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O LÚDICO NAS INTERFACES DAS RELAÇÕES EDUCATIVAS
*Célio José Borges
*Lisandra Olinda Roberto Neves
“ O Lúdico é eminentemente educativo no sentido em que
constitui a força impulsora de nossa curiosidade a respeito do
mundo e da vida, o princípio de toda descoberta e toda criação.
“ ( Santo Agostinho)
RESUMO:
Neste artigo serão apresentados os resultados de uma pesquisa monográfica
onde foram analisadas as propostas do Lúdico no espaço escolar como facilitador
da aprendizagem.
Palavras-chave: Lúdico, aprendizagem, professor, prática reflexiva.
1. INTRODUÇÃO:
A idéia de pesquisar sobre o Lúdico, ocorreu no decorrer do curso de
Pedagogia quando foi ministrada a disciplina Teoria e Prática de Recreação e
Jogos. A partir daí, veio a ser fortalecida no processo do curso.
Os acadêmicos do curso de Pedagogia, foram levados a perceber que o
Lúdico pode estar presente também em sala de aula sendo uma importante
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
Licenciado em Educação Física, Mestre em Educação-Teoria e Prática Pedagógica; Membro do
Departamento de Educação Física/Unir; Membro do Grupo de Estudos Integrados sobre Aquisição
da Escrita-Unir/CNPq; Membro do Grupo do Desenvolvimento e da Cultura Corporal-Unir/CNPq.
Orientador desse artigo.
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Graduada em Pedagogia pela UNIR; pós graduanda do curso Latu Senso em Metodologia do Ensino
Superior pela Universidade Federal de Rondônia.
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Metodologia no processo ensino-aprendizagem, pois até então, resumiam o
Lúdico somente às aulas de Recreação e Educação Física, em situações formais
de exercícios físicos.
Essa pesquisa teve como objetivo geral:
-
Verificar o espaço e as relações do Lúdico como facilitador da
aprendizagem na sala de aula. E como objetivos específicos:
- Verificar como é que o os professores percebem o Lúdico, quais suas
concepções;
-
Analisar como o Lúdico é utilizado no plano de trabalho e na prática de
sala de aula;
-
Verificar se há uma relação de interdisciplinaridade ou algum tipo de
integração com a Educação Física;
-
Examinar a contribuição do Lúdico para o rendimento do aluno na
aprendizagem;
A realização desta pesquisa justificou-se pelo fato de apesar das várias
propostas e ações existentes no âmbito da Educação, como projetos
educacionais, simpósios, seminários, programas de governo, percebe-se que os
resultados continuam insatisfatórios, o que demonstra a necessidade de
mudanças no contexto educacional, sendo assim, o professor torna-se um dos
principais, senão o mais importante protagonista dessa mudança. Portanto sua
formação e sua prática têm sido motivos de estudos.
Pelo que se observa, o professor interessado em promover mudanças,
poderá recorrer à proposta do Lúdico, uma importante metodologia que contribuirá
para diminuir os altos índices de fracasso escolar e evasão verificado nas escolas,
porém este não foi o objeto de nosso estudo.
Gadotti (1993, p. 80)
discute a má qualidade do ensino no Brasil em
relação a outros países; afirmando que:
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“Há 30 anos venho acompanhando a situação da escola e a deteriorização que se deu de
forma acentuada no nosso país e na América Latina. Contudo, na América Latina, o Chile, a
Argentina, o México, ao lado de outros países como o Uruguai e a Costa Rica, conseguiram
avançar muito mais do que o Brasil. O grau de escolaridade é muito maior nesses países. No
Chile, o analfabetismo é de apenas 2%, na Argentina, 3% e no México 5%, não se
comparando com os índices de 30% no Brasil
Diante desse quadro, a utilização de atividades lúdicas nas escolas, pode
contribuir para uma melhoria nos resultados obtidos pelos alunos. Claro, que
atividades de cunho lúdico não abarcariam toda a complexidade que envolve o
processo educativo, mas poderiam auxiliar na busca de melhores resultados por
parte dos educadores interessados em promover mudanças. Estas atividades
seriam mediadoras de avanços e contribuiriam para tornar a sala de aula um
ambiente alegre e favorável.
