Aprendizagem Baseada em
Problemas
AVALIAÇÃO DOS ESTUDANTES
Elen Fabrícia Santos
Flávio de Andrade
Lígia Rabello
Nathalia Martins
Patricia Ormiga
Introdução
Há um consenso sobre avaliação de estudantes: a avaliação define o currículo (Newbe e
Jaeger, 1983). Isto é particularmente importante em currículos PBL, que explicitamente
definem os diversos domínios de aprendizagem envolvidos, com múltiplas estratégias
instrucionais.
É necessária a organização de um processo de aprendizagem ativo, baseado na
construção de novos conhecimentos a partir dos conhecimentos de que o estudante já
dispõe, interativo, centrado no aluno e autodirecionado. Cabe ao estudante um papel
expressivo na definição do que ele precisa aprender, na seleção de meios que vai usar
para isso e na definição do grau de aprendizado necessário.
O PBL deve ser compreendido como uma perspectiva educacional e não somente como
método. Deve imprimir a orientação do currículo, tendo como ponto de partida do
processo de aprendizagem a adoção de um problema, com a participação ativa do
estudante.
Princípios da avaliação de estudantes
O processo de avaliação do aprendizado é peça central para o sucesso de um
programa de ensino baseado em problemas. Por vezes as estratégias de avaliação são
subestimadas ou reduzidas a conjunto de técnicas de mensuração do desempenho.
A avaliação da aprendizagem requer o uso de um número de técnicas para essa
mensuração. É um processo sistemático que se inicia com a identificação dos objetivos
de aprendizagem e termina com uma avaliação acerca da extensão em que esses
objetivos foram atingidos ( Linn et al., 1995).
Algumas diretrizes são propostas, permitindo efetivamente determinar a natureza e a
extensão do desenvolvimento do estudante durante e após o seu treinamento:
1- O propósito primário da avaliação é melhorar o aprendizado do aluno. O sistema
deverá prover informações úteis sobre quantos dos objetivos de aprendizagem foram
atingidos e sobre o progresso de cada estudante.
Princípios da avaliação de estudantes
2- O sistema deve garantir suporte aos processos de ensino- aprendizagem, trazendo à
coordenação dos programas educacionais informações valiosas sobe a condução da
instrução, a relevância do conteúdo, o ritmo das atividades, o nível dos alunos e,
consequentemente, a qualidade do produto da educação.
3- O sistema de avaliação deverá ser justo com todos os estudantes. Uma das formas de
garantir atributos justos é utilizar múltiplos métodos de avaliação do progresso do
aluno e diversas maneiras, ainda que equivalentes, do estudante expressar sua
compreensão, desempenho e atitudes.
4- O processo de comunicação sobre a avaliação é regular e claro. Todos os
participantes do processo devem ter clareza das características e métodos do sistema
de avaliação em uso no programa educacional. A divulgação dos resultados deve ser
ética, garantindo a confidencialidade e respeito à individualidade do educando , de
forma que promova seu crescimento como aprendiz.
Princípios da avaliação de estudantes
5- A definição e explicitação clara do que será avaliado tem prioridade no processo de
avaliação.
6- Um procedimento de avaliação deve ser selecionado de acordo com a sua relevância
relativa aos objetivos a serem mensurados.
7- Uma avaliação abrangente requer uma variedade de procedimentos. Uma imagem
completa do que foi aprendido pelo aluno requer o uso de diferentes procedimentos de
avaliação.
8- O uso apropriado dos processos de avaliação requer uma percepção de suas limitações.
É preciso, portanto, conhecer a extensão da possibilidade de erro de cada instrumento, e
levar em consideração essas limitações no seu uso.
9- O sistema de avaliação deve garantir estratégias de validade e confiabilidade em suas
atividades, que podem ser asseguradas através de algumas condutas como: revisão
técnica dos testes e demais atividades avaliativas, utilização de múltiplos avaliadores e
elaboradores , e coerência com os conteúdos e objetivos de aprendizagem do curso.
Tipos de avaliação

Avaliação de situação – Irá verificar o conteúdo de conhecimento, habilidades, e
interesses que o estudante trás, antes de dar início ao processo de ensino. Permite ao
profissional uma melhor adequação à turma.

