TRATAMENTO COGNITIVO COMPORTAMENTAL PARA CRIANÇAS COM TDAH Camila Oliveira Machado Raquel Vilche do Nascimento Orientadora: Cláudia Mazzoni RESUMO O presente artigo busca conceitualizar o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) com foco de seu diagnóstico na infância. Aborda também os tipos de TDAH que podem ser encontrados, a prevalência em meninos e meninas e o tratamento para esse transtorno sob a luz da Teoria Cognitivo Comportamental (TCC). Palavras chaves: TDAH, TCC e Tratamento em crianças. INTRODUÇÃO Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é um transtorno que geralmente aparece na infância e acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Os sintomas precisam estar presentes no individuo, antes dos 7 anos e causar prejuízo significativo em dois contextos, casa e escola. Ele pode ser caracterizado por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Para que o diagnóstico seja estabelecido, segundo DSM IV (2003), devem ser diagnosticados seis sintomas de desatenção e/ou seis sintomas de hiperatividade/impulsividade em uma lista de nove para cada um dos sintomas. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) baseia-se, para a atuação da prática na clínica, em uma série de teorias que são usadas para desenvolver planos de tratamento e orientar as ações terapêuticas. Essa abordagem tem como base que o principio de nossa cognição controla nossas emoções e comportamentos, sendo assim, o modo como agimos ou nos comportamos pode interferir em nossos padrões de pensamentos e emoções. Com intuito de atender as demandas acadêmicas da disciplina de Teorias Psicoterápicas II e pelo interesse que o assunto nos desperta é que escolhemos dissertar sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade em crianças. Para o tratamento desse transtorno optamos por aplicar a técnica da Teoria Cognitiva Comportamental, apresentando a eficácia desse tratamento nessa patologia. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Segundo DSM IV (2003) o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade consiste num padrão de persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade, mais freqüente e grave de que aquele tipicamente observado nos indivíduos em nível equivalente de desenvolvimento, estes sintomas hiperativos-impulsivos que causam comprometimento devem estar presentes, antes dos 7 anos de idade, deve haver claras evidências de interferência no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional próprio do nível de desenvolvimento.(DSM IV, 112, 2003). Sintomas relacionados à desatenção Não prestar atenção a detalhes; ter dificuldade para concentrar-se; não prestar atenção ao que lhe é dito; ter dificuldade em seguir regras e instruções; • desvia a atenção com outras atividades; • não terminar o que começa; • ser desorganizado; • evitar atividades que exijam um esforço mental continuado; • perder coisas importantes; • distrair-se facilmente com coisas alheias ao que está fazendo; • esquecer compromissos e tarefas; • problemas financeiros; • tarefas complexas se tornam entediantes e ficam esquecidas; • dificuldade em fazer planejamento de curto ou de longo prazo. • • • • Os sintomas relacionados à hiperatividade/impulsividade Ficar remexendo as mãos e/ou os pés quando sentado; • não permanecer sentado por muito tempo; • pular, correr excessivamente em situações inadequadas; • sensação interna de inquietude; • ser barulhento em atividades lúdicas; • ser muito agitado; • falar em demais; • responder às perguntas antes de concluídas; • ter dificuldade de esperar sua vez; • intrometer-se em conversas ou jogos dos outros. • Para se diagnosticar um caso de TDAH é necessário que o indivíduo em questão apresente pelo menos seis dos sintomas de desatenção e/ou seis dos sintomas de hiperatividade; além disso os sintomas devem manifestar-se em pelo menos dois ambientes diferentes e por um período superior a seis meses. Em mais da metade dos casos o transtorno acompanha o indivíduo na vida adulta, embora os sintomas de inquietude sejam mais brandos. Partindo desses critérios, pode ser identificado três subtipos de TDAH: subtipo desatento, subtipo hiperativo e o subtipo