O Lúdico apresenta valores específicos para todas as fases da vida
humana. Assim, na idade infantil e na adolescência a finalidade é essencialmente
pedagógica. A criança e mesmo o jovem opõe uma resistência à escola e ao
ensino, porque acima de tudo ela não é lúdica, não é prazerosa.
Snyders (S/D) defende a alegria na escola, vendo-a não só como
necessária, mas como possível.
“A maior parte das crianças em situação de fracasso são as de classe popular e elas precisam
ter prazer em estudar; do contrário, desistirão, abandonarão a escola, se puderem. (...)
Quanto mais os alunos enfrentam dificuldades de ordem física e econômica, mais a Escola
deve ser um local que lhes traga outras coisas. Essa alegria, não pode ser uma alegria que os
desvie da luta, mas eles precisam ter o estímulo ao prazer. A alegria deve ser prioridade para
aqueles que sofrem mais fora da escola. (...)
Estudos demonstram que através de atividades lúdicas, o educando explora
muito mais sua criatividade, melhora sua conduta no processo de ensinoaprendizagem e sua auto-estima.
O indivíduo criativo é um elemento importante para o funcionamento efetivo
da sociedade, pois é ele quem faz descobertas, inventa e promove mudanças.
O referencial teórico dessa pesquisa teve como base as teorias críticas da
educação.
Libâneo (1996,p. 39) nos diz::
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“A função da pedagogia “dos conteúdos” é dar um passo à frente no papel transformador da
escola, mas á partir de condições existentes. Assim, a condição para que a escola sirva aos
interesses populares é garantir a todos um bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos
escolares que tenham ressonância na vida dos alunos”.
A escola passou a difundir um ensino enciclopédico, imaginando
quanto mais conteúdos passassem, mais os alunos se desenvolveriam, o que não
é verdade. Para serem assimiladas, as informações devem fazer sentido. Isso se
dá quando elas incidem, no que Vygotsky (2001 p. 25) chamou de zona de
desenvolvimento proximal, a distância entre aquilo que a criança sabe fazer
sozinha (o desenvolvimento real) e o que é capaz de realizar com ajuda de
alguém mais experiente (o desenvolvimento potencial). Assim, o bom ensino é o
que incide na zona proximal.
No entanto, o sentido verdadeiro da educação lúdica, só estará garantido se
o professor estiver preparado para realizá-lo e ter um profundo conhecimento
sobre os fundamentos da mesma.
Assim é possível perceber que o Lúdico apresenta uma concepção
teórica profunda e uma concepção prática, atuante e concreta.
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA:
Para confrontar o embasamento teórico adquirido através da pesquisa
bibliográfica, foi realizada uma pesquisa de campo, através de um questionário,
respondido por acadêmicos do curso de Pedagogia do PROHACAP-UNIR.
Tivemos um total de 267 respondentes, onde todas as respostas foram
consideradas.
Esses
alunos/
professores representam várias
localidades
diferentes, num total de vinte e dois municípios.
Os acadêmicos concentravam-se nos pólos de Porto Velho, Ariquemes e
Rolim de Moura, para o período de aulas da Universidade.
Procuramos destacar nas falas dos sujeitos pesquisados, qual o espaço
que as atividades lúdicas tem na escola, na sala de aula, no plano de trabalho dos
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professores, e ainda, se os sujeitos pesquisados têm uma atitude reflexiva diante
de sua prática docente.
Por se tratar de um questionário aberto, optou-se pela categorização das
respostas, no sentido de valorizá-las, pois as vezes vinham comentários dos
pesquisados e isso enriqueceu a pesquisa.
O tempo de atuação de cada professor variou de 5 à 30 anos de profissão.
Diante disso, pode-se afirmar que o PROHACAP foi um diferencial importante,
uma vez que contribuiu para o crescimento desses profissionais, em destaque os
mais antigos que só agora obtiveram o conhecimento teórico. Em relação a série
que lecionam, houve um equilíbrio entre os profissionais que atuam nas séries
iniciais, o que nos permite pensar que isso, de certa forma, refletiu com sucesso
nos ambientes das salas de aula.
