pela narrador sugere um tom positivamente feminista e crítico em relação à hipocrisia que ronda a condição da mulher na sociedade. Pergunta da narradora que permeará a narrativa: “Onde agora?” Tanto para evocar o amante do passado, quanto para tentar resgatar a si mesma, a pessoa que era antes de viver envolta em tamanha pompa e luxuosidade. “É que fomos escurecendo juntas, a sala e eu.” Luisiana – apelido que o saxofonista dera à narradora. Renê – decorador de sua mansão, que a explorou. Narradora leva uma vida promíscua e vazia e faz questão de enfatizar: “tenho um velho que me dá dinheiro, tenho um jovem que me dá gozo...” 4- HELGA É um dos exemplos de contos construídos com base na reversão das expectativas do leitor. Ao desvendar aspectos grotescos da alma humana e se valer de uma inesperada figura feminina sem uma das pernas, Lygia cria um estudo sobre a capacidade de crueldade e egoísmo do ser humano. Narrado em 1ª pessoa, o texto conduzirá o leitor através do discurso de Paulo Silva Filho, filho de mãe alemã de Santa Catarina e pai brasileiro. Ao cursar o ginásio em Blumenau, seu nome se transforma no germânico Paul Karsten. É o ano de 1935 e, nas férias, Paul viaja para Hamburgo, na Alemanha, rumo às Casas da Juventude, Junghaus, em pleno regime de Hitler. A narração de Paulo é marcada pela expiação de alguma culpa relativa à condição física de Helga, que ainda não é compartilhada com o leitor e é reservada para o desfecho. Paul, não pode voltar ao Brasil por ter lutado ao lado de Hitler, passa a se envolver em contrabando de comida e pequenos utensilios. Wolf (este parece ter sido muito rico, pois montara uma farmácia e comprara uma perna mecânica para Helga), pai de Helga, sugere o contrabando de penicilina. O negócio de Paul começa a declina e ele propõe casamento a Helga. Relato suspeito do narrador. A reflexão quase ao final do conto confirma a ideia de expiação estar ligada a Helga, mas de forma alguma por causa de questões propriamente amorosas, segundo se imagina: “(...) ordenar os sentimentos é para mim totalmente impossível. Revivo o tempo da contemplação de sua beleza e depois os instantes de fundo desejo. E lembro muito do casamento. Quanto ao amor por Helga, afirma o analisata que não passa de um recurso autopunitivo que resolvi imaginar. O fato é que me casei e na própria madrugada de núpcias fugi para Hamburgo levando a perna ortopédica que em seguida vendi. De posse do capital inicial, não foi difícil encontrar o tal major e no tempo previsto pelo velho Wolf, seis meses mais ou menos, fiz fortuna.” 5- O MOÇO DO SAXOFONE Narrativa em 1ª pessoa, contada por um motorista de caminhão que ganha dinheiro trabalhando com contrabando. Marcas de coloquialidade típicas de sujeitos embrutecidos pela lida diária nas estradas. Começa a almoçar num restaurante de um pensão barata “fregue-moscas”, segundo ele, de uma madame polaca. Tem como companheiro ocasional o James, sujeito que engole giletes num parque de diversões. Saxofonista, que toca no segundo andar da pensão, deixa o narrador atordoado com a melodia. James esclarece que a mulher do saxofonista o trai com muitos indiscriminadamente. Mulher do saxofonista esbarra propositalmente no narrador. A música só se inicia quando ela sobe a escada, encaracolada, que dá para os quartos, com algum homem. À noite, retorna ao restaurante e a mulher do saxofonista se insinua para ele. Marcam um encontro. Ela dá as instruções sobre o quarto. Abre, por descuido ou engano, a porta do quarto onde estava o saxofonista. Finge engano e fica constrangido, oferece-lhe cigarros e dá meia-volta para sair, pois o músico lhe indicara que devia ir ao quarto ao lado. “- E você aceita tudo isso assim quieto? Não reage? Por que não lhe dá uma boa sova, não lhe chuta com mala e tudo no meio da rua? Se fosse comigo, pomba, eu já tinha rachado ela pelo meio! Me desculpe estar me metendo, mas quer dizer que você não faz nada? - Eu toco saxofone. Entra no quarto da mulher, começa a música, perde o desejo e sai atordoado, dando partido no caminhão. A arte musical é uma forma de concretizar os gritos abafados do marido e mimetizar sua lamentação; a arte e a música são seu meio de ação. Para melhor existir, me meio a tantas sombras, é preciso atuar como artista. 