combinado (desatento e hiperativo) (GREVET, ABREU, SHANSIS, 2003). Esse transtorno pode ser considerado um dos mais comuns em crianças e adolescentes encaminhados para os serviços especializados. Ele ocorre em 3 a 5% das crianças, em diversas regiões do mundo em que já foi pesquisado. Os meninos tendem a ter mais sintomas de hiperatividade e impulsividade que as meninas, embora sejam igualmente desatentos. A prevalência na população infantil é estimada em 4,5 a 9,9% para subtipo desatento, 1,7 a 3,9% para o subtipo hiperativo e impulsivo, e de 1,9 a 4,8% para o subtipo combinado (GREVET, ABREU, SHANSIS 2003). Estudos mostram que mais de 50% dos casos tem comorbidade do TDAH com Transtorno de aprendizagem (TA). Segundo Grevet, Abreu, Shansis 2003 os portadores desse transtorno, em geral, apresentam relações inter-pessoais instáveis e tumultuadas, baixo desempenho escolar e no relacionamento com demais crianças, prejuízos nas relações familiares e com professoras. Crianças adolescentes com TDAH podem apresentar mais problemas de comportamento, como por exemplo, dificuldades com regras e limites. Na idade pré-escolar, estas crianças mostram-se agitadas, movendo-se sem parar pelo ambiente, mexendo em vários objetos como se estivessem “ligadas” por um motor. Mexem pés e mãos, não param quietas na cadeira, como se estivessem com "bicho carpinteiro", falam muito e constantemente pedem para sair de sala ou da mesa de jantar. Elas têm dificuldades para manter atenção em atividades muito longas, repetitivas ou que não lhes sejam interessantes. Elas são facilmente distraídas por estímulos do ambiente externo, mas também se distraem com pensamentos "internos", isto é, vivem "voando". Nas provas, são visíveis os erros por distração (erram sinais, vírgulas, acentos, etc.). Como a atenção é imprescindível para o bom funcionamento da memória, elas em geral são tidas como "esquecidas": esquece recados ou material escolar, aquilo que estudaram na véspera da prova, etc. (o "esquecimento" é uma das principais queixas dos pais). Quando elas se dedicam a fazer algo estimulante ou do seu interesse, conseguem permanecer mais tranqüilas. Isto ocorre porque os centros de prazer no cérebro são ativados e conseguem dar um "reforço" no centro da atenção que é ligado a ele, passando a funcionar em níveis normais. O fato de uma criança conseguir ficar concentrada em alguma atividade não exclui o diagnóstico de TDAH. É claro que não fazemos coisas interessantes ou estimulantes desde a hora que acordamos até a hora em que vamos dormir: os portadores de TDAH vão ter muitas dificuldades em manter a atenção em um monte de coisas. Elas também tendem a ser impulsivas (não esperam a vez, não lêem a pergunta até o final e já respondem, interrompem os outros, agem antes de pensar). Freqüentemente também apresentam dificuldades em se organizar e planejar aquilo que querem ou precisam fazer. Seu desempenho sempre parece inferior ao esperado para a sua capacidade intelectual. O TDAH não se associa necessariamente a dificuldades na vida escolar, embora esta seja uma queixa freqüente de pais e professores. É mais comum que os problemas na escola sejam de comportamento que de rendimento (notas). O Tratamento do TDAH deve ser uma combinação de medicamentos, orientação aos pais e professores, além de técnicas específicas que são ensinadas ao portador. A medicação é parte muito importante do tratamento, pois pesquisas indicam que somente a intervenção terapêutica nos sintomas traz poucos benefícios em relação à medicação. Em função disso é que o mais indicado é o tratamento combinado – medicação e Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), que é a psicoterapia mais indicada para o tratamento do TDAH. Segundo Wright, Basco e Thase 2008, a terapia cognitivo comportamental, na pratica clinica, tem como base um conjunto de teorias que são usadas para elaborar planos de tratamento e orientar as ações do terapeuta. Essa abordagem baseia-se no principio de que a cognição influencia e controla nossas ações e comportamentos e que a maneira como agimos ou nos comportamos podem afetar nosso pensamento e emoções. Os autores acima citados comentam que o modelo básico