Avaliação Formativa – Visa monitorar o progresso de aprendizagem de forma
continuada. Utiliza instrumentos específicos para avaliação de cada unidade ou módulo
de ensino. Possibilita tanto ao aluno quanto ao professor um retorno em relação ao
sucesso e as falhas, permitindo que ambos possam consertar os erros observados. Os
resultados da avaliação não são utilizados para obtenção de notas, uma vez que o intuito
é o ensino-aprendizagem.
Tipos de avaliação

Avaliação Diagnóstica – Quando os problemas de aprendizagem não são solucionados
com as medidas genéricas propostas pela avaliação formativa, a diagnóstica é então
empregada. Ela visa resolver questões mais complexas de dificuldades de aprendizagem
como problemas comportamentais, cognitivos ou de adequação ao método.

Avaliação somativa ou certificativa – Aplicada no final do curso, visa certificar o
aprendizado do aluno, gerando uma nota representativa do grau de conhecimento
adquirido de acordo com os objetivos propostos. As técnicas utilizadas para avaliação são
determinadas pelo objetivo instrucional.
Métodos de avaliação
Dois tipos gerais, que irão variar de acordo com as abordagens nos programas.
Abordagem da “descoberta livre” x “descoberta orientada”
“Descoberta livre”: os estudante determinam o que aprender, além de como e quando
aprendê-lo. Com o mínimo de instrução os alunos têm a oportunidade máxima de
explorar o conteúdo.
“Descoberta orientada”: os objetivos específicos da aprendizagem são identificados pelos
organizadores do currículo e passados aos instrutores, responsáveis pelas discussões em
grupo dos problemas.
Métodos de avaliação
Métodos de avaliação orientados por processo :

Avaliação de tutores, pares e auto-avaliação: Aborda auto-aprendizagem, esforço
empreendido, cooperação grupal e habilidade de comunicação

Mensurações indiretas do processo de aprendizagem: São feitas a partir de observações
ou registros dos caminhos seguidos pelos estudantes durante o ciclo tutorial. Servido de
avaliação do próprio programa e uma avaliação paralela (devido às dificuldades de
padronização) dos estudantes.
Ex.: utilização de sistemas de pesquisa bibliográficos e internet, notas de aula...

Exercício de aprendizagem: Avalia as habilidades de solução de problemas, de
aprendizagem auto-dirigida, além do conhecimento sobre a área explorada
Ex.: Salto triplo
Métodos de avaliação
Métodos de avaliação orientados por desfecho:
A avaliação das habilidades de resolver problemas é feita em três níveis que levam em conta
o grau de conhecimento sobre um determinado assunto.

Conhecimento disperso – Estudantes em fases iniciais com nível de conhecimento
desestruturado

Conhecimento elaborado – Estudantes mais avançados, com nível de conhecimento
estruturado em “redes semânticas” na memória

Conhecimento compilado – Profissionais experientes com a informação necessária e
automaticamente processada para solução do problema
Métodos de avaliação
Avaliação dos estudantes no Tutorial – centro do processo de aprendizagem em PBL

Avaliação da base de conhecimentos: através do processo de discussão de um problema o
facilitador poderá atuar avaliando os alunos, individualmente e coletivamente, a partir de
suas impressões sobre o preparo dos estudantes, identificação de materiais bibliográficos
relevantes, dentre outras coisas. O problema deste tipo de avaliação está em transformar
a impressão obtida em avaliação. Auxiliadores: checklists, relatórios de ciclos tutoriais
realizados pelos alunos, auto-avaliação (aonde o próprio aluno identifica suas lacunas de
base de conhecimento)

Avaliação do processo de raciocínio: Avalia-se o processo de raciocínio e a elaboração de
conhecimentos pelo aluno a partir da habilidade de reconhecimento dos limites de
conhecimento, onde é identificado o problema, são formuladas e testadas as hipóteses,
que são em seguida reavaliadas utilizando recursos auxiliadores.
Métodos de avaliação

Avaliação das habilidades de comunicação: Avalia-se a habilidade do estudante em ouvir
criticamente os colegas, auxiliar os mesmos, apresentar suas idéias de forma lógica,
concisa e ordenada, utilizando recursos ilustrativos.