3. RESULTADOS DA PESQUISA:
Quando foram perguntados como percebiam o Lúdico, obtivemos respostas
da seguinte forma:
“O lúdico deve estar em todos os momentos presentes, porque torna o
aprendizado mais prazeroso, utilizando vários jogos e brincadeiras na sala
de aula. Ao integrar com a Educação Física, deve-se planejar, pensar
atividades integradas que todos os alunos participem.”
“O lúdico em sala de aula pode e deve ser trabalhado em todas as
atividades, pois é uma maneira de aprender/ensinar que desperta prazer e
assim a aprendizagem se realiza.”
“A partir do momento que participei da disciplina de Educação Física,
despertou em mim várias formas de trabalhar com meus alunos, porque
antes não tinha noção. Hoje vejo como o lúdico é importante.”
“Eu dificilmente utilizo atividades lúdicas por falta de saber mais sobre o
assunto.’
Observa-se nas falas dos entrevistados uma percepção do lúdico.
Reconhecem seus benefícios na aprendizagem das crianças, mas não
apresentam uma aplicabilidade concreta.
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Relatam, porém, que após terem cursado a disciplina de Recreação e
Jogos na Universidade, perceberam de certa forma, o caráter epistemológico do
lúdico e do afeto como metodologias em sala de aula, ou seja, admitem uma nova
concepção do lúdico e o seu espaço.
È a influência da teoria no processo de formação como elemento gerador
de mudança de concepção.
Nas respostas a seguir, foi possível identificar
espaços e lacunas
existentes quanto a utilização do lúdico:
“Pretendo agora, após fazer a disciplina de Recreação e Jogos, utilizar o
lúdico como uma forma de aprendizagem, brincando, trabalhando mente e
físico juntos.”
“Percebo um bom complemente e utilizo até mesmo para ensinar
conteúdos.”
“O lúdico está presente na vida dos alunos e na sala de aula. Através de
jogos, música, dança, mímica. Eu faço integração com a Educação Física,
basta querer trabalhar de forma integrada. Oportunidade existe, vai
depender da criatividade de cada um.”
O lúdico é visto e realizado de maneira improvisada, ocasional, sendo
assim ineficaz, sazonal.
Reconhecida sua importância biológica e psicológica, o lúdico deve ter sua
finalidade e utilidade prática definida.
Em nenhum momento, é citado pelos professores, que em seus planos de
trabalho há tempo para pesquisa, excursões, porém admitem, no discurso, sua
importância.
Pode-se observar também uma mudança, uma atitude reflexiva na fala do
professor, que antes não sabia, não tinha idéia, mas propõe-se a mudar após
terem feito a disciplina de Recreação e Jogos na Universidade.
Quando perguntados se há alguma relação de interdisciplinaridade ou
algum tipo de integração com a Educação Física, destacamos as seguintes falas:
“A junção entre a prática de Educação Física e sala de aula, percebe-se
mais evolução na aprendizagem principalmente das crianças mais tímidas.”
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“Após estudar a disciplina de Recreação e Jogos, descobri a grande
importância do lúdico em sala de aula. Antes não usava. Há integração com
a Educação Física.”
“O lúdico é uma realidade na sala de aula onde trabalho, acredito que
facilita a aprendizagem e desenvolve suas capacidades criadoras e
cognitivas. No contexto educacional a Educação Física é integrada
totalmente com o lúdico.”
“Através do lúdico podemos trabalhar vários conteúdos, principalmente a
Educação Física. Percebi que isso é possível depois de ter feito a
disciplina de Recreação e Jogos. É possível trabalhar de maneira
integrada o que antes não acontecia.”
Mais uma vez observa-se nas falas uma mudança de concepção e
disposição para mudança de atitude à partir do conhecimento teórico adquirido no
seu processo de formação, porém, não se tem a garantia da associação teoria e
prática na sala de aula.
