Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Alguns acreditam que quando você paga para usar (ou usufruir de) alguma coisa, há a tendência de você usar essa coisa com maior cuidado, de maneira mais eficiente. Isso é verdadeiro quando você compra tinta para pintar sua casa; você procura não desperdiçar, tendo cuidado de usá-la da melhor maneira possível. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. A proposta de se usar instrumentos econômicos na gestão ambiental é baseada no mesmo princípio de buscar a eficiência no uso do meio ambiente. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Quando se aplica um tributo ambiental (taxa, tarifa, imposto por emissão ou por uso de uma unidade do patrimônio ambiental qualquer), os responsáveis pela emissão devem pagar pelos serviços prestados pelo meio ambiente (transporte, diluição, decomposição química, etc.) da mesma forma que eles pagam pelos demais insumos utilizados em suas operações. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Ou seja, seria como perguntar ao agente poluidor: “Você deseja poluir? Tudo bem. Então suas emissões serão medidas e você terá que pagar por cada unidade de poluentes que emitir.” Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Da mesma forma que a empresa procura poupar uma unidade de mão de obra escassa, e portanto relativamente cara, ela terá o estímulo a conservar a utilização dos serviços ambientais. E ela irá conservá-lo da forma que julgar mais conveniente. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Ou dito de outra forma, os contaminadores ou os degradadores buscam, por sí só, a melhor maneira de reduzir as emissões e as degradações, substituindo uma autoridade controladora na escolha dessa opção. A maneira mais simples de iniciar essa análise é por meio de um exemplo hipotético. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Vamos supor, inicialmente, uma fonte individual de um contaminante particular. As informações ambientais básicas dessa fonte estão resumidas na Tabela 1 a seguir. Emissões Custos (toneladas/mês) Marginais de Redução 10 09 08 07 06 05 04 03 02 01 00 Custos Totais de Redução 0 15 30 50 70 90 115 135 175 230 290 0 15 45 95 165 255 370 505 680 910 1200 Gastos tributários totais a R$ 120,00 por ton/mês 1200 1080 960 840 720 600 480 360 240 120 0 Custos Totais 1200 1095 1005 935 885 855 850 865 920 1030 1200 Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Vamos supor, também, que um tributo de R$ 120,00 por tonelada por mês seja estabelecido para o contaminante. Qual é o custo total mínimo deste poluidor considerando esse tributo e a sua estrutura de custos? Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Com esse tributo e com essas estruturas de custo, observa-se que o custo total mínimo (soma do custo total de redução e dos gastos totais com taxa ambiental) é de R$ 850,00 e ocorre a uma taxa de emissões de 4 toneladas por mês. O mesmo resultado é obtido se você considerar os custos marginais de redução. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Inicialmente a empresa está emitindo dez unidades por mês do poluente. Se ela decide reduzir suas emissões para nove toneladas por mês, ela incorre em R$ 15,00 de custo, mas poupa R$ 120,00 de taxa ambiental. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Sem dúvida uma decisão lógica do ponto de vista econômico. Seguindo esta lógica, a empresa continuará reduzindo as emissões enquanto o custo marginal de redução for menor que o taxa por tonelada/mês de emissão. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. A empresa prosseguirá até o ponto em que o custo marginal de redução seja igual ao valor do taxa por unidade de poluente emitido. O resultado final pode ser melhor visualizado na Figura 1. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Depois que a empresa reduzir suas emissões até 4 toneladas por mês, seu custo total de tributo ambiental será de R$ 480,00 e seu custo marginal de redução será de R$ 370,00. Você é capaz de identificar esses custos em segmentos da Figura 1? Eu creio que sim. Pág. 271 300 250 CMR 200 US$ 150 100 a 50 0 b 2 4 6 8 10 Emissões (toneladas/mês) Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Os custos totais de redução correspondem, graficamente, à área b na Figura 1; enquanto que o total pago em tributos ao nível de 4 ton/mês corresponde à área a, na mesma figura. Destaco, para uma discussão futura que, ao nível de 10 ton/mês, o custo total da empresa é de R$ 1 200,00. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Mas, por que a empresa não decide continuar emitindo 10 ton/mês e transfere a carga do tributo para o consumidor através de aumento do preço do seu produto? Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. As pressões competitivas forçam empresas a realizarem todo o possível para minimizar seus custos e para evitar que clientes procurem produto similar produzido por outra empresa. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Assim, quanto mais competitivo for o ramo da atividade da empresa onde for estabelecido o tributo ambiental, menor a chance de transferir o tributo para o preço. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Quanto menor for a elasticidade preço da demanda pelo bem (em particular, quando não existirem substitutos perfeitos para o bem produzido pela empresa) maior chance a empresa terá de transferir o valor do tributo ambiental para o preço. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Pelo mesmo raciocínio fica claro, então, que setores menos competitivos (monopólios naturais - geração de energia elétrica) e produtores ou ofertantes de bens de demanda inelástica a preços (tais como os farmacêuticos e os combustíveis) serão setores onde as empresa procurarão transferir tributos ambientais para os preços dos produtos, reduzindo assim a sua eficácia. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Para as empresas em mercados competitivos, ceteris paribus, o seu nível de resposta a um tributo ambiental dependerá: i) do nível do tributo e ii) da inclinação de sua curva de custo marginal de redução. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Uma comparação sempre presente é entre o estabelecimento de um padrão vis-a-vis o estabelecimento de um tributo para uma mesma meta ambiental. Usando o nosso exemplo anterior, com o taxa o gasto total da empresa para reduzir suas emissões para 4 ton/mês foi equivalente a R$ 850,00. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Se fosse estabelecido um padrão máximo de 4 ton/mês, essa mesma empresa teria um gasto de apenas R$ 370,00 decorrentes de sua curva de custo de redução. Para a empresa, o sistema de padrão é mais barato, pois ela recebe 4 unidades de serviços ambientais totalmente sem custos. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Para a sociedade, o tributo ambiental é mais adequado, pois cobra por cada unidade de serviço ambiental usado. Já foi dito que, em situações competitivas, tributos maiores gerarão reduções de emissões maiores. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Mas quão elevado deve ser um tributo ambiental? Se a curva de custo marginal da redução é conhecida e se a curva de dano ambiental (benefício da redução) também é conhecida, qual a recomendação da teoria econômica neoclássica? Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Ela nos diz que o tributo deve ser estabelecido ao nível eficiente de emissões, onde custo marginal é igual ao benefício marginal de redução. Esse nível seria em t* na Figura 2, com um nível de emissão em e*. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Os custos totais do controle das emissões da empresa podem ser divididos em dois tipos: os custos totais da redução, ou e na Figura 2; os pagamentos totais do tributo ambiental, representado na Figura 2 por a + b + c + d . Página 273 Custos Marginais de Redução Danos Marginal US$ f t* c a d b 0 et e e* Emissões (toneladas/ano) e0 Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. A redução das emissões de e0 para e* representou a eliminação dos danos ambientais de um montante de e + f. Os danos ambientais que ainda permanecem podem ser representados na Figura 2 como a área b + d. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Fica claro, então, que os danos ambientais que ainda permanecem após a redução são menores do que a empresa ainda paga de tributos ambientais pelos serviços do meio ambiente que ela ainda está usando. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Está evidente, portanto, que tributo sobre emissão é baseado no direito de uso do recurso ambiental e não em uma suposta compensação pela poluição causada. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Por outro lado, também fica claro que a empresa está pagando mais do que o serviço que ainda utiliza do meio ambiente. Esse fato gera a proposta de estabelecimento de tributo em duas partes. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Em primeiro lugar, seria permitida uma certa quantidade de emissões sem a cobrança de tributos. Em uma segunda etapa, aplica-se o tributo somente sobre a emissões que excederem aquele limite inicial. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Na Figura 2 seria permitido um limite de emissões em e1 , até aí a empresa está livre do pagamento de taxa; a qualquer unidade de emissão superior a esse limite, a empresa paga o taxa t*. Comparativamente à situação anterior, a empresa está pagando apenas c + d. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Como se pode estabelecer um tributo sem se conhecer a função de dano ambiental marginal? Você poderia fazer por tentativa e erro, por aproximações sucessivas até chegar ao ponto ideal. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Entretanto, isso teria um custo muito elevado, em termos de credibilidade do instrumento tributo. FIELD recomenda que os formuladores de política ambiental estabeleçam um tributo no nível correto desde o início. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Isto exigiria um estudo prévio para se obter uma idéia aproximada da curva de custos agregados de redução e da curva de custos dos danos. Poderia ser usada a estratégia de escolha de uma empresa representativa do setor. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. O tributo sobre externalidades foi inicialmente proposto por Pigou em 1932 visa taxar o agente gerador da externalidade de tal modo que ele mude sua atividade até que o nível de externalidade alcance o nível socialmente ótimo. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. O valor do tributo deve ser exatamente o custo marginal de degradação causado pela poluição ou por qualquer outra externalidade. O “tributo ambiental ótimo” é teoricamente robusto, podendo ser representado em termos gráficos como se segue. TRIBUTO ÓTIMO E DIFERENÇA ENTRE CUSTOS PRIVADO E SOCIAL Utilidade Utilidade CM CM (social) CM (privado) ω QR * Optimal tax BM = ω QR BM MT* M* Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Para que seja eficiente, especialmente no controle de fontes múltiplas de emissões, o tributo precisa satisfazer o princípio eqüimarginal. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Assim, se é aplicado um mesmo tributo a fontes diferentes com diversas funções de custo marginal de redução e cada fonte reduz suas emissões até que seu custos marginal de redução seja igual ao tributo, os custos marginais se igualam entre todas as fontes. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Isso pode ser observado na Tabela 2 e visualizado na Figura 3, a seguir. Níve l de Emissões (Tone ladas/ano) 20 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 09 08 07 06 05 04 03 02 01 00 Custos Margina is de Custos Margina is de Redução (US$) do Emissor Redução (US$) do Emissor A B 0.00 0.00 1.00 2.10 2.10 4.60 3.30 9.40 4.60 19.30 6.00 32.50 7.60 54.90 9.40 82.90 11.50 116.90 13.90 156.90 16.50 204.90 19.30 264.90 22.30 332.90 25.50 406.90 28.90 487.00 32.50 577.00 36.30 677.20 40.50 787.20 44.90 907.20 49.70 1037.20 54.90 1187.20 Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Os custos marginais de redução da fonte A crescem muito menos rapidamente com as reduções de emissão que os da fonte B. Possivelmente a tecnologia de produção de B faz com que as suas reduções de emissão sejam mais caras (maior custo) do que as de A. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Se o tributo for estabelecido em R$ 33,00 por tonelada, temos: A Fonte A reduzirá suas emissões até 5 toneladas por mês; A Fonte B reduzirá as suas até 15 ton/mês. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Após essas reduções, os custos marginais de redução das duas fontes serão iguais. A redução total será de 20 toneladas por mês, com o tributo se distribuindo automaticamente entre as duas empresas de acordo com o princípio eqüi-marginal. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. O tributo sobre as emissões fez com que a Fonte A reduzisse suas emissões em 75%, enquanto a Fonte B o fez em 25%. Maiores reduções de emissão foram alcançadas pela empresa com menores custos marginais de redução. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Isso fica claro no Gráfico 3. Vamos supor agora que a autoridade ambiental decida por uma redução proporcional, baseado na crença que todos devem ser tratados igualmente. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Essa “sábia” autoridade pode, por exemplo, exigir que cada fonte corte 50% de suas emissões. Ou seja, cada fonte terá de cortar suas emissões para 10 toneladas por mês. Página 276 CMRA CMRB 50 50 40 40 U 30 S $ 20 US$ 30 20 a b 10 5 c 10 10 15 Emissões (toneladas/mês) 20 d 5 10 15 Emissões (toneladas/mês) 20 Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Qual o custo total dessa decisão? Na Figura 3, os custos totais de redução são iguais à área b para a Fonte A e à área d para a Fonte B. Por outro lado, o pagamento de tributos da Fonte A corresponderia à área a, enquanto que a da Fonte B seria equivalente à área c. Custos Totais Custos Totais de Execução de Execução (R$/mês) (R$/mês) Redução Proporcional Imposto sobre os Efluentes Fonte A 75,9 204,4 Fonte B 684,4 67,9 Total 760,3 272,3 Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Assim, quanto menos vertical for a curva de custo marginal de redução da empresa, maior a redução e menor o pagamento de tributo. É verdade que quanto maior a taxa tributária, maiores serão as reduções das emissões. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Entretanto, numa situação como a da Fonte B seria necessário um tributo muito alto para que ela acabasse com as suas emissões. É importante destacar que os resultados eficientes dos tributos podem ser obtidos mesmo quando a autoridade pública não tenha conhecimento sobre os custos marginais de redução de qualquer das fontes. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Mas nem tudo são flores: emissões de fontes diferentes podem ter impactos diferentes sobre a qualidade do meio ambiente, possibilidade não considerada até agora. Muito freqüentemente, as fontes estão localizadas a diferentes distâncias de uma comunidade: a Fonte A duas vezes mais distante da comunidade do que a Fonte B. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Em uma situação como esta, é provável que o dano causado ao bem-estar da comunidade como resultado das emissões de B seja duas vezes maior do que os impactos da Fonte A. Essa diferença espacial é um caso especial de “emissões não uniformes”. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Se a autoridade pública estabelece um único tributo, esse será ineficiente. No nosso exemplo, será recomendável um tributo por zona. Dentro de cada zona você teria o mesmo tributo para todas as fontes; porém você teria tributos diferentes para zonas distintas. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Existem, também, as incertezas com relação às respostas que as empresas darão ao tributo ambiental, em termos de redução das emissões. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Se as funções de custo marginal de redução forem muito inclinadas, o nível em que o tributo for estabelecido passa a ser muito importante para garantir a redução esperada de emissões. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Isso fica claro no Gráfico 4. CMR1 CMR2 ta US$ t tb 0 e5 e3 e1 e2 e4 Emissões (libras/mês) Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Por outro lado, um dos aspectos positivos freqüentemente citados em relação ao tributo ambiental é o estímulo que esse instrumento dá para que as empresas mudem o seu padrão tecnológico na busca de um menor nível de poluição ou degradação. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Esse incentivo ao esforço máximo pode ser visualizado graficamente. O Gráfico 5 mostra duas situações. CMR1 CMR2 US$ t c a d b 0 E2 e E1 Emissões (toneladas/ano) Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. CMR1 representa a situação atual. Já CMR2 representa a situação que a empresa enfrentaria após gastos em P e D para gerar um padrão tecnológico que permita um custo marginal de redução menor. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Qual seria a origem do estímulo da empresa para gastar recursos em P e D para alterar sua curva de custo marginal de redução? Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Em um nível de tributo t por tonelada de emissão, com CMR1 a emissão será reduzida para e1 , com custo de redução igual a d + e e com o custo de pagamento de tributo igual a a + b + c. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Com uma nova curva de custo marginal de redução, a empresa pode reduzir as emissões para e2 ; neste ponto os custos de redução são equivalentes a b + e e os custos de taxas equivalentes a a; a redução dos custos totais foi de c + d. Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais. Compare a legislação e o tributo ambientais utilizando os oito critérios apresentados na aula de ontem.