Avaliação das habilidades de avaliação: Avalia-se a própria capacidade de avaliação do
estudante. O facilitador é o principal elemento nesse processo de avaliação. A união dos
resultados obtidos no processo de avaliação dos estudantes no processo tutorial aliado ao
desempenho do aluno em outras estratégias de avaliação garante uma visão mais
completa da performance do estudante tanto para fins certificativos como para fins
formativos.
Métodos de avaliação
Os programas que utilizam PBL incorporam uma variedade de estratégias avaliativas:

Mapas conceituais: Visam mensurar a interrelação de conceitos e compreensão do
estudante acerca de um dado objetivo. Os mapas facilitam a visualização do processo de
raciocínio e elaboração de conhecimento, demonstrando integração de conceitos com
vínculos de causa-efeito, contexto e etc.

Apresentações orais: Avaliam a habilidade de comunicação e síntese de conhecimentos,
bem com a defesa dos mesmos diante das questões da audiência.

Exames clínicos objetivos estruturados: Avaliam a performance e a competência clínica
através de múltiplas estações aonde o estudando é orientado a desempenhar uma tarefa
bem definida (estações com observadores e estações com instrumentos escritos)
-Desde o final do século 20, houve uma transição nos paradigmas da educação médica,
havendo maior ênfase no aprendizado baseado no aluno.
- O termo “learning style” foi introduzido pela primeira vez em 1960 por Rita Dunn ao se
referir as diferentes formas de aprender.
- Não há estudos na literatura que descrevam se houve mudança nos estilos de aprender
dos estudantes ao longo dos anos e qual foi o efeito dos novos currículos nessa mudança
- Estudo de coorte prospectivo foi realizado em 3 faculdades de medicina, que
implementaram a aprendizagem baseada em problemas de formas diversas, com os
alunos do 1º ano da faculdade. O questionário foi preenchido pelos estudantes em 2
períodos: no 1º e no 2º ano da faculdade de medicina
Gurpinar et al. Learning styles of medical students change in relation to time.
Gurpinar et al. Learning styles of medical students change in relation to time.
- Na distribuição dos estudantes nos diferentes estilos de aprendizagem houve um
predomínio dos estudantes classificados como assimiladores
- Houve mudança do estilo de aprendizagem em 47% dos estudantes do currículo
integrado, em 49% dos estudantes do currículo híbrido e em 56% dos estudantes do
currículo PBL.
Aprendizagem Baseada em Problemas na Faculdade de Medicina de Marília:
sensibilizando o olhar para o idoso. Ricardo Shoiti Komatsu
Objetivos:
- Analisar a percepção de estudantes de Medicina da Famema, formados a
partir de currículo apoiado na Aprendizagem Baseada
em Problemas - ABP, com ênfase na formação de médicos sensibilizados para a
atenção das pessoas idosas;
-analisar as representações de estudantes e idosos acerca do que é ser um
médico sensibilizado para a questão do envelhecimento.
Metodologia:
-Foram coletados dados por meio de um questionário aplicado aos estudantes
de Medicina ao final da 4ª. série, e entrevistas realizadas com pacientes idosos
e estudantes ao final da 6ª. série.
- Os olhares dos estudantes sobre sua aprendizagem ao final da
4ª. e da 6ª. séries são complementares e coincidentes.
Aprendizagem Baseada em Problemas na Faculdade de Medicina de Marília:
sensibilizando o olhar para o idoso. Ricardo Shoiti Komatsu
Resultados:
“ a doença é mais representada no currículo do curso de medicina do que o
doente, existindo ilhas curriculares com uma atenção mais condizente com a
atenção às necessidades dos pacientes”