da TCC identifica três áreas de funcionamento patológico: cognição, emoção e comportamento. Em função dessas áreas, esse tipo de terapia incentiva o pensamento racional e a solução de problemas para auxiliar o paciente a reconhecer e mudar o pensamento em relação a patologia. Por isso, essa abordagem indica iniciar o tratamento educando as crianças sobre o próprio transtorno e recomenda, para crianças em idade treino, que pais e professores possam recompensar quando esta demonstra o comportamento desejado e conseqüências negativas quando não correspondem. Várias técnicas podem ser utilizadas e apresentam resultados positivos comprovados, e enfatizam estruturar o meio ambiente em que a criança vive e não tentar ensinar-lhe novas habilidades cognitivas e/ou comportamentais. Para auxiliar o tratamento das crianças com TDAH, é necessário que os professores conheçam técnicas que auxiliem os alunos a ter melhor desempenho. Em alguns casos é necessário ensinar ao aluno técnicas específicas para minimizar as suas dificuldades. Não existe até o momento nenhuma evidência científica de que outras formas de psicoterapia auxiliem nos sintomas de TDAH. É importante salientar que no TDAH, como na maioria dos transtornos do comportamento, em geral multifatoriais, nunca devemos falar em determinação genética, mas sim em predisposição ou influência genética. O que acontece nestes transtornos é que a predisposição genética envolve vários genes, e não um único gene (como é a regra para várias de nossas características físicas, também). Provavelmente não existe, ou não se acredita que exista, um único "gene do TDAH". Além disto, genes podem ter diferentes níveis de atividade, alguns podem estar agindo em alguns pacientes de um modo diferente que em outros; eles interagem entre si, somando-se ainda as influências ambientais. Também existe maior incidência de depressão, transtorno bipolar (antigamente denominado Psicose ManíacoDepressiva) e abuso de álcool e drogas nos familiares de portadores de TDAH. CONSIDERAÇÕES FINAIS O diagnóstico de TDAH é fundamentalmente clínico, realizado por profissional que conheça profundamente o assunto, que necessariamente deve descartar outras doenças e transtornos, para então indicar o melhor tratamento. O termo hiperatividade tem sido popularizado e muitas crianças rotuladas erroneamente. É preciso cuidado ao se caracterizar uma criança como portadora de TDAH. Os pacientes com sintomas de TDAH constituem um grupo com significativo comprometimento funcional, representando um desafio para o clínico em saúde mental na infância e adolescência. A limitação dos sistemas classificatórios atuais em psiquiatria infantil contribui para a dificuldade na realização do diagnóstico das co-morbidades, uma vez que não abrange a complexidade de quadros clínicos tais como observados na prática clínica. O caráter dimensional e não categórico dos diagnósticos em psiquiatria da infância e adolescência surge como uma perspectiva de melhor compreensão e abordagem desses pacientes. O tratamento dos sintomas de desatenção e de hiperatividade-impulsividade parece representar uma estratégica terapêutica importante, esclarecer ao paciente e aos seus familiares sobre a gênese do transtorno, o seu impacto e o tratamento, cientificamente demonstrados como eficazes. Na prática clinica observa-se que a terapia cognitiva comportamental baseia-se no principio de que a cognição influencia e controla nossas ações e comportamentos e que a maneira como agimos ou nos comportamos podem afetar nosso pensamento e emoções, por isso tem sido indicada para tratamentos de TDAH, demonstrando grande eficácia.. REFERÊNCIAS Associação Americana de Psiquiatria. Manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais – DSM-IV. 4 ed.rev. Porto Alegre: Artmed, 2003 GREVET, Eugênio Horácio; ABREU, Paulo Belmonte; SHANSIS, Flavio. Proposta de uma abordagem psicoeducacional em grupos para pacientes adultos com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. Revista de Psiquiatria RS, 25 (3). 446-452. set/dez 2003. BELLÉ, Andressa Henke; CAMINHA, Renato Maiato. Grupoterapia comportamental em crianças com TDAH: estudando um modelo clínico. cognitivo-