6- ANTES DO BAILE VERDE Temática da procura do prazer envolta em culpa, a oscilação entre a ideia do dever e a busca pela diversão, que alivia momentaneamente o sofrimento. Tatisa, uma das protagonistas, conversa com a empregada, Lu, enquanto prega com cola as lantejoulas verdes de sua fantasia de pierrete. Deseja se esbaldar na carnaval deste ano, pois no passado, Tatisa ficou de cama, gripada. Pai de Tatisa agoniza, moribundo, na cama. Conto narrado em 3ª pessoa, construído por diálogos, aumenta a dramaticidade, e as falas das personagens compõem uma encenação que focará o conflito entre o dever de auxiliar o pai moribundo e não abandoná-lo. Final da narrativa é profundamente sugestivo. Os gestos apressados indicam a voracidade do desejo imediato do prazer, típico do carnaval, e as lantejoulas rolando em direção a Tatisa, o furor que a consome e a faz abandonar a morte, deixá-la para trás, e arrastar consigo o que puder em direção à vida, ao gozo. Ambiguidades humanas: prazer x dever; desejo x lei moral; fantasia x realidade. 7- A CAÇADA Narrador em 3ª pessoa, que tenta elaborar a tensão de um personagem assombrado por uma antiga tapeçaria (que tem uma cena de caçada). Sente-se parte da caçada. Imagina que poderia ter composto o quadro reproduzido na tapeçaria, e por isso a cena lhe parecia tão íntima. Detestava caçada, por isso não entendia como poderia estar na cena. Tapete algo tecido, como o texto literário. 8- A CHAVE Narrado em 3ª pessoa. Presença frequente do discurso indireto-livre, de modo que o leitor fique ciente dos pensamentos de Tomás, apelidado pela atual esposa, Magô, como Tom. Há também monólogo interior do protagonista. Desfecho simbólico e onírico, ligado às imagens dos sonhos do protagonista, aberto a interpretações e leituras diversificadas, principalmente por causa da presença metafórica do objeto que nomeia a narrativa: a chave. Compromisso: uma festa. Enquanto a mulher se veste, Tomás reflete sobre as diferenças entre eles dois, e entre Magô e a antiga esposa, Francisca. Quando se conheceram ele tinha 49 anos e ela 18. Trecho que demonstra uma reflexão crua e irônica de Tomás em que se percebem as diferenças entre ele e a esposa, e também entre Magô e Francisca: “A quantidade de homens que dariam tudo só para ver aquelas pernas [de Magô]. As famosas pernas. Besteira, onda. Baixou o olhar para os próprios pés. E quase chegou a sorrir.l com aquelas meias, pareciam pés de um rapaz, ela gostava das cores fortes. Francisca preferia cores modestas, mas Magô era jovem e os jovens gostam das cores fortes, principalmente os jovens que vivem em companhia de velhos. E que desejam disfarçar esses velhos sob artifícios ingênuos como meias de cores berrantes, camisas esportivas, gravatas alegres, alegria, meus velhinhos, alegria! Dia virá quem que ela vai querer que eu pinte o cabelo.” Velhice tratada como algo pejorativo, porque o que está em jogo é a frustração de Tomás. Espelho às avessas. (Tom e Magô) 9- MEIA-NOITE EM PONTO EM XANGAI Narrativa em 3ª pessoa focaliza a solidão de uma soprano dramática, uma cantora lírica que acabou de fazer um show para os chineses. Ela se despe e começa a relaxar na banheira do hotel. No seu quarto, além dela, há um serviçal chinês, Wang, a quem trata de maneira muito grosseira, e o cachorro Ming. Enquanto se banha recebe a visita do empresário, Stevenson, que a bajula de todas as formas. Narrador enfatiza a atmosfera silenciosamente perturbadora envolvendo a cantora: “Na trégua de silêncio sua voz soou artificial, como se viesse do bojo do gramofone ao lado do biombo. (...) O silêncio era agora tão compacto que os ruídos da rua já não conseguiam penetrá-lo”. 10- A JANELA A loucura é um dos temas muito caros a Lygia Fagundes Telles. “A janela” demonstra como o louco tem uma perspectiva transtornada e, ao mesmo tempo, poética da realidade, que acaba por impregnar aqueles considerados normais. Narrado em 3ª pessoa, esse conto começa com a figura de um indivíduo alto e magro, de cabelos grisalhos, que vai até o quarto de uma mulher, segundo ele, para rever o local onde o falecido filho dormia. Apesar da circunstância um pouco mórbida, a mulher sente-se atraída por esse homem, e começa a se insinuar para ele, deixando cair um pouco a roupa sobre o colo e cruzando as pernas. 11- UM CHÁ BEM FORTE E TRÊS XÍCARAS Conto em 3ª pessoa. Cadência narrativa sugestiva com insinuações, imagens metafóricas e simbolismos. Enredo foco o ato da espera: Maria Camila, uma mulher mais velha, conversa com a empregada, Matilde, sobre trivialidades do cotidiano, em meio ao jardim de sua casa, enquanto espera uma jovem de aproximadamente 18 anos, para tomar chá. Moça, estagiária no laboratório do marido de Maria Camila – Augusto. Nervosismo, ansiedade, desconfiança da relação do marido com a estagiária. Imagem da borboleta que pousa na roseira, mulher estende a mão para pegá-la. Consciência da velhice vem acompanhada da simbologia relativa às mãos de Maria Camila. A mão indica, sobretudo, atividade, ação, atitude, pois com ela se constrói e se destrói, se afaga e se violenta, se planta e se destrói. Pede à empregada que sirva 3 xícaras do chá, bem forte. Tem certeza de que o marido vem. Ao dizer isso dilacera com as mãos uma pétala de rosa. A jovem chega para o chá. Valores patriarcais instaurados na sociedade, difícil lutar contra. 12- O JARDIM SELVAGEM Mãos em destaque neste conto também, mas envolvidas em mistério e suspense. Como em um conto policial, a narrativa deixa várias pistas para confundir o leitor. Final sem desfecho típico do gênero policial. Narradora, a jovem Ducha. Relato da estranha história do Tio Ed, que se casa com Daniela, uma mulher beirando os 40 anos, atraente, refinada e elegante, que tinha um hábito exótico: usar uma luva na mão direita, em qualquer ocasião e lugar, até mesmo dentro de casa. Tio Ed falara para a narradora que Daniela era como um jardim selvagem, mas não dá mais satisfações que explicariam a comparação metafórica. Tio Ed se casara repentinamente com Daneila, e fora morar na chácara da família, para espanto de Pombinha, irmã dele, com quem a narradora morava. Em conversas antes de dormir, Tia Pombinha se recorda de quando a mãe deles morreu, e de como ela havia assumido a tarefa de criar o jovem Ed. A narradora nota o ciúme de Pombinha quando o irmão se casa. Daniela diz que sofreu um acidente, por isso a luva. Família fica espantada ao saber que ela fica nua debaixo da cascata na chácara. 13- NATAL NA BARCA Conto enigmático, que opera com os conceitos de milagre, de fé, e da própria vida, simbolizada pela água. Narradora em 1ª pessoa. Dentro de uma barca, em um rio, junto com o bilheteiro e mais 3 passageiros: um velho e uma mulher com uma criança no colo. O velho está bêbado e conversa sozinho, com um vizinho imaginário. A mulher era jovem e pálida, com um longo manto escuro que lhe cobria a cabeça e, segundo a narrador, lhe dava um aspecto de uma figura antiga. Narradora faz questão de não manter diálogo nem com a mulher nem com o velho. Objetivo da narradora era não compartilhar sua intimidade, nem entrar na intimidade alheia, apenas queria o isolamento. “Eu queria ficar só naquela noite, sem lembranças, sem piedade. Mas os laços – os tais laços humanos – já ameaçavam me envolver.” 14- A CEIA Alice e Eduardo são dois amantes que durante 15 anos se relacionaram, aparentemente sem se unirem oficialmente. Eduardo decide largar Alice para se casar com Olívia, ou Lili, uma mulher bem mais jovem. Diálogos abundantes revelarão aos poucos a intimidade do casal, às voltas com lembranças desagradáveis e tentativas de esquecer a separação. “- Mas então o desconhecido sentou na mesa – começou ele baixinho. – disse que era marinheiro. -Eduardo, eu queria que você fosse embora.” Conto retrata a hipocrisia de alguns relacionamentos escondidos do olhar público. Tematiza-se também a tristeza e abandono de uma mulher madura, trocada por uma mais jovem. 15- VENHA VER O PÔR-DO-SOL Apesar do título lírico, é uma narrativa com ares góticos. Narração: 3ª pessoa. Conta a história de Ricardo e Raquel, ex-namorados que se separam por causa das dificuldades financeiras de Ricardo. Raquel está prestes a se casar com um homem muito rico, e Ricardo pede para eles se encontrarem mais uma vez, como maneira de despedida. Local de encontro: um antigo cemitério abandonado. Atitudes de Ricardo parecem ambíguas. 16- EU ERA MUDO E SÓ Manuel é o narrador-personagem que passa por um período de angústia, por causa de seu casamento com Fernanda. Na verdade, Fernanda é a esposa perfeita, vinda de uma família rica. Ela é requintada, inteligente, culta, carinhosa e sensível às necessidades do marido, mas Manuela sente-se oprimido pelo casamento. Desconforto gerado pela sustentação de uma relação amorosa forçada. Ele chega a comparar Fernanda a um postal da coleção Azul e rosa, ou seja, a algo maquiado, idealizado, montado, moldado – uma paisagem irreal emoldurada num pedaço de papel e plástico. Fernanda ignora os sentimentos do marido e continua a tratálo afetuosamente. Ao final da narrativa o leitor toma conhecimento que Manuel era um jornalista, para casar-se com Fernanda abdicou de sua profissão para se tornar sócio do sogro, um senador, num negócio de máquinas agrícolas. Faz 12 anos que se casaram. Eles têm uma filha, Gisela. Irônico: “gente para ser vista e admirada do lado de fora, através da vidraça” Sentimentos ambíguos do narrador. Balbucia um verso do poeta português Guerra Junqueiro, que Fernanda prontamente critica e ridiculariza: “Eu era mudo e só na rocha de granito.” Toma a certeza da segurança financeira e material do casamento como uma compensação medíocre diante da artificialidade de sua vida. 17- AS PÉROLAS Narrado em 3ª pessoa, Lavínia se arruma para ia a uma reunião, uma festa social, enquanto o marido, Tomás, a observa aprontar-se. Ao longo da narrativa percebe-se que Tomás sofre de alguma doença, que o faz definhar aos poucos. Lembra de um amigo do casal, Roberto. Tomás fantasia que este cortejava Lavínia. Imagina os comentários durante a festa. Através do discurso indireto livre o leitor toma conhecimento de uma reflexão de Tomás sobre Lavínia, que “preferia ficar, ela ainda o amava. Um amor meio esgarçado, sem alegria. Mas ainda amor. Roberto não passava de uma nebulosa imprecisa e que só seus olhos assinalaram a distância. Colar de pérolas falso, presente de Tomás. A menção a um vestido de noiva preto simboliza a futura viuvez de Lavínia, por causa da doença de Tomás, e o destino trágico do casamento. Paranóico, o marido esconde o colar de pérolas no bolso. Atitudes ambíguas de Tomás revelam seu descontrole íntimo, suas dúvidas e incertezas em relação a Lavínia, a ele mesmo e ao casamento. 18- O MENINO Narrativa em 3ª pessoa. Trata de amor e traição, da vida de aparências e da falsidade, e da destruição de ilusões. Narrativa tocante porque lida com o desencanto do universo infantil, por meio da relação entre uma criança e sua mãe. Considerações finais dos contos Rejeição, solidão, frustração, desencontro são temáticas constantes. Finais geralmente trágicos, pois não apresentam saída para as personagens e seus narradores. Por trás da delicadeza da linguagem escondem-se sugestões das pequenas crueldades impostas pela vida. A velhice, por exemplo, é aborda de modo irônico e desencantado, por ser fruto de desprazer e abandono. Da mesma maneira o casamento e as relações amorosas existem mais como fonte de amargura e decepção do que propriamente de felicidade. Os ambientes familiares não são idealizados de forma alguma; são corroídos pela inabilidade de entendimento entre as personagens. Assim como o meio familiar é perturbado, os relacionamentos e sentimentos são insatisfatórios e decepcionantes. Em meio da percepção aos detalhes do real, desvelam o drama íntimo das personagens, retrata-se a solidão interior das personagens. Há preocupação em sondar a psicologia desses seres. As mulheres são em geral livres de amarras, sedutoras, liberais, mas que sofrem por causa da traição, do abandono e das consequências de suas escolhas. Não raro, as personagens estão às voltas com seu passado, e caem em estados reflexivos. O leitor compartilhará das lembranças somente à medida que emergirem, mas a maior parte ficará encoberta. Tipos variados: adolescentes, idosos, ricos, miseráveis, crianças, pessoas das mais variadas classes sociais e categorias. Apresentadas ao leitor com sua linguagem característica, seus trejeitos, suas inflexões, suas visões de mundo.