“ teoria e prática permanecem pouco integradas, nada substitui a prática e o
contato direto com a realidade”
“A expectativa dos pacientes idosos é a de encontrar um médico que
compreenda a representação de sua doença, a sua ‘illness’ na sua condição de
vida e que, assim, desenvolva uma relação de esperança e confiança, bases da
terapêutica bem sucedida, e do melhor gerenciamento de seus problemas de
saúde”
- Níveis elevados de estresse em estudantes de medicina e em médicos quando
comparado a população geral
- Isso leva a piora da performance no trabalho, ao abuso de drogas e a problemas
de saúde mental
- Há 3 fontes principais de estresse: pressões acadêmicas, questões sociais ou
pessoais e problemas financeiros
- Estudo realizado em Glasgow com alunos do 1º ano da graduação de medicina
num currículo PBL relataram que o principal fator que levava ao estresse era o
treinamento médico
Lewis et al. A comparison of course-related stressors in undergraduate
problem-based learning (PBL) versus non-PBL medical programmes
- O objetivo deste estudo foi comparar a frequência de fatores estressantes
relacionados ao curso em 2 grupos de estudantes de medicina do 2º ano em
faculdade PBL e não-PBL
- Trata-se de um estudo “cross-sectional” (corte transversal ou seccional) com
questionários individualizados de estudantes de medicina de 2 escolas da
Inglaterra entre 2007 e 2008
- Através de randomização, foram escolhidas 1 escola não-PBL x 1 escola PBL
- O questionário contém 16 questões compostas por partes de 2 escalas:
Perceived Medical Student Stress Scale e Higher Education Stress Inventory.
- As opções de respostas incluem: concordo completamente, concordo, discordo
e discordo completamente.
Lewis et al. A comparison of course-related stressors in undergraduate
problem-based learning (PBL) versus non-PBL medical programmes
Os estudantes do grupo PBL (n=83) têm maior chance de concordar com:
- eles não sabem o que a faculdade espera deles (OR 0.38 p=0,03)
- há muito poucas sessões com grupos pequenos, acompanhadas por
estudantes (OR 0.04 p<0,001)
- há uma ausência de oportunidade de discutir assuntos de interesse (OR
0.40 p=0,02)
- o curso médico cria um sentimento de anonimato e isolamento entre os
estudantes (OR 3.42 p=0,08)
O estudo foi realizado na primeira escola médica que aplicou a aprendizagem
baseada em problemas na Arábia Saudita entre 2006 e 2007, com estudantes do
1º ao 5º ano.
O questionário respondido pelos estudantes contém 30 itens, que podem
pontuar de 1 a 5, cada um deles.
Shamsan B et al. Evaluation of Problem Based Learning Course at College of
Medicine, Qassim University, Saudi Arabia
Shamsan B et al. Evaluation of Problem Based Learning Course at College
of Medicine, Qassim University, Saudi Arabia
Shamsan B et al. Evaluation of Problem Based Learning Course at College of
Medicine, Qassim University, Saudi Arabia
-O estudo revela que o sistema PBL auxilia os alunos no desenvolvimento das
habilidades práticas, principalmente na resolução de problemas práticos, com
agilidade e também ajuda o estudante a ter a função de líder do grupo
- Entretanto, a maioria dos estudantes não está satisfeita com o novo método. Eles
julgam que o ensinamento não está centrado no estudante, conforme era de se
esperar.
- A maioria dos estudantes reconhece que o método PBL é muito superior ao
método de ensino tradicional
- Resultados de uma avaliação regular do programa demonstraram que, aos 18
meses, o estudante se sente entediado com a rotina repetitiva da resolução de
problemas.
OBRIGADA (O)
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avaliação dos estudantes