Assim isso nos permite assegurar que os entrevistados reconhecem que a
pedagogia através do jogo oferece algumas vantagens: a ludicidade, a
cooperação, a participação, enfim, promovem a alegria, prazer e motivação.
Diante disso, seria necessário que esses benefícios fossem reconhecidos e
colocados verdadeiramente em prática. Essa integração é perfeitamente viável.
As afirmativas a partir das respostas, quando perguntados sobre a
contribuição do Lúdico, não caracteriza de que seja decorrente da prática;
vejamos:
“Hoje posso ver o lúdico como uma forma prazerosa para o educado. Faz
com que a criança desperte o raciocínio e o gosto pelo estudar. Muitas
vezes há atividades relacionadas com a Educação Física.”
“A criança aprende melhor brincando. Quando se trabalha de forma lúdica,
há um aproveitamento maior das aulas e um maior aprendizado por parte
dos alunos.”
“Uso bastante o lúdico, como brincadeiras, jogos, danças, teatro, com isto
os alunos se desenvolvem sem perder seu tempo de infância”.
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Nas falas dos entrevistados, todos reconhecem os benefícios do lúdico para
os alunos. Porém, foi possível observar e supor que se o lúdico tivesse seu
espaço na sala de aula, os problemas de indisciplina e evasão escolar na escola
seriam diminuídos.O que se propõe é que o mesmo prazer que a criança tem ao
sair para o recreio, ao ir às aulas de Educação Física ou na hora da saída,
estivesse na sala de aula como um espaço de construção e dialogia.
4. CONCLUSÃO:
Com base nos objetivos da pesquisa, nos dados e resultados obtidos e no
referencial teórico, foi possível chegar as seguintes conclusões:
A formação oportuniza ao professor não só o saber da sua sala de aula,
possibilita também, conhecer as questões da educação, as diversas práticas
analisadas na perspectiva histórico, sócio-cultural e reflexiva.
A pesquisa foi feita com alunos-professores que estavam no processo de
formação, obtendo grande representatividade pelo número de respondentes,
provenientes de várias localidades.
A pesquisa possibilitou-nos verificar a distância que existe entre o discurso
e a prática concreta em sala de aula. Os respondentes admitiram uma mudança
de atitude após terem tido o conhecimento teórico no processo de formação. Vale
ressaltar que, se não houver uma continuidade nos estudos, não haverá uma
contínua construção do conhecimento.
Em nenhuma das 267 respostas houve uma opinião negativa em relação ao
Lúdico. No entanto não apresentam uma aplicabilidade concreta.
Este trabalho ainda não está concluído, ele mostra alguns pontos de
partida. Nesse sentido, sugere-se a possibilidade da escola rever o seu projeto
político pedagógico, contemplando o Lúdico e as relações do mesmo na escola; a
possibilidade de que no projeto político pedagógico, a formação do professor se
dê numa perspectiva de formação continuada.
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Essa pesquisa foi de uma representatividade excepcional, não só pelo
grande crescimento proporcionado, mas também como quebra de paradigmas,
pois, ensinar e aprender podem estar de mãos dadas com o prazer e a satisfação
intelectual.
Conclui-se ainda que o papel do pedagogo e do professor é aliás de
fundamental importância para a difusão e aplicação de recursos lúdicos. O
professor ao se conscientizar das vantagens do lúdico, adequará a determinadas
situações de ensino, utilizando-as de acordo com suas necessidades.
O
pedagogo, como pesquisador, estará em busca de ações educativas eficazes.
Assim, o aprendizado se daria em um ambiente mais agradável, pontuado
pela coragem de professores e pedagogos, que não têm medo de sonhar.
5. REFERÊNCIAS:
GADOTTI, Moacir. A organização do trabalho na escola: alguns pressupostos.
São Paulo: Ed. ÁTICA, 1993.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: A pedagogia crítico
social dos conteúdos. 14ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
PELLEGRINI, Denise. Grandes pensadores: Vygotsky. Revista Nova Escola.
Ed. 139, jan./fev. 2001.
SNYDERS. Entrevista, PUC/SP